domingo, 30 de junho de 2013

Recomendação de Filme #23

A Outra História Americana (Tony Kaye) - 1998

Considerado um dos melhores filmes dos anos 90, A Outra História Americana (American History X) é o típico filme obrigatório na estante de qualquer amante do cinema. Tenso, impactante, e extremamente real, o filme aborda de forma crua o pensamento racista (principalmente o ideal nazista), que até hoje infelizmente se faz presente na mente de algumas pessoas.


Derek Vinyard (Edward Norton) é membro de uma família abalada pela perda precoce do pai, um bombeiro, que é baleado por marginais ao tentar apagar um incêndio em um bairro negro. O episódio só ajudou a incitar o seu ódio por negros e pelas minorias.

Ele acaba juntando amigos e se tornando líder de um grupo de Skinheads violentos, que prega de forma radical a disceminação racial e o preconceito contra imigrantes, humilhando-os verbal e fisicamente. Derek acaba virando referência para outros jovens brancos, que o idolatram e seguem seus ideais.


Em uma noite, Derek é avisado pelo irmão de que seu carro está sendo assaltado. Ao partir em disparada ele chega ao local e acaba matando o assaltante, que por coincidência é negro. O que ele não esperava, porém, era a chegada da polícia, que o carrega para a prisão, acusando-o de crime racial.

Ao adentrar no presídio, ele se aproxima de um grupo de brancos, mas se afasta ao constatar que eles traficam drogas, atitude na qual sempre foi contra. Porém, ao começar a trabalhar na lavanderia da prisão, Derek acaba fazendo amizade com um negro, e acaba descobrindo que ele tem na verdade, mais caráter do que grande parte dos seus conhecidos. Revoltados com a "traição", os antigos companheiros na prisão acabam dando "uma lição" em Derek.


Três anos depois Derek é liberado. Percebe-se claramente que o tempo na cadeia acabou mudando completamente seu pensamento. Todos os ideais que ele seguia caíram abaixo, e Derek tenta mostrar isso ao irmão mais novo. O que ele não esperava era a mudança no irmão, Danny, enquanto ele estava afastado. Danny acabou alimentando o mesmo ódio que Derek tinha anteriormente, trilhando seus caminhos na gangue local. O resultado de tudo isso é trágico, mesmo com Derek tentando reverter a situação.

O filme é estrelado brilhantemente por Edward Norton, na melhor fase da sua carreira (um ano após o sucesso Clube da Luta). Norton simplesmente rouba a cena, e é dono de uma das melhores atuações de todos os tempos. Aliás, o elenco inteiro é impecável, inclusive o jovem Edward Furling, que dá vida ao irmão de Derek.


A forma como o diretor nos coloca na mente de um neo-nazista, e a maneira que ele usa para disceminar sua ídéias, é de fato elogiável. O final é surpreendente, e choca por mostrar uma realidade muito distante do típico "final feliz".

Por fim, A Outra História Americana é um filme exemplar sobre o comportamento humano em defesa de suas ideologias, e principalmente sobre o forte impacto e poder que alguém pode possuir sobre os outros. Obra-prima.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Crítica: Augustine (2012)



Sombrio e enigmático, Augustine (Augustine) é baseado em fatos reais e aborda o estudo feito pelo médico Jean-Martin Charcot em 1885 sobre a histeria, que mais tarde seria estudada pelo também médico Sigmund Freud através da psicanálise.




A jovem Augustine (Soko), de 19 anos, trabalha como empregada em uma casa de alta classe até que um dia, durante um jantar de gala, tem um ataque de histeria enquanto serve à mesa. Internada em um hospital psiquiátrico, a jovem passa a chamar a atenção do médico Charcot por causa da sua doença.

O professor e médico, interpretado pelo excelente ator da nova geração francesa Vincent Lindon, está estudando a enfermidade, e utiliza Augustine como cobaia levando-a em palestras na universidade onde leciona para explicar os sintomas. Seu método utilizado é a hipnose, que também viria a ser usada por Freud posteriormente.




A histeria foi muito confundida até os anos 1700 como sendo uma espécie de possessão demoníaca, por causa do medo que as pessoas tinham do sobrenatural, e pelo puro desconhecimento das ciências. Isso levou muitas mulheres à fogueira no passado, acusadas de feitiçaria. Um ponto interessante do filme é a utilização de imagens de pacientes reais entre algumas cenas, falando sobre o que sentem, ou simplesmente sobre coisas triviais. Foi uma tentativa de mostrar que a doença existe de fato, não é apenas ficção.

Em seu primeiro longa metragem, é evidente que Alice Winocour ainda tem muito o que aprender. O ponto fraco para mim, e algo que é inteiramente particular, é o uso da fotografia obscura. Isso sempre me incomodou, inclusive nos filmes do Clint Eastwood, que é famoso por usar essa técnica. Além disso, o envolvimento entre a paciente e o médico fica meio a par do restante da história, e não convence. Sobre o elenco, Vincent Lindon novamente dá uma aula de atuação, assim como fez em Algumas Horas de Primavera, também desse ano. Soko, que interpreta Augustine, também se sai muito bem no papel, principalmente nos momentos em que a personagem entra em crise.



Por fim, o tema abordado em Augustine é bem interessante, te prende até o fim, mas parece que deixa algo solto pelo ar. Entretanto, não dá para negar que se trata de uma experiência válida, e isso é o que de fato importa neste caso.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Crítica: A Melhor Oferta (2013)


O consagrado diretor italiano Giuseppe Tornatore retorna em grande estilo ao circuito internacional com A Melhor Oferta (La Migliore Offerta), uma trama sombria, repleta de suspense e mistério, e que se distancia bastante dos seus trabalhos anteriores.


