sexta-feira, 31 de julho de 2015

Crítica: La Isla Mínima (2015)


Suspense e cinema espanhol são duas coisas que combinam e sempre rendem bons resultados na tela. Vencedor de dez Prêmios Goya em 2015, o "Óscar espanhol", La Isla Mínima é um excelente thriller do gênero e já pode ser considerado o melhor filme da carreira do cineasta Alberto Rodríguez.



A trama começa com o desaparecimento de duas irmãs que vivem em uma pequena cidade no interior da Espanha. Para desvendar o caso são chamados dois detetives de outra cidade, Pedro (Raul Arévalo) e Juan (Javier Gutiérrez), que por sua vez precisam lidar com suas próprias diferenças para juntos descobrir a verdade por trás dos fatos.

Logo de cara, se torna inevitável a comparação com a série americana de televisão True Detective, não só na questão técnica, como nas características da história e dos personagens envolvidos. Assim como na série, os diálogos entre os dois detetives de personalidades opostas são muito bem construídos e se tornam o grande trunfo da história graças às boas atuações dos atores.



O destaque técnico fica por conta, principalmente, da belíssima fotografia, onde as tomadas aéreas são um caso à parte. Além disso, o enredo possui um perspicaz clima de tensão, digno dos melhores filmes do gênero, sempre acompanhado por uma trilha sonora certeira. Porém, apesar de todos esses pontos positivos, o enredo infelizmente parece derrapar do meio para o final ao deixar algumas coisas essenciais sem o devido aprofundamento, o que infelizmente compromete bastante o resultado final.

Por fim, La Isla Mínima pode até não ser aquilo que se esperava, principalmente pelo número de prêmios que conquistou deste último ano para cá, mas tem qualidade e isso não deve ser desmerecido. Vale a pena nem que seja para admirar a sua beleza estética.


terça-feira, 28 de julho de 2015

Crítica: Lucia de B. (2014)


No ano de 2003, a enfermeira Lucia de Berk foi condenada pela corte holandesa a prisão perpétua depois de ser responsabilizada pela morte de sete pacientes de um hospital, entre eles bebês e idosos. Conhecida como "anjo da morte", ela lutou durante anos na justiça para tentar provar sua inocência em um dos casos mais controversos da história jurídica daquele país.



A trama acompanha justamente o longo período que transcorreu desde o primeiro momento de sua prisão até o veredicto final, que durou mais de seis anos. A suspeita sobre Lucia (vivida no filme por Ariane Schutler) surgiu depois que um bebê do hospital em que trabalhava chegou ao óbito por causas desconhecidas. Ao ouvir testemunhas e pesquisar sobre a vida dela, a polícia descobriu uma série de indícios que levavam a crer na sua culpabilidade, e isso bastou para que ela fosse levada a prisão.

No meio de tudo isso está Judith (Sallie Harmsen), uma jovem promotora que está iniciando na carreira e logo de cara recebe a missão de levar o polêmico caso aos tribunais. No começo ela faz seu trabalho e ajuda a pôr Lucia atrás das grades, mas após analisar novas provas que chegaram em suas mãos de forma clandestina, ela passa a desconfiar que tudo não passou de um erro e que Lucia poderia ser, sim, inocente.



O enredo consegue prender a atenção até o fim, principalmente de quem desconhece a história real, já que não deixa claro se Lucia é ou não inocente até que se chegue ao final. Esse clima de "suspense" se dá principalmente pela atuação de Ariane Schutler, que está simplesmente fantástica no papel principal, ora demonstrando ser uma pessoa de sentimentos, ora demonstrando frieza em lidar com a situação.

Além disso, o roteiro acerta em cheio ao criticar essa maneira rudimentar de se fazer justiça, onde em alguns países ainda é comum prenderem pessoas por meros indícios, sem ter provas reais e contundentes. Mais ainda mais poderosa é a critica feita ao circo midiático que se cria ao redor de casos como esses, onde os meios de comunicação acabam por influenciar todos os envolvidos no processo e criam uma raiva coletiva na população apenas por boatos.



