terça-feira, 11 de julho de 2017

Crítica: Era o Hotel Cambridge (2017)


Centenas de famílias desabrigadas vivem no prédio onde um dia existiu o Hotel Cambridge, bem no centro de São Paulo. Abandonado há anos, o prédio foi ocupado por integrantes do MSTC (Movimento dos Sem Teto do Centro), que apesar de todas as diferenças, vivem unidos diante de uma dificuldade única: a falta de moradia.


No prédio vivem brasileiros de todos os lugares, mas principalmente estrangeiros, que migraram ao Brasil fugidos de seus países por diversos motivos, sobretudo guerras. Poucos personagens são fictícios e interpretados por atores, já que a maior parte do elenco é de pessoas que realmente vivem no local, e a mistura de drama com documentário ajuda a mostrar a realidade de vida dessas pessoas de forma mais realista. 

Dentro destas paredes são ouvidas muitas histórias tristes e pesadas, como a dos africanos que se obrigaram a sair dos seus países por causa dos genocídios recorrentes de disputas étnicas, reflexos de um mundo hostil. Basta sair na rua em qualquer dia da semana para se deparar, por exemplo, com os mesmos vendendo suas mercadorias pelas calçadas, único meio que encontram de sobreviver honestamente longe de suas terras natais.


De um dia para o outro chega ao conhecimento de todos os ocupantes que foi estipulada a reintegração de posse do prédio, e que em breve todos deverão ser despejados. Para onde? Ninguém sabe. Os preparativos iniciam, e volta aquela angústia de não saberem quais serão seus próximos passos nesta vida sofrida. Adultos, crianças, todos com futuro incerto, numa situação que só piora com a falta de ações sociais por parte das autoridades. 

Era o Hotel Cambridge é um verdadeiro choque de realidade para aqueles que são contra políticas de assistencialismo, mas mais do que isso, é um tapa na cara de quem é contrário à migração de imigrantes ao país. Concordo que deve haver uma integração adequada dessas pessoas à nossa sociedade, mas baní-los inteiramente é extremamente desumano. Em uma cena do filme, um dos ocupantes lê em um blog os comentários feitos pela população, que nada mais é do que a triste realidade que a gente vê nas caixas de comentários de sites de notícias, onde pessoas de caráter duvidoso usam o anonimato para chamarem os imigrantes das piores atrocidades possíveis.