quinta-feira, 25 de abril de 2024

Crítica: Plano 75 (2023)


Uma distopia nem tão distópica assim. Dirigido pela cineasta Chie Hayakawa, Plano 75 (Plan 75), representante do Japão no último Oscar de melhor filme internacional, toca em um assunto delicado e que, particularmente, sempre mexe comigo: as angústias e a solidão humana diante do envelhecimento. No entanto, aqui temos uma adição perturbadora, que é um programa do governo que incentiva a eutanásia após a pessoa atingir 75 anos, como forma de lidar com a superpopulação de idosos no país e consequentemente aliviar os gastos previdenciários.


Comecei a crítica justamente dizendo que não se trata de uma distopia no sentido literal da palavra, pois acredito que já vivemos uma realidade onde os idosos são vilipendiados. Serviços sociais ineficientes, aposentadorias financeiramente insignificantes e abandono parental são algumas das principais mazelas que nossos idosos enfrentam nos dias de hoje, e não só no Brasil como em uma escala global. A verdade é que nenhum governo sabe como lidar com essas pessoas de uma maneira eficiente, e muitos acabam tendo um final de vida precário e extremamente melancólico.

O roteiro acompanha três frentes que estão interligadas diretamente através do programa recém lançado. A primeira delas é Michi, interpretada pela veterana atriz Chieko Baishô, uma senhora que mesmo tendo mais de 75 anos ainda trabalha diariamente como faxineira. Ela não recebe mais visitas dos familiares e as poucas amigas que tem estão morrendo pela ação natural da idade, e seus dias vão se tornando cada vez mais sem cor. Para piorar, ela perde o trabalho que era seu sustento, iniciando uma busca inútil no mercado de trabalho, já que obviamente ninguém quer dar emprego para alguém com idade tão avançada. 

Diante de tudo, Michi se vê tentada a se inscrever no Plano 75, onde terá um acompanhamento humanizado em seus últimos dias e receberá uma quantia em dinheiro para gastar com o que quiser. É aí que entra a segunda personagem chave da trama, Maria (Stefanie Ariane), uma imigrante filipina que trabalha no órgão que cuida do programa, e que fica responsável por dar assistência para Michi. Segundo as regras, elas não podem ter contato pessoal, a não ser pelo telefone, afim de evitar que o idoso crie laços e desista do plano no meio do caminho. Mesmo assim, elas acabam quebrando a regra algumas vezes, assim como Hiromu (Hayato Isomura), outro funcionário do local que descobre que um tio seu está inscrito no programa e usa o tempo que lhe resta de vida para se aproximar do familiar.


Três coisas são interessantes de analisar no roteiro. Primeiro, o filme não mostra nenhuma crueldade explícita com os idosos, e por mais absurdo que seja a ideia por trás, tudo é tratado com muita sensibilidade e respeito. Outro ponto é a naturalidade com que a população aceita essa proposta de dar um fim à vida dessas pessoas simplesmente porque elas viraram um "incômodo" para a sociedade. Ao mesmo tempo, o filme também levanta o questionamento do arbítrio dos próprios idosos, e é aí que reside um dos pontos controversos do roteiro para mim. Pois justamente ao mostrar todo esse processo com tanta humanidade, em paralelo a vida triste dos idosos, chega um momento que inevitavelmente você acaba se perguntando se aquilo realmente não seria, de certa forma, uma boa ideia para ambos os lados.

