terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Crítica: Uma Vida Oculta (2020)


Sou fã do trabalho de Terrence Malick, até mesmo do injustiçado A Árvore da Vida, e por isso fui com bastante expectativa assistir Uma Vida Oculta (A Hidden Life), que é baseado na história real e desconhecida de Franz Jaggerstatter, um objetor de consciência que preferiu a morte a aceitar jurar lealdade a Hitler. Confesso a vocês que terminei o filme um pouco decepcionado com o que vi, e explico o porque nas próximas linhas.


O filme começa em 1939, no interior da Áustria, onde Franz (August Diehl) vive com a esposa (Valerie Pachner) e com os filhos. A primeira metade do longa flui bem, mostrando o dia-dia de suas vidas tranquilas trabalhando na colheita e no trato dos animais. Nesse tempo Franz chega a ser chamado para o exército duas vezes, mas após um curto treinamento consegue a dispensa. Porém, na terceira, já em 1943, ele não consegue escapar, e é convocado a se apresentar ao exército de Adolf Hitler junto a outras centenas de soldados.

Resistente ao nazismo, Franz se negou a fazer o juramento político de lealdade logo ao chegar no quartel, e por isso acabou preso, acusado de ir contra o regime. A segunda metade do filme se passa toda nesse período da sua prisão, e é aí que ele parece perder o ritmo, se tornando absurdamente maçante. A narrativa lenta é, na maior parte do tempo, transcrita por uma narração em off dos personagens, tendo pouquíssimos diálogos interpessoais, característica já presente em outras obras de Malick mas que aqui se tornou repetitiva.


Outro fato que atrapalha um pouco a experiência é o uso dos idiomas no filme. Não incomodaria tanto o fato dele ser falado em inglês se não houvessem interferências do alemão no meio. Por exemplo, enquanto o personagem principal fala inglês (mesmo sendo austríaco), os guardas xingam em alemão, e isso cria uma miscelânea de linguagens que deixa tudo pouco verossímil. Também achei as atuações bem fracas, com destaque apenas para Bruno Ganz, que faleceu em fevereiro do ano passado e teve aqui sua última participação nas telas.

Porém, nem tudo é digno de reprimenda no filme. Achei muito interessante a utilização das cenas de arquivo dos comícios nazistas da época, grande parte feitas pela cineasta de propaganda do governo Leni Riefenstahl. Outro fator interessante é mostrar como a vizinhança passou a julgar Franz antes dele ir para o exército, e posteriormente como passaram a agir com os membros de sua família. Homens e mulheres que tinham a mesma rotina, mas que passaram a enxergá-los como vilões apenas por serem contrários ao regime.


Terrence é associado a um cinema de belas imagens, contemplativo, e aqui ele não foge à regra. A fotografia do filme é realmente encantadora, em mais uma parceria do diretor com Jorg Widmer, mas infelizmente um filme não sobrevive apenas disso. Sua beleza estética acaba sendo pouco para a desconjuntura de todo o resto, o que torna o filme descartável no geral.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Crítica: Corpus Christi (2020)


Representante da Polônia no Óscar de melhor filme internacional este ano, Corpus Christi (Boze Cialo), do diretor Jan Komasa, apresenta uma narrativa de estrutura simples mas impactante para versar sobre o bem e o mal, e como essa dualidade é, de certa forma, complexa e dividida por uma linha tênue.


O longa acompanha Daniel (Bartosz Bielenia), um jovem cristão que, por uma série de coincidências, acaba sendo confundido com um padre após sair do centro de detenção juvenil e ir para uma cidade do interior. Assumindo a paróquia no lugar do sacerdote local, que precisava se ausentar por alguns meses, Daniel começa a implantar ensinamentos controversos e pouco ortodoxos numa população conservadora e que passou recentemente por uma grande tragédia.

A premissa é interessante, mas o roteiro possui alguns pontos fracos que o comprometem. O primeiro deles é o fato de possuir algumas cenas aleatórias, que pareciam perdidas do restante da trama. O segundo é a escolha do ator protagonista, que não convence no papel. Ficou bem difícil acreditar, por exemplo, que ele seria capaz de enganar toda uma cidade com os seus trejeitos e sua maneira de agir e falar.

O mais interessante na trama foi ela ter trazido à tona novamente a discussão sobre a hipocrisia dos cristãos e dos ditos "cidadãos de bem", que pareceu bem familiar com a realidade que a gente está inserido. Também gostei da fotografia escura e esverdeada, que dá um tom bem melancólico ao filme.



Por fim, Corpus Christi é um filme que fala bastante sobre olhar para o passado, sobre ética, perdão, redenção e sobre como as pessoas escondem suas verdadeiras facetas e seus preconceitos atrás de máscaras. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Os vencedores do Oscar 2020

Foram entregues na noite de ontem em Los Angeles os 24 prêmios do Óscar, que chegou a sua 92ª edição. Confesso que há alguns anos eu não via um Óscar tão legal e com tantas boas surpresas, e fiquei muito satisfeito com tudo que vi. A maior surpresa da noite (além da apresentação inesperada do rapper Eminem, que deixou todo mundo sem entender nada) foi a vitória do sul-coreano Parasita como melhor filme do ano, um feito histórico jamais alcançado antes por um filme em língua não-inglesa. O filme de Bong Joon-ho conquistou ainda mais 3 estatuetas, todas super importantes: melhor direção, melhor roteiro original e melhor filme internacional. O segundo longa mais premiado da noite foi 1917, que ganhou todos os seus Oscars em categorias técnicas (fotografia, mixagem de som e efeitos visuais).



Coringa, que foi o filme com mais indicações nesta edição (11 no total), saiu do Teatro Dolby com apenas 2 Oscars, o de melhor trilha sonora e o de melhor ator, para o excelente Joaquin Phoenix, que fez um bom discurso sóbrio sobre sustentabilidade. No restante dos prêmios de atuação não houve nenhuma surpresa também; Renée Zellweger se sagrou vencedora do prêmio de melhor atriz por Judy, Laura Dern venceu como melhor atriz coadjuvante por História de um Casamento e Brad Pitt venceu como melhor ator coadjuvante por Era Uma Vez em Hollywood.

