terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Crítica: Um Santo Vizinho (2015)


Com um roteiro previsível mas extramente bem trabalhado, Um Santo Vizinho (St. Vincent), do diretor estreante Theodore Melfi, se revela uma comédia inteligente e sem piadas bobas, o que é raro hoje em dia, e encanta pela sinceridade das atuações e pela abordagem simples e doce da vida.


Aparentemente nada parece dar certo na vida de Vincent (Bill Murray). Desempregado, solitário e devendo dinheiro no banco, ele não tem nenhuma perspectiva de futuro e parece não se preocupar nem um pouco com isso. As únicas coisas que ele ama na vida são sua mulher, que está em uma casa de repouso, e Felix, seu gato de estimação.

Um dia, a recém divorciada Maggie (Melissa McCarthy) se muda para a casa ao lado junto com seu filho pequeno Oliver. Tudo na vida do garoto é novo, inclusive a escola e os amigos, e ele tem dificuldade de se adaptar. Para piorar, ele tem que lidar com o preconceito dos colegas e do próprio professor por ser judeu.


Quando o garoto fica fora de casa depois de perder a chave, Vincent o abriga em sua casa até sua mãe chegar do trabalho. A partir de então ele passa a cuidar do garoto todos os dias, recebendo de Maggie uma quantia em dinheiro por isso (porque obviamente ele não faria essa boa ação de graça). Mal humorado, Vincent é a pessoa menos preparada para cuidar de uma criança, mas se vira do jeito que pode.

Aos poucos os dois vão criando uma relação bacana de amizade. Vincent demonstra não ser aquele cara turrão o tempo todo, e pouco a pouco vamos descobrindo que ele é muito mais humano do que sua aparência demonstra. Ele ensina ao garoto como se defender dos machões da escola, além de mostrar o mundo das corridas de cavalo e Oliver, por sua vez, ensina a ele o "lado bom da vida".


Por fim, Um Santo Vizinho é um filme que emociona ao mesmo tempo que nos faz rir. O roteiro acerta em cheio em não exagerar em nada, nem no drama nem no humor, cadenciando os dois de forma igual. Bill Murray e Naomi Watts tem atuações competentes, mas quem chama mesmo a atenção é Jaeden Lieberher na pele do menino Oliver. É uma jovem promessa que tem um brilhante futuro pela frente, sem dúvida. Só por isso já vale a conferida.

Crítica: Caminhos da Floresta (2014)


Novo musical da Disney, Caminhos da Floresta (Into the Woods) é baseado na famosa peça teatral homônima, encenada há anos, principalmente pelas crianças nas escolas americanas. Com um excelente elenco, muita expectativa se criou para seu lançamento, mas o filme chega aos cinemas já como uma das maiores decepções do ano.



Apesar de ser uma peça quase infantil, ela não deixa de ser mórbida e bastante "adulta". Rapunzel é assassinada e o lobo mal tem implicação sexual com a chapeuzinho vermelho. Além disso, há ainda traição conjugal, desvios de caráter e mortes. No entanto, na adaptação para as telas vemos muito pouco disso. Quase todo o sentido da peça original foi suprimido por uma necessidade de amenizar as coisas, de deixar tudo claro e sensível, e isso não colou bem.

A primeira parte é interessante, e tenta mostrar o lado mais humano de cada um dos personagens. É quando somos apresentados à diversas figuras do inventário popular como Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e João e o Pé de Feijão. Todos são interligados na história depois que uma bruxa (Meryl Streep) aparece na localidade para desfazer uma maldição.



Tudo parecia correr bem até a metade do filme. Quando chega na segunda parte, o enredo se atrapalha em uma sucessão de erros e aos poucos vamos nos cansando daqueles personagens tão caricatos, sobretudo por todas as falas serem cantadas (o que pode ser muito bem sucedido, como em Os Miseráveis, ou um desastre). Coisas sem explicação, erros de montagem e personagens sem nenhum aprofundamento são apenas alguns dos pontos negativos, que fazem o filme descer ladeira abaixo.

