segunda-feira, 30 de março de 2015

Crítica: 10.000 Km (2014)


É possível manter uma relação amorosa à distância? Esse é um dilema que muitos casais hoje em dia tem que passar, e o espanhol Carlos Marques-Marcet conseguiu captar isso de forma única, sem ser nem um pouco apelativo ou piegas, em seu primeiro trabalho como roteirista e diretor.



Alexandra (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer) formam um jovem casal espanhol cheio de sonhos, que vivem juntos em um apartamento em Barcelona e levam uma vida normal. O dias vão passando até que um dia Alexandra recebe uma proposta irrecusável de emprego no outro lado do oceano. No início eles relutam em aceitar, mas por uma questão profissional ela decide aceitar, e parte então rumo aos Estados Unidos onde ficará um ano.

A partir de então, o contato que eles mantém é apenas através da webcam. Aliás, é bastante interessante como o filme transcorre daí para frente. A maioria das cenas são dentro dos próprios computadores, onde eles conversam quase todos os dias para matar a saudade. Porém, o sentimento de solidão é imenso mesmo com essa ajudinha da tecnologia, e aos poucos, como era de se esperar, a relação vai se desgastando.



Esse desgaste da relação é muito bem mostrado em cena. Nos primeiros meses tudo que eles queriam era se ver, mas aos poucos cada um vai dando mais importância a suas próprias coisas, principalmente Alexandra. As conversas vão ficando cada vez mais curtas e os assuntos já não são mais os mesmos.

O egoísmo e o ciúme de Sergi, que não consegue se sentir bem vendo Alexandra curtir a vida com os amigos na nova cidade enquanto o "deixa de lado", é um ponto importante nesse distanciamento. Porém, antes de julgar sua atitude, devemos pensar se não faríamos igual na mesma situação. Eu particularmente não sei responder.



Quando os dois se reencontram, já não existe mais aquela paixão de antes. Pareciam na verdade dois estranhos que mal tinham do que falar. A cena final é extremamente dolorosa e mexe fundo na alma, principalmente de quem já teve que passar por algo assim. O que mais chama a atenção no filme é a química que existe entre os atores. Aliás, atuações impressionantes, onde eles conseguiram mostrar a maioria dos sentimentos apenas através do olhar, com o uso de poucas palavras.

Por fim, apesar da premissa ser aparentemente simples, 10.000 Km é um filme diferenciado e de extrema competência, principalmente porque foge de qualquer esteriótipo do gênero. Vale a pena cada segundo mesmo sendo um filme parado, o que pode incomodar muita gente que não gosta de filmes assim.


Crítica: Jimi: All Is By My Side (2015)


Roteirista do vencedor do Óscar "12 Anos de Escravidão", John Ridley resolveu se aventurar pela primeira vez como diretor para mostrar um pouco mais sobre a personalidade por trás do lendário guitarrista Jimi Hendrix, que entrou para a história do rock no final dos anos 1960.



Diferentemente do que se esperava quando o filme foi anunciado, ele não tem a proposta de ser uma biografia completa do artista, e se passa apenas em um breve período de tempo, entre 1966 e 1967. Porém, esse curto espaço de tempo pode ser considerado um divisor de águas em sua carreira, pois foi onde ele começou a surgir definitivamente para o mundo.

Linda Keith (Imogen Poots), namorada de Keith Richards na época, foi até o bar noturno de Nova York onde Hendrix tocava com a banda "The Blue Flames" e logo ficou encantada com o que viu. Decidida a fazer de tudo para alavancar sua carreira, ela conversou com produtores e outros artistas do ramo até conseguir uma chance de ouro nas mãos de Chas Chandler (Andrew Buckley), até então baixista da banda The Animals, que o levou para a Inglaterra.



Aliás, é interessante como o diretor faz diversas referências da época, como o próprio The Animals, assim como os Rolling Stones, Bob Dylan e o também lendário guitarrista Eric Clapton. A trilha sonora do filme é encantadora, mesmo que não tenha sido utilizada nenhuma música original de Hendrix por questões legais.

O ator Andre Benjamin consegue personificar com perfeição a figura de Hendrix, com sua voz calma em contraste com seu comportamento explosivo, que muitas vezes causou confusões principalmente com Phoebe (Amy De Bhrún), sua namorada na época. Apesar de deixar um sentimento de que falta algo no final, não dá para dizer que seja um filme ruim, e vale a pena pelo menos para viajar nos acordes e solos de guitarra de um ícone da música mundial que nos deixou cedo.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Crítica: Mommy (2014)


O canadense Xavier Dolan deixou de ser uma promessa há muito tempo para se tornar uma realidade. Com apenas 26 anos ele já possui um currículo invejável, cheio de premiações e uma vasta admiração da crítica e do público. Pois com Mommy ele parece ter atingido o ápice de sua carreira até então, mostrando mais uma vez a relação entre mãe e filho, já abordada por ele em pelo menos três de suas obras anteriores, mas nunca de forma tão arrebatadora.



Steve (Antoine-Olivier Pilon) é um garoto inconsequente e agressivo que vive num centro de correção para adolescentes com problemas de comportamento. Depois de causar um incêndio no local ele acaba sendo expulso, e sua mãe Diane (Anne Dorval) o leva para morar junto com ela na sua nova casa. A princípio, a relação entre mãe e filho choca pela contradição; num momento estão brigando e se xingando da pior forma possível, para logo depois de elogiarem e trocarem carinho.

Diane mostra no começo uma firmeza impressionante para lidar com os problemas, mas a medida que o tempo passa, vamos percebendo sua enorme fragilidade. Aliás, esse é um dos pontos fortes dos filmes de Dolan, adentrar fundo na personalidade dos personagens, abordando todos os seus medos, receios e ressentimentos de forma detalhista. Graças a isso, conseguimos entender o porque de cada um ser da forma que é no presente.



Viúva e desempregada, Diane passa os dias tentando encontrar um emprego enquanto faz de tudo para evitar que o filho faça alguma coisa que o leve definitivamente a detenção. Logo entra em cena a figura de Kyla (Suzanne Clément), a vizinha que mora do outro lado da rua, que passa a cuidar de Steve enquanto a mãe faz alguns bicos para se sustentar. Aos poucos, Kyla vai se tornando peça chave nessa estrutura familiar, trazendo um certo equilíbrio e a esperança de um futuro melhor.

O enredo é muito bem construído, com trilha sonora e fotografia impecáveis. Aliás, a tela reduzida (apenas um quadrado no meio durante todo o filme, exceto em duas cenas) é um ingrediente a mais, como se Dolan quisesse prender nossa atenção ao centro da imagem e ao que realmente importa. As atuações por sua vez são de tirar o fôlego. Antoine-Olivier Pilon simplesmente extrapola o limite de uma boa atuação e faz um papel brilhante. Anne Dorval também impressiona, e está perfeita na pele dessa mãe multifacetada e diferente de qualquer outra já vista nas telas. Não dá para esquecer ainda de Suzanne Clément, que dá um toque especial na trama depois de sua entrada.


Com um final angustiante, Mommy é sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes de 2014. Recheado de cenas emblemáticas, que certamente ficarão na minha cabeça para sempre, o filme mexeu comigo como poucos, tanto que demorei para perceber que os créditos haviam terminado após o final. Obra-prima!


Crítica: For Those Who Can Tell no Tales (2014)


Ainda desconhecido no Brasil (tanto que não possui nem previsão de um nome em português), o bósnio For Those Who Can Tell no Tales, da experiente diretora Jasmila Zbanic (de Em Segredo) é um retrato fidedigno de como as cidades se reerguem depois de uma guerra mas nunca deixam para trás seu passado sangrento.



Kym (Kym Verdoe) é uma jovem australiana que gosta muito de viajar. Porém, diferente da grande maioria, ela prefere conhecer lugares exóticos e pouco explorados, e isso acaba levando-a à Bósnia-Herzegovina. Admirada com as belas paisagens do país, ela vai seguindo as indicações do guia ilustrado que comprou antes da viagem, inclusive na parte da hospedagem.