Outra boa surpresa da noite (apesar de ter sido minha aposta no bolão) foi o prêmio de roteiro adaptado para Taika Waititi e seu Jojo Rabbit. Na categoria de melhor animação ganhou o mais óbvio, Toy Story 4. A única categoria que me deixou chateado foi a de melhor documentário, pois sinceramente achava todos os outros 4 concorrentes melhores do que o vencedor, principalmente For Sama. Na parte dos curtas, fiquei positivamente surpreso com a vitória de The Neighbor's Window, que tinha minha torcida mas cuja vitória eu realmente não acreditava ser possível.  Enfim, confira abaixo a lista de todos os vencedores (em negrito):

Melhor Filme
- 1917, de Sam Mendes
- Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig
- Coringa, de Todd Phillips
- Era Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino
- Ford vs. Ferrari, de James Mangold
- História de um Casamento, de Noah Baumbach
- Jojo Rabbit, de Taika Waititi
- O Irlandês, de Martin Scorsese
- Parasita, de Bong Joon-ho

Melhor Diretor
- Bong Joon-ho, de Parasita
- Martin Scorsese, de O Irlandês
- Quentin Tarantino, de Era Uma Vez em... Hollywood
- Sam Mendes, de 1917
- Todd Phillips, de Coringa

Melhor Ator
- Adam Driver, por História de um Casamento
- Antonio Banderas, por Dor e Glória
- Joaquin Phoenix, por Coringa
- Jonathan Pryce, por Dois Papas
- Leonardo DiCaprio, por Era Uma Vez em... Hollywood

Melhor Atriz
- Charlize Theron, por O Escândalo
- Cynthia Erivo, por Harriet
- Renéé Zellweger, por Judy
- Saoirse Ronan, por Adoráveis Mulheres
- Scarlett Johansson, por História de um Casamento

Melhor Ator Coadjuvante
- Al Pacino, por O Irlandês
- Anthony Hopkins, por Dois Papas
- Brad Pitt, por Era Uma Vez em... Hollywood
- Joe Pesci, por O Irlandês
- Tom Hanks, por Um Lindo Dia na Vizinhança

Melhor Atriz Coadjuvante
- Florence Pugh, por Adoráveis Mulheres
- Kathy Bates, por O Caso Richard Jewell
- Laura Dern, por História de um Casamento
- Margot Robbie, por O Escândalo
- Scarlett Johansson, por Jojo Rabbit

Melhor Roteiro Original
- 1917
- Entre Facas e Segredos
- Era Uma Vez em... Hollywood
- História de um Casamento
- Parasita

Melhor Roteiro Adaptado
- Adoráveis Mulheres
- Coringa
- Dois Papas
- Jojo Rabbit
- O Irlandês

Melhor Filme Estrangeiro
- Corpus Christi (Polônia)
- Dor e Glória (Espanha)
- Honeyland (Macedônia do Norte)
- Os Miseráveis (França)
- Parasita (Coreia do Sul)

Melhor Animação
- Como Treinar seu Dragão 3
- Link Perdido
- Klaus
- Perdi Meu Corpo
- Toy Story 4

Melhor Documentário
- Democracia em Vertigem
- For Sama
- Honeyland
- Indústria Americana
- The Cave

Melhor Fotografia
- 1917
- Coringa
- Era Uma Vez em... Hollywood
- O Farol
- O Irlandês

Melhor Trilha Sonora
- 1917
- Adoráveis Mulheres
- Coringa
- História de um Casamento
- Star Wars: A Ascensão Skywalker

Melhor Design de Produção
- Adoráveis Mulheres
- Coringa
- Era Uma Vez em... Hollywood
- Jojo Rabbit
- O Irlandês

Melhores Efeitos Visuais
- 1917
- O Irlandês
- O Rei Leão
- Star Wars: A Ascensão Skywalker
- Vingadores: Ultimato

Melhor Figurino
- Adoráveis Mulheres
- Coringa
- Era Uma Vez em... Hollywood
- Jojo Rabbit
- O Irlandês

Melhor Cabelo e Maquiagem
- 1917
- Coringa
- Judy
- Malévola: A Dona do Mal
- O Escândalo

Melhor Montagem
- Coringa
- Ford vs Ferrari
- Jojo Rabbit
- O Irlandês
- Parasita

Melhor Edição de Som
- 1917
- Coringa
- Era Uma Vez em... Hollywood
- Ford vs. Ferrari
- Star Wars: A Ascensão Skywalker

Melhor Mixagem de Som
- 1917
- Ad Astra
- Coringa
- Era Uma Vez em... Hollywood
- Ford vs. Ferrari

Melhor Canção Original
- I Can't Let You Throw Yourself Away, de Toy Story 4
- I'm Gonna Love me Again, de Rocketman
- I'm Standing With You, de Breakthrough
- Into the Unknown, de Frozen 2
- Stand Up, de Harriet

Melhor Curta-metragem
- A Sister
- Brotherhood
- Nefta Football Club
- Saria
- The Neighbor's Window

Melhor Documentário em Curta-metragem
- A Vida em Mim
- In the Absence
- Learning to Skateborad in a War Zone (If You're a Girl)
- St. Louis Superman
- Walk Run Cha-Cha

Melhor Curta-metragem de Animação
- Dcera (Daughter)
- Hair Love
- Kitbull
- Memorable
- Sister

sábado, 8 de fevereiro de 2020

As apostas e os favoritos ao Óscar 2020

Neste domingo (09) acontece em Hollywood a 92ª edição do maior prêmio do cinema mundial, o Óscar, e assim como faço em todos os anos vou usar esse espaço para fazer as minhas apostas e indicar os meus favoritos em todas as categorias da premiação. Confira:

MELHOR FILME

Nove filmes concorrem na categoria principal este ano, e de acordo com as premiações que servem de termômetro para o Óscar um deles se destaca como provável favorito. É o drama de guerra 1917, dirigido por Sam Mendes, que venceu o Globo de Ouro, o BAFTA, e também os prêmios dos sindicatos dos produtores e dos diretores. Logo atrás na corrida vem Era Uma Vez em... Hollywood, de Quentin Tarantino, que mostra os bastidores do cinema e de Hollywood (algo que os votantes do Óscar adoram). O Irlandês, de Martin Scorsese, chegou a constar como um dos favoritos, mas perdeu força nas últimas semanas, talvez pelo fato da Netflix ainda não ser vista com bons olhos por alguns membros da Academia. Não podemos deixar de lembrar também de Coringa, que é o recordista de indicações este ano e pode surpreender (para isso precisa vencer também o preconceito dos votantes com filmes de HQ). Coringa, aliás, é o meu favorito dentre todos, mesmo que talvez eu admita que estou escolhendo mais com a emoção do que com a razão. Há ainda quem aposte que o sul-coreano Parasita irá fazer história ao se tornar o primeiro filme em língua estrangeira a vencer o prêmio principal.