As subtramas criadas ao redor dos personagens secundários também não engrenam, como por exemplo a história da assistente Maria, que tem uma filha pequena hospitalizada nas Filipinas, mas cuja luta pela vida da menina é deixada de lado após metade do filme. Apesar de possuir pequenos deslizes narrativos, Plano 75 não deixa de ser um filme interessantíssimo para nos fazer pensar sobre o bem estar dos nossos idosos e o que nós, enquanto sociedade, estamos fazendo por eles.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Crítica: Late Night with the Devil (2024)


Quem, assim como eu, cresceu assistindo televisão nos anos 1990, com certeza deve lembrar de algumas situações controversas e até mesmo constrangedoras que ocorreram em programas de auditório ao vivo, em nome de um desespero cego por audiência. Na disputa pela liderança valia de tudo, até mesmo forjar uma entrevista com membros da maior facção criminosa do país, por exemplo. No entanto, esta luta pelo primeiro lugar no ibope existe desde que a televisão foi inventada, e muitos programas, sobretudo os conhecidos talk shows, investiam pesado em atrações diferentes para ganhar o espectador de casa. E quanto mais exóticas fossem, melhor era o resultado.


Com uma competente estética setentista, Late Night with the Devil apresenta como personagem principal Jack Delroy (David Dastmalchian), um radialista que em 1971 ganha um programa de televisão noturno de entretenimento, no estilo talk show, que se popularizou na televisão dos Estados Unidos naquela época com nomes como Johnny Carson. Por alguns anos, Delroy consegue fazer algum sucesso, mas jamais chega a ser o fenômeno de audiência que ele sempre sonhou se tornar. Após a morte da esposa por conta de um câncer, e uma ausência de um mês das telas, o apresentador volta ao seu programa e começa a testar novas alternativas para aumentar a audiência. É justamente quando surge a idade de um programa especial de Halloween, que tragicamente acabou sendo o último de sua curta carreira.

O longa se passa quase inteiramente durante este programa especial que, segundo os créditos iniciais, chocou a população norte americana na época. É como se estivéssemos assistindo uma fita perdida daquele programa, que foi ao ar no dia 31 de outubro de 1977. Como atrações daquela noite, Delroy havia chamado três convidados: um médium famoso chamado Christou (Fayssal Bazzi), um hipnotizador cético chamado Carmichael (Ian Bliss), e Rose (Laura Gordon), uma para psíquica que estava lançando um livro sobre uma menina que conversava diretamente com o diabo. Rose inclusive leva junto para o palco a garota, Lilly (Ingrid Torelli), que acaba sendo a peça principal da trama após ser incitada a receber a entidade demoníaca em frente às câmeras. O resultado, no entanto, é desastroso, mas não para a audiência, que certamente bateu recordes àquela noite e gerou uma grande receita para os seus patrocinadores, que é o que mais importava aos produtores.

Inteligente, cínico e até mesmo engraçado em alguns momentos, o filme traz uma abordagem original e diferente ao subgênero da possessão demoníaca, trazendo por trás uma crítica a respeito do quão longe os programas de televisão podem chegar pelo sucesso. Mais do que isso, creio ser possível montar um paralelo com as próprias redes sociais, que se tornaram a grande vitrine dos nossos dias, e onde milhares de pessoas forçam as mais bizarras situações para viralizar, às vezes colocando a própria vida em risco. Porém, deixando de lado as críticas que o filme faz, pode-se dizer que ele também funciona apenas como um bom entretenimento, e é impressionante o trabalho dos irmãos Cameron e Collin Cairnes na condução da narrativa, que não perde o ritmo em momento algum e termina com um plot muito interessante. Por tudo isso, Late Night with the Devil acaba sendo um dos melhores filmes de terror dessa nova safra.

sábado, 20 de abril de 2024

Crítica: O Livro da Discórdia (2023)


Imagine que você seja um escritor e decida contar a história íntima de sua família em um livro, porém sem eles saberem. Mais do que isso, imagine que o livro atinja um êxito inesperado e venda muitas cópias. Qual seria a reação das pessoas citadas quando descobrissem que os seus segredos foram expostos? Como eles reagiriam ao ter a vida e seus segredos lidos por tanta gente? Esses são questionamentos que surgem ao longo de O Livro da Discórdia (Youssef Salem a du succès), uma comédia inteligente e deliciosa de assistir, dirigida pela francesa Baya Kasmi (de Os Nomes do Amor).