Dias depois, de volta à Sidney, ela começa a pesquisar melhor sobre os lugares que visitou e algo a deixa extremamente chocada. O hotel na cidade de Visegrad, descrito pelo guia como um "hotel romântico", foi utilizado durante a guerra como campo de concentração de mulheres, que eram estupradas e mortas diariamente em quartos como o que ela dormiu, muito possivelmente em cima das mesmas roupas de cama que ela usou.



A partir de então Kym não será mais a mesma. De volta à Visegrad e decidida a desvendar mais a fundo os segredos que as gélidas paredes dessa cidade guardaram por anos, ela vai filmando e tirando fotos de tudo, o que chama a atenção da polícia e dos habitantes locais, que passam a enxergá-la com desconfiança.

O enredo é bastante interessante, principalmente por nos fazer pensar no quanto de história cada cidade carrega em si, muitas delas terríveis. Detalhe para os closes em pedaços de paredes e ruínas, mostrando de perto as cicatrizes que a guerra deixou. A personagem é bastante carismática no começo, registrando toda a viagem em vídeos, e aos poucos vai sendo afetada duramente pela verdade dos fatos. Como ela mesma diz, "a ignorância é uma benção", e as vezes é melhor não saber de tudo.


terça-feira, 17 de março de 2015

Crítica: A Gangue (2015)


Quando temos a certeza de que o cinema já contou todas as histórias e de todas as formas possíveis, eis que nos surpreendemos com algo nunca antes imaginado, provando mais uma vez as infinitas possibilidades que a sétima arte possui. 



A Gangue (The Tribe), do ucraniano Myroslav Slaboshpytskiy, conta a história de um garoto surdo-mudo (Grigoriy Fesenko) recém chegado num internato especializado em alunos com a sua deficiência. Ele logo é recebido com hostilidade pelos veteranos, mas aos poucos passa a se inserir na dinâmica dos colegas, muitos deles envolvidos com crimes e até mesmo com a prostituição. O local também se mostra muito menos hospitaleiro do que parece, com seus ambientes sujos e mal cuidados, o  que ajuda a criar o clima de frieza, que é a grande característica do filme.

Mas afinal, o que faz essa obra ser tão diferente assim de qualquer outra? Apesar do enredo aparentemente simples, ele possui uma grande peculiaridade: o filme não possui diálogos, pois todo o elenco é constituído de atores surdos-mudos. Isso mesmo que você está pensando: toda as "falas" do filme são mostradas através da linguagem de sinais, e mais do que isso, sem nenhuma legenda.



Havia um receio, no princípio, de que o filme talvez não conseguisse passar ao público leigo em libras o que ele realmente queria, mas a abordagem do diretor é tão bem feita que isso acaba sendo mais fácil do que se imaginava. Claro, não dá para entender explicitamente o que eles falam entre si, mas conseguimos entender tudo aquilo que precisamos através das imagens. E sem se tornar massante, o que é o grande mérito do enredo.

Por falar no enredo, ele possui cenas realmente inquietantes e duras de assistir. A violência e o sexo são mostrados sem nenhum pudor, assim como a prostituição infantil e até mesmo o aborto, temas que não são bem quistos no cinema comercial. Os personagens não tem nomes, e a música é totalmente ausente, dando lugar apenas ao som ambiente. No final do filme (que aliás, é arrebatador) a gente percebe que, no fim, as palavras talvez só estragassem a grande essência que o silêncio conseguiu passar. Cada vez que um filme original como esse é lançado, temos a certeza de que o cinema subiu mais um degrau.


quinta-feira, 12 de março de 2015

A Volta ao Mundo em.. 80 filmes!

Foi assistindo um filme de Burkina Faso, um pequeno país do noroeste africano, que eu tive a ideia para este artigo. Afinal, vocês já pararam para pensar em quantas voltas ao mundo nós conseguimos dar através do cinema? Quantos lugares, quantas etnias, quantos idiomas e quantas culturas somos capazes de conhecer por meio dos filmes, não é mesmo?

É justamente pensando nisso que eu criei essa lista com 80 filmes, oriundos de 80 países diferentes do nosso globo terrestre, provando que boas histórias podem surgir de qualquer canto do planeta. Antes de mais nada, a intenção não foi escolher os melhores de cada país, mas sim, apenas recomendar uma boa obra de cada um deles. Sem mais delongas, vamos dar início então à nossa viagem:


1 - Paisagem na Neblina, de Theodoros Angelopoulos (Grécia)

Nada melhor do que começar nossa viagem por um dos berços da civilização, a belíssima Grécia. O país tem diretores conceituados no cinema ocidental como Constantin Costa-Gavras e Theodoros Angelopoulos, e é do segundo que temos o clássico Paisagem na Neblina (Topio Stin Omichli). O drama conta a história de dois irmãos que partem em uma viagem rumo à Alemanha para encontrar o pai que nunca conheceram, e durante o trajeto enfrentam dificuldades que os fazem amadurecer mais cedo do que deveriam. Sensível e poético, mas ao mesmo tempo duro e angustiante, é o tipo de filme que, mesmo que você não queira, acaba mudando um pouco a sua forma de enxergar o mundo.


2. Antes da Chuva, de Milcho Manchevski (Macedônia)

Seguindo viagem pela região dos Bálcãs, chegamos à Macedônia. Dilacerada pela guerra, a nação é plano de fundo para três histórias distintas que se cruzam no final. A primeira delas é sobre uma jovem albanesa refugiada que é acolhida por um monge macedônio, que passa a nutrir sentimentos românticos por ela. A segunda conta a história de uma fotógrafa inglesa que se vê dividida entre o marido e o amante, o que culmina na terceira história, onde o amante dela está em viagem pela sua terra natal para reencontrar um velho amigo. Até hoje, Antes da Chuva (Before the Rain) é o filme mais lembrado e cultuado de um país que tem pouca tradição na sétima arte.

3. Terra de Ninguém, de Danis Tanovic (Bósnia-Herzegovina)

A próxima parada é na Bósnia-Herzegovina, parte independente da extinta Iugoslávia. O cinema Bósnio teve uma crescente após o fim da violenta disputa territorial ocorrida nos anos 1990, com grande parte dos filmes abordando o tema. Premiado como melhor filme estrangeiro no Óscar de 2001, Terra de Ninguém (Nicija Zemlja) mostra a relação entre dois soldados inimigos, um Bósnio e um Sérvio, que ficam presos em uma trincheira no meio das linhas inimigas. Utilizando de um humor peculiar, o filme faz uma reflexão sobre os motivos e as consequências de uma Guerra e critica principalmente o tratamento que a ONU e os demais países do mundo deram a essa em específico.


4. A Serbian Film: Terror Sem Limites, de Srdan Spasojevic (Sérvia)

Impossível falar do cinema sérvio e não lembrar dessa pérola. Banido em diversos países do mundo (inclusive no Brasil, onde ficou proibido por quase um ano), mas ao mesmo tempo premiado em muitos festivais europeus, A Serbian Film: Terror sem Limites (A Serbian Film) é sem dúvida um dos filmes mais chocantes e controversos de todos os tempos. Ele tenta, sem pudor, mostrar um pouco daquilo que ouvimos falar que existe na famosa "deep web" mas que nos negamos a acreditar. Necrofilia, pedofilia, estupros e violência extrema são apenas alguns dos ingredientes que fazem esse filme ser inesquecível, por bem ou por mal.


5. Os Filhos do Padre, de Vinko Bresan (Croácia)

Filme mais visto da história da Croácia, Os Filhos do Padre (Svecenikova Djeca) é uma comédia deliciosa que se passa na belíssima região da Dalmácia. A história inusitada acompanha o padre da paróquia local que começa a se preocupar quando a taxa de natalidade na região chega a zero. Investigando o motivo, ele descobre que todos os casais da localidade começaram a usar camisinha, e seu plano então é furar todas elas antes que cheguem ao comércio para que voltem a nascer crianças e a população volte a crescer. O humor do filme é bastante perspicaz, e faz uma crítica principalmente à hipocrisia da igreja.