Quem deve vencer: 1917
Quem também tem boas chances: Era Uma Vez em... Hollywood
Quem pode surpreender: Parasita ou Coringa
MINHA TORCIDA: Coringa e 1917

MELHOR DIREÇÃO

Uma das categorias mais fortes este ano é a de melhor direção. Com exceção de Todd Philips e do sul-coreano Bong Joon-ho, que estão estreando no Oscar, os outros três nomes na lista são velhos conhecidos da premiação: Martin Scorsese (vencedor em 2007), Quentin Tarantino (vencedor em 2005 e 2013) e Sam Mendes (vencedor em 2000). Destes, o único que ainda não ganhou como melhor diretor foi Tarantino, que tem dois prêmios em casa mas de melhor roteiro original. Porém, mesmo com estes nomes conhecidos, há uma enorme possibilidade de Bong Joon-ho surpreender, visto que já ganhou alguns prêmios no ano.

Quem deve vencer: Sam Mendes
Quem também tem boas chances: Bong Joon-ho
Quem pode surpreender: Quentin Tarantino
MINHA TORCIDA: Sam Mendes

MELHOR ATOR

O favoritismo na categoria de melhor ator este ano é evidente e só uma zebra histórica poderia tirar a estatueta das mãos de Joaquin Phoenix. Sua atuação em Coringa é uma aula de interpretação, e nesta edição não há nenhum outro que possa concorrer de igual para igual. O que mais se aproxima talvez seja Leonardo DiCaprio, que também tem uma atuação de gala em Era Uma Vez em... Hollywood. Adam Driver corre por fora com História de um Casamento, mas mesmo que sua atuação tenha sido elogiável, dessa vez sua chance é praticamente nula.

Quem deve ganhar: Joaquin Phoenix
Quem também tem boas chances: Leonardo DiCaprio
Quem pode surpreender: Adam Driver
MINHA TORCIDA: Joaquin Phoenix

MELHOR ATRIZ

Assim como na categoria de melhor ator, aqui o favoritismo também é gritante para um nome: Renéé Zellweger, que tem a atuação mais impressionante da sua carreira em Judy - Além do Arco-Íris e venceu todos os prêmios do ano da categoria até então. A única que poderia ter alguma chance de vencê-la seria Scarlett Johansson, por História de um Casamento, mas acho muito difícil. Tem quem ainda aposte em Saoirse Ronan, que está concorrendo ao Óscar pela 3ª vez em menos de 4 anos.

Quem deve ganhar: Renéé Zellweger
Quem também tem boas chances: Scarlett Johansson
Quem pode surpreender: Saoirse Ronan
MINHA TORCIDA: Renéé Zellweger


MELHOR ATOR COADJUVANTE

Esta é provavelmente a categoria mais pesada deste Óscar, devido aos nomes envolvidos: Tom Hanks (2 Óscars), Anthony Hopkins (1 Óscar), Al Pacino (1 Óscar), Joe Pesci (1 Óscar) e Brad Pitt. O último é o único que ainda não tem nenhum óscar de atuação (ele já tem um como produtor por 12 Anos de Escravidão) mas tudo indica que ele deve conquistar o prêmio pela primeira vez. Eu sinceramente prefiro Al Pacino, ou até mesmo Joe Pesci, que estão sensacionais em O Irlandês, porém é inegável o favoritismo de Pitt.

Quem deve ganhar: Brad Pitt
Quem também tem boas chances: Al Pacino
Quem pode surpreender: Joe Pesci
MINHA TORCIDA: Al Pacino


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

O favoritismo no prêmio de melhor atriz coadjuvante este ano é de Laura Dern por seu papel em História de um Casamento. É quase certo que ela deve levar a estatueta pela primeira vez na carreira, e das demais indicadas eu apostaria apenas em Scarlett Johansson (olha ela aí de novo) com alguma chance de reverter isto. Mas como já falei, [e muito difícil.

Quem deve ganhar: Laura Dern
Quem também tem boas chances: Scarlett Johansson
Quem pode surpreender: Florence Pugh
MINHA TORCIDA: Laura Dern


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
A categoria de melhor roteiro original é uma das mais imprevisíveis este ano, e é disputada diretamente por dois filmes: Era Uma Vez em... Hollywood e Parasita. O primeiro é de Quentin Tarantino, que já levou nada mais nada menos do que 2 Óscars nessa mesma categoria e vem de vitória no Globo de Ouro e no Critic's Choice. O segundo, de Bong Joon-ho, é o grande queridinho de todos no momento, e vem de vitória no BAFTA e no WGA. É com certeza a aposta mais difícil este ano, mas eu acredito que dê Parasita.

Quem deve ganhar: Parasita
Quem também tem boas chances: Era Uma Vez em... Hollywood
Quem pode surpreender: Entre Facas e Segredos
MINHA TORCIDA: Parasita


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Assim como na categoria de melhor roteiro original, a categoria de melhor roteiro adaptado também ficou em aberto depois das premiações nos últimos meses. O BAFTA e o WGA escolheram Jojo Rabbit e o Critic's Choice escolheu Adoráveis Mulheres, e tem ainda quem aposte em O Irlandês, do Scorsese. Minha aposta e meu favorito para ganhar é Jojo Rabbit, que para mim é um dos melhores filmes do ano.