O enredo gira em torno de Virgil Oldman (Geoffrey Rush), um leiloeiro famoso que é bem sucedido na carreira mas extremamente alheio ao resto da humanidade. Frio e pouco receptivo com toda e qualquer pessoa que se aproxima, ele chega inclusive a usar luvas para não manter contato direto com ninguém.

As únicas paixões de Oldman são as obras de arte e os objetos antigos, como móveis, estátuas e relíquias. Mas mais do que isso, nada supera sua paixão por quadros. Graças a um golpe que aplica com a ajuda do amigo Billy (Donald Sutherland), ele consegue manter uma coleção de pinturas antigas de mulheres em um aposento secreto da sua casa, guardado à sete chaves.


Ao ser chamado para avaliar o antiquário de uma casa, Oldman se depara com uma situação bastante incomum. Os donos da casa morrerem há cerca de um ano em um acidente, e a filha de 27 anos Claire Ibetson (Sylvia Hoeks) herdou tudo. Ela porém, sofre de uma doença psicológica que a impede de ter contato com outras pessoas, tendo ataques de pânico violentíssimos apenas com a mera cogitação de uma aproximação.

A relação dos dois se dá aos poucos, através de uma porta. Dadas as devidas diferenças, nota-se que não passam de dois humanos com problemas de relacionamento com outras pessoas, e talvez isso tenha os aproximado mais do que seria previsto. Oldman no começo está preocupado apenas em firmar o contrato de compra da casa e da mobília, mas com o tempo começa a se sentir intrigado com a doença da mulher, e passa a fazer de tudo para tentar um contato mais íntimo.



Se analisarmos o jeito com que o filme foi filmado, não dá para dizer de cara que se trata de um trabalho de Tornatore. Com exceção da trilha sonora sempre marcante de Ennio Moricone, a estética é bem diferente do que constantemente vimos nos seus trabalhos. A começar pelo elenco, com atores americanos, uma grande quebra de paradigma na sua carreira. Obviamente isso não é um defeito, muito pelo contrário.

A trama em si é extremamente cativante, cheia de mistério, nostalgia, e diálogos marcantes, além é claro, da ótima atuação de todo elenco. A Melhor Oferta é sem dúvida um dos melhores filmes feitos esse ano. Com um final surpreendente, é um retrato cruel da solidão humana.


domingo, 23 de junho de 2013

Recomendação de Filme #22

The Edukators (Hans Weingartner) - 2004

Os primeiros anos do século 21 foram extremamente produtivos para o cinema alemão, e The Edukators (Die Fetten Jahre Sind Vorbei) é um excelente exemplo disso. Junto com Adeus, Lênin (Goodbye, Lênin - 2003), A Vida dos Outros (Das Leben den Anderen - 2006) e A Onda (Die Welle - 2008), ente outros, o cinema alemão contemporâneo ficou conhecido por seu forte idealismo político, em um país que ainda vivia a ressaca da queda do muro de Berlim.




A trama do filme gira em torno de Jan (Daniel Brühl) e Peter (Stipe Erceg), dois jovens que moram juntos e dividem o sonho de mudar o mundo, lutando contra o capitalismo. Os dois formam uma dupla revolucionária que eles denominam de "Edukators", e expressam sua indignação invadindo mansões, trocando os móveis de lugar, e deixando bilhetes de protesto como "seus dias de abundância estão contados", ou coisas do tipo.

Ao mesmo tempo, Jule (Julia Jentsch), namorada de Peter, encara uma forte crise financeira desde que bateu seu carro no Mercedes de um ricaço, o empresário Hardenberg (Burghart Klaußner), e foi condenada a ressarci-lo pelo caríssimo conserto, o que ela considera uma tremenda injustiça. Afinal, ela terá de trabalhar durante sua vida inteira para pagar o prejuízo de 100 mil euros, enquanto que esse valor não faz a mínima diferença para o empresário.




Quando Peter viaja para Barcelona, Jan e Jule se aproximam e o rapaz se comove com o drama da garota. Juntos, resolvem invadir a mansão de Hardenberg para lhe dar uma lição. Porém, os dois acabam tendo problemas depois que Jule esquece seu celular no local, e precisam recorrer à ajuda de Peter para sequestrar o empresário.

É a partir de então, que os jovens começam a perceber que seus ideais, apesar de estarem moralmente corretos, não cabem mais no mundo de hoje. Especialmente depois de descobrirem que o empresário fora um militante como eles na década de 70.




Assim como em outras produções da época, já citadas no começo do texto, o filme foca no hiato em que os jovens se encontravam após o fim do regime comunista na Alemanha. Ao mesmo tempo em que procura uma solução para o capitalismo e as corporações, como as que usam mão-de-obra infantil para fabricar tênis que custam centenas de reais, o diretor se preocupa em mostrar que soluções reais e pacíficas nem sempre acabam dando o resultado desejado. Resumindo, a ideia é de que as mudanças devem acontecer primeiro em nós mesmos para que, depois, possamos mudar algo lá fora.

Não se trata de uma apologia à revolução, muito menos de enfatizar a ideia de que não existem mais ideais. O filme de Hans Weingartner (que também foi um revolucionário em sua juventude) mostra, por meio de um inteligente roteiro, que o melhor a fazer é simplesmente pensarmos nas consequências antes de agir. Assim como não adiantar querer mudar o mundo sentados no sofá pensando em como tudo está errado, da mesma forma não adianta partir para o anarquismo sem propósitos. Uma grande pedida, em uma época que o Brasil vive um período histórico.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Os 5 Melhores Filmes com Juliette Lewis

A atriz e cantora Juliette Lewis nasceu em Los Angeles, no dia 21 de junho de 1973. Desde os 6 anos de idade ela já dizia que queria ser atriz, e aos 12 anos já fazia participações na televisão. Seu primeiro longa-metragem foi Loucos à Beira do Abismo, de 1988, quando tinha apenas 15 anos. Paralelo à carreira de atriz, Juliette também é líder de um grupo de rock, denominado Juliette and the Licks.