A trama gira em torno de Youssef Salem (Ramzy Bedia), um aspirante a escritor que acabou de lançar um livro sobre o qual ele coloca grandes expectativas de finalmente alcançar o sucesso na carreira. Ele chega a ser convidado para um importante programa literário da televisão, e está esperançoso em relação ao que vêm pela frente. No entanto, ao mesmo tempo, Youssef tenta a todo custo esconder o lançamento do livro de seus pais, pois mesmo jurando não se tratar de uma autobiografia, fica evidente que os personagens retratados através de pseudônimos são, na verdade, a sua própria família. A intenção de Youssef é evitar que eles se sintam expostos, e o bom humor do roteiro reside justamente nestas tentativas quase fracassadas dele tentar ocultar a sua obra deles. 

Descendentes de argelinos, os membros da família de Youssef vivem em Paris há décadas, e sempre foram, de certa maneira, bastante conservadores. O livro que Youssef escreveu, chamado Choque Tóxico, retrata um pouco da sua infância e adolescência neste ambiente amoroso mas cheio de tabus, principalmente em relação à sexualidade. O próprio nome do livro, por exemplo, nasceu de uma história que a mãe de Youssef contava quando ele era pequeno, sobre um casal que morreu de um "choque tóxico" após fazer sexo antes do casamento, história esta que influenciou negativamente a sexualidade de Youssef por anos. Outra questão abordada pelo filme é a homossexualidade da irmã de Youssef, Lena (Vimala Pons), que sempre teve que esconder isso dos pais, e que no livro acaba sendo descrita como um irmão gay que passa pelas mesmas dificuldades de aceitação.


Com o sucesso inesperado do livro, Youssef acaba sendo indicado a um importante prêmio literário francês, e inevitavelmente seus pais acabam sabendo disso. A princípio a alegria toma conta deles, que sem saber o teor do livro, ficam orgulhosos do filho ter alcançado o que sempre almejou. Mas é justamente aí que a mentira começa a ficar ainda mais difícil de ser sustentada. Como se não bastasse todas as inverdades em torno do livro, Youssef também criou uma vida paralela para os pais, omitindo por exemplo, que se separou da esposa há dois anos e que vive numa casa muito mais simples do que eles esperavam.

Eu gostei muito do teor cômico do filme, e da forma como o roteiro vai dissecando todas as camadas de mentiras de Youssef até criar uma situação onde o personagem se vê preso dentro do que ele mesmo criou. Por trás de tudo, ainda é possível perceber uma crítica sucinta mas muito perspicaz sobre a forma com que os imigrantes são tratados na França, mesmo aqueles que viveram sua vida inteira no país. Um filme leve e despretensioso, mas muito competente nas discussões que propõe.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Crítica: O Reino Animal (2023)


Não é comum vermos filmes de gênero vindos da França, sobretudo uma ficção científica distópica como O Reino Animal (La Régne Animal), que surpreendentemente obteve um sucesso expressivo de público e crítica desde que foi lançado. Dirigido por Thomas Cailley, a produção franco-belga acabou sendo indicada em nada menos do que doze prêmios César, o Óscar do cinema francês, superando inclusive o badalado Anatomia de uma Queda. Este já é o primeiro ponto que chama a atenção, mas o que exatamente este filme tem de tão legal e diferente?


A trama começa com François (Romain Duris) e Émile (Paul Kircher), pai e filho, presos em um engarrafamento gigantesco. Do carro, eles avistam uma movimentação estranha em uma ambulância logo à frente, de onde logo sai uma espécie de "homem pássaro", um ser misto com asas que foge desesperado dos médicos. Apesar do pânico que a situação cria, os humanos parecem já estar acostumados com isso, sendo este o "novo normal". Pois sim, o mundo está vivendo uma espécie de pandemia, onde a doença não apenas deixa as pessoas doentes, mas faz com que elas sejam vítimas de mutações genéticas que as transformam em híbridos de outras espécies. Em outras palavras, o que vemos são humanos com asas, como o da cena inicial, mas também humanos com pelos, escamas, garras, e feições de animais silvestres.