Quem deve ganhar: Jojo Rabbit
Quem também tem boas chances: Adoráveis Mulheres
Quem pode surpreender: O Irlandês
MEU FAVORITO: Jojo Rabbit


MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Essa é uma das categorias que eu mais dou importância em todas as edições do Óscar, já que dá visibilidade a filmes dos mais diversos países do mundo, muitos dos quais nem chegam aos nossos cinemas. Pela lógica, este ano o prêmio vai para Parasita, por estar concorrendo em outras diversas categorias e ser o grande nome desta edição. É praticamente impossível pensar em outro vencedor, e o único que talvez pudesse ter alguma chance seria Dor e Glória, de Pedro Almodóvar.

Quem deve ganhar: Parasita (Coréia do Sul)
Quem também tem boas chances: Dor e Glória (Espanha)
Quem pode surpreender: Honeyland (Macedônia)
MINHA TORCIDA: Parasita (Coréia do Sul)

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Este ano a categoria de melhor filme de animação está muito dividida. Nem as premiações que antecedem o Óscar ajudaram nas apostas, visto que o Globo de Ouro premiou Link Perdido, o Critic's Choice premiou Toy Story 4 e Klaus venceu o BAFTA. Sim, cada um venceu uma premiação, e é impossível apontar um favorito. Porém, vou apostar em Klaus, apesar de ser de longe o que menos gostei da lista. Minha torcida este ano vai para Link Perdido, que não tem tanta probabilidade de levar o prêmio quanto os outros mas foi o que mais me conquistou.

Quem deve ganhar: Klaus
Quem também tem boas chances: Toy Story 4
Quem pode surpreender: Link Perdido ou Perdi meu Corpo
MINHA TORCIDA: Link Perdido

MELHOR DOCUMENTÁRIO
A categoria de melhor documentário também está super dividida este ano. O favorito era Indústria Americana, da Netflix, porém nas últimas semanas vem crescendo os nomes de Honeyland (também candidato a melhor filme estrangeiro), do brasileiro Democracia em Vertigem e do britânico For Sama (que venceu o BAFTA na semana passada). É difícil escolher um favorito pois todos são muito bons, mas mesmo admitindo que seria incrível ver o Brasil ganhar, minha torcida no final vai para For Sama por todo o misto de sentimentos que tive ao assisti-lo.

Quem deve ganhar: For Sama
Quem também tem boas chances: Indústria Americana
Quem pode surpreender: Democracia em Vertigem
MINHA TORCIDA: For Sama


MELHOR CURTA METRAGEM
Essa é uma categoria que deveria ser muito mais valorizada no Óscar, porém isso é muito difícil por conta da falta de distribuição dos filmes envolvidos. É uma verdadeira odisseia encontra-los pela internet, mas eu tive sorte de conseguir assistir todos os indicados dessa vez. Pra minha surpresa gostei muito de quase todos, com exceção de Brotherhood, que não me pegou. Minha aposta vai para Saria, pelo tema pesadíssimo e seu final que me deixou de coração apertado, mas gostaria muito de ver Nefta Football Club levar o prêmio por mostrar a inocência das crianças com um enredo engraçado e muito original.

Quem deve ganhar: Saria
Quem também tem boas chances: A Sister
Quem pode surpreender: Nefta Football Club
MINHA TORCIDA: Nefta Football Club


MELHOR CURTA METRAGEM DE ANIMAÇÃO
Assim como a categoria anterior, também acho que esta deveria ter muito mais visibilidade. Gostei muito de Hair Love, que mostra a relação de uma menina negra com seu cabelo, e que é o favorito a ganhar o prêmio este ano, mas meu coração pesou mais para o lado de Kitbull por abordar o tema da rinha de cães e a amizade de um cão com um gato de rua. Sister também é uma boa história sobre as crianças que não nasceram na China por conta da política de só poder ter 1 filho por casal, assim como Memoráble, que fala sobre o mal de Alzheimer.

Quem deve ganhar: Hair Love
Quem também tem boas chances: Kitbull
Quem pode surpreender: Memoráble
MINHA TORCIDA: Kitbull


Demais categorias:
MELHOR FOTOGRAFIA
Quem deve ganhar: 1917
Quem pode surpreender: Era Uma Vez em... Hollywood
MINHA TORCIDA: 1917

MELHOR TRILHA SONORA
Quem deve ganhar: Coringa
Quem pode surpreender: 1917
MINHA TORCIDA: Coringa

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
Quem deve ganhar: Era Uma Vez em... Hollywood
Quem pode surpreender: Jojo Rabbit
MINHA TORCIDA: Era Uma Vez em... Hollywood

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Quem deve ganhar: 1917
Quem pode surpreender: Vingadores: Ultimato
MINHA TORCIDA: 1917

MELHOR FIGURINO
Quem deve ganhar: Adoráveis Mulheres
Quem pode surpreender: Jojo Rabbit
MINHA TORCIDA: Jojo Rabbit

MELHOR CABELO E MAQUIAGEM
Quem deve ganhar: O Escândalo
Quem pode surpreender: Judy
MINHA TORCIDA: 1917

MELHOR MONTAGEM
Quem deve ganhar: Parasita
Quem pode surpreender: Jojo Rabbit
MINHA TORCIDA: O Irlandês

MELHOR SOM
Quem deve ganhar: 1917
Quem pode surpreender: Ford vs. Ferrari
MINHA TORCIDA: 1917

MELHOR MIXAGEM DE SOM
Quem deve ganhar: 1917
Quem pode surpreender: Ford vs. Ferrari
MINHA TORCIDA: Ford vs. Ferrari

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Quem deve ganhar: I'm Gonna Love me Again (Rocketman)
Quem pode surpreender: Into the Unknown (Frozen II)
MINHA TORCIDA: I'm Gonna Love me Again (Rocketman)

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA METRAGEM
Quem deve ganhar: Learning to Skateboard in a War Zone
Quem pode surpreender: In the Absence
MINHA TORCIDA: In the Absence

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Crítica: 1917 (2020)


Centenas de filmes já retrataram nas telas a Segunda Guerra Mundial, mas existem poucas estórias que se passam na Primeira Guerra, que historicamente falando foi ainda mais violenta e sanguinária. Sem Novidades no Front (1930), Glória Feita de Sangue (1957) e Feliz Natal (2005) são ótimos exemplos, e agora junta-se a este seleto grupo o longa 1917, graças a um trabalho impressionante de Sam Mendes na direção.