Em comemoração ao seu aniversário de 40 anos, fiz uma lista com aqueles que para mim são os 5 melhores filmes da sua carreira:



1 - Cabo do Medo (1991)


Suspense dirigido pelo diretor Martin Scorsese, Cabo do Medo (Cape Fear) conta a história de um estuprador, Max Cady (Robert De Niro), recém-libertado da penitenciária, que vai em busca de vingança contra seu advogado de defesa, Sam Bowden (Nick Nolte), acusando-o de falhas na sua defesa no tribunal. Max Cady irá iniciar uma onda de terror contra Bowden e sua família. Lewis faz o papel da filha do advogado, e chegou a ser indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por sua atuação inesquecível, que para muitos é a melhor da sua carreira.

2 - Assassinos por Natureza (1994)


Com roteiro de Quentin Tarantino e direção de Oliver Stone, Assassinos por Natureza (Natural Born Killers) conta a história de um casal que se une pelo desejo que ambos sentem pela violência. Lewis faz o papel de Mallory Knox, uma jovem sem escrúpulos que, junto com Mickey (Woody Harrelson), mata dezenas de pessoas por onde passa, deixando sempre alguém vivo para contar o que aconteceu. Os dois viram atração da imprensa, principalmente por meio do repórter sensacionalista Wayne Gale (Robert Downey Jr.), que os leva para participar do programa American Maniacs. Mesmo depois de capturados, o casal continua aumentando sua popularidade, o que motiva Gale a tornar tudo um verdadeiro circo.

3 - Diário de um Adolescente (1995)


Filme que lançou o ator Leonardo Di Caprio, Diário de Um Adolescente (The Basketball Diaries) mostra a vida de Jim Carrol (DiCaprio), um jogador de basquete do ensino médio. Sua vida é focada unicamente no esporte e seu sonho é ser uma grande estrela. Uma de suas funções é conseguir drogas para ele e seus amigos. Porém, Jim acaba caindo no mundo escuro das drogas e se mete em uma série de crimes, tentando inclusive a prostituição. Uma noite, após sonhar que era jogador profissional de basquete e cair quase pelado na fria neve, Jim desperta com o velho amigo Reggie, o qual Jim muito admirava. Com a ajuda de Reggie, Jim ganha forças para lutar contra sua dificuldade e algo surpreendente acontece. O papel de Lewis nesse filme é secundário, mas vale a lembrança por ser um filme importante para o crescimento profissional dela.

4 - Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (1993)


Um excelente drama, que infelizmente é pouco conhecido do público em geral, Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador (What's Eating Gilbert Grape) conta a história de um adolescente (Johhny Depp, em começo de carreira) que tem de sustentar a família desde a morte de seu pai numa cidade do interior. Com irmãs excêntricas, um irmão deficiente e uma mãe obesa, as dificuldades são incalculáveis. Porém, a chegada de uma jovem no vilarejo (personagem vivida por Lewis), mostra a ele uma nova visão de vida.

5 - Um Drink no Inferno (1996)


Dirigido por Robert Rodríguez, Um Drink no Inferno (From Dust Till Dawn) conta a história de dois irmãos, Seth (George Clooney) e Richard (Quentin Tarantino), que procurados pela polícia tentam chegar ao México custe o que custar. No trajeto, eles sequestram um pastor e seus filhos, entre eles a personagem de Juliette Lewis, Kate. Atravessando a fronteira, eles encontram um lugar estranho, frequentado por motoqueiros mal encarados e cheio de dançarinas sexys, até que algo incrivelmente surpreendente acontece. Lewis, novamente trabalhando com Tarantino, se sobressai no papel da jovem indefesa, que ao longo do filme não se mostra tão indefesa quanto parece.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os 5 Melhores Filmes de Robert Rodríguez

Hoje, 20 de junho, o diretor e roteirista Robert Rodriguez está completando 45 anos de idade. Conhecido por seus filmes sanguinários, que beiram ao trash, Rodriguez ganhou fama ao fazer parcerias de sucesso com o diretor Quentin Tarantino. Muito criticado por usar abusivamente de violência e sensualidade, o diretor também é conhecido por alguns filmes infantis, entre eles a saga Pequenos EspiõesEm homenagem à data, listei aqui aqueles que para mim são os 5 melhores filmes da carreira do diretor:

1 - Sin City - A Cidade do Pecado (2005)

Baseado nas histórias em quadrinhos de mesmo nome, Sin City - A Cidade do Pecado (Sin City) foi lançado em 2005 e teve colaboração de outros diretores, incluindo Quentin Tarantino. O longa-metragem passeia por 4 dessas histórias, e traz um epílogo escrito exclusivamente para o filme, pelo próprio Rodriguez. Aliando o uso de câmeras de alta definição com recursos gráficos impecáveis, o filme é quase inteiramente digital e suas imagens remetem perfeitamente ao mundo das HQ's. O grande toque fica por conta da cor preto-e-branco e o uso de cores em certos objetos da cena, como olhos, lábios, e roupas.

2 - Um Drink no Inferno (1996)

Com roteiro escrito por Quentin Tarantino, e um elenco que conta com George Clooney, Harvey Keitel e Juliette Lewis, o filme pode ser considerado o primeiro grande sucesso do diretor. Um Drink no Inferno (From Dusk Till Dawn) conta a história de dois irmãos assassinos, Seth e Richie, que tentam chegar ao México a todo custo. No meio do caminho, sequestram um pastor e seus dois filhos. Ao atravessarem a fronteira, porém, eles acaba parando em um estranho bar de motoqueiros... (não leia a partir daqui se não quiser saber de Spoilers) onde sexys dançarinas acabam se transformando em vampiras sanguinárias. Sim, o enredo é assim mesmo, sem pé nem cabeça. Uma ode aos filmes trash, é um filme imperdível.