6. O Mundo é Grande e a Salvação Espreita ao Virar a Esquina, de Stephan Komandarev (Bulgária)

Partindo rumo ao leste europeu, chegamos à Bulgária. O amor que senti por esse filme quando o assisti foi tão grande quanto o seu nome. Vindo de um país cujo cinema é extremamente desconhecido e pouco explorado, ele é uma verdadeira joia rara lapidada. Um rapaz jovem sofre um grave acidente de carro e acaba perdendo a memória, e na tentativa de curar sua amnésia, seu avô o leva para uma viagem de volta ao seu país natal, onde o garoto vai redescobrindo aos poucos quem ele é. O filme mistura drama e comédia de forma competente, o que ajuda a passar uma sensação boa apesar do tema dramático.

7. Trem da Vida, de Radu Mihaileanu (Romênia)

O cinema romeno carrega em si uma contradição: ao menos tempo que é dos menos expressivos da Europa em número de lançamentos, é um dos que mais tem filmes premiados, provando que às vezes qualidade é melhor que quantidade. O cinema do país só começou a chamar a atenção em meados de 1990, e foi em 1998 que ele teve sua obra-prima, Trem da Vida (Train de Vie). O filme conta a história de uma vila de judeus que durante a Segunda Guerra se reuniu em um mutirão para montar um trem com as próprias mãos, com a intenção de fugir do local antes da chegada do exército nazista. Apesar do tema pesado, é um filme super leve e engraçado, e com um final bsurdamente inesperado.



8. O Diário da Esperança, de Janos Szasz (Hungria)

O cinema húngaro é um dos mais importantes do leste europeu, e também um dos mais respeitados. Durante sua história já teve diretores reconhecidos mundialmente como István Szabó e Béla Tarr, e agora nos anos 2000 ganhou uma sobrevida com o surgimento de um nova e boa leva. Entre os principais exponentes está Janos Szasz, que dirigiu essa pequena grande obra de superação e amadurecimento precoce. Durante a Segunda Guerra, dois irmãos gêmeos são enviados pelos pais para viver no interior junto com a avó. Ela, no entanto, se mostra uma pessoa cruel e desumana, que coloca os garotos para trabalhar duro em troca de comida, além de maltratá-los todas as noites. O dia-dia dos garotos é contado por eles mesmos através de um diário, entregue por seu pai antes da separação.


9. Os Falsários, de Stefan Ruzowitsky (Áustria)

O cinema austríaco ganhou fama a partir dos anos 90 graças ao diretor Michael Haneke, diversas vezes premiado pelo mundo afora, inclusive pelo Óscar. Porém, para fugir do que seria clichê, o filme que escolhi para representar o país nessa lista não é do diretor. O longa Os Falsários (Die Falscher), de Stefan Ruzowitsky, conta uma história pouco conhecida que aconteceu nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, onde os judeus mais inteligentes foram designados para ajudar o exército alemão a fabricar dinheiro falso, que depois seria usado para a compra de milhares de armas usadas na Guerra.


10. Kolya - Uma Lição de Amor, de Jan Sverák (República Tcheca)

Vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro em 1997, Kolya - Uma Lição de Amor (kolja) se passa na cidade de Praga, durante o  regime comunista, e conta a história de um homem solitário que aceita se casar com uma moça em troca de dinheiro. Depois do casamento, a mesma foge para a Alemanha Ocidental e deixa com ele seu filho pequeno. Sem nenhum preparo para cuidar de crianças, aos poucos ele vai criando uma afeição pelo garoto e uma bonita amizade surge entre eles. Mesmo não tendo nada de inovador no seu enredo, o filme encanta justamente pela relação singela que se cria entre um homem que já viu muito do mundo e uma criança que está arressem aprendendo o que é a vida.

11. Quero Viver, de Maciej Pieprzyca (Polônia)

O polonês Quero Viver (Chce Sie Zyc) está na lista dos melhores filmes que já assisti na minha vida, e eu realmente fico triste em perceber o quão pouco conhecido ele é por aqui. O longa mostra a vida de um garoto que nasceu com paralisia cerebral e passou a vida toda sofrendo com a doença, enquanto tentava provar aos outros que tinha inteligência e capacidade para ter suas próprias vontades. O filme é bastante poético e emocionante, tocando até mesmo os corações mais duros, sobretudo pelas atuações impressionantes de Kamil Tkacz (que faz ele jovem) e de Dawid Ogrodnik (que faz ele já adulto, na maior parte do filme).

12. Tangerines, de Zaza Urushadze (Estônia)

Finalista no Óscar 2015 de melhor filme estrangeiro, Tangerines (Mandariinid) é um dos melhores filmes já produzidos no leste europeu. O enredo bem humorado conta a história de dois soldados inimigos, um checheno e um georgiano, que acabam feridos na Guerra da Abecásia e são acolhidos na mesma casa por um senhor de idade. Quando acordam e se dão conta do ocorrido, os dois começam a brigar entre si, mas o anfitrião acaba acalmando os ânimos e fazendo brotar entre eles uma relação de humanidade e respeito acima de qualquer disputa.

13. Minha Vida Sem Minhas Mães, de Klaus Haro (Finlândia)

O cinema finlandês é conhecido por sua frieza, mas Minha Vida Sem Minhas Mães (Aideista Parhain) tem toda a ternura que os demais não tem, mostrando um episódio trágico ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. Naquele período, milhares de crianças finlandesas foram enviadas para um espaço neutro na Suécia, sendo acolhidos por famílias voluntárias, e o filme acompanha uma delas, um garoto de nove anos. O enredo trata do doloroso impacto que a mudança traz para a vida do garoto e de outras tantas crianças que são afetadas pela guerra.

14. Canções do Segundo Andar, de Roy Andersson (Suécia)

A Suécia é a terra de Ingmar Bergman, e só por isso já merece respeito. Porém, no cinema sueco contemporâneo um nome se destaca: Roy Andersson. Canções do Segundo Andar (Sanger Fran Andra Vaningen) é um dos filmes mais bacanas desse diretor, que vem se mostrando um dos mais originais do cinema atual. Cheio de simbolismos, o filme acompanha uma série de acontecimentos surreais que acontecem durante uma noite em um lugar qualquer do hemisfério norte. Aparentemente não existe relação entre eles, mas no fundo, todos mostram o quão difícil é manter a calma e se comportar como ser humano no absurdo que o mundo se tornou.

15. Expedição Kon-Tiki, de Joachim Ronning e Esper Sandberg (Noruega)

Nossa última parada no continente europeu, por enquanto, é na Noruega. Em 1947 o explorador norueguês Thor Heyerdahl resolveu atravessar o oceano pacífico saindo da América do Sul em direção à Polinésia usando apenas uma pequena jangada. O barco foi montado apenas com materiais que existiam há centenas de anos atrás, na tentativa de provar sua própria teoria de que a ilha teria sido colonizada por indígenas da América. O filme mostra com competência essa aventura, e chama a atenção principalmente por sua fotografia impressionante.

16. Filhos da Natureza, de Friorik pór Frioriksson (Islândia)

Antes de atravessar o atlântico e chegar na América, fazemos uma escala na Islândia. O cinema da ilha pode ser considerado um dos mais jovens do mundo, tendo começado sua produção regular apenas no final dos anos 1980. Finalista ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Óscar de 1992, Filhos da Natureza (Born Náttúrunnar) foi o grande responsável por trazer os olhos do mundo pela primeira vez ao cinema do país. O filme belíssimo conta a história de um casal de idosos que se encontram em uma casa de repouso e resolvem fugir do local, na tentativa de buscar um sentido para seus últimos anos de vida na Terra.