O longa se passa justamente no ano de 1917, e narra a história de dois soldados que recebem a missão de levar uma mensagem para soldados aliados que estão em outro pelotão, com a intenção de salvar mais de 1600 homens de um verdadeiro massacre em uma armadilha orquestrada pelo exército alemão. O enredo é simples assim, com dois personagens que precisam ir de um ponto A a um ponto B, porém nesse trajeto eles precisam atravessar territórios inimigos e lidar com todo tipo de adversidade possível em um ambiente de guerra.

Você pode estar pensando "ok, eu já vi isso antes, então o que este filme traz de novidade e o que o diferencia dos demais filmes de guerra?", e é aí que entra a mão de Sam Mendes. Filmado com a intenção de ser um grande plano sequência (dois, na verdade), o filme cria uma imersão sensacional, como poucas vezes eu vi no cinema. Eu fiquei hipnotizado com cada cena, me senti realmente entrando na história e me transformando num terceiro personagem junto com eles. Essa maneira de contar os acontecimentos faz com que o ritmo nunca se perca, pois até mesmo nos momentos de calmaria existe uma tensão no ar, aquela ansiedade de saber o que pode acontecer dali a poucos segundos.


Pode até parecer estranho, mas mesmo sendo um filme de guerra não existe nenhuma cena de batalha propriamente dita, já que o roteiro se preocupa apenas em acompanhar a missão dos dois. E isso não é demérito algum, pelo contrário. A violência pode não aparecer através das lutas, que seria sua forma mais óbvia, mas ela está presente o tempo todo, seja nos cenários destroçados, nas casas abandonadas ou nos milhares de cadáveres pelo chão. É sutil e ao mesmo tempo pesada a visão que é mostrada da guerra. Vale lembrar ainda que o filme se passa no ano anterior ao final do conflito, onde os soldados já estão exauridos, esgotados, com fome, e isso também é mostrado muito bem na tela.

Tecnicamente é um filme impecável. Sua fotografia é um primor, bem como todo o design dos cenários. A trilha sonora onipresente também ajuda muito a criar o clima de apreensão. Outro fator que também precisa ser elogiado é o trabalho de maquiagem. Há um momento em que um soldado morre e é possível ver sua aparência ir empalidecendo aos poucos, e tudo isso sem perder o fio do plano sequência, sem cortes. Simplesmente sublime.


Dean-Charles Chapman e George MacKay são dois jovens atores desconhecidos do grande público, mas se saíram muito bem na pele dos protagonistas. Não chegaram a ser tão exigidos nas atuações propriamente ditas, mas com certeza não foi fácil seguir em cena por vários minutos sem cortes e isso deve ser exaltado. O filme ainda conta com brevíssimas participações de Benedict Cumberbatch e Colin Firth, além de um dos maiores elencos de figurantes dos últimos anos.

Algumas coisas, bem pontuais, me incomodaram um pouco, como o fato de um dos personagens principais explicar o que estava acontecendo em algumas cenas que eram por si só auto-explicativas, como se tivesse subestimando a inteligência do espectador, ou ainda, a falta de profundidade em alguns diálogos, como em uma cena que acontece dentro de um caminhão. Mas entendo, porém, que talvez o diretor tenha apenas optado por abordar a superficialidade e o vazio das relações num ambiente hostil como esse, então realmente isso não atrapalhou a experiência.


Por fim, considero 1917 não somente uma das grandes experiências cinematográficas do ano mas também um dos melhores filmes de guerra já realizados, e falo sem medo de estar exagerando. Que sirva como inspiração para que mais filmes tenham a coragem de usar este formato narrativo sem cortes, que aqui funcionou e fez toda a diferença no resultado final.

Crítica: Jojo Rabbit (2020)


Quando foi lançado no Festival de Toronto, Jojo Rabbit dividiu muito a opinião da crítica. De um lado, alguns acharam genial a ideia do diretor Taika Waititi em mostrar o nazismo na Segunda Guerra de forma sarcástica, porém de outro, teve quem achou desrespeitoso com as vítimas tratar um assunto tão pesado de forma "divertida". O fato é que, polêmicas a parte, o filme é extremamente necessário e já entra para a lista dos melhores do ano.



Jojo Betzler (Roman Griffin Davis) é um menino típico da juventude hiterilista. Treinado em um acampamento militar para crianças, comandado pelo capitão Klenzerdorf (Sam Rockwell), o menino é a personificação da lavagem cerebral feita pelo exército alemão na época. Ele bate no peito e diz se orgulhar de ser nazista, se considera superior por ser da raça ariana, e mesmo sem conhecer nenhum judeu pessoalmente sente nojo de tudo que tenha a ver com eles.

Seu comportamento advém exclusivamente destes treinamentos militares, já que em casa a sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), desde o primeiro momento demonstra ser contrária aos ideais de Hitler. Ela porém esconde isso até mesmo do filho, por ter medo dele contar na escola e isso trazer sérias consequências. Sua rejeição ao governo nazista vai sendo mostrada através de pequenos gestos e diálogos seus, mas fica ainda mais evidente quando descobrimos que ela está escondendo dentro de um buraco na casa a menina judia Elsa (Thomasin Mckenzie).


O filme vai ganhando forma e ficando complexo com o decorrer do tempo, principalmente depois que Jojo descobre a existência da menina atrás da parede. Apesar da relutância no começo, de ambos os lados, ele e Elsa vão conversando e se conhecendo melhor, e sob o pretexto de escrever um livro sobre os judeus, ele passa a fazer inúmeras perguntas para ela sobre os costumes e as origens desse povo. É curioso acompanhar como nessas conversas vão sendo desconstruídas todas as ideias que Jojo havia criado sobre os judeus na escola, pois ele vai enxergando, aos poucos, que não há nada de diferente entre eles.