3 - Planeta Terror (2007)

Em uma cidade isolada do Texas, uma unidade militar liderada pelo Tenente Muldoon (Bruce Willis) tenta comprar um gás chamado "DC2" de um engenheiro químico chamado Abby (Naveen Andrews). Ao saber que o engenheiro tem uma dose extra e que não pretende vender, Muldoon inicia um tiroteiro, e Abby acidentalmente abre um dos contâiners fazendo esse gás espalhar-se pelo ar, transformando os habitantes da cidade em criaturas deformadas, sedentas por sangue. Paralelamente, acompanhamos a história da dançarina de boate Cherry Darling (Rose McGowan). Cherry é atacada por infectados, que arrancam a sua perna, mas não a infectam. Internada em um hospital, Cherry tem se juntar a um grupo de "sadios" para fugir e ir para um último reduto humano onde não há infectados, depois do local ser invadido.

4 - Machete (2010)

Machete (Machete) gira em torno de Machete Cortez (Danny Trejo), um ex-agente federal mexicano. Em uma missão no México para resgatar uma garota sequestrada, Machete é traído por seu chefe corrupto que trabalha para um poderoso traficante de drogas, Rogelio Torrez (Steven Seagal), que mata sua esposa e filha. Três anos depois, Machete, que agora trabalha como operário, aceita uma oferta do empresário Michael Booth (Jeff Fahey) para matar o Senador John McLaughin (Robert DeNiro), que quer expulsar todos os imigrantes ilegais do México. A partir de então, Machete parte em busca de vingança, ajudado por Sartana Rivera (Jessica Alba), uma agente do Departamento de Imigração dividida entre o que dita a lei e o que manda seu coração; Luz (Michelle Rodriguez), uma vendedora de tacos com mãos rápidas e um coração revolucionário; Padre (Cheech Marin), seu irmão, um padre que é bom com bênçãos, mas melhor com armas; e April Booth (Lindsay Lohan), a filha de Booth e uma socialite viciada em adrenalina e com um gosto por armas de fogo.

5 - El Mariachi (1995)

Primeiro longa-metragem da carreira de Rodriguez, El Mariachi (El Mariachi) conta a história de um músico mexicano que viaja de cidade em cidade a procura de um trabalho como Mariachi. Seus problemas começam quando ele é confundido com um assassino procurado, que carrega uma capa de violão cheia de armas. É considerado o filme mais barato já distribuído por uma produtora norte-americana, pois custou apenas US$ 7.725 para ser concluído. Para realizar cenas com a câmera se movendo Robert Rodriguez usou uma cadeira de rodas quebrada, que conseguiu em um hospital. A maioria das armas exibidas no filme eram na verdade pistolas d'água. A exceção ficava por conta das usadas pelos policiais, que eram verdadeiras e foram emprestadas pela delegacia local.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

De Humberto Mauro a Fernando Meirelles: Uma Breve História do Cinema Nacional.


Nesse dia 19 de junho é comemorado o Dia do Cinema Brasileiro. Isso se dá graças ao lançamento de Vista da Baía de Guanabara do Italiano Alfonso Segreto, no longínquo ano de 1898, considerado pelos historiadores como o primeiro filme gravado em solo nacional. Filmado em forma de documentário, o curta era centrado em cenas do cotidiano carioca, focando principalmente na vida noturna agitada da época e nos seus pontos turísticos.

Após o lançamento dos primeiros filmes ainda no final do século 19, o Brasil viveu um período de recesso por conta da escassez de energia elétrica, e somente após 1907 que a indústria cinematográfica retornou às atividades. Os Estranguladores (1908) de Antônio Leal, é considerado o primeiro filme de ficção do país, e baseava-se em uma história policial verídica (como grande parte dos filmes do período), tendo sido exibido mais de 800 vezes e arrecadado uma bilheteria recorde para a época.

Ainda em 1909 surgiram os primeiros filmes cantados, onde os atores ficavam atrás da tela do cinema dublando seus próprios personagens. Nesse período, o sucesso ficou por conta da filmagem de revistas musicais (Paz e Amor, 1910) e trechos de óperas (O Guarany, 1911). Hoje, porém, não existem sequer fragmentos dessas obras, perdidas no tempo.

O Italiano Alfonso Segreto junto de seus equipamentos de filmagem.
Em 1911 chegam ao Brasil alguns imigrantes Italianos, que tomam conta do mercado. O ator Vittorio Capelaro se une a Antônio Leal para juntos fazerem uma série de filmes baseados na literatura clássica nacional, como Inocência (1915) e O Guarani (1916). No Rio de Janeiro, Luiz de Barros também seguiria essa ideia e lançaria a adaptação de A Viuvinha (1915), Iracema (1918) e Ubirajara (1919).

Na década de 20, a produção que se limitava apenas a São Paulo e Rio de Janeiro, ganha novos lugares. Em Minas Gerais, o italiano Pedro Comello faz uma parceria com o mineiro Humberto Mauro e juntos produzem Os Três Irmãos (1925) e Na Primavera da Vida (1926). No Rio Grande do Sul, se destaca Amor que Redime (1928), um melodrama urbano de Eduardo Abelim e Eugênio Kerrigan. O estado já tinha ficado marcado em 1914 com O Crime do Banhado, do pelotense Francisco Santos, considerado o primeiro longa-metragem do cinema nacional.