Apesar do excelente elenco, ele não parece ter sido aproveitado da melhor forma. Nem mesmo a atuação de Meryl Streep conseguiu salvar o filme. Quem está bem no seu papel no entanto é Emily Blunt, na pele da mulher do padeiro, personagem importante na história. Johnny Depp também faz uma participação especial, mas curtíssima, e dá para se dizer que foi absolutamente desnecessária.



Infelizmente Rob Marshall (Chicago / Memórias de uma Gueixa) foi muito infeliz na escolhas que fez em Caminhos da Floresta. Subtraindo o que de mais interessante tinha na trama, ele traz um filme vazio e sem essência, que não condiz com o valor histórico que a peça tem no coração dos americanos.


Crítica: Sniper Americano (2014)


A guerra americana contra o oriente médio virou a nova "Segunda Guerra" do cinema. De uns anos para cá são incontáveis os filmes que abordaram essa luta anti-terrorismo e Sniper Americano (American Sniper), novo filme do diretor Clint Eastwood, é mais um deles.



O filme mostra a história de Chris Kyle (Bradley Cooper), homem que trabalhou por anos como atirador de elite do exército americano. Ainda na infância, Chris recebeu ensinamentos de seu pai de que deveria ser o tipo de pessoa que ajuda os fracos em dificuldade. Caubói do Texas, ele decidiu se alistar no exército após assistir no noticiário uma notícia de um atentado terrorista, e após um treinamento pesado, acabou se tornando um SEAL (lendária unidade de forças da Marinha Americana).

O início do filme mostra um pouco da vida de Chris fora do exército, como seu casamento com Taya (Sienne Miller).  Depois do 11 de setembro, os Estados Unidos intensificaram suas ações no oriente médio, e Chris foi enviado para lá para ser um dos atiradores de elite da missão. Lá ele se vê confrontado com uma realidade cruel, e logo no primeiro dia é obrigado a acertar uma criança que carregava uma bomba, o que mexe bastante com seu emocional. 

Cada morte lhe doía, mas ele não tinha o que fazer, era simplesmente o seu trabalho. Com o psicológico abalado, ele não era mais o mesmo na volta para casa, e o filme tenta mostrar justamente isso: o quanto uma ida para uma guerra pode afetar não só a cabeça de um soldado como a de todos os membros de sua família. E a boa atuação de Bradley Cooper consegue passar muito bem esse sentimento.


Por fim, Sniper Americano é um filme que exagera um pouco no patriotismo, até porque foi feito por um dos diretores mais patriotas que o cinema já viu, e isso acaba ficando chato do meio para o final. No entanto, é notório que o povo americano ama filmes assim, e isso ficou comprovado na bilheteria de estreia, recordista na carreira de Eastwood. Quem também adora filmes do tipo é a Academia, que indicou o filme a 6 categorias do Óscar de 2015.


sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

As 5 melhores atuações de Ricardo Darín

Hoje é impossível falar do cinema argentino e não citar Ricardo Darín. O ator, nascido em Buenos Aires no dia 16 de janeiro de 1957, virou uma marca do cinema moderno do país e já é tido por muitos como o maior ator argentino de todos os tempos.

Desde cedo, Darín já demonstrava aptidão para a carreira. Aos dez anos de idade estrelou junto de seus pais uma peça chamada "Ricardo Darín Y Renée Roxana", e aos dezesseis, fez sua estreia na televisão no programa "Alta Comedia". Nos anos seguintes, Darín participou de diversas séries televisivas, sendo a mais famosa delas a comédia "Mi Cuñado".

Seu nome começou a aparecer para o cinema em 1998 quando estrelou O Mesmo Amor, A Mesma Chuva, do diretor Juan José Campanella, mas foi com Nove Rainhas, lançado em 2000, que ele finalmente ganhou notoriedade no país e principalmente no mundo. A partir de então, ele colecionou uma série de filmes de grande qualidade como O Filho da Noiva (2001), Clube da Lua (2004) e O Segredo de Seus Olhos (2009), todos sob a direção do amigo Campanella. O último inclusive foi um grande sucesso mundo a fora, principalmente depois de ganhar o Óscar de melhor filme estrangeiro. 