Depois de um determinado acontecimento, o drama toma conta de vez da estória e não há mais como voltar atrás. O roteiro que trazia um bom humor no começo, principalmente por conta da figura de Adolf Hitler (interpretado pelo próprio diretor Taika Waititi) que aparece inúmeras vezes como um amigo imaginário de Jojo, ganha um ar bem melancólico, como um típico filme sobre o período. Jojo finalmente se dá conta da realidade em que está inserido e que, sem querer, estava fazendo parte, e o grande mérito do filme é justamente mostrar esse conflito interno do personagem, que vai percebendo a fragilidade do discurso de ódio e passa a rever suas convicções.


De todas as qualidades que o filme possui, a principal talvez seja a grande atuação do menino Roman Griffin Davis, que chegou a ser indicado ao Globo de Ouro de melhor ator já no seu primeiro trabalho no cinema. Roman entrega uma atuação firme, sem exageros, e sabe carregar muito bem essa dualidade que existe no filme entre humor e drama. Quem também está bem nesse quesito é Scarlett Johansson, cuja atuação lhe rendeu até mesmo indicação ao Óscar.

Tocante, divertido e super profundo, Jojo Rabbit aborda o tema com muita inteligência e sensibilidade, e ao trazer uma sátira sobre a alienação do povo alemão na época da Segunda Guerra, já aproveita também para acenar contra o crescimento de adeptos do neonazismo na atualidade. Um filme necessário para conscientização, e sobretudo para mostrar que aquilo que aconteceu no passado nunca mais pode chegar nem perto de se repetir.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Crítica: Joias Brutas (2020)


Os irmãos Ben Safdie e Joshua Safdie não possuem um grande currículo de filmes, sendo o mais conhecido deles o interessante Bom Comportamento (2017), que fez um pequeno sucesso mas apenas no circuito independente. Mas então o que explicaria esse hype em cima do seu mais novo trabalho, onde ele foi cotado até mesmo para estar no Óscar? A resposta é Adam Sandler, e a promessa de uma atuação completamente diferente de qualquer uma já vista anteriormente na sua carreira.



O enredo de Joias Brutas (Uncut Gems) gira em torno de Howard Ratner (Adam Sandler), um vendedor de peças de valor e dono de uma joalheria no centro de Nova Iorque, que tem como público alvo famosos e pessoas com alto poder aquisitivo. Um dos seus clientes mais famosos é Kevin Garnett, jogador de basquete da NBA, que interpreta ele mesmo na história. Ratner deposita todas as esperanças na venda de uma pedra preciosa para Garnett, para enfim conseguir pagar uma dívida com agiotas que estão no seu encalço.

O ritmo do filme é absurdamente frenético e a ação não pára um segundo sequer para deixar a gente respirar. Os personagens alterados e gritando o tempo todo, o clima de tensão que parece proceder uma tragédia eminente e a movimentação rápida da câmera são características que fazem o filme ser, com toda certeza, um dos mais intensos que já vi na vida.


O roteiro é bom, a direção é ótima, mas o maior mérito do filme é realmente apresentar um Adam Sandler completamente descaracterizado e fora da sua zona de conforto. Não é a primeira vez que Sandler se arrisca no drama, mas ele tem aqui a grande atuação de sua carreira. Seu personagem vive no limite, e a maneira como esse sentimento é mostrado torna a experiência agoniante também para quem está assistindo.  Lidando com a possível traição de pessoas em quem ele confiava, com o risco de ser morto a qualquer momento por causa de uma dívida e com o vício em apostas de jogos de basquete, o personagem de Sandler vai se afundando cada vez mais num mar de lama sem fim de onde parece que nunca mais vai conseguir sair.

Com um final surpreendente, Joias Brutas é, sobretudo, um filme sobre até onde a ganância pode levar o ser-humano. Chegou a estar cotado ao Óscar, mas talvez ainda falte algo aos irmãos Safdie para chegar lá. Porém, eles estão no caminho certo, e pode ter certeza que seus nomes ainda vão aparecer muito por aí.


Especial Óscar: os filmes estrangeiros que fizeram sucesso na premiação

Faltam poucos dias para a 92ª edição do Óscar, e um nome em especial vem chamando muito a atenção: Parasita, do sul-coreano Bong Joon-ho. Indicado em seis categorias, Parasita é apenas o oitavo filme em língua não-inglesa da história a concorrer também na categoria de melhor filme, e para muitos é o favorito para fazer história e se tornar o primeiro a vencer o prêmio principal. Pensando nisso, resolvi pesquisar e trazer para vocês uma lista com filmes que, assim como Parasita, também concorreram em categorias do Óscar além da de melhor filme estrangeiro. Confira:


Marie-Louise, de Richard Schweizer (Suíça) - Óscar de 1946
O longa suíço foi primeiro filme em língua não-inglesa da história a aparecer no Óscar, e já se saiu bem ao conquistar a estatueta de melhor roteiro original, feito que serviu para que finalmente a Academia começasse a abrir os olhos para enxergar e reconhecer o cinema feito em outros países.

Roma - Cidade Aberta, de Roberto Rossellini (Itália) - Óscar de 1947
Um ano depois, o clássico de Roberto Rossellini, que mostrava a Itália durante o final da ocupação nazista, concorreu como melhor roteiro adaptado. Foi a primeira participação de um filme italiano no Óscar, antes do país se tornar o maior detentor de indicações e vitórias ao longo dos anos.

Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica (Itália) - Óscar de 1950
O filme de Vittorio de Sica concorreu como melhor roteiro adaptado além de ter levado para casa a estatueta de melhor filme estrangeiro (que nesta edição ainda era entregue como um prêmio honorário, sem haver competição com outros longas).

A Estrada da Vida, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1957
O filme de Fellini foi indicado também como melhor roteiro original, mas venceu apenas como melhor filme estrangeiro nesta edição, que marcou como sendo a primeira em que a Academia finalmente oficializou esta categoria, transformando-a em algo competitivo.

O Balão Vermelho, de Albert Lamorisse (França) - Óscar de 1957
No mesmo ano, o francês O Balão Vermelho conquistou o prêmio de melhor roteiro original, mesmo sem estar concorrendo como melhor filme estrangeiro.