Representante da Holanda no último Óscar para melhor filme estrangeiro, Lucia de B. é um drama que tem sim os seus defeitos, mas no geral é bem interessante. Senti falta de uma visão mais ampla da vida particular de Lucia, mas talvez esse mistério é que faça dela uma personagem tão marcante. Por fim, Lucia de B. é um filme que vale muito a pena, e que já entra para a lista dos melhores do ano.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Crítica: Um Reencontro (2015)


Um homem e uma mulher se conhecem em uma festa e repentinamente sentem uma forte atração um pelo outro. Porém um deles é casado, e por conta disso se torna praticamente impossível levar essa relação adiante. Resumidamente, essa seria a sinopse do romance Um Reencontro, novo longa-metragem da francesa Lisa Azuelos, mas não se engane: ele vai além disso.



Elsa Santorini (Sophie Marceau) é uma escritora de sucesso que, apesar da carreira estável, sente uma tristeza muito grande por não ter um homem que a ame do seu lado para dividir as felicidades da vida. Durante a festa de lançamento de seu mais recente livro, Elsa acaba sendo apresentada a Pierre Solal (François Cluzet), um advogado que está de passagem pela cidade para resolver um caso.

Apesar de sentir uma forte atração por Pierre, Elsa logo desiste de tentar alguma coisa ao descobrir que ele é casado e tem filhos, o que definitivamente vai contra os seus princípios. Porém, um segundo encontro inesperado acontece durante uma festa e eles não conseguem evitar de ficarem juntos, ainda que seja só por uma noite. No final, decidem não trocar os telefones, e deixar assim que o destino decida se eles se verão novamente ou não.



Os dias passam e cada um continua vivendo sua vida, mas é evidente que um não consegue esquecer do outro. O enredo apela bastante para o lado psicológico e imaginativo dos personagens, que por sinal, trazem ótimas atuações. A harmonia que há entre os dois protagonistas é, desde o início, extremamente cativante, o que ajuda a criar um interesse no espectador em saber o que vai acontecer com eles e torcer para um final feliz, seja juntos ou não.

Apesar de flertar com alguns clichês do gênero, não dá para dizer que Um Reencontro não tenha sua originalidade. Pelo contrário, a paixão entre dois desconhecidos ganha uma nova abordagem, sob um prisma quântico. Sim, isso mesmo que você leu. Segundo o conceito simples da física quântica, um átomo pode estar em diferentes lugares e fazer trajetórias opostas ao mesmo tempo, o que no caso, explicaria as diferentes possibilidades que um relacionamento pode ter e os rumos que ele pode tomar. Complexo, não?


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Crítica: A História da Eternidade (2015)


O sertão nordestino já foi cenário de muitos dos melhores filmes já feitos pelo cinema nacional, e ele volta a ser explorado de forma brilhante em A História da Eternidade filme do estreante Camilo Cavalcante que conquistou o público e a crítica no Festival de Paulínia deste ano, onde levou todos os prêmios para casa.



A trama se passa em um minúsculo vilarejo localizado em algum ponto do nordeste, e intercala a história de três mulheres, com seus amores e suas dores. Alfonsina (Débora Ingrid) é uma menina ingênua que está prestes a completar 15 anos e tem como grande sonho um dia conhecer o mar. Seu pai é um homem rígido e machista que demonstra pouco afeto, o que ela acaba encontra em seu tio João (Irandhir Santos), um homem artístico que é mal visto pelos habitantes do local por sua excentricidade.

Na casa ao lado vive Querência (Marcélia Cartaxo), uma mulher que está desorientada e de luto após perder o filho pequeno, e não sabe se deve ou não ceder aos galanteios de Aderaldo (Leonardo França), um sanfoneiro cego que não mede esforços para conquistar o seu coração. O filme ainda conta a história de Das Dores (Zezita Matos), uma senhora viúva que tem a rotina alterada depois da chegada do neto Geraldo (Maxwell Nascimento) que mora em São Paulo com a mãe, e cuja visita guarda um grande segredo.




Por coincidência ou não, todas as histórias trazem um fim trágico e inesperado, que põe à prova a tranquilidade daquela pacata região. Contado de forma lírica, o filme possui cenas realmente memoráveis. Como esquecer, por exemplo, da cena em que João faz uma encenação com a música "Fala", do grupo Secos & Molhados? Impossível. Só assistindo para sentir a emoção que ela transmite.