Porém, o maior êxito de produções da época ficou por conta de Pernambuco, com Edson Chagas e Gentil Roiz. Retribuição (1925) e Jurando Vingar (1925) são aventuras com personagens que remetem aos caubóis americanos. Abordando temas mais regionais, surgem Aitaré da Praia (1925), o grande sucesso da dupla que chegou a ser exibido no Rio, e Filhos sem Mãe (1926). 

Os primeiros filmes falados

Carmen Miranda em Alô Alô Carnaval,
de 1936.
Na década de 30, surgiram os primeiros filmes falados no cinema mundial, e o Brasil aderiu logo à novidade. O primeiro longa sonoro brasileiro é a comédia Acabaram-se os Otários (1929), de Luiz de Barros. Na contramão da nova tecnologia, Mário Peixoto lança o grande sucesso da época, Limite (1930), filme mudo que até hoje é considerado um marco do cinema experimental.

A partir dessa década, surge a primeira companhia cinematográfica do país, a Cinédia, no Rio de Janeiro, e as produções passam a ser mais sofisticadas. Humberto Mauro, considerado o primeiro grande diretor do cinema nacional, lança sua obra-prima Ganga Bruta (1933) pela produtora, que ainda ficaria conhecida por lançar Carmem Miranda para o mundo com Alô Alô Brasil (1935) e Alô Alô Carnaval (1936).

O Período das Chancadas

A década de 40 é marcada pelo surgimento das Chanchadas no cinema nacional, que ficaram conhecidas por lançarem nomes como Grande Otelo e Oscarito. O primeiro grande sucesso do gênero ficou por conta de Moleque Tião (1943), comédia estrelada justamente pelo comediante Grande Otelo. Em seguida, passaram a ser lançadas comédias musicais de forte apelo popular, principalmente sobre o tema carnaval, como Carnaval no Fogo (1949).

Grande Otelo e Oscarito em cena. Dupla inesquecível do cinema nacional.

Aos poucos, os diretores vão largando o tema carnavalesco e passam a focar nas comédias sobre o cotidiano da vida urbana, como Nem Sansão Nem Dalila (1954) e Matar ou Correr (1954), ambos de Carlos Manga.

Ainda no final da década de 40, influenciados pelo cinema americano, banqueiros e empresários se unem ao engenheiro Franco Zampari para criar a mega produtora Vera Cruz, nos moldes de Hollywood, com grandes estúdios e equipamentos de primeira. Em 5 anos são produzidos 18 filmes, desde os dramas Caiçara (1950) e Sinhá Moça (1953), até as comédias Tico-Tico no Fubá (1952) e É Proibido Beijar (1954). O grande sucesso da produtora ficou por conta de O Cangaceiro (1953), que fez nome fora do Brasil e lançou o ator Mazaropi para o mundo.

As chanchadas acabaram se esgotando no final da década de 50, quando o público pareceu ter enjoado da fórmula. Os atores do gênero acabaram indo trabalhar em programas de humor na recém surgida televisão.

Mazaropi, em O Cangaceiro (1953).

Precursores do Cinema Novo

Em meados da década de 50, começa a surgir uma nova estética nacional, com influência no neo-realismo italiano. Filmes como Agulha no Palheiro (1953), de Alex Viany, Rio 40 Graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos e O Grande Momento (1958) de Roberto Santos, remetem justamente ao famoso movimento europeu.

Paralelamente, destacam-se o cinema de Anselmo Duarte, com seu O Pagador de Promessas (1962), premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, e Glauber Rocha, com Barravento (1961).

Cena de O Pagador de Promessas, premiado filme de Anselmo Duarte.

Cinema-Novo

"Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" era o grande lema dos cineastas desse período, que se propuseram a realizar filmes baratos repletos de preocupações sociais, muitos enraizadas na cultura brasileira da época. Três filmes podem ser considerados o pontapé inicial do movimento: Os Fuzis, de Ruy Guerra, Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos e Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, ambos de 1963.

O movimento de destacou por mostrar um Brasil desconhecido, com seus diferentes conflitos políticos e sociais, à beira de uma ditadura (ainda que o povo não soubesse disso até então). Após o golpe militar de 1964, o foco dos filmes passa a ser a classe média urbana, com O Desafio (1965), de Paulo César Saraceni e A Grande Cidade (1966), de Cacá Diegues.

Cena de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

Com Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969), do cineasta Glauber Rocha, o cinema brasileiro tenta driblar a censura do regime militar por meio de filmes alegóricos. Se destacam ainda Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, Brasil Ano 2000 (1968), de Walter Lima Jr., O Bravo Guerreiro (1969) de Gustavo Dahl, e Os Deuses e os Mortos (1970), de Ruy Guerra.

Revoltados com a situação política do país, e influenciados pelo cinema experimental de Ozualdo Carreiras e José Mujica Marins (Zé do Caixão), alguns diretores "corajosos" lançaram mais filmes radicais, na fase que ficou conhecida no país como Cinema Marginal. Foram obras pouco assistidas pelo público em geral, com exceção do clássico O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla e Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane.


Cena de O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla.


Década de 70

Remanescentes do Cinema Novo ou cineastas estreantes, em busca de um estilo de maior comunicação popular, produziram obras significativas nessa que pode ser considerada a época da grande explosão do cinema nacional. É nesse período que são lançados filmes emblemáticos como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), do diretor Bruno Barreto, que levou mais de 11 milhões de espectadores aos cinemas de todo país e é até hoje a maior bilheteria da história do nosso cinema.

Outros grandes sucessos do período foram Lúcio Flávio, Passageiro da Alegria (1977), de Hector Babenco, A Dama da Lotação (1978) de Neville d'Almeida, Toda Nudez Será Castigada (1973) de Arnaldo Jabor, além de Xica da Silva (1976) e Bye Bye Brasil (1979), ambos de Cacá Diegues.