17. Incêndios, de Denis Villeneuve (Canadá)

A primeira parada no continente americano é no Canadá. Considerado um dos principais pólos cinematográficos do continente, o Canadá possui uma lista de grandes obras e grandes diretores, e na atualidade três nomes se destacam: Jean-Marc Vallée, Xavier Dolan e Denis Villeneuve. O último é responsável pela obra-prima Incêndios (Incendies), que narra a história de dois irmãos gêmeos que após a morte da mãe partem para o Líbano para desvendar um segredo que ela guardou durante a vida toda. Indicado ao Óscar de melhor filme estrangeiro em 2011, o filme traz um retrato cruel da realidade no Oriente Médio e choca com um final espetacular.

18. Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (Estados Unidos)

São tantos filmes americanos famosos na história que se torna uma tarefa ingrata ter que escolher apenas um. Cogitei deixar o país de fora da viagem, mas se tinha que escolher um, que fosse então um de Quentin Tarantino. Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction) não só é o melhor filme do diretor, como também é um dos melhores já produzidos na história do cinema mundial. Contando três histórias distintas que se cruzam do meio pro final, o filme é uma verdadeira obra-prima e um divisor de águas do cinema americano dos anos 1990, graças ao seu humor negro, às suas atuações incríveis e aos seus diálogos emblemáticos e inesquecíveis.

19. Amores Brutos, de Alejandro González Iñarritu (México)

Muito antes de ter vencido o Óscar em 2015 por Birdman, Iñarritu já era um dos meus diretores favoritos, e essa minha admiração já começou cedo, com Amores Brutos (Amores Perros), seu primeiro longa-metragem da carreira. Chocante, principalmente pelas cenas de violência envolvendo cachorros de rinha (o que afastou muita gente dos cinemas, mesmo depois de ter sido provado que as cenas mais violentas foram feitas por computador), o filme é um retrato cruel e pútrido dos subúrbios de uma Cidade do México dominada pela violência.

20. A Jaula de Ouro, de Diego Quemada-Diez (Guatemala)

Descendo à América Central, temos o drama guatemalteco A Jaula de Ouro (La Jaula de Oro), que mostra a luta de um grupo de jovens imigrantes do país que partem rumo ao México para tentar atravessar a fronteira com os Estados Unidos. No caminho, eles se vêem obrigados a lidar com diversas dificuldades naturais, além de enfrentar narcotraficantes perigosos que querem se dar bem às suas custas. Com atuações excelentes de atores amadores e um enredo quase documental, o filme é um retrato dolorido de pessoas que tentam de tudo para conseguir uma vida melhor, mesmo que para isso tenham que pagar um alto preço.

21. Morango e Chocolate, de Juan Carlos Tabío e Tomáz Gutiérrez Alea (Cuba)

Um dos principais filmes da história do cinema cubano, Morango e Chocolate (Fresa Y Chocolate) se passa em Havana, na década de 1970, e acompanha o encontro de um universitário e militante comunista com um artista plástico homossexual, que está descontente com as atitudes do regime de Fidel Castro, principalmente em relação ao público LGBT e à censura cultural. Apesar dos diferentes conceitos de vida, uma forte amizade nasce entre eles, criando desavenças com defensores de ambos os lados.

22. Libertador, de Alberto Arvelo (Venezuela)

A primeira parada na América do Sul é na Venezuela. O cinema do país sempre foi pouco produtivo, mas nos últimos 5 anos deu uma boa crescida, o que possibilitou o lançamento de obras como Libertador. Representante do país no Óscar de melhor filme estrangeiro em 2015, o longa conta a trajetória do guerrilheiro Simón Bolívar, nome fundamental na luta pela liberdade da América Latina das mãos do Império Espanhol. Bolívar é visto até hoje como um herói pelas nações da América Hispânica, e suas estátuas estão por todos os lados, principalmente na Colômbia.

23. Maria Cheia de Graça, de Joshua Marston (Colômbia)

Um dos principais filmes colombianos da virada do século para cá, Maria Cheia de Graça (María, Llena Eres de Gracia) conta a história de uma jovem de 17 anos que, após ficar desempregada, aceita a proposta de transportar heroína para os Estados Unidos em seu estômago em troca de dinheiro. Ela consegue chegar nos Estados Unidos, mas sair de lá ilesa acaba sendo um pouco mais complicado do que ela esperava. O filme é um retrato dolorido da vida dessas pessoas, conhecidas como "mulas" de drogas, e choca pela veracidade dos fatos.

24. A Que Distância, de Tania Hermida (Equador)

Com uma bela paisagem e um enredo reflexivo, A Que Distância (Qué Tan Lejos) é um bonito filme equatoriano sobre as relações humanas e o amadurecimento pessoal. Uma turista espanhola resolve viajar ao país para apreciar as belas paisagens, e no caminho conhece uma jovem politizada que está viajando entre uma cidade e outra para encontrar o namorado. No caminho, as duas ainda conhecem um homem andarilho, que se mostra um dos personagens mais interessantes que já vi no cinema. O tipo de filme que encanta ao mesmo tempo que te faz refletir sobre inúmeras coisas.

25. Contracorrente, de Javier Fuentes-Léon (Perú)

Do desconhecido cinema peruano temos o elogiado Contracorrente (Contracorriente). O filme conta a história de um pescador respeitado em sua aldeia que está prestes a ter um filho, mas que vive um conflito interno sobre sua sexualidade com a chegada de um jovem turista no local. A temática LGBT é tratada com muita sensibilidade e naturalidade no enredo, sem nenhuma pretensão de didatismo, e é isso que faz dele um grande filme.

26. No, de Pablo Larraín (Chile)

Nossa última parada na América, por enquanto, é no Chile. A chegada do século XXI fez bem ao cinema chileno, trazendo uma nova leva de bons diretores. Prova disso é que o cinema do país conseguiu alcançar feitos até então inalcançáveis, como levar um filme seu à final do Óscar de melhor filme estrangeiro. O responsável por isso foi No, que retorna ao passado da nação vizinha e conta a história do plebiscito que, em 1988, mobilizou o país e pôs fim ao governo ditatorial de Augusto Pinochet. Muito bem montado, o filme mostra com excelência esse marco na história recente chilena, conseguindo captar com maestria o misto de tensão e esperança que existia no país naquela época.

27. O Orador, de Tusi Tamasese (Samoa)

Atravessando o pacífico, fazemos uma rápida parada na pequena e desconhecida ilha de Samoa. O Orador (O le tulafale) mostra um pouco da cultura desse minúsculo pontinho no mapa, tendo como pano de fundo a história de um agricultor que vive isolado do resto da população junto com a sua família, evitando contato com os demais a todo o custo. Quando uma tragédia assola o lar familiar, esse homem se vê obrigado a fazer algo para adquirir respeito de todos ao redor.

28. O Piano, de Jane Campion (Nova Zelândia)

Chegamos à Oceania, e a primeira parada é na Nova Zelândia. O cinema neozelandês ficou conhecido principalmente depois que o diretor Peter Jackson estourou em Hollywood com O Senhor do Anéis, cujas cenas foram gravadas na própria ilha. Mas antes disso outro nome fez sucesso por lá: o de Jane Campion, responsável pela obra-prima O Piano (The Piano). O filme mostra a vida de uma mãe solteira que é obrigada a deixar sua terra natal, a Escócia, por conta de um casamento arranjado pela família com um neozelandês. No novo país ela começa a ter aulas de piano com um homem aproveitador, e aos poucos a relação entre dois vai se tornando muito mais do que a de aluna-professor.

29. Shine - Brilhante, de Scott Hicks (Austrália)

Ainda na Oceania, fazemos uma parada na Austrália. O cinema australiano é bastante produtivo, cujas obras em inglês facilitam bastante sua popularização no outro lado do mundo. Entre tantos filmes excelentes vindos do país está Shine - Brilhante (Shine), sobre um homem que sofre de esquizofrenia mas que, mesmo com a doença, se mostra um brilhante pianista. Durante a trama acompanhamos, por meio de flashbacks, o que teria levado ele à doença, e vamos descobrindo um pouco mais sobre sua infância sofrida e a relação difícil com a família. O que mais chama a atenção é a atuação impressionante de Geoffrey Rush, que inclusive ganhou o Óscar de melhor ator em 1997.

