terça-feira, 22 de novembro de 2016

Crítica: Aquarius (2016)


Grande destaque brasileiro na última edição do Festival de Cannes, Aquarius, do pernambucano Kléber Mendonça Filho, é uma obra intensa que, acima de tudo, evoca no espectador o sentimento de empatia por seus personagens através de excelentes diálogos e grandes atuações.


O enredo acompanha Clara (Sônia Braga), uma jornalista e crítica de música que vive sozinha em seu apartamento no edifício Aquarius, na praia da Boa Viagem em Recife. Viúva há 17 anos e curada de um câncer de mama, Clara é bastante intensa em suas relações pessoais, e constantemente sai de dia para curtir uma praia e a noite para dançar com as amigas.

Após a compra do terreno do Aquarius por uma construtora, todos os vizinhos de Clara deixaram seus apartamentos, menos ela, que se nega veemente a sair do local para a construção de um novo edifício. A pressão da empreiteira é grande, mas ela não cede, nem mesmo quanto tentam colocar os filhos dela na história. Quem representa a empresa nessa disputa é Daniel (Humberto Carrão), um jovem que por trás da simpatia fingida traz toda uma arrogância de quem tem dinheiro e acha que pode comprar qualquer um com ele.



Uma das coisas mais encantadoras do enredo é a nostalgia maravilhosa que ele traz dos anos 80. As músicas, os carros, os ideais de vida, tudo. Além da música, muito presente no filme todo, a essência das relações humanas, mostradas com muita sensibilidade, também é o ponto forte do longa. Por fim, Aquarius é mais um diamante lapidado do cinema nacional, e mais uma grande obra de um Kléber Mendonça cada vez mais inspirado.

Crítica: Sully - Herói do Rio Hudson (2016)


Em janeiro de 2009, o piloto de avião Chesley Burnett Sullenberger ganhou fama após salvar as mais de 150 vidas que estavam a bordo do US Airways 1549. Dirigido e co-produzido por Clint Eastwood, Sully - O Herói do Rio Hudson conta um pouco mais sobre esse fato, focando principalmente nas controvérsias que levaram o piloto a julgamento, mesmo depois de ter sido tratado como herói.



Segundos após levantar voo no aeroporto de Nova Iorque, o avião pilotado por Chesley (Tom Hanks) é atingido por pássaros, o que causa um dano irreparável nos motores. Com pouco tempo para pensar no que fazer e sem muitas alternativas, ele e seu co-piloto (Aaron Eckart) optam por uma manobra arriscada: pousar a aeronave no rio Hudson.

Contradizendo as estatísticas, o pouso acontece sem problemas, e todos os passageiros e tripulantes conseguem escapar sem graves ferimentos. Não demora para a mídia e o público em geral tratar Chesley como herói, no entanto, mesmo com tudo dando certo no final, Chesley é levado a julgamento pelo alto escalão da aviação nacional acusado de não ter feito tudo o que podia e arriscado a vida daquelas pessoas.


Com uso de simuladores, ignorando todo o fator humano por trás de uma situação apavorante como essa, eles tentam incriminar Chesley dizendo que ele tinha chances de realizar alguma outra manobra que não envolvesse aterrissar no rio. A injustiça com Chesley toma conta da opinião pública, e ele defende até o fim sua posição, tentando provar que fez o seu melhor.

A direção competente de Eastwood faz com que o enredo do filme prenda a atenção do espectador até o fim, com idas e voltas no tempo. Hanks por sua vez também está muito bem, e consegue transmitir com veracidade o psicológico de Chesley, por dentro bastante abalado pelo acidente mas extremamente calmo e tranquilo por fora.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As principais apostas para o Óscar 2017

Falta um pouco menos de 4 meses para a próxima edição do Óscar, mas como de praxe, já começam a surgir as primeiras apostas, baseadas em festivais de cinema mundo a fora. Confira abaixo uma lista especial com os filmes que provavelmente você irá ver na cerimônia, que ocorre dia 26 de fevereiro de 2017.

La La Land - Cantando Estações

Ha dois anos atrás, Damien Chazelle chamou a atenção do mundo com o excelente Whiplash - Em Busca da Perfeição, um dos melhores filmes daquele ano. Em 2016 ele está de volta aos cinemas com La La Land - Cantando Estações, um drama romântico que vem conquistando a crítica especializada. Protagonizado por Ryan Gosling e Emma Stone, dois queridinhos de Hollywood, o musical conta a história de um pianista de jazz que se apaixona por uma aspirante a atriz.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor direção (Damien Chazelle), melhor ator (Ryan Gosling), melhor atriz (Emma Stone), melhor roteiro original, melhor fotografia, melhor figurino e melhor trilha sonora.