Mauro Mendonça, Sônia Braga e José Wilker em Dona Flor e Seus Dois Maridos.
Os anos 70 ainda se destacam pelo surgimento da "Pornochanchada". Diretores de talento que despontavam na época souberam aliar bem aquilo que dava bilheteria na época, os filmes eróticos, com as antigas chanchadas, produzindo filmes de alto teor sensual em pleno período conturbado da ditadura. Os filmes da pornochanchada não eram mais do que filmes feitos para agradar a massa, influenciados pelas comédias italianas, e obtiveram grande sucesso de público.

A jovem guarda, principal movimento musical da época, também marcou presença nesse período. Seu representante maior, o cantor Roberto Carlos, participou de filmes de sucesso como Roberto Carlos a 300 km/h (1971) e Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-rosa (1970).

                                                         Década de 80

A abertura política na década de 80 possibilitou a inserção de temas antes proibidos nos filmes nacionais, como os vistos em Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman e Pra Frente Brasil! de Roberto Farias, que foi o primeiro a discutir a questão da tortuta. Surgem no período novos bons diretores, como Lael Rodrigues (Bete Balanço), André Klotzel (Marvada Carne),Susana Amaral (A Hora da Estrela), Sérgio Bianchi (Mato Eles?) e Sérgio Toledo (Vera).

Cena do emblemático Eles Não Usam Black-Tie.
Graças à "Lei do Curta", todo filme estrangeiro em exibição no Brasil teria que ter um curta brasileiro antes do seu início, o que aumentou a produção desse tipo de filme no país, trazendo para o Brasil inúmeros prêmios na categoria.

Ainda na década de 80, outro destaque ficou por conta dos documentários de longa-metragem, como Jango, de Silvio Tendler e Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho. Ainda não podemos esquecer que foi a década do sucesso dos Trapalhões, que fizeram (juntando todos os filmes) a maior bilheteria do cinema brasileiro.


                                                              Anos 90

Com a ascenção de Fernando Collor à presidência do Brasil, e o confisco das reservas financeiras particulares do país, inúmeras produtoras e órgãos de incentivo ao cinema foram extintas. O único filme relativamente conhecido da época foi A Grande Arte, do diretor Walter Salles, que foi falado em inglês e não atingiu nem 1% do público total.

Marieta Severo no cartaz
de Carlota Joaquina.
A partir de 1993, já no governo de Itamar Franco, há um novo incentivo à Indústria CInematográfica do país, que resulta em uma retomada nas produções. Aos poucos, o cinema nacional vai voltando ao ritmo dos anos 80, e reconquistando seu espaço no cenário internacional. O filme que inicia esse novo período é Carlota Joaquina, Rainha do Brazil (1995), da diretora Carla Camurati. O Quatrilho, filmado no Rio Grande do Sul, chegou a ser candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro, mas fez pouquíssimo sucesso nos cinemas daqui. 

Em 1997, a distribuição dos filmes nacionais ainda era precária, com poucas salas disponíveis ao redor do Brasil. Por conta disso, as Organizações Globo decidiu criar sua própria produtora de filmes, a Globo Filmes, criando uma espécie de monopólio no circuito nacional, que de certa forma, serviu para alavancar o cinema de forma nunca antes vista na nossa história.

O grande exemplo disso é o filme Central do Brasil (1998), dirigido pelo cineasta Walter Salles, que chegou a concorrer em 2 categorias no Oscar Americano, melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro.

Cena de Central do Brasil, grande sucesso de Walter Salles.
Depois disso, outros grandes sucessos vieram lotar cada vez mais os cinemas daqui. O Auto da Compadecida (2000) de Guel Arraes, Cidade de Deus (2002) do promissor Fernando Meirelles, Carandiru (2003) de Hector Babenco, Olga (2004) de Jayme Monjardim, O Ano em que meus pais sairam de férias (2006) de Cao Hambuerger, Se eu Fosse Você (2006) de Daniel Filho, Tropa de Elite (2007) de José Padilha, entre outros, vieram para mostrar que a nova cara do cinema nacional estava de vez formada.

Para nosso orgulho, a tendência é que daqui para frente as obras filmadas no país continuem cada vez trazendo mais qualidade para as telas. Finalmente parece que o cinema feito por aqui voltou a ter motivos para comemorar a data.


Cena de Tropa de Elite, último grande sucesso do cinema nacional.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O Cinema Colorido de Pedro Almodóvar


O diretor e roteirista Pedro Almodóvar está, junto com Luis Buñuel e Carlos Saura, no rol dos principais diretores de todos os tempos do cinema Espanhol. Nascido na cidade de Calzada de Calatrava, desde criança ele era apaixonado por cinema. Já na adolescência, frequentou compulsivamente os cinemas da cidade de Cáceres, onde foi morar com a família. Devido a situação financeira precária, nunca conseguiu fazer um curso na área, mas aos 16 anos se mudou sozinho para Madrid com o projeto concreto de aprender na prática a fazer seus próprios filmes.

Almodóvar trabalhou 12 anos como assistente administrativo na companhia telefônica nacional, e foi de fato onde ele teve sua verdadeira educação. Durante as manhãs, tinha contato com um classe social em que ele não teria conhecido diante de outras circunstâncias: a classe média espanhola, com seus dramas e misérias. Uma mina de ouro para um futuro contador de estórias.

Durante as tardes e noites livres, escreveu suas próprias estórias, algumas delas publicadas em revistas alternativas da época. Isso até se juntar ao grupo de teatro independente "Los Gollardos", onde fez seus primeiros filmes em Super-8. Nesse período, Almodóvar chegou até ser membro de um grupo de punk-rock, chamado "Almodovar e McNamara".