Umberto D., de Vittorio de Sica (Itália) - Óscar de 1957
Ainda em 1957, outro filme italiano se fez presente na premiação, e também fora da categoria de filme estrangeiro: Umberto D., obra-prima do italiano Vittorio de Sica, que concorreu a melhor história original (prêmio que já foi extinto).

Os Boas Vidas, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1958
A comédia de Fellini concorreu na categoria de melhor roteiro original em 1958, mas saiu sem a vitória. Curiosamente, Fellini conquistaria o Óscar de melhor filme estrangeiro nesta mesma edição com outro filme, Noites de Cabíria.

Morangos Silvestres, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar de 1960
O filme de Bergman não chegou a concorrer como melhor filme estrangeiro neste ano, mas estava na categoria de melhor roteiro original. Foi a primeira participação do cineasta no Óscar, que depois viria a ser indicado mais onze vezes, vencendo em três.

Os Incompreendidos, de François Truffaut (França) - Óscar de 1960
Considerado por muitos o grande filme da carreira de Truffaut, o drama concorreu na categoria de melhor roteiro original, e só não representou a França na categoria de melhor filme estrangeiro porque concorria com Orfeu Negro, que inclusive se sagrou como grande vencedor.

A Doce Vida, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1962
A Doce Vida de Fellini foi o primeiro estrangeiro a concorrer em quatro categorias no Óscar, mas curiosamente não estava na de melhor filme estrangeiro (algumas coisas no Óscar são realmente difíceis de se entender). O filme foi indicado a melhor diretor, melhor roteiro original, melhor direção de arte e melhor figurino, saindo vencedor apenas desta última.

Através de um Espelho, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar de 1962
Com Através de um Espelho, Bergman conquistou a primeira das suas três vitórias na categoria de melhor filme estrangeiro. O filme também concorreu como melhor roteiro original.

A Balada do Soldado, de Grigori Chukhrai (União Soviética) - Óscar de 1962
Outro filme que concorreu a melhor roteiro original em 1962 foi o soviético A Balada do Soldado, que numa injustiça (provavelmente pelas questões políticas da época) ficou de fora na categoria de melhor filme estrangeiro.

Divorcio à Italiana, de Pietro Germi (Itália) - Óscar de 1963
Outro caso de um filme que não concorreu como melhor filme estrangeiro mas que concorreu em outras categorias é o de Divórcio á Italiana, que foi indicado a melhor diretor, melhor roteiro e melhor ator (Marcello Mastroianni) em 1963.

8 1/2, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1964
Fellini voltou ao Óscar dois anos depois de A Doce Vida e levou seu filme mais autobiográfico (para muitos a sua obra-prima) a cinco categorias da premiação: melhor diretor, melhor roteiro original, melhor direção de arte, melhor figurino e melhor filme estrangeiro. O filme fez história ao se tornar o primeiro em outra língua a ganhar dois prêmios na mesma noite: melhor filme estrangeiro e melhor figurino.

Um Homem, Uma Mulher, de Claude Lelouch (França) - Óscar de 1967
O grande sucesso da carreira de Claude Lelouch concorreu em quatro categorias, incluindo melhor direção e melhor atriz (Anouk Aimée), e saiu vencedor em duas: melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original.

A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo (Itália) - Óscar de 1969
No ano que ficou marcado por uma grande mudança de perspectiva do cinema em Hollywood, o filme ítalo-argelino concorreu em melhor diretor e melhor roteiro original, mas não conseguiu vencer em nenhuma das duas. Curiosamente, o filme já havia concorrido como melhor filme estrangeiro, mas em 1966, três anos antes.

Z, de Constantin Costa-Gavras (Argélia) - Óscar de 1970
O filme de Costa-Gavras fez história ao se tornar o primeiro em língua estrangeira a concorrer também na categoria principal do Óscar, a de melhor filme, fato que só se repetiu mais sete vezes (1973, 1974, 1999, 2001, 2013, 2019 e agora em 2020). Perdeu para Perdidos da Noite, mas venceu em outras duas: melhor filme estrangeiro (primeira filme africano a ganhar este prêmio) e melhor edição. O filme ainda concorreu em melhor roteiro original e melhor diretor.

Satyricon, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1971
Depois de ser esnobado no Óscar de melhor filme estrangeiro em 1970, a comédia satírica e ousada de Fellini concorreu em apenas uma categoria no Óscar de 1971, justamente na de melhor diretor.

O Jardim dos Finzi-Contini, de Vittorio de Sica (Itália) - Óscar de 1972
O drama de Vittorio de Sica foi indicado em duas categorias, a de melhor filme estrangeiro e a de melhor roteiro original, saindo vencedor apenas da primeira.


O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Bunuel (França) - Óscar de 1973

O filme do espanhol Luis Bunuel representou a França na categoria de melhor filme estrangeiro e também concorreu como melhor roteiro original, mas venceu apenas na primeira.

Os Emigrantes, de Jan Troell (Suécia) - Óscar de 1973
O drama sueco surpreendeu a todos na edição de 1973 ao concorrer em cinco categorias, incluindo a de melhor filme. Também concorreu em melhor diretor e melhor atriz (Liv Ulmann), porém não venceu nada.

Gritos e Susurros, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar de 1974
O maior sucesso de Bergman no Óscar concorreu em cinco categorias, incluindo a de melhor filme principal. Curiosamente, não concorreu na categoria de melhor filme estrangeiro, por uma opção da Academia, mas saiu vencedor na de melhor fotografia.

A Noite Americana, de François Truffaut (França) - 1974/1975
O filme de Truffaut concorreu em dois Óscar diferente, em 1974 como melhor filme estrangeiro, e em 1975, como melhor diretor, melhor roteiro original e melhor atriz coadjuvante (Valentina Cortese).

Amarcord, de Federico Fellini (Itália) - Óscar de 1975/1976
A última participação de Fellini no Óscar foi com Amarcord, que foi indicado em dois anos diferentes. Em 1975, concorreu e venceu como melhor filme estrangeiro. Já em 1976, concorreu como melhor diretor e melhor roteiro original, não tendo vencido em nenhuma das duas.