Recentemente, o ator continua participando de um bom número de filmes, e seu último grande sucesso foi Relatos Selvagens, que inclusive representou a Argentina no Óscar de 2015. Enfim, como homenagem ao trabalho deste grande ator, segue abaixo uma lista com as cinco atuações mais marcantes da sua carreira.


1- Nove Rainhas (2000)


Darín já tinha 40 anos quando estrelou Nove Rainhas (Nueve Reinas), do diretor Fabián Bielinsky. Porém, foi com esse filme que ele passou a chamar atenção fora do país. Na trama, ele vive o picareta Marcos, que se junta com Juan (Gaston Pauls) para aplicar um golpe em um milionário. O filme é genial, cheio de reviravoltas, e a atuação de Darín não é menos do que fascinante.

2- O Filho da Noiva (2001)


Um dos filmes mais marcantes da carreira de Darín é O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia), sua segunda parceria com o diretor Juan José Campanella, com quem ele já havia trabalhado em O Mesmo Amor, a Mesma Chuva em 1999, e voltou a trabalhar em outras oportunidades posteriores. Nesse filme, ele interpreta Rafael Belvedere, um sujeito que vive a crise dos 40 anos enquanto resolve problemas do seu restaurante e lida com o Alzheimer de sua mãe. Num papel delicado, que mescla humor com drama, Darín tem aqui uma das suas melhores atuações.

3- Clube da Lua (2004)


Mais uma parceria de Ricardo Darín com o diretor Campanella, O Clube da Lua (Luna de Avellaneda) conta a história da casa de dança Luna de Avellaneda, fundada em Buenos Aires na década de 40, e que está a beira de fechar as portas por falta de recursos. Seus fundadores, entre eles o personagem de Darín, fazem de tudo para evitar que isso aconteça. O filme tem um forte tom nostálgico e emociona os olhos mais sensíveis.

4- O Segredo dos Seus Olhos (2009)

O Segredo dos Seus Olhos (El Segreto de Sus Ojos) é a parceria mais bem sucedida de Darín com o Campanella. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010, é também um dos melhores filmes argentinos de todos os tempos. Na trama, Darín vive Benjamin Esposito, um oficial de justiça que se aposentou recentemente. Ele passa a escrever um livro sobre um caso marcante da sua carreira e acaba se reconectando com a história. Um filme envolvente, e mais uma atuação marcante do ator .

5- Um Conto Chinês (2011)


Talvez Um Conto Chinês (Un Cuento Chino) seja o filme mais descontraído da carreira do ator. A trama de um argentino e um chinês que são unidos pela história de uma vaca que caiu do céu encantou muita gente nos cinemas em 2011. Roberto, personagem de Darín, é dono de uma ferragem e um cara solitário, com dificuldade de aceitar a presença de outras pessoas na sua vida. Isso acaba mudando aos poucos, com a presença inesperada do chinês, que não fala nem uma palavra de espanhol e está perdido pelas ruas da cidade.

Crítica: Birdman (2014)


Quem vem lá? É um avião? É um pássaro? Não, quase isso. É Birdman, o super-herói fictício criado por Alejandro González Iñarritú. Quinto longa-metragem do diretor mexicano, do qual sou fã desde o primeiro (Amores Brutos), Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é tão genial quanto o seu subtítulo e um dos filmes mais originais já vistos nas telas dos cinemas.



Birdman, ou melhor, Riggan Thomson (Michael Keaton), ficou famoso na década de 90 ao protagonizar três filmes sobre o super-herói voador, baseados em histórias em quadrinhos. Com o passar dos anos, a carreira de Riggan caiu no ostracismo e perdeu espaço na mídia, principalmente depois de ele ter rejeitado filmar uma quarta sequência para a franquia.

Para se reerguer na carreira, Riggan decidiu migrar para a Broadway, onde começou a dirigir e a atuar em sua própria peça dramática. Nos ensaios ele dá tudo de si e exige isso também dos atores, o que faz com que ele demita quem não mostra capacidade para o papel principal. Com ajuda de sua filha Sam (Emma Stone) e seu produtor Jake, ele procura por um ator que se encaixe perfeitamente à peça e é nesse momento que aparece Mike Sneier (Edward Norton).