O Nascimento de uma Nação

Dirigido e protagonizado por Nate Parker, o filme é a grande esperança para quem torce por um Óscar mais inclusivo, tema que gerou uma grande polêmica no ano passado. A trama, que conta a história de uma revolução escrava nos Estados Unidos, só pode ser atrapalhada por uma questão: a polêmica envolvendo Parker em uma acusação de estupro. Se isso for deixado de lado, há boas chances do filme concorrer em várias categorias.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor direção (Nate Parker), melhor roteiro original, melhor fotografia e melhor direção de arte.

Fences

Se o filme de Nate Parker não quebrar o paradigma do Oscar so White, quem tem boa chance de fazer isso é Fences, filme dirigido por Denzel Washington. O ator já se aventurou como diretor algumas vezes e sempre foi bem sucedido, e dessa vez ele volta para trás das câmeras para mostrar o dia-dia de uma família negra nos Estados Unidos em plena década de 1950, abordando principalmente a segregação racial daquela época.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor direção (Denzel Washington), melhor ator (Denzel Washington), melhor atriz coadjuvante (Viola Davis), melhor roteiro adaptado e melhor figurino.

Silêncio

Martin Scorsese é o nome por trás de Silêncio, uma superprodução épica que mostra a jornada de dois padres jesuítas ao Japão a fim de propagar a mensagem do cristianismo, enquanto enfrentam a violência e a perseguição dos locais. O projeto levou anos para sair do papel, mas finalmente chega ao cinema depois de três anos do último lançamento do diretor, O Lobo de Wall Street.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor direção (Martin Scorsese), melhor ator coadjuvante (Liam Neeson), melhor roteiro adaptado, melhor direção de arte, melhor fotografia e melhor figurino.

Manchester à Beira Mar

O filme de Kenneth Lonergan foi exibido em Sundance e causou furor. Tido com um drama emotivo, o filme mostra a história de um tio que se vê obrigado a adotar o sobrinho após a morte de seu irmão e de sua esposa. É a chance de Lonergan conquistar reconhecimento após alguns fracassos, mas a principal aposta é mesmo para Casey Affleck na categoria de melhor ator.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor direção (Kenneth Lonergan), melhor ator (Casey Affleck), melhor ator coadjuvante (Lucas Hedges), melhor atriz coadjuvante (Michelle Williams) e melhor roteiro original.

A Longa Caminhada de Billy Lynn

O tailandês Ang Lee costuma ser presença garantida nas cerimônias do Óscar, e em 2017 não deve ser diferente. A trama, adaptada de um livro, conta a história de um jovem que acabou de voltar da Guerra do Iraque e é recebido em sua cidade natal como um herói. Pouco a pouco vai sendo descoberto o que realmente lhe aconteceu no período em que ficou no combate, e a opinião pública a seu respeito começa a mudar.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor diretor (Ang Lee), melhor roteiro adaptado, melhor atriz coadjuvante (Kristen Stewart) e melhor fotografia.

Sully: O Herói do Rio Hudson

Outro cineasta que tem cadeira cativa no Óscar é Clint Eastwood, que já tem dois em casa de melhor direção. Dessa vez ele conta a história de um piloto de avião, interpretado pelo também experiente em Óscars Tom Hanks, que faz uma manobra arriscada para salvar a vida de seus passageiros. No entanto, mesmo depois do ato heroico, ele precisa enfrentar o julgamento público por seus atos fora da profissão.

Principais chances do filme: Melhor diretor (Clint Eastwood) e melhor ator (Tom Hanks).

Animais Noturnos

Amy Adams estrela junto com Jake Gyllenhaal esse suspense dramático que vem chamando atenção desde o seu anúncio. Na história, Gyllenhaal interpreta um escritor que acaba de lançar um livro polêmico e perturbador sobre sua ex-mulher, vivida por Adams. Segundo críticos especialistas que já assistiram a obra, trata-se de um dos melhores enredos dos últimos anos, e só por isso é bom ficar de olho nele.

Principais chances do filme: Melhor atriz (Amy Adams), melhor ator coadjuvante (Jake Gyllenhaal) e melhor roteiro original.

A Chegada

Reconhecido como um dos melhores diretores da atualidade (e com razão), Denis Villeneuve volta aos cinemas com essa produção de ficção científica, gênero onde ele ainda é um novato. Desde os primeiros trailers o filme vem criando expectativas, principalmente por conta de Amy Adams (sim, olha ela novo).

Principais chances do filme: Melhor direção (Denis Villeneuve), melhor atriz (Amy Adams), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhores efeitos visuais e melhor trilha sonora.