Pasqualini Sete Belezas, de Lina Wertmuller (Itália) - Óscar de 1977
O filme foi indicado em quatro categorias, melhor filme estrangeiro, melhor diretor, melhor ator (Giancarlo Giannini) e melhor roteiro original, mas curiosamente perdeu em todas, inclusive na de melhor filme estrangeiro (para o marfinense La Victoire de Chantant) onde era o grande favorito.

Cousin, Cousine, de Jean-Charles Tacchella (França) - Óscar de 1977
O filme concorreu a três Óscar, melhor filme estrangeiro, melhor roteiro original e melhor atriz (Marie-Christine Barrault), mas não ganhou nenhum.

Face a Face, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar de 1977
Face a Face concorreu em duas categorias no ano de 1977; melhor diretor e melhor atriz (Liv Ulmann), e ficou de fora justamente na de melhor filme estrangeiro.

Esse Obscuro Objeto do Desejo, de Luis Bunuel (Espanha) - Óscar de 1978
O filme de Bunuel foi indicado a melhor filme estrangeiro e melhor roteiro original em 1978, mas perdeu nas duas categorias.

Sonata de Outono, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar de 1979
Sonata de Outono é mais um filme do sueco Ingmar Bergman que não concorreu a melhor filme estrangeiro, mas que estava presente na categoria de melhor roteiro original.

A Gaiola das Loucas, de Édouard Molinaro (França) - Óscar de 1980
A comédia Ítalo-francesa concorreu a três Óscar em 1980, melhor diretor, melhor roteiro adaptado e melhor figurino, mas não ganhou nenhum.

O Barco - Inferno no Mar, de Wolfgang Petersen (Alemanha) - Óscar de 1983
O filme alemão concorreu em cinco categorias no Óscar de 1983, incluindo melhor diretor e melhor roteiro adaptado, mas não se sagrou vencedor em nenhuma.

Fanny & Alexander, de Ingmar Bergman (Suécia) - Óscar 1984
Essa foi a terceira vez que Ingmar Bergman concorreu e venceu como melhor filme estrangeiro, mas o filme foi ainda além. Ganhou também nas categorias de melhor figurino, melhor fotografia e melhor direção de arte, sendo até aquele ano o filme estrangeiro mais bem sucedido na premiação.

Ran, de Akira Kurosawa (Japão) - Óscar de 1986
Considerado o maior diretor da história do cinema japonês, Akira Kurosawa teve pouco reconhecimento no Óscar. Com Ran ele concorreu a melhor diretor, além de melhor direção de arte, melhor fotografia e melhor figurino, vencendo apenas nesta última.

A História Oficial, de Luis Puenzo (Argentina) - Óscar de 1986
O argentino A História Oficial foi o primeiro filme sul-americano a concorrer no Óscar fora da categoria de filme estrangeiro. O filme de Luis Puenzo também foi indicado como melhor roteiro original.

Minha Vida de Cachorro, de Lasse Halmstrom (Suécia) - Óscar de 1988
O drama do sueco Lasse Halmstrom, que lançou sua carreira, foi indicado em duas categorias no Óscar de 1988: melhor diretor e melhor roteiro adaptado.

Pelle, O Conquistador, de Bille August (Dinamarca) - Óscar de 1989
O drama dinamarquês venceu como melhor filme estrangeiro e ainda concorreu na categoria de melhor ator, com Max von Sydow. Curiosamente foi o segundo ano seguido que a Dinamarca ganhou na categoria, tendo vencido em 1988 com A Festa de Babette.

Indochina, de Régis Wargnier (França) - Óscar de 1993
Além de vencer como melhor filme estrangeiro, o drama emocionante de Régis Wargnier também concorreu na categoria de melhor atriz, com Catherine Deneuve.

A Fraternidade é Vermelha, de Krzysztof Kieslowski (Polônia) - Óscar de 1995
O filme, que faz parte da "trilogia das cores" do cineasta Krzysztof Keislowski, concorreu a melhor diretor, melhor roteiro original e melhor fotografia, mas curiosamente não concorreu como filme estrangeiro.

A Vida é Bela, de Roberto Benigni (Itália) - Óscar de 1999
O filme italiano concorreu em sete categorias no Óscar de 1999, vencendo em três: melhor filme estrangeiro, melhor trilha sonora e melhor ator (Roberto Benigni). O filme também concorreu na categoria principal.


Central do Brasil, de Walter Salles (Brasil) - Óscar de 1999
Grande sucesso do nosso cinema, Central do Brasil concorreu em duas categorias no Óscar de 1999: melhor filme estrangeiro e melhor atriz (Fernanda Montenegro).

O Tigre e o Dragão, de Ang Lee (Taiwan) - Óscar de 2001
O Tigre e o dragão foi um grande marco na carreira do taiwanês Ang Lee, que já havia sido indicado duas vezes para melhor filme estrangeiro, mas que dessa vez foi indicado a nada mais nada menos do que dez prêmios, inclusive na categoria de melhor filme. O longa venceu em quatro: melhor filme estrangeiro, melhor trilha sonora, melhor direção de arte e melhor fotografia.


Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (Brasil) - Óscar de 2004
Esnobado no Óscar de melhor filme estrangeiro em 2003, Cidade Deus voltou ao Óscar em 2004 concorrendo em quatro categorias: melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor montagem, sendo até o momento o brasileiro mais bem sucedido da história da premiação.

Amour, de Michael Haneke (Áustria) - Óscar de 2013
Após uma década de ostracismo dos filmes estrangeiros no Óscar, Amour, do Michael Haneke, apareceu concorrendo em cinco categorias, incluindo a de melhor filme, melhor diretor e melhor atriz (Emmanuelle Riva), e venceu apenas na de filme estrangeiro.

Roma, de Alfonso Cuarón (México) - Óscar de 2019
O último caso de filme estrangeiro fazendo sucesso no Óscar foi no ano passado, com o mexicano Roma, do diretor Alfonso Cuarón. O filme concorreu em dez categorias, e venceu em três: melhor diretor, melhor fotografia e melhor filme estrangeiro.