Como esperado, o filme logo levanta a questão: como lidaríamos em uma situação dessas? Como as autoridades lidariam com isso? Primeiramente, o governo decide, por segurança, manter todos os doentes em hospitais isolados, longe dos centros urbanos, e é para um desses lugares que a esposa de François (Billie Blain) é levada após começar a sofrer mutações e virar uma espécie de "mulher-loba". Para ficar mais próximo dela, François e Émile se mudam momentaneamente para o sul da França, e paralelamente à história principal, passamos a acompanhar também a adaptação dos dois nesta nova região, tanto de François no trabalho como a de Émile na nova escola, e principalmente a relação de afeto que existe entre eles, onde o filme ganha contornos mais emotivos. Os problemas começam quando Émile passa a notar que também está em processo de mutação, ao mesmo tempo em que o caos se instaura na região após um acidente liberar dezenas de "criaturas".


O roteiro conduz muito bem a mistura de gêneros, com elementos de drama, de ficção científica e até mesmo de terror, mas o que eu mais gostei foi da escolha de utilizar efeitos práticos, e não CGI. Tenho certeza que um filme desses, feito em Hollywood, teria inúmeros efeitos computadorizados que deixariam tudo com um ar superficial, mas aqui tudo é tão orgânico que acaba sendo bastante verossímil, ainda que seja tudo "fantasioso". Acima de tudo, é um filme sobre como o ser humano lida de maneira hostil em situações adversas e com o "diferente", podendo servir de metáfora para muitas situações reais.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Crítica: O Caso Goldman (2024)


Filmes de tribunais que são compostos de apenas diálogos e uma única locação podem ser tanto empolgantes quanto entediantes, e esta linha tênue que separa a experiência do espectador varia muito de acordo com a maneira com que a direção apresenta a história na tela. Os franceses já provaram que sabem fazer filmes do gênero muito bem, e O Caso Goldman (Le Procès Goldman), dirigido por Cédric Kahn, é mais um exemplo satisfatório.


O filme acompanha um julgamento real ocorrido na Suprema Corte de Amiens na década de 1970. O réu na ocasião era Pierre Goldman (Arieh Worthalter), acusado de três assaltos à mão armada na cidade de Paris durante o ano de 1969. Ele confessa os crimes com exceção de um, onde duas mulheres acabaram mortas em um assalto a uma farmácia. Sentenciado à prisão perpétua pelo crime, agora ele ganha uma nova chance de revisão do caso diante da côrte, com um novo advogado (Arthur Harari).

Provocador, Goldman chegou a escrever livros durante sua estadia na cadeia, o que o fez ganhar um número expressivo de seguidores, sobretudo adeptos da esquerda. Seu passado como revolucionário, unido à forma como ele enfrenta seus acusadores e a polícia chamando-os de racistas e antissemitas (já que ele é oriundo de uma família judia da Polônia), é mais um ingrediente que inflama quem está do seu lado e transforma o julgamento num verdadeiro ato político. Segundo Goldman, tudo não passou de uma manipulação da própria polícia para achar um culpado do crime, e ele tenta o tempo todo mostrar isso com falas ácidas e eloquentes.


