sexta-feira, 16 de junho de 2017

Crítica: Clash (2017)


Candidato egípcio ao Óscar de filme estrangeiro em 2017, Clash, do diretor Mohamed Diab narra de forma peculiar o caos que tomou conta do Egito em 2013, logo após o exército derrubar o governo de Mohamed Morsi, representante da Irmandade Muçulmana. A partir deste acontecimento, membros do partido muçulmano e manifestantes pró-exército passaram a se enfrentar pelas ruas do país, numa desordem como jamais vista naquela região.



Durante os protestos, a polícia vai prendendo membros dos dois lados da disputa em um camburão, o que cria uma situação conflitante à medida em que o veículo vai recebendo cada vez mais gente. Ali dentro daquele espaço está o retrato do país naquele momento, onde todos estava perdidos. Homens, mulheres, crianças, todos de classes e opiniões políticas diferentes, que brigam sem nem saber bem pelo que.

O mais interessante do filme é que ele se passa inteiramente dentro deste camburão da polícia. Isso mesmo que você leu! Toda a ação acontece dentro desse pequeno espaço, e tudo que acontece fora é mostrado apenas através de suas janelas, como se a câmera fosse mais um personagem preso dentro de toda aquela confusão. Isso ajuda a criar um clima de caos total ainda mais palpável a nós espectadores.


Num país dividido política e religiosamente, Diab evita pender para um lado. Ou pelo menos não faz isso de forma explícita. Filmar em apenas um local não é fácil, e necessita muita atenção aos detalhes, o que não falta aqui, tanto por parte da direção, que não deixa nada passar despercebido, quanto da parte dos atores, que cumprem muito bem os seus papéis.

Por fim, depois do excelente Cairo 678, que fala sobre o abuso diário que as mulheres sofrem ao sair na rua, Diab demonstra mais uma vez ter extrema competência em mostrar o dia-dia de uma Egito da qual pouco se conhece pelos lados de cá, sobretudo de um momento tão importante quanto foi este retratado.