Sem o mesmo prestígio de antigamente, mas contando com apoio de todos ao redor, Riggan vai percebendo que seu personagem na peça vai tendo mais similaridade com sua vida fora dos palcos do que ele mesmo esperava. Durante todo o filme, uma espécie de alter-ego seu, na forma do próprio Birdman, tenta a todo custo desestimular ele a dar andamento no gênero dramático e voltar para a ação. 

Aliás, é nessa parte que o diretor faz uma excelente crítica ao mundo do entretenimento atual, em que é preciso se ter mais ação e menos diálogos para chamar a atenção do público. Muitos com certeza irão ao cinema pensando assistir um filme típico de super-herói e irão se decepcionar. Para obter sucesso hoje em qualquer setor cultural, seja no cinema, na música ou na televisão, não é preciso ter talento, e é daí que vem o sensacional subtítulo "A Inesperada Virtude da Ignorância".



O filme é filmado como se fosse um grande plano sequência (apesar de não ser por inteiro, boa parte foi de fato filmada sem interrupção). Isso de certa forma cria mais intimidade com o público, que passeia pelos bastidores do teatro como um espectador onipresente. A trilha sonora é, pasmem, toda feita através de solos de bateria. Isso mesmo, não há melodia trabalhada, nem cordas, nem nada, apenas os tambores de uma bateria subindo e descendo conforme a dramaticidade da cena, e isso foi simplesmente genial.

A indústria do entretenimento é massante, desgastante, e Iñarritú faz aqui uma crítica ferrenha aos próprios críticos que, segundo ele, tem esse trabalho porque não sabem fazer mais do que isso. A história de Riggan seria uma coincidência com a vida real de Michael Keaton, que filmou Batman (também nos anos 90) e depois caiu no ostracismo? Sinceramente, eu acredito que sim, ainda que o diretor não tenha deixado isso explícito.

Falando em Keaton, a atuação dele não é menos do que espetacular, e é merecida sua indicação como melhor ator em boa parte das premiações desse ano. Quem também está impecável é Edward Norton, que também concorre como ator coadjuvante, inclusive no Óscar. Aliás, fazia tempo que ele não fazia um trabalho tão interessante.



O final é subjetivo, e talvez seja exatamente isso que o diretor queria. Ele brinca com a verdade, e principalmente com a cabeça do telespectador. Original como poucos filmes da atualidade, é um filme que deixa o espectador vidrado do início ao fim, até porque não pára um segundo. É impressionante como o tempo passa e você nem percebe, e confesso que ficaria mais horas assistindo-o sem perceber.

Por fim, Birdman não tem uma história de superação, não conta uma história real, nem possui os famosos sons de violinos que embalam uma trama dramática, mas então porque ele está no Óscar? Talvez porque é justamente isso que faltava para o cinema atual: originalidade, e isso o filme tem de sobra. Independente de premiações, podemos dizer que o maior vencedor nesse caso é o próprio cinema.


Por que a trilogia "O Hobbit" fracassou?

Poucas coisas são mais frustantes do que criar uma expectativa imensa para um filme e ver tudo indo por água abaixo já nos primeiros minutos. Pior ainda é quando você espera ansioso pela adaptação de um livro que você gosta muito e o filme acaba sendo uma decepção sem tamanho. Pois com O Hobbit eu tive esse sentimento.



Quando li a notícia que Peter Jackson transformaria O Hobbit, livro escrito por J. R. R. Tolkien, em filme, minha expectativa foi lá no alto. Quando ele anunciou que seriam três filmes, no entanto fiquei desconfiado. Afinal de contas, como preencher três filmes, cada um com cerca de 2h30min, com uma história contada em pouco mais de 300 páginas? Vale lembrar que a outra história das Terra Média levada às telas, o sucesso fenomenal O Senhor do Anéis, também teve três filmes, mas derivados de um livro com mais de mil páginas.

O primeiro filme da saga até me agradou, para dizer a verdade. O segundo já foi mais ou menos, mas o terceiro conseguiu ser terrível e fechou a trilogia de forma vergonhosa. Pois bem, vocês devem estar se perguntando o que de fato não me agradou. Começo falando então dos efeitos especiais. Extremamente exagerados e superficiais, eles deixaram o filme com uma aparência de jogos de vídeo-game. Os personagens não pulavam, saltitavam. Ficou tão falso quanto uma nota de três reais. Em comparação com O Senhor dos Anéis, Peter Jackson teve dessa vez em mãos uma tecnologia ainda mais avançada e em 3D, e talvez tenha sido exatamente isso que estragou. O excesso as vezes não cai bem.