30. Metro Manila, de Sean Ellis (Filipinas)

Vindo de um dos países mais pobres do oriente, Metro Manila é um filme bastante duro, principalmente por ser universal. Buscando melhorar de vida, um homem decide deixar para trás a vida no campo e partir para a cidade grande junto com a sua família. Além de toda dificuldade natural do percurso, eles ainda tem que lidar com pessoas inescrupulosas, que fazem de tudo para se aproveitar do pouco que eles tem. Para conseguir um lugar no mercado de trabalho, ele se obriga a pagar um preço ainda mais alto. O longa representou as Filipinas no Óscar de melhor filme estrangeiro em 2014.

31. Ilo Ilo, de Anthony Chen (Singapura)

Muito elogiado no festival de Cannes em 2013, Ilo Ilo acompanha a vida de uma jovem filipina, recém chegada em Singapura, que aceita o trabalho de empregada doméstica na casa de uma família conturbada da classe média. Ela fica responsável por cuidar do filho da família, um menino ríspido e agressivo, que sempre recebeu pouca atenção da família e que no início faz de tudo para humilha-la. Aos poucos ela vai conseguindo amansar o garoto, e uma amizade bonita e sincera nasce entre os dois.

32. A Imagem que Falta, de Rithy Pahn (Camboja)

No fim da década de 1970, foi instaurado no Camboja o regime do Khmer Vermelho, uma das mais violentas ditaduras que o mundo já viu e que causou a morte de mais de duas milhões de pessoas. A Imagem que Falta (L'Image Manquante) é um documentário fascinante de Rithy Pahn, um sobrevivente daquele período, que conta através de bonecos feitos detalhadamente de argila, os horrores que presenciou naqueles anos sangrentos. É um dos filmes mais primorosos que já assisti e mereceu chegar na final do Óscar de melhor filme estrangeiro em 2014.

33. A Última Vida no Universo, de Pen-Ek Ratanaruang (Tailândia)


O cinema tailandês é um dos mais respeitados e premiados do leste asiático, com nomes conhecidos como Ang Lee, Apichatpong Weerasethakul e Pen-Ek Ratanaruang, esse último diretor de A Última Vida no Universo (Ruang Rak Noi Nid Mahasan). A sinopse do filme remete a uma história clichê: um japonês que vive na Tailândia só pensa na morte e em modos de se matar até que conhece uma jovem tailandesa que é o oposto dele, e entre eles nasce uma bela relação de amizade. Porém, o enredo contemplativo do filme vai muito além disso, e aos poucos, de forma lenta, vamos adentrando até o fundo na história de cada um deles.

34. As Coisas Simples da Vida, de Edward Yang (Taiwan)

O cinema de Taiwan ganhou notoriedade entre os anos 1990 e 2000, e muito disso se vale pela qualidade do trabalho de Edward Yang. Seu filme mais premiado até então é As Coisas Simples da Vida (Yi Yi), e isso não é para menos. O longa narra a história de uma família de classe média do país que passa por dificuldades após a morte da matriarca. Abordando temas como o primeiro amor, a crise de meia-idade, tragédias familiares, política e a visão de uma criança sobre o mundo ao redor, o filme é um dos mais belos que já tive a chance de assistir. Todos os personagens são adoráveis, mas o mais cativante é o menininho, filho do protagonista, que ganhou uma máquina fotográfica para captar momentos que ele acha interessante, mostrando a visão de mundo de uma criança.

35. Confissões, de Tetsuya Nakashima (Japão)

O cinema japonês tem uma vasta história que se estende desde os tempos do cinema mudo, com nomes respeitados como Akira Kurosawa, Yasujiro Ozu, Hayao Miyazaki e Takeshi Kitano. Porém, é de um diretor desconhecido que temos a obra-prima Confissões (Kokuhaku), talvez o melhor filme produzido no país em décadas. O enredo acompanha a história de uma professora que resolve abandonar a profissão, mas sem antes vingar a morte de sua filha pequena, que ela descobre ter sido culpa de dois de seus alunos.

36. Pietá, de Kim Ki Duk (Coréia do Sul)

O cinema da Coréia do Sul poderia ser resumido em uma única palavra: vingança. Brincadeiras à parte, não há outro cinema do mundo que aborde o tema tanto quando o sul-coreano, e o mais impressionante disso é que ele parece nunca ficar defasado. Um grande exemplo disso é Pietá (Pieta), filme de 2013, que mostra a relação de um homem violento e solitário com uma mulher que aparece na sua vida dizendo ser sua mãe. Não é um filme fácil de ver, principalmente para quem não está acostumado com as "bizarrices" do cinema oriental, mas vale a pena principalmente pelo seu final impressionante.

37. Lanternas Vermelhas, de Zhang Yimou (China)
O cinema chinês é um dos mais respeitados da Ásia, e um dos nomes mais reconhecidos é o de Zhang Yimou, responsável por grandiosas obras, como Lanternas Vermelhas (Da Hong Deng Long Gao Gao Gua). O filme se passa nos anos 1920 e mostra a história de uma menina que após a morte do pai, se vê obrigada a se tornar a quarta esposa de um homem rico e poderoso, indo morar no mesmo palácio que as outras três. Aos poucos vamos acompanhando o relacionamento entre essas mulheres, com todas as práticas e costumes que vem de geração em geração dentro daquela mesma família.

38. Camelos Também Choram, de Byambasuren Davaa e Luigi Farloni (Mongólia)

O cinema da Mongólia é muito precário e existem escassas salas espalhadas pelo país (quase nenhuma, para falar a verdade). Mas isso não impediu que de lá saísse Camelos Também Choram (Die Geschichte vom Wienenden Kamel), um bonito documentário que mostra o nascimento de um raro camelo branco no meio do deserto de Gobi, rejeitado pela mãe após o parto. Usando de diversas artimanhas, inclusive o uso da música, os habitantes da aldeia fazem de tudo para que a mãe aceite o filhote.

39. Tulpan, de Sergei Dvortsevoy (Cazaquistão)

No Cazaquistão, assim como em grande parte dos países de maioria muçulmana, o casamento arranjado ainda é uma realidade. Um jovem que vive nas estepes do deserto do país tem o sonho de se tornar um dono de terras e pastor de ovelhas, mas para isso precisa se casar. Para realizar o sonho dele, a família resolve pedir a mãe de Tulpan, a única moça solteira em quilômetros de distância, mas ela o rejeita por achá-lo sem aptidões. A partir de então o jovem começa a fazer de tudo para provar que é capaz de merecer o casamento.

40. Meu Nome é Khan, de Karan Johar (Índia)

Os indianos são os maiores produtores de filmes do mundo, superando de longe os Estados Unidos, tanto em número de filmes lançados como em número de bilheterias. O principal pólo cinematográfico do país fica em Mumbai, onde se concentra a chamada Bollywood, e é de lá que vem Meu Nome é Khan (My Name is Khan), um dos melhores filmes que já tive a oportunidade de assistir. O longa acompanha a vida de um indiano que nasceu com síndrome de asperger e que passou a morar nos Estados Unidos com os irmãos depois da morte da mãe. Na América ele se apaixonou e se casou com uma linda mulher, mas uma tragédia acabou separando o casal. Ele então começa uma longa caminhada pelo país para trazê-la de volta.

41. À Procura de Sugar Man, de Malik Bendjelloul (Paquistão)

A segunda metade da nossa viagem começa pelo Paquistão. Escolhido como melhor documentário no Óscar 2013, o filme mostra a história real de Rodríguez, um cantor americano que não conseguiu sucesso na América mas, por um acaso do destino, acabou se tornando um fenômeno na África do Sul após uma cópia pirata de seu trabalho chegar por lá. Durante anos o povo de lá o idolatrou, mas sua verdadeira identidade e o seu paradeiro sempre foram um mistério. O documentário acompanha a busca de dois desses fãs sul-africanos pelo paradeiro do artista, revelando a verdade por trás dessa impressionante história.