Cada personagem do filme é trabalhado nos detalhes, e o ritmo cadenciado facilita para criarmos uma empatia muito grande com cada um deles. São pessoas comuns, mas com histórias fascinantes. Pessoas solitárias mas cheias de sonhos, que amam e sofrem ao mesmo tempo, e que vêem o tempo escorregar por entre os dedos entendendo que a vida é isso mesmo: um misto de sentimentos.



O roteiro mistura a banalidade da vida com a brutalidade repentina do ser-humano. Começa tocante, se torna curioso e termina impactante. A fotografia é espetacular, e a trilha sonora impecável. Não é exagero portanto dizer que trata-se de um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos, e talvez o melhor de 2015. 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Confira os vencedores da 2ª edição do Prêmio Platino de Cinema Ibero-Americano


Criado no ano passado para ser uma espécie de "Óscar do cinema ibero-americano", o Prêmio Platino teve sua segunda edição realizada neste último final de semana na cidade espanhola de Marbella, onde consagrou o argentino Relatos Selvagens (Relatos Salvajes). A comédia de Damián Szifrón venceu oito das dez categorias em que concorria, incluindo melhor filme, melhor direção e melhor roteiro. 

O Brasil também teve êxito na cerimônia e trouxe dois prêmios para casa: melhor documentário para o brilhante O Sal da Terra, sobre a vida e a obra do fotógrafo Sebastião Salgado, e melhor longa de animação para O Menino e o Mundo, onde também concorria Até que a Sbórnia nos Separe, do gaúcho Otto Guerra. Confira a lista completa dos indicados e vencedores abaixo.

Relatos Selvagens foi o grande vencedor da edição 2015.

MELHOR FILME
Conducta (Cuba)
La Isla Mínima (Espanha)
Mr. Kaplan (Uruguai)
Pelo Malo (Venezuela)
Relatos Selvagens (Argentina)

MELHOR DIREÇÃO
Alberto Rodríguez, por La Isla Mínima
Álvaro Brechner, por Mr. Kaplan
Damián Szifrón, por Relatos Selvagens
Ernesto Daranas, por Conducta
Mariana Rondón, por Pelo Malo

MELHOR ROTEIRO
Álvaro Brechner, por Mr. Kaplan
Damián Szifrón, por Relatos Selvagens
Ernesto Daranas, por Conducta
Mariana Rondón, por Pelo Malo
Rafael Cobos e Alberto Rodríguez, por La Isla Mínima

MELHOR ATOR
Benício Del Toro, por Escobar: Paraíso Perdido
Javier Gutiérrez, por La Isla Mínima
Jorge Perugorría, por La Pared de Las Palabras
Leonardo Sbaraglia, por Relatos Selvagens
Óscar Jaenada, por Cantinflas

MELHOR ATRIZ
Érica Rivas, por Relatos Selvagens
Gelaldine Chaplin, por Dólares de Areia
Laura de la Uz, por Vestido de Novia
Leandra Leal, por O Lobo Atrás da Porta
Paulina García, por Las Analfabetas
Samantha Castillo, por Pelo Malo

MELHOR LONGA METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Até que a Sbónia nos Separe (Brasil)
Dixie y Lá Rebelión Zumbi (Espanha)
La Leyenda de Las Momias de Guanajuato (México)
Meñique (Cuba)
Mortadelo e Filémón contra Jimmy el Cachondo (Espanha)
O Menino e o Mundo (Brasil)

MELHOR DOCUMENTÁRIO
2014 - Nacido em Gaza (Espanha)
El Vals de los Inútiles (Argentina/Chile)
O Sal da Terra (Brasil)
Quién es Dayani Cristal? (Chile)
Paco de Lucía: Lá Búsqueda (Espanha)

MELHOR TRILHA SONORA
Adán Jorodowski, por La Danza de la Realidad
Gustavo Dudamel, por Libertador
Gustavo Santaolalla, por Relatos Selvagens
Julio de la Rosa, por La Isla Mínima
Magda Rosa Galbán e Juan Antonio Leyva, por Conducta
Roque Baños, por El Niño