O roteiro por si só deixou diversos furos e pontas soltas, e qualquer um que tenha lido o livro percebe isso explicitamente. Nesse momento muitos vão dizer que "um filme não precisa ser extremamente fiel ao livro", mas com isso eu não concordo. Se é para adaptar para as telas, que seja pelo menos o mais próximo possível do original. Foram dois filmes e meio de "enrolação" para no final mostrar tudo de forma corrida, deixando coisas sem nenhuma explicação. O terceiro filme começa sem nenhuma espécie de introdução, o que deixa qualquer um perdido (a não ser que você olhe os três filmes de uma vez só, sem parar). Nem as atuações de um excelente elenco salvaram a trilogia, pois pareciam todos marionetes de um enredo vazio.


O exagero nos efeitos foi o principal ponto negativo da franquia.

Festivais e premiações nem sempre devem servir de parâmetro para dizer se um filme é bom ou ruim, mas em alguns casos sim, isso quer dizer alguma coisa. Não é à toa que o sucesso anterior de Peter Jackson levou para casa nada menos do que 22 estatuetas do Óscar das 30 que disputou. Já O Hobbit termina sua sequência quase esquecido pelas premiações e sem levar nenhum prêmio para casa.

Por mais que os filmes tenham sido abaixo do esperado, não há como negar que a velha música do condado dos hobbits ainda emociona. No final do último filme há também uma espécie de prólogo da história de Os Senhor dos Anéis, retratando o apêndice que Tolkien escreveu no final do livro original. Outra ligação feita entre uma história e outra é o fato de mostrar quando Bilbo Bolseiro encontra o anel que Frodo destrói anos depois.

Opinião da Crítica e o desempenho nas bilheterias

A opinião dos críticos, em geral, foi bastante dividida. Peter Jackson utilizou na trilogia uma tecnologia revolucionária, utilizando 48 quadros por segundo ao invés do padrão que é 24. Enquanto alguns afirmaram que "tudo parecia mais nítido, dando uma sensação mais real e suave", outros disseram que "a qualidade ultra-real possibilitou detectar mais fácil sets pintados e narizes falsos do que em qualquer outro filme".

A única coisa que dá para dizer que não foi um fracasso em O Hobbit foi o valor arrecadado nas bilheterias. E assim como premiações, todos sabemos que isso também não quer dizer absolutamente nada. Os três filmes foram um sucesso, arrecadando mais que o triplo do orçamento, sobretudo o último filme. Salas lotadas também dividiram opiniões, mas em sua grande maioria foram positivas.

Em um passado não tão distante, os efeitos eram apenas ferramentas extras para dar realismo a determinados tipos de histórias, e não o "carro-chefe" de uma produção. Por fim, a dúvida que fica é a mesma que já vem de anos: será que o cinema está realmente indo para frente com a ajuda da tecnologia ou será que está regredindo? Será que o talento está perdendo seu valor com o uso exacerbado da computação? Isso eu deixo para vocês refletirem.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Crítica: O Jogo da Imitação (2014)


Desde pequeno, Alan Turing (Benedict Cumberbatch) era considerado um prodígio no colégio, principalmente na matemática. Já adulto, quando o Reino Unido declarou guerra à Alemanha em 1939, dando início ao que viria a ser o maior confronto armado da história, Turing resolveu se alistar como voluntário para ajudar o governo britânico a decodificar o chamado Enigma Alemão.


O Enigma era uma sequência numérica utilizada pelos alemães para se comunicarem via rádio durante a guerra, sem que ninguém descobrisse o que estava sendo dito. Nas mensagens estavam desde comandos até estratégias adotadas pelas tropas, e cada mensagem possuía mais de 159 milhões de combinações possíveis. Por conta disso, não se acreditava que um dia alguém conseguiria quebrar tal código, já que a tarefa parecia impossível para a mente humana.