Após um ano e meio de difíceis filmagens em 16mm, ele finalmente estreou, em 1980, seu primeiro longa-metragem, Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas del Montón). Ele teve sorte que a estreia do filme coincidiu com o renascimento da democracia na Espanha, o que facilitou que o filme fosse divulgado sem censura, e o público tivesse livre acesso. Desde então, filmar se tornou sua grande paixão.


Declaradamente homossexual, seus filmes se destacam pela sexualidade abordada de forma aberta e sem tabus. Outro ponto marcante, e o que mais chama atenção em seu trabalho, é o forte uso de cores vivas, além de personagens exóticos e idiossincráticos. Em seus enredos, há uma constante necessidade de forças compensatórias para que as situações dramáticas sejam levadas com bom humor e esperança pelos personagens.

Almodóvar é um excelente observador, e coloca em cada personagem um pouquinho daquilo que vê no cotidiano comum. Sua obra alia drama com comédia, em um esforço que visa desnudar os desejos e sentimentos mais profundos do ser humano, com suas eternas crises de identidade. Sua carreira pode ser dividida entre três grandes momentos: os primeiros anos, o auge da consagração internacional, e a fase atual, com seus trabalhos mais maduros.


Primeiros Anos

Essa primeira parte da carreira de Almodóvar se estende de 1980, lançamento do seu primeiro longa, até 1987. Nesse período, o diretor era conhecido apenas na Espanha, e seus filmes rodados exclusivamente em cinemas de baixa expressão.


1980 - Pepe, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão (Pepi, Luci, Bom Y Otras Chicas del Montón): baseado em sua foto-novela Ereções Gerais, publicado anteriormente na revista El Víbora, o filme consiste em uma série de esboços vagamente ligados, ao invés de uma trama completamente formada. O enredo segue as aventuras das três personagens do título: Pepi, que quer se vingar do policial corrupto que a estuprou, Luci, uma dona de casa sado-masoquista, e Bom, uma cantora de punk-rock lésbica.


1982 - Labirinto de Paixões (Laberinto de Pasiones): Comédia maluca sobre identidades múltiplas, um dos assuntos favoritos de Almodóvar. O enredo segue as aventuras de dois personagens sexualmente exóticos: Sexilia, uma estrela pop apropriadamente chamada de ninfomaníaca, e Riza, filho homossexual do líder de um país fictício do Oriente Médio. O destino dos dois acaba sendo encontrar um ao outro, superar suas orientações sexuais e viver felizes para sempre em uma ilha tropical.


1983 - Maus Hábitos (Entre Tinieblas): O centro da narrativa é uma cantora de cabaré que, fugindo da justiça, encontra refúgio em um convento de freiras pobres, cada uma delas com um pecado diferente. A madre superiora, uma lésbica viciada em drogas, acaba apaixonando-se pela cantora. O filme é uma sátira das instituições religiosas da Espanha, retratando a desolação espiritual e a falência moral.


1984 - O Que Eu Fiz Para Merecer Isso? (Que he Hecho Yo Para Merecer Esto?): Inspirado nas comédias espanholas preto e branco do final dos anos 50 e início dos 60, trata-se de um conto sobre a luta de uma dona de casa chamada Gloria que tem de lidar com sua família desestruturada: seu marido violento que trabalha como motorista de táxi, seu filho mais velho traficante de drogas, o filho mais novo que vende seu corpo para os pervertidos locais e a avó que odeia a cidade e só quer voltar para sua aldeia rural.


1986 - Matador (Matador): História sombria e complexa que se concentra na relação entre um toureiro e uma advogada criminal que só pode experimentar satisfação sexual com alguma espécie de assassinato envolvido. O filme oferece o desejo como uma ponte entre atração sexual e morte, e trata-se de uma das obras mais obscuras da Almodóvar.


1987 - A Lei do Desejo (La Ley del Deseo): A narrativa segue três personagens principais: um diretor de cinema gay que embarca em um novo projeto, sua irmã transexual que trabalha como atriz, e um stalker reprimido que não passa de um assassino obsessivo. Foi o primeiro filme feito em sua própria produtora, a El Deseo, o que ampliou a independência do diretor.

Consagração Internacional

Iniciada com o grande sucesso Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, essa fase marca o momento em que Almodóvar ultrapassa a fronteira espanhola para se tornar um dos mais renomados diretores do final do século 20 no mundo todo.

Almodóvar junto com o elenco principal de Mulheres à Beira de um Ataque dos Nervos.

1988 - Mulheres à Beira de Um Ataque dos Nervos (Mujeres al Borde de un Ataque de Nervios): A comédia estrelada por Carmen Maura, Antônio Banderas e Rossy de Palma, conta os detalhes de um período na vida de Pepa (Carmen Maura), uma dubladora profissional de filmes que foi abruptamente abandonada por seu amante casado e que freneticamente tenta localizá-lo. No curso da sua busca, ela descobre alguns de seus segredos, e percebe seus verdadeiros sentimentos. O filme lançou Almodóvar para fora da Espanha, além de ser indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar, no Globo de Ouro e no BAFTA.


1990 - Ata-me! (Átame!): O próximo filme de Almodóvar marcou o rompimento com a sua atriz de referência, Carmen Maura, e o início de uma frutífera colaboração com outra grande atriz do cinema espanhol: Victoria Abril. Também foi a quinta e mais importante colaboração do diretor com Antônio Banderas. No enredo, Ricky (Antônio Banderas) é um paciente psiquiátrico recém-liberado que sequestra e mantém como refém uma atriz (Victoria Abril), a fim de fazê-la se apaixonar por ele. Ao invés de preencher o filme com muitos personagens, como em seus filmes anteriores, aqui a história concentra-se na relação entre os dois: a atriz e seu sequestrador, literalmente lutando por poder e por amor.