Loving

Bastante elogiado em Cannes, Loving é o novo trabalho do competente Jeff Nichols e mostra a história real de um casal que foi preso nos anos 1960 por se unirem em uma época em que o casamento entre pessoas de raças diferentes era estritamente proibido nos Estados Unidos.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor ator (Joel Edgerton), melhor atriz (Ruth Negga) e melhor roteiro original.

Moonlight

Escrito e dirigido por Barry Jenkins, o filme mostra a infância, a adolescência e a fase adulta de um protagonista negro, que tenta sobreviver em meio ao submundo das drogas de Miami enquanto enfrenta o preconceito por conta de sua opção sexual.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor diretor (Barry Jenkins), melhor ator coadjuvante (Mahershala Ali), melhor atriz coadjuvante (Naomie Harris) e melhor roteiro original.

Lion

Lion é um drama independente sobre um menino indiano que é adotado por uma família australiana. Anos depois, já crescido, ele decide ir atrás de seus parentes de sangue. Além de Dev Patel, o filme conta com outros nomes expressivos como Nicole Kidman e Rooney Mara.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor atriz coadjuvante (Nicole Kidman) e melhor roteiro adaptado.

Jackie

Dirigido pelo chileno Pablo Larraín, do espetacular No, o filme traz um retrato da primeira dama americana Jackeline Kennedy, interpretada por Natalie Portman. A atriz, aliás, é a principal aposta do filme, e muitos acreditam que ela é a favorita para ganhar seu segundo Óscar na carreira.

Principais chances do filme: Melhor filme, melhor atriz (Natalie Portman) e melhor roteiro original.

20th Century Women 
 
Escrito e dirigido por Mike Mills, o filme se passa na Califórnia dos anos 1970, e conta a história de uma mãe que, além de tentar cuidar da família da melhor maneira possível, também busca auxiliar duas jovens amigas a encontrar respostas para suas vidas.

Principais chances do filme: Melhor diretor (Mike Mills), melhor atriz (Annette Bening), melhor atriz coadjuvante (Greta Gerwig) e melhor roteiro original.

Florence: Quem é Essa Mulher?
O que seria do Óscar sem Meryl Streep? No filme ela dá vida a Florence Jenkins, uma aristocrata que acreditava ser uma exímia cantora de ópera, quando na verdade sua voz era terrível. Apesar disso, o marido, assim como todos que a assistiam, incentivou ela a continuar cantando já que era a única coisa que lhe fazia feliz.

Principais chances do filme: Melhor atriz (Meryl Streep), melhor ator coadjuvante (Hugh Grant) e melhor figurino.

domingo, 6 de novembro de 2016

Crítica: Um Homem Chamado Ove (2016)


Escolhido para representar a Suécia na categoria de melhor filme estrangeiro no Óscar de 2017, Um Homem Chamado Ove (En Man Som Heter Ove) mistura humor negro (típico do cinema nórdico) com drama de forma original e emociona pela simplicidade.



Ove (Rolf Lassgard) à primeira vista é o típico rabugento da terceira idade. Morando em um pequeno condomínio de casas, ele se irrita com todos os atos dos vizinhos, que segundo ele, não fazem nada certo, desde não fechar o portão até dirigir onde é proibido. Ele ficou assim de uns tempos para cá após a morte da esposa, a mulher de sua vida, e as coisas pioraram ainda mais depois que ele perdeu o emprego de 4 décadas. 

Decidido a tirar a própria vida, ele é interrompido em todas as tentativas pelos próprios vizinhos e suas "incompetências em fazer as coisas corretamente". No entanto, tudo começa a mudar quando um casal com filhos passa a morar na casa em frente. Ao mesmo tempo em que mostra o presente, o enredo, através da narração do próprio Ove, mostra também o seu passado, passando por diversas épocas e por momentos divertidos e tristes de sua vida.


Uma coisa há que se dizer: cada tomada do filme é uma pintura. O ponto forte são os diálogos, munidos de um humor peculiar e uma dramaticidade que não cansa em nenhum momento. O protagonista traz um misto de sentimentos, e ao mesmo tempo em que nos deixa com raiva por causa de algumas atitudes, ele também nos deixa sentindo muito carinho pela boa pessoa que no fundo ele é. É bastante controverso, e isso é o mais bacana em tudo.

Por fim, Um Homem Chamado Ove é mais um belo exemplar vindo de um cinema que sempre se mostrou competente. Com direção firme e ótimas atuações, pode ser considerado, sem sombra de dúvidas, um dos melhores filmes que você irá assistir neste ano.