Apesar da resistência dos oficiais, Turing conseguiu, com ajuda dos maiores matemáticos do país, criar uma máquina super potente, capaz de decifrar o enigma em poucos minutos. A máquina, além de ter ajudado os aliados a vencerem a guerra, é considerada um dos principais protótipos do computador que hoje usamos.


A personalidade de Turing sempre foi arrogante, de nariz empinado, e ele sempre se achou melhor do que todos. Isso começou a mudar quando ele conheceu seus colegas e principalmente Joan Clarke (Keira Knightley), com quem viveu um romance falso. Do meio para o final, o filme aborda outra faceta do matemático: a do homossexual enrustido, que foi perseguido pelo governo britânico após a guerra e preso sob acusação de indecência.

Um herói que salvou milhões de vidas para depois ser vilipendiado por causa de sua opção sexual. Esse é o grande mote do filme, que claro, vai muito além disso. Foi preciso mais de meio século para que enfim a Inglaterra reconhecesse o trabalho de Turing, que não viveu para ver isso com seus próprios olhos.


O roteiro é muito bom, e as atuações também impressionam. Benedict Cumberbatch está impecável e mereceu a indicação às principais premiações do ano. Quem também está muito bem é Keira Knightley, que chegou a concorrer como melhor atriz no Globo de Ouro. Por fim, filmes que abordam histórias desconhecidas da Segunda Guerra Mundial são sempre bem vindos, e o tema nunca deixará de ser bem apresentado nas telas.


Crítica: Libertador (2014)


Simon Bolívar é considerado um dos grandes mitos da história latino-americana, e basta irmos a alguns países vizinhos para enxergarmos pelas cidades diversas estátuas e monumentos em sua homenagem. Mas afinal, quem era esse homem que é tido como herói por boa parte da América? Contando um pouco da história desse líder revolucionário, O Libertador já pode ser considerado um grande marco na história do cinema venezuelano.



Bolívar lutou em mais de 100 batalhas e percorreu mais de 12 mil quilômetros pela América, das terras quentes do norte do continente às geladas montanhas dos Andes. No começo do século 19, a Venezuela ainda era uma província do reino espanhol, fazendo parte de uma extensa área denominada Nova Granada, que comprimia desde o Peru até partes onde hoje é o Panamá.

A luta de Bolívar era justamente contra o império Espanhol, em nome da independência dessa imensa região. Ele queria uma América unida e livre de qualquer colonização, e por isso recebeu a alcunha de Libertador. Reunindo pessoas de diversas tribos e etnias, ele conseguiu formar um exército capaz de lutar de frente com as forças espanholas.

O filme começa mostrando o lado humano de Simon, um homem que era dono de vastas terras na região e que se apaixonou por Maria Teresa, duquesa espanhola, depois de ter ido à Europa para aprimorar seus estudos. Anos depois ele voltaria ao velho continente, onde decidiria de uma vez por todas que não descansaria enquanto não visse as terras da América livres do colonialismo.



Representante da Venezuela no Óscar de 2015, O Libertador já conseguiu uma façanha e tanto: ficar entre os nove finalistas ao prêmio de melhor filme estrangeiro. Com cenas extremamente realistas das batalhas, o filme é uma verdadeira superprodução e um dos filmes mais interessantes já feitos na América Latina. As atuações são excelentes, e o enredo segura o público até o fim, que sai do cinema admirado.


Confira a lista de indicados ao Óscar 2015


Foram anunciados na manhã desta quinta-feira (15) todos os indicados ao Óscar 2015, que ocorre dia 22 de fevereiro, e podemos dizer, sem medo de errar, que é uma das melhores listas dos últimos anos. Os grandes destaques dessa edição são Birdman, de Alejandro González Iñarritú, e O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, cada um com nove indicações.

Diferentemente dos últimos três anos, dessa vez o prêmio de melhor filme será disputado entre oito filmes, e não nove. Se compararmos com o Globo de Ouro que ocorreu no último domingo, e que sempre serve como uma prévia do Óscar, as grandes surpresas na categoria ficaram por conta de Sniper Americano (ignorado completamente na outra premiação) e Whiplash: Em Busca da Perfeição. As ausências mais sentidas são as do britânico Pride, de Big Eyes, do diretor Tim Burton (surpreendentemente ignorado por completo nessa edição), do drama Corações de Ferro e de Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo.