1991 - De Salto Alto (Tacones Lejano): Construído em torno da relação entre uma mãe egocêntrica, uma famosa cantora, e a filha crescida que ela abandonou quando criança, que agora trabalha como apresentadora de TV e é casada com o ex-amante da mãe. Canções populares, sempre um elemento chave na obra de Almodóvar, nunca estiveram tão presentes quanto nesse filme.


1993 - Kika (Kika): Depois da intensidade dramática de De Salto Alto, Almodóvar dá outra reviravolta em sua carreira, rodando um dos seus filmes mais inclassificáveis​​. Na trama, cada personagem pertence a um gênero de filme diferente, gerando assim um enredo diversificado. A trama concentra-se em Kika, uma artista sem noção, mas de bom coração, que se envolve com um velho escritor americano e seu enteado desnorteado. Um repórter de TV sensacionalista segue e narra todas as desventuras da personagem.

1995 - A Flor do Meu Segredo: Na trama, uma romancista de sucesso passa a enfrentar uma crise profissional e pessoal. O filme marcou a transição da fase mais agitada do início da carreira de Almodóvar, para o momento mais maduro artisticamente. O filme contudo não foi bem recebido pela crítica, sendo uma das suas obras menos conhecidas.

Amadurecimento

Cena de Tudo Sobre Minha Mãe, filme que deu o primeiro
Oscar da carreira de Almodóvar.
É a fase onde Almodóvar nos mostra seus trabalhos mais complexos, incluindo algumas pequenas obras-primas do cinema moderno. É também onde ele se consagra, levando para casa todos os grandes prêmios da carreira.


1997 - Carne Trêmula: Carne Trêmula explora amor, perda e sofrimento, contando a história de vários personagens entrelaçados pelo destino, de um jeito que foge do controle de cada um. É moldado a partir de 1970, quando Franco decretou a ditadura, até 1996, quando a Espanha estava completamente fora das restrições do regime comunista. Com este filme Almodóvar iniciou a sua colaboração com a atriz Penélope Cruz.

1999 - Tudo Sobre Minha Mãe (Todo Sobre Mi Madre): Almodóvar conseguiu atingir seu limite dramático dirigindo esse filme. O enredo surgiu de uma breve cena de A Flor do Meu Segredo, e conta a história de uma mãe de luto que, depois de ler a última entrada no diário de seu filho morto sobre como ele queria conhecer seu pai pela primeira vez, decide viajar a Barcelona em busca do pai do menino. Ela deve dizer ao pai que teve seu filho depois que ele a deixou há muitos anos, e que ele já morreu. Chegando lá, ela encontra uma série de pessoas estranhas (um travesti, uma freira grávida, e uma atriz lésbica) que tentam ajudá-la a lidar com a situação.

2002 - Fale com Ela (Hable con Ella): O filme gira em torno de dois homens que se tornam amigos enquanto cuidam das mulheres que amam, ambas internadas no hospital em estado de coma. Suas vidas seguem fluxos em todas as direções, passado, presente e futuro, puxando-os para um destino inesperado. Combinando elementos de dança moderna e do cinema mudo, com uma narrativa que explora as coincidências da vida e o destino, o filme foi aclamado internacionalmente pela crítica e pelo público.

2004 - Má Educação (La Mala Educación): Má Educação aborda, de forma excêntrica, o abuso sexual de crianças e adolescentes. Duas crianças, Ignácio e Enrique, descobrem o amor, o cinema e o medo num colégio religioso no início dos anos 1960. Padre Manolo, o diretor da escola e seu professor de literatura, é testemunha e parte dessas descobertas. Os três personagens se encontram mais duas vezes, no final da década de 1970 e na década de 1980. Trata-se de um dos roteiros mais complexos de Almodóvar, com uma série de digressões e retomadas.


2006 - Volver (Volver): Volver é uma mistura de comédia, drama, família e história de fantasmas. O filme começa mostrando dezenas de mulheres esfregando furiosamente os túmulos de seus mortos, que institui a influência dos mortos sobre os vivos como um tema chave (o roteiro do filme foi criado logo após a morte da mãe de Almodóvar). O enredo segue a história de três gerações de mulheres da mesma família que sobrevivem ao fogo, ao vento e à morte. Junto com Fale com ela e Tudo Sobre Minha Mãe, Volver representa o ponto alto da carreira do diretor.


2009 - Abraços Partidos: Trata-se do mais longo e caro filme do diretor. A trama segue o destino trágico de um diretor de cinema que ficou cego em um acidente de carro 14 anos antes. O filme tem uma estrutura fragmentada, enigmática, misturando passado e presente, recursos que o diretor explorou anteriormente em Má Educação. É uma homenagem à arte de fazer filmes.

2011 - A Pele que Habito: Criatividade, crise de identidade e sobrevivência, temas frequentes nos filmes de Almodóvar, dão uma reviravolta inesperada em A Pele que Habito, seu 13º filme, que representa a primeira incursão do diretor no gênero "horror". O filme se concentra em Vera, uma bela mulher mantida em cativeiro por um cirurgião plástico amoral que realiza experimentos em sua pele. O médico é interpretado por Antônio Banderas, que se reúne com o diretor 21 anos após um longo período de colaboração, no início da carreira de ambos. Na lista de personagens "Almodovarianos", está uma dona de casa e carcereira cheia de segredos, um estuprador usando uma fantasia de tigre, e um médico está mentalmente perturbado pela morte da filha.

Antonio Bandeiras e Elena Anaya em A Pele que Habito, de 2011.