42. A Pedra da Paciência, de Atiqi Rahimi (Afeganistão)

Indicado ao Óscar de melhor filme estrangeiro em 2013, A Pedra da Paciência (Syngué Sabour) conta a história de um ex-combatente de guerra que levou um tiro no pescoço e ficou em estado vegetativo sendo abandonado por todos, menos por sua fiel esposa. No meio do nada, isolados e correndo perigo iminente a todo o tempo, ela começa uma solitária confissão sobre seu passado e sobre seus sonhos, o que vai ajudando ela a recuperar o seu próprio sentido de viver.


43. Filhos do Paraíso, de Majid Majidi (Irã)

O cinema iraniano é belíssimo e talvez um dos melhores do mundo, competindo de igual para igual com os grandes. Nomes como Majid Majidi, Abbas Kiarostami e Asghar Farhadi são conhecidos e premiados mundo a fora, e é do primeiro que temos o maravilhoso e singelo Filhos do Paraíso (Bacheha-Ye Aseman). A história acompanha a vida de dois irmãos pequenos depois que o sapato de um deles é perdido. Como os pais não tem condições de dar um novo par, eles resolvem revezar o uso do que sobrou, para que ambos consigam ir para a escola.

44. Tartarugas Podem Voar, de Bahman Ghobadi (Iraque)

Em uma vila curda do Iraque, uma população procura desesperadamente por uma antena parabólica para saber mais notícias da Guerra, pouco antes do ataque americano no país. Tragicamente doloroso, mas ainda assim com espaços para o bom humor, o filme retrata uma vila de refugiados onde a maioria são crianças, que são obrigadas a crescer antes do tempo vivenciando uma realidade que nós dificilmente conseguimos imaginar.

45. O Sonho de Wadjda, de Haifaa Al-Mansour (Arábia Saudita)

A Arábia Saudita é o único país do mundo que não possui salas de cinema, pois o entretenimento ainda é estritamente proibido por lá. Por isso, não é de se estranhar que o cinema de lá seja quase inexistente. Por conta disso, O Sonho de Wadjda (Wadjda), que conta a história de uma garota que sonha em ter uma bicicleta para competir com seus amigos, pode ser considerado um marco histórico, por ter sido o primeiro filme 100% saudita (com atores locais e, pasmem, direção de uma mulher) indicado ao Óscar de melhor filme estrangeiro em 2013.

46. Capitão Abu Raed, de Amin Matalqa (Jordânia)

Abu Raed é um simples faxineiro do aeroporto de Amã, que um dia leva para casa o chapéu de piloto que encontra na lixeira. Depois de perceber como as crianças do seu vilarejo careciam de diversão, ele resolve se passar por capitão de aeronaves para elas, inventando histórias de viagens pelo mundo que atiçam cada vez mais a imaginação dos pequenos. O filme é uma belíssima lição de humanidade, de alguém que faz o bem sem olhar a quem.

47. Valsa com Bashir, de Ari Folman (Israel)
O cinema israelense começou sua produção pela década de 1950, mas foi somente na primeira década do século XXI que ele começou a ganhar algum reconhecimento fora de seus limites. A animação Valsa com Bashir (Vals im Bashir) é na verdade um documentário autobiográfico do diretor Ari Folman, veterano da Guerra do Líbano de 1982, que mostra a tentativa de recuperar sua memória após o massacre de Sabra e Shatila, até hoje lembrado como um dos mais terríveis da história dessa região.

48. Omar, de Hany Abu-Assad (Palestina)

Finalista ao prêmio de melhor filme estrangeiro em 2013, Omar é um dos melhores filmes já produzidos a respeito da Guerra entre israelenses e palestinos. O filme acompanha um jovem militante palestino que atravessa a fronteira clandestinamente todos os dias para ver sua namorada do outro lado do muro. O caso amoroso e os sonhos da juventude é só um pano de fundo para o verdadeiro tema do filme, o ataque israelense a uma região controlada pelo Hamas, que levou ao óbito quase duas mil pessoas. O filme choca principalmente por sabermos que aquilo que vemos na tela realmente acontece diariamente por lá, e que aparentemente essa é uma realidade que não tem data para acabar.

49. O Atentado, de Ziad Doueiri (Líbano)

Pouco se houve falar no lado de cá do planeta, mas no Oriente Médio não existem apenas homens bombas, mas também mulheres. O filme mostra o atentado cometido por uma delas, que carregava uma bomba escondida em sua falsa túnica de grávida, e o desespero do marido que não sabia dos planos da mulher. Após o ocorrido ele parte em busca dos responsáveis por trás de tudo para descobrir o que teria levado ela a seguir essa opção. Angustiante, O Atentado (L'attentat) é mais um dos filmes que levanta a bandeira da paz numa região onde a guerra já é parte do cotidiano.

50. Cairo 678, de Mohamed Diab (Egito)

Nossa primeira parada na África é no Egito. Cairo 678 é um dos filmes mais interessantes que já assisti, e conta uma história real que aconteceu na capital egípcia, mas que infelizmente acontece em qualquer outro lugar do planeta. Diariamente, dezenas de mulheres são assediadas nas ruas, e a coisa é ainda mais séria dentro do transporte público. Por culpa da cultura machista do país, nenhuma tinha coragem de denunciar os atos já que, mesmo sendo vítimas, isso traria vergonha para a família. Até que uma mulher resolveu bater de frente e enfrentar a sociedade, expondo ao mundo os abusos e conseguindo aprovar uma lei que passou a punir os crimes sexuais no país.

51. Um Homem que Grita, de Mahamet-Saleh Haroun (Chade)

Do centro do continente africano temos essa triste história sobre a relação de um pai com seu filho em meio a um guerra civil. Adam é um homem já na idade dos 60, ex-nadador, que trabalha em um hotel cuidando da piscina. Quando o hotel muda de dono, ele acaba sendo deslocado da função que tanto ama, e seu filho toma seu lugar. O ato causa inveja em Adam, que logo depois tem que tomar uma decisão radical que muda para sempre o rumo dessa família.


52. Sons do Deserto, de Marion Hansel (Djibouti)

Deste pequeno país africano temos essa grande história de persistência e perdas. Um pai de família parte numa aventura pelo deserto com sua esposa e seus filhos em busca de água, depois que o vilarejo onde viviam secou completamente. Nesse cenário hostil, comandado pelas milícias, eles enxergam a morte de perto a todo momento, e é a filha mais nova da família que com o tempo acaba se mostrando a personagem mais forte entre todos.

53. Munyurangabo, de Lee Isaac Chung (Ruanda)

Munyurangabo e Sagwa, dois amigos inseparáveis que vivem na cidade grande, resolvem partir em uma jornada rumo ao interior para recuperar assuntos do passado. O primeiro quer vingar a morte dos pais num genocídio, enquanto o segundo quer rever os pais e a casa que ele abandonou há anos. Quando chegam na casa de Sagwa, os pais dele logo percebem que o amigo do filho é da etnia rival, e acabam desaprovando a amizade. O filme foi o primeiro rodado inteiramente no dialeto do país e com atores não-profissionais.

54. Hotel Ruanda, de Terry George (África do Sul)

Em 1994 estourou um conflito entre etnias nas ruas de Ruanda que deixou mais de um milhão de mortos em menos de um mês. Sem apoio dos demais países, o povo ruandense teve que lutar bravamente pela sobrevivência. O longa conta a história de um dono de hotel que, corajosamente, abrigou mais de 1200 pessoas durante o conflito, enfrentando os rebeldes para defender pessoas que ele jamais tinha visto antes.

55. Na Cidade Vazia, de Maria João Ganga (Angola)

Nossa próxima parada na África é em Angola. Na Cidade Vazia acompanha um grupo de crianças refugiadas de Guerra que viajam junto de uma freira em direção à capital do país, Luanda. Chegando lá, um dos meninos consegue fugir do grupo e passa a descobrir a cidade sozinho. No trajeto, ele conhece tanto pessoas boas como pessoas más. O filme, o primeiro feito por uma mulher no país, mostra com veracidade a conturbada situação política do país e os efeitos da Guerra para seus habitantes.