Na categoria de melhor direção, a grande surpresa (mas nem tanto assim) é o nome de Bennett Miller, por Foxcatcher, que já virou figurinha carimbada na premiação, mas que esse ano sinceramente não merecia. A ausência mais sentida foi a do experiente David Fincher, por Garota Exemplar, ou até mesmo a de Clint Eastwood, que era pouco provável mas ainda tinha chances.

Na parte das atuações, pouquíssimas surpresas. Marion Cottilard, que não era nem cogitada, ficou entre as cinco finalistas ao prêmio de melhor atriz, merecidamente diga-se de passagem. Além dela, Laura Dern também foi uma surpresa, concorrendo para melhor atriz coadjuvante por Livre. A ausência mais sentida entre as mulheres é a de Amy Adams, que recebeu o prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro, e entre os homens a de Ralph Fiennes, por O Grande Hotel Budapeste.

Na parte de roteiros, a surpresa foi a ausência de Garota Exemplar e a presença de O Abutre. Para melhor filme estrangeiro, cinco bons filmes estão na disputa, e a ausência mais sentida é a do sueco Força Maior. Na parte técnica, destaque para Interestelar, que não recebeu nenhuma indicação nas principais categorias mas terminou com 5 no total. A lista completa vocês conferem abaixo.

Birdman e O Grande Hotel Budapeste, os dois destaques dessa edição.

MELHOR FILME
- A Teoria de Tudo
- Birdman
- Boyhood: Da Infância à Juventude
- O Grande Hotel Budapeste
- O Jogo da Imitação
- Selma
- Sniper Americano
- Whiplash: Em Busca da Perfeição

MELHOR DIRETOR
- Alejandro González Iñarritú, por Birdman
- Bennet Miller, por Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
- Morten Tyldum, por O Jogo da Imitação
- Richard Linklater, por Boyhood: Da Infância à Juventude
- Wes Anderson, por O Grande Hotel Budapeste


MELHOR ATOR
- Benedict Cumberbatch, por O Jogo da Imitação
- Bradley Cooper, por Sniper Americano
- Eddie Redmayne, por A Teoria de Tudo
- Michael Keaton, por Birdman
- Steve Carell, por Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo

MELHOR ATRIZ
- Felicity Jones, por A Teoria de Tudo
- Julianne Moore, por Para Sempre Alice
- Marion Cottillard, por Dois Dias, Uma Noite
- Reese Whiterspoon, por Livre
- Rosamund Pike, por Garota Exemplar

MELHOR ATOR COADJUVANTE
- Edward Norton, por Birdman
- Ethan Hawke, por Boyhood: Da Infância à Juventude
- J.K. Simmons, por Whiplash: Em Busca da Perfeição
- Mark Ruffalo, por Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
- Robert Duvall, por O Juíz


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
- Emma Stone, por Birdman
- Keira Knightley, por O Jogo da Imitação
- Laura Dern, por Livre
- Meryl Streep, por Caminhos da Floresta
- Patricia Arquette, por Boyhood: Da Infância à Juventude


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
- Birdman
- Boyhood: Da Infância à Juventude
- Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
- O Abutre
- O Grande Hotel Budapeste

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
- A Teoria de Tudo
- O Jogo da Imitação
- Sniper Americano
- Vício Inerente
- Whiplash: Em Busca da Perfeição


MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
- Como Treinar seu Dragão 2
- Operação Big Hero
- Os Boxtrolls
- Song of the Sea
- The Tale of the Princess Kaguya

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
- Ida (Polônia)
- Leviatã (Rússia)
- Relatos Selvagens (Argentina)
- Tangerines (Estônia)
- Timbuktu (Mauritânia)


MELHOR TRILHA SONORA
- A Teoria de Tudo
- Interestelar
- O Grande Hotel Budapeste
- O Jogo da Imitação
- Sr. Turner


MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
- Everything is Awesome, de Uma Aventura LEGO
- Grateful, de Além das Luzes
- Glory, de Selma
- I'm Not Gonna Miss You, de Glenn Campbell: I'll be me
- Lost Stars, de Mesmo se Nada der Certo


MELHOR EDIÇÃO DE SOM
- Birdman
- Interestelar
- Invencível
- O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
- Sniper Americano

MELHOR MIXAGEM DE SOM
- Birdman
- Interestelar
- Invencível
- Sniper Americano
- Whiplash: Em Busca da Perfeição


MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
- Caminhos da Floresta
- Interestelar
- O Grande Hotel Budapeste
- O Jogo da Imitação
- Sr. Turner


MELHOR FOTOGRAFIA
- Birdman
- Ida
- Invencível
- O Grande Hotel Budapeste
- Sr. Turner


MELHOR MAQUIAGEM
- Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
- Guardiões da Galáxia
- O Grande Hotel Budapeste


MELHOR FIGURINO
- Caminhos da Floresta
- Malévola
- O Grande Hotel Budapeste
- Sr. Turner
- Vício Inerente


MELHOR EDIÇÃO FINAL
- Boyhood: Da Infância à Juventude
- O Grande Hotel Budapeste
- O Jogo da Imitação
- Sniper Americano
- Whiplash: Em Busca da Perfeição


MELHORES EFEITOS ESPECIAIS
- Capitão América: O Soldado Invernal
- Guardiões da Galáxia
- Interestelar
- Planeta dos Macacos: O Confronto
- X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE LONGA METRAGEM
- Citizenfour
- Finding Vivian Maier
- Last Days in Vietnam
- O Sal da Terra
- Virunga


MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA METRAGEM
- Crisis Hotline: Veterans Press 1
- Joanna
- Our Curse
- The Reaper (La Parka)
- White Earth


MELHOR CURTA METRAGEM
- Aya
- Boogaloo and Graham
- Butter Lamp
- Parvaneh
- The Phone Call


MELHOR CURTA METRAGEM DE ANIMAÇÃO
- A Single Life
- Feast
- Me and My Moulton
- The Bigger Picture
- The Dam Keeper

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Crítica: Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo (2014)


Confuso, lento e sombrio, Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo tinha tudo para ser um grande filme mas derrapa feio num roteiro arrastado e mal construído. O novo longa de Bennett Miller (Capote / O Homem que Mudou  Jogo) mostra os últimos dias de vida do medalhista olímpico Dave Shultz e sua relação com o irmão Mark Shultz e o milionário John Du Pont.



Dave (Mark Ruffalo) treina diariamente com seu irmão Mark (Chaning Tatum), também um renomado atleta da luta greco-romana. Essa rotina faz parte de sua vida até que Mark recebe uma ligação da parte de John Du Pont (Steve Carell), um multimilionário americano da dinastia Du Pont, uma das famílias mais ricas dos Estados Unidos.

Du Pont resolveu bancar os principais atletas do país na luta livre e na luta greco-romana, abrigando boa parte deles na fazenda Foxcatcher, na Pensilvânia, e convidou Mark e seu irmão para fazerem parte da equipe. Dave, no entanto, rejeitou a proposta por causa da família, e Mark acabou indo sozinho.


Acostumado a treinar em um ginásio velho e com pouca estrutura, Mark encontra na casa de Du Pont um lugar com as aparelhagens mais modernas que existem no esporte. Ele ganha, além da moradia, tudo aquilo que precisa, mas em troca John exige que ele ganhe o Mundial que acontecerá em poucos meses.

Depois de muita conversa, Dave também aceita ir para a fazenda de Du Pont, mas para ser o treinador oficial da equipe para os jogos olímpicos de Seul. No final, acontece aquele que seria o fato que "chocou o mundo", mas que na verdade poucos conhecem. E convenhamos, essa parte foi muito mal contada.


Por fim, fica a impressão de que o filme todo foi lento até chegar ao final, onde acontece tudo tão rápido que você nem percebe (e entende direito). A direção de Miller (um diretor bastante controverso, mas com cadeira cativa no Óscar) é bastante fraca, e o ponto máximo do filme fica por conta da transformação física do comediante Steve Carell. No entanto, nem isso salvou o filme do fracasso.