MELHOR FILME DE ESTREIA
10.000 Km, de Carlos Marqués-Marcet (Espanha)
Ciencias Naturales, de Matías Lucchese (Argentina)
La Distancia Más Larga, de Claudia Pinto Emperador (Espanha/Venezuela)
Mateo, de Maria Gamboa (Colômbia)
Vestido de Novia, de Marilyn Solaya (Cuba)

MELHOR FOTOGRAFIA
Alejandro Pérez, por Conducta
Alex Catalán, por La Isla Mínima
Álvaro Gutiérrez, por Mr. Kaplan
Javier Juliá, por Relatos Selvagens
Micaela Cajahuaringa, por Pelo Malo

MELHOR EDIÇÃO
Damián Szifrón e Pablo Barbieri, por Relatos Selvagens
José M. G. Moyano, por La Isla Mínima
Marité Ugas, por Pelo Malo
Nacho Ruiz Capillas, por Mr. Kaplan
Pedro Suárez, por Conducta

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
Daniel de Zayas e Pelayo Gutiérrez, por La Isla Mínima
Fabián Oliver e Nacho Royo-Villanova, por Mr. Kaplan
José Luiz Diáz, por Relatos Selvagens
Juan Carlos Herrera e Osmany Olivare, por Conducta
Lena Esquenazi e John Figueroa, por Pelo Malo

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
Clara Notari, por Relatos Selvagens
Erick Grass, por Conducta
Gustavo Ramírez, por Mr. Kaplan
Matías Tikas, por Pelo Malo
Pepe Domínguez, por La Isla Mínima

terça-feira, 14 de julho de 2015

Crítica: Divertida Mente (2015)


Se haviam boatos de que a Pixar estava passando por uma crise, Divertida Mente (Inside Out) veio para desmentir isso. Considerado por muitos o melhor filme do estúdio desde Toy Story 3 (lançado em 2010), o filme é do mesmo diretor do maravilhoso Up - Altas Aventuras, e assim como o antecessor, consegue nos fazer rir e chorar ao mesmo tempo de forma brilhante.


A trama conta a história de Riley, uma menina de onze anos que se vê obrigada a deixar sua cidade natal no meio-oeste para ir com os pais para São Francisco. A mudança não faz bem à menina, que não se adapta com a nova casa e muito menos com a nova escola, e passa a ter sentimentos que até então desconhecia. E é aí que entra a sacada genial do filme. 

A história, aparentemente comum, se passa dentro da cabeça de Riley, onde cinco sentimentos comandam as reações da menina e controlam suas memórias através de uma sala de comando: a alegria, a tristeza, a nojinho, a raiva e o medo. Para auxiliar na composição da personalidade da menina, existem ainda "ilhas" que se ligam à torre central, como a "família", a "amizade" e a "bobeira", que com a chegada da puberdade vão perdendo cada vez mais espaço.


Esse universo psicológico criado pelo filme é bastante complexo. Quando a alegria e a tristeza se perdem do restante dos sentimentos, elas andam por lugares que antes nem sabiam existir, como o terreno da imaginação, a fábrica de sonhos (que é mostrada como se fosse um estúdio de cinema) e até mesmo os perigos do subconsciente e dos pensamentos abstratos.

O mais importante de tudo é que o roteiro consegue mesclar muito bem o interior de Riley e os acontecimentos externos que ocorrem em sua vida, sem deixar nenhum dos dois de lado. No fim, a lição que fica é que todos os sentimentos são importantes para moldar nossa história de vida, até mesmo a tristeza, que muitas vezes serve para nos mostrar que a vida tem sim os seus momentos ruins, mas é preciso levantar a cabeça e seguir em frente.


Os personagens na cabeça de Riley são engraçadíssimos, com destaque para a tristeza, por mais controverso que isso possa parecer. No final ainda adentramos na mente de outros personagens, mostrando que cada um tem seu próprio universo emocional (fique atento que tem cenas pós-créditos). 

Por fim, Divertida Mente é tudo aquilo que os fãs da Pixar esperam de um filme: emocionante e divertido, e que consegue agradar a todas as idades. A dura chegada da adolescência e a perda da inocência de criança são fatores pelos quais todos nós já passamos, e isso ajuda a criar ainda mais empatia com a personagem principal. Não viu ainda? Então não perca tempo, pois vale muito a pena.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Crítica: Entre Abelhas (2015)


Conhecido por fazer parte de um dos maiores canais de humor da internet, o Porta dos Fundos, Fábio Porchat surpreende o público com o drama Entre Abelhas, um filme complexo e cheio de metáforas que foi escrito por ele e pelo diretor Ian SBF (também do Porta) há alguns anos atrás, antes do sucesso nacional.