Ao longo de suas duas horas, o filme mostra todo o processo, desde a entrada dos jurados e a apresentação do caso até a sentença definitiva, passando por inúmeras testemunhas e pessoas do convívio de Goldman, como amigos da época e até mesmo seu pai, um imigrante que lutou pela resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Diferente de outros filmes do gênero, não temos inserção de flashbacks ou cenas externas sobre o que ocorre fora das quatro paredes do tribunal, então acaba sendo um filme focado na eletrizante disputa de retóricas neste processo, e surpreendentemente prende do início ao fim apenas com isso. Ele serve até mesmo pequenas doses de humor, sobretudo pela intervenções de Goldman, um personagem deveras apaixonante e ao mesmo tempo extremamente controverso.

quinta-feira, 28 de março de 2024

Crítica: Que Nadie Duerma (2024)


Uma odisseia da vida real, sobre uma mulher que perde o emprego após muitos anos trabalhando no mesmo lugar e é obrigada a se reinventar em uma nova profissão e uma nova rotina de vida. É assim que eu começaria descrevendo Que Nadie Duerma, filme do espanhol Antonio Méndez Esparza, adaptado de um romance escrito por Juan Jose Millás, e que sagrou Malena Alterio com o prêmio de melhor atriz no Prêmio Goya deste ano.


O roteiro acompanha Lucía (Alterio), uma mulher que trabalha há anos na parte de tecnologia da informação em uma grande empresa odontológica de Madrid. Após serem descobertas fraudes e rombos milionários nas contas da empresa, a polícia fecha o local para as investigações e os donos desaparecem. Assim como outras dezenas de funcionários, Lucía fica sem rumo, sem emprego e sem dinheiro, já que além de tudo a empresa estava com salários atrasados, e ela decide então se aventurar como motorista de táxi enquanto espera a prometida quantia de indenização prometida pelo advogado do caso.

Lucía nunca trabalhou como taxista, mas enfrenta com a cara e a coragem a nova missão que a vida lhe impõe. Imediatamente podemos montar um paralelo com as milhares de pessoas que viram motoristas de aplicativos nos dias de hoje como alternativa de renda, sobretudo em momentos de dificuldade. Por incrível que pareça, mesmo sendo um emprego digno e honesto, há muita gente que ainda tem preconceito com isso, o que é inacreditável. Durante o novo trabalho, Lucía passa a ouvir muitas histórias e enfrenta situações das mais diversas possíveis. No meio desta rotina acelerada, ela também redescobre o amor ao se apaixonar por seu vizinho, o ator Bráulio Brotas (Rodrigo Poisón).


O filme toma um rumo muito inusitado e surpreendente do meio para o final, na medida em que Lucía vai descobrindo algumas traições de pessoas em que ela confiava, desde uma amiga de muitos anos, até seu próprio affair. O final é, talvez, o mais inesperado e maluco que vi no ano, mas não darei mais detalhes para não soltar spoilers. O fato é que o diretor consegue apresentar questões morais e sociais de uma maneira muito envolvente e até mesmo engraçada, num universo que explora o realismo mas não deixa de apresentar situações completamente imprevisíveis e excêntricas. E é preciso dizer que apesar de ter seus méritos, o filme não seria o mesmo sem a atriz Malena Alterio, que dá vida a esta personagem tão ambígua de maneira brilhante.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Crítica: The First Slam Dunk (2023)


Dirigido por Takehiko Inoue, The First Slam Dunk é a sequência final do famoso mangá Slam Dunk, escrito e ilustrado pelo próprio diretor do filme. Não vou mentir para vocês que conhecia a história de antemão, porque na verdade eu cheguei ao filme totalmente por acaso e sem saber absolutamente nada a respeito. Porém, apesar de não ter nenhuma referência básica do anime original, o filme funcionou muito bem comigo de uma maneira individual, apenas pelo ótimo material que apresenta nas suas intensas duas horas.


O enredo começa com dois irmãos treinando basquete na quadra de um parque da cidade onde moram. O mais velho é Sota, um jogador promissor de basquete, que acaba morrendo em um acidente de barco logo após esta cena inicial. O menor, Ryota, sonha seguir os passos do irmão no esporte, e se esforça para conseguir alcançar espaço no time titular da escola Shohoku. Apesar de parecer simples, este arco entre os irmãos tem uma carga dramática muito potente e importante, que ditará todo o restante