56. Questão de Honra, de Idrissa Ouedraogo (Burkina Faso)
Burkina Faso é um dos pólos cinematográficos mais importantes da África, e é no país que acontece o maior festival de cinema do continente. A história de Questão de Honra (Tilai) acompanha um homem que retorna para sua aldeia natal com a esperança de rever a família e a mulher que amava, mas chegando no local, acaba encontrando muitas coisas diferentes de quando ele partiu. Sua amada agora está casada com seu próprio pai, e para o costume do lugar, agora pode ser considerada sua mãe. Na tentativa de recuperar o que perdeu, ele planeja fugir com ela para sempre, mas a aldeia acaba o caçando vivo pelo deserto do país.

57. Moolaadé, de Ousmane Sembene (Senegal)

Em muitas aldeias da África, o costume selvagem da mutilação genital feminina ainda é praticado, sob as leis do islã, e com apoio inclusive de mulheres. Segundo os costumes, uma mulher que não passa por isso é considerada impura, e dificilmente consegue casar quando mais velha. Moolaadé fala sobre 6 meninas que fugiram antes da chamada "cerimônia de purificação", e que foram protegidas por uma mulher poderosa que tenta de tudo para impedir que elas sejam resgatadas. Trata-se de uma obra-prima dolorosa de Ousmane Sembene, considerado pela grande maioria dos críticos como o melhor diretor da história do continente africano.

58. Timbuktu, de Abderrahmane Sissako (Mauritânia)

Pela primeira vez um filme da Mauritânia ficou entre os cinco finalistas do Óscar de melhor filme estrangeiro, e isso já é grande coisa. O filme se passa numa pequena cidade do norte de Mali, controlada por extremistas islâmicos, e acompanha a história de um homem que acaba matando outro por acidente. Segundo as leis do islã, isso é um crime imperdoável (parece até irônico depois do que vemos diariamente na televisão), e o pai de família que cometeu o ato acaba virando alvo da facção religiosa.

59. Dias de Glória, de Rachid Bouchareb (Argélia)

A Argélia é uma das potências cinematográficas do continente africano, já tendo chegado a três finais do Óscar de melhor filme estrangeiro, vencendo em 1970. É de lá que vem Dias de Glória (Indigènes), bom filme que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Durante aquele período, o governo francês buscou na Argélia homens aptos para fazer parte do seu exército para lutar na guerra em nome da França, e o filme acompanha a trajetória de quatro desses soldados.

60. Baba Aziz - O Príncipe que Contemplava sua Alma, de Nacer Khemir (Tunísia)

Antes de mais nada, Baba Aziz - O Príncipe que Contemplava sua Alma (Bab Aziz - le prince qui contemplait son âme) é o tipo de filme para ser assistido com a mente aberta, sem nenhuma espécie de preconceito religioso. Em forma de poema visual, com as belas imagens do deserto do Saara como fundo, o filme mostra a história de um dervixe e sua neta, que viajam pelas areias do deserto para um encontro de devixes, que ocorre uma vez a cada 30 anos. No caminho, ele vai contando uma história para a menina, sobre um príncipe que contemplava sua alma em uma piscina d'água.

61. As Ruas de Casablanca, de Nabil Ayouch (Marrocos)

A capital marroquina serve de fundo para uma história comovente de amizade, que acompanha quatro pré-adolescentes que vivem nas ruas da cidade. Um deles sonha em ser marinheiro, mas acaba morto em confronto com uma gangue de meninos de rua que comanda a região. A partir de então, os outros três amigos começam uma jornada para tentar enterrar o amigo, contando inclusive com a ajuda da mãe do garoto, até então desaparecida.

62. Love Likes Coincidences, de Omer Faruk Sorak (Turquia)
Nossa última passagem pela Europa começa pela Turquia e seu cinema de excelente qualidade, que surgiu para o mundo principalmente a partir da década de 1990. Nos últimos anos, a produção e a popularidade do cinema local só aumentaram, e Love Likes Coincidences (Ask Tesadufleri Sever) é um belíssimo exemplo dessa nova leva. O filme acompanha a vida um menino e uma menina que nasceram no mesmo dia, lado a lado na maternidade, e mostra os encontros e desencontros deles durante toda a vida. É tocante ao extremo, e apesar de ser uma comédia romântica, foge de qualquer esteriótipo do gênero.

63. A Outra Margem, de George Ovashvili (Geórgia)
Sem muitos rodeios, A Outra Margem (Gagma Napiri) mostra de forma crua e fidedigna as consequências que uma Guerra causam nas pessoas, sejam elas crianças ou adultos. A história acompanha uma mãe e seu filho, refugiados da Guerra da Abecásia, que passam a morar numa cabana abandonada nos subúrbios de Tbilisi. O garoto no entanto não consegue se adaptar à nova realidade, e parte numa viagem de volta para a cidade natal na tentativa de reencontrar seu pai.

64. Cargo 200, de Aleksey Balabanov (Rússia)

Confesso que o cinema russo nunca me conquistou. Gostei de pouquíssimos filmes que assisti de lá, e um deles é Cargo 200 (Gruz 200), que se passa em 1984 e conta duas histórias distintas que se cruzam durante a extinta União Soviética. De um lado, o sumiço da filha do presidente do comitê do Partido Comunista, de outro o assassinato de um homem à sangue frio no meio da noite. É um suspense diferente de qualquer outro, principalmente pelo seu enredo propositalmente sujo e grotesco, mostrando o lado mais podre e deprimente do ser-humano.

65. Daisy Diamond, de Simon Staho (Dinamarca)

O cinema da Dinamarca ficou conhecido nos últimos anos principalmente pelo Dogma 95, manifesto lançado por Lars von Trier e Thomas Vintenberg, que foi criado com a intenção de fugir do cinema convencional. Daisy Diamond pode não fazer parte desse manifesto, mas foge igualmente daquilo que somos acostumados a ver no cinema comercial. O filme mostra a história de uma jovem mulher que sonha em ser atriz mas que enfrenta grandes dificuldades, principalmente por ter uma filha de poucos meses de idade. O filme é brilhante mas é para poucos, pois do meio pro final há que ser muito forte pra suportar o que é mostrado.

66. Kauwboy, de Rick Lens (Holanda)

Um dos filmes mais simples e simpáticos que já tive a oportunidade de assistir, Kauwboy mostra a história de amizade entre um menino e um pássaro. O garoto de dez anos tem uma infância complicada, tendo que lidar com a mãe ausente e com as mudanças drásticas de humor do pai, até que começa a ver a vida com outros olhos quando encontra uma gralha ferida e a leva para casa, criando um vínculo muito forte com o animal.

67. O Oitavo Dia, de Jaco Van Dormael (Bélgica)

O cinema da Bélgica sempre foi bastante competente e um dos mais produtivos do continente. É de lá que vem grandes obras como O Oitavo Dia (Le Huitième Jour), que mostra a relação fraternal que se cria entre um empresário solitário e um jovem com síndrome de down depois de um acidente de trânsito. Bonito e comovente, o filme é uma verdadeira lição de que, apesar das diferenças, no fundo somos todos iguais, e o festival de Cannes gostou tanto da atuação dos atores que deu o prêmio de melhor ator para os dois.

68. A Onda, de Dennis Gansel (Alemanha)


Baseado numa história real que ocorreu nos Estados Unidos em 1967, A Onda (Die Welle) nos mostra como uma ideologia levada a sério pode transformar pessoas em "animais". Um professor fica responsável por ensinar autocracia a seus alunos, e depois de muitos deles duvidarem de que o nazismo poderia voltar a acontecer na Alemanha moderna, ele resolve criar um experimento: formar um grupo fascista na turma, onde escolhem um nome (A Onda), um uniforme e até mesmo uma saudação. Porém, a brincadeira sai do controle quando os alunos começam a propagar as ideias porta fora, tornando tudo isso um movimento real e incontrolável.

69. Perder a Razão, de Joachim Lafosse (Suiça)

Perder a Razão é um drama devastador sobre um caso real que ocorreu na Bélgica. Um casal apaixonado resolve casar e morar juntos. Como tudo vai bem, eles resolvem dar uma nova cara ao relacionamento tendo filhos e construindo uma verdadeira família, mas a entrada das crianças na vida do casal acaba mudando a rotina dos dois. Quem mais sofre com isso é a mãe, que passa a ficar cada vez mais afetada emocionalmente, até que isso culmina em um final trágico e doloroso.

70. A Lenda do Pianista do Mar, de Giuseppe Tornatore (Itália)

O cinema italiano, se não for o mais bonito do mundo, está entre os três mais. Grandes obras e grandes diretores fazem parte de sua história, entre eles Visconti, Fellini, De Sica, Antonioni e Bernardo Bertolucci. Mais recentemente é Giuseppe Tornatore o nome mais forte da sétima arte no país, e é dele essa obra-prima, que está entre os cinco filmes mais bonitos da minha vida. A história acompanha um exímio pianista que é abandonado em um navio, ainda bebê, e criado por um dos empregados da embarcação. Durante sua vida toda ele jamais pisou em terra firme, e criou lindas canções em meio às ondas e o barulho do mar.

71. O Escafandro e a Borboleta, de Julian Schnabel (França)

Assim como o italiano, o cinema francês também está entre os mais belos do mundo. Sua história na sétima arte é de uma importância sem tamanho, começando desde a criação das primeiras câmeras no século 18, passando por diversos movimentos que mudaram a forma de ver os filmes (como a Nouvelle Vogue dos anos 60), até chegar o belo cinema atual do país. Um dos melhores exemplos contemporâneos é O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon), que mostra a vida real de um editor da revista Elle que tem um derrame cerebral e passa o resto da vida com um único movimento no corpo: o olho esquerdo. É com ele que ele consegue se comunicar com o mundo e escrever sua própria autobiografia, num exemplo de superação sem tamanho.

72. A Língua das Mariposas, de José Luis Cuerda (Espanha)

A Língua das Mariposas (La Lengua de las Mariposas) se passa nos momentos que antecederam a Guerra Civil Espanhola, e mostra a relação de amizade que se cria entre uma criança e seu professor. A criança, com seus 7 anos de idade, vai aprendendo aos poucos os valores mais importantes de vida, enquanto acompanha, sem entender muito, as turbulentas transformações pelas quais o país passava naquele momento.

73. A Gaiola Dourada, de Ruben Alves (Portugal)

A Gaiola Dourada (La Cage Dorée) é um belo filme português sobre raízes e o amor pela terra natal. Um casal de imigrantes portugueses mora há mais de 30 anos num bairro nobre na França, mas nunca esqueceram de suas origens. Um dia, uma herança inesperada acaba trazendo a possibilidade de eles retornarem à Portugal, mas a vizinhança, já tão acostumada com eles e seus costumes, começa a fazer de tudo para evitar que isso aconteça. É um filme bastante divertido e extremamente leve, que te faz querer fazer parte daquela vizinhança adorável.

74. Barry Lyndon, de Stanley Kubrick (Inglaterra)

Em termos de qualidade, o cinema britânico não perde em nada para o americano. Entre os maiores diretores da sua antiga história, estão David Lean, Fred Zinnemann, e Alfred Hithcock, além dos contemporâneos Danny Boyle, Mike Leigh, Alan Parker, Stephen Frears e Tom Hooper. Porém, o filme escolhido para representar o país nessa lista não é de nenhum deles mas de um diretor americano que teve as bases de sua carreira na ilha europeia. Que Stanley Kubrick era um gênio qualquer um que goste de cinema sabe, mas poucos conhecem Barry Lyndon, o filme mais impressionante do diretor. Contando a história de um homem pobre que se tornou parte da nobreza britânica e que por causa dos excessos chegou à decadência, o filme é uma obra-prima completa e inesquecível, e um dos melhores filmes da história do cinema.

75. A Parte dos Anjos, de Ken Loach (Escócia)

A comédia A Parte dos Anjos (The Angels' Share) mostra um pouco da história a respeito da produção de Whisky no país, conhecido por ser o melhor produtor da bebida no mundo. Um jovem que está cumprindo trabalhos comunitários após ser preso acaba conhecendo um pessoal que também está na mesma situação que a sua, e com a ajuda do monitor deles, todos descobrem um pouco mais sobre a degustação de Whisky, abrindo novas portas de mercado para eles.

76. Meu Pé Esquerdo, de Jim Sheridan (Irlanda)

Nossa despedida da Europa é na Irlanda. Meu Pé Esquerdo (My Left Foot) é um belíssimo drama protagonizado pelo "tricampeão" de Óscares Daniel Day-Lewis (foi inclusive com esse filme que ele ganhou o seu primeiro). O longa mostra a história real de um garoto que nasceu com uma grave paralisia cerebral que impedia que ele movimentasse qualquer parte do corpo, com exceção do seu pé esquerdo. Com o controle desse único membro, ele conseguiu pintar quadros e escrever sua própria autobiografia, que ficou famosa em todo o país.

77. 7 Caixas, de Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori (Paraguai)

Quase chegando em casa, fazemos uma parada no Paraguai. Maior sucesso de bilheteria da história do cinema paraguaio, 7 Caixas (7 Cajas) é um eletrizante thriller que acompanha a história de um garoto, amante dos filmes de ação americanos, que trabalha como carregador de compras em um mercado popular de Assunção. Tudo vai bem até que um dia ele recebe a incumbência de transportar e esconder sete caixas cujo conteúdo é um mistério. A partir de então ele começa a ser perseguido tanto por bandidos como por policiais, em uma caçada humana que prende o espectador até o último segundo. O mais interessante é que todos os atores do filme são amadores, alguns inclusive nunca haviam trabalhado em frente às câmeras, e mesmo assim todos tem excelentes atuações.

78. Valentín, de Alejandro Agresti (Argentina)

Para mim o cinema argentino está entre os três melhores do mundo, e isso não é pouca coisa. Nossos hermanos, que já tem dois Óscares de melhor filme estrangeiro em sua história (A História Oficial em 1986 e O Segredo dos Seus Olhos e 2010) possuem uma extensa lista de obra-primas, principalmente nos últimos 15 anos. Entre eles está Valentín, um filme doce e adorável sobre um garotinho de nove anos que vive com a avó e tem dois sonhos: se tornar um astronauta quando crescer e conhecer sua mãe biológica que ele nunca viu.

79. O Banheiro do Papa, de César Charlone e Enrique Fernández (Uruguai)

Chegando quase ao fim da viagem, paramos no Uruguai. Nos últimos anos, o cinema do nosso vizinho vem numa notável crescente, com bons títulos disputando prêmios importantes em festivais mundo à fora, e entre eles está O Banheiro do Papa (El Baño del Papa). O longa mostra a movimentação em torno da visita que o Papa João Paulo II fez ao país em 1988, onde diversas pessoas viajaram até a cidade de Melo, perto da divisa com o Brasil, para aproveitar a ocasião e vender desde comida e bebida até suvenires e lembrancinhas. Um homem que mora na região decide montar um banheiro, para que todas essas pessoas possam se "aliviar" durante o evento, mas para isso tem que lidar com diversas dificuldades.

80. Teus Olhos Meus, de Caio Sóh (Brasil)

Enfim, em casa. O cinema nacional, apesar de muito criticado, é um dos mais interessantes do mundo. Existem muitos filmes de qualidade feitos por aqui, o problema é que boa parte das boas histórias sequer chegam ao grande público, que prefere comédias babacas sem nenhum conteúdo. Um dos melhores exemplos do cinema daqui nesses últimos anos é Teus Olhos Meus, que aborda a relação homossexual que se cria entre um homem mais velho e um jovem com espírito libertário, e a mudança que isso inflige em cada um. Trata-se de um filme extremamente poético, e com um final que fica eternamente na cabeça.