A trama apresenta a história de Bruno (Porchat), um homem beirando os 30 anos que está sofrendo após sua separação repentina com Regina (Giovanna Lancellotti). De um dia para o outro algo estranho passa a acontecer na sua vida: ele começa a deixar de ver as pessoas ao seu redor, e todos, até mesmo os seus amigos, vão sumindo pouco a pouco.

Na busca por descobrir o que está acontecendo ele acaba visitando médicos, mas sem nunca conseguir chegar a uma resposta. A única pessoa que sabe disso é sua mãe, que tenta usar métodos "estranhos" para curá-lo, também sem sucesso. Enquanto isso, os misteriosos sumiços vão criando uma situação sufocante na cabeça de Bruno, atrapalhando sua vida social e principalmente seu desempenho no trabalho.



Bem trabalhado, o roteiro deixa o espectador angustiado ao se imaginar na mesma situação de Bruno e termina de forma enigmática, deixando um nó na cabeça que cada um irá desatar da maneira que melhor entender. Confesso que demorei um pouco para criar uma teoria própria do que tinha visto e acho que o filme já ganhou pontos por causa disso, pois se fosse tudo explicado talvez não teria tanta graça.

As atuações é que deixam um pouco a desejar, apesar de Porchat estar seguro no papel principal. Destaques para as cenas dele com sua mãe (Irene Ravache), que dão um ar leve ao filme, em contraste com todo o resto. Por fim, Entre Abelhas acerta ao fazer um questionamento subjetivo a respeito da cegueira social que nos encontramos atualmente, onde damos cada vez menos importância aos que estão ao nosso redor e enxergamos apenas a nós próprios.


terça-feira, 7 de julho de 2015

Crítica: O Físico (2014)


Baseado no best-seller homônimo do escritor norte-americano Noah Gordon, O Físico (The Physician) conta brilhantemente a história de Rob Cole (Tom Payne), um jovem corajoso e determinado que atravessou o mundo e enfrentou enormes barreiras para aprender a arte de salvar vidas através da medicina, numa época onde essa prática era proibida pelo fundamentalismo religioso.



Depois de ver sua mãe morrer de uma doença até então desconhecida, Rob acabou sendo adotado por um malandro barbeiro-cirurgião (Stellan Skarsgard), que percorria as principais cidades da Inglaterra com a promessa de curar as diversas enfermidades existentes na obscura Idade Média. A convivência com o barbeiro e as centenas de vidas salvas por ele fizeram com que Rob se apaixonasse pelo ofício e quisesse seguir os mesmos passos.

Após descobrir a existência de Ibn Sina (Ben Kingsley), um sábio médico que vivia no oriente e era conhecido pelo poder "mágico" de curar todo tipo de doença, Rob resolveu atravessar os milhares de quilômetros que separavam a Europa da Pérsia (onde hoje é o Iraque) para encontrá-lo, afim de aprimorar seus conhecimentos, mesmo sabendo que a tarefa não seria nada fácil.

Ao longo do caminho, Rob teve que enfrentar uma série de obstáculos, desde os perigos naturais do deserto até a perversidade de um muçulmano tirano que comandava a região onde vivia o médico. O roteiro é muito bem construído, e tem como mérito o retrato relevante que faz sobre o eterno conflito entre ciência e religião, que freou o avanço tecnológico na Idade Média, principalmente no ramo da medicina, onde qualquer tipo de cura era tratada como magia negra e levava muitos à morte pela inquisição.



As atuações são verossímeis, e os personagens bem trabalhados. A única coisa desnecessária na história talvez tenha sido o romance entre Rob e Rebecca (Emma Rigby), que ganhou mais destaque do que de fato deveria do meio para o final. Por fim, o que ninguém pode negar, no entanto, é que acima de tudo este filme é uma experiência visual incrível. A fotografia e a ambientação da época são impecáveis, assim como a trilha sonora, o que ajuda a transformá-lo em um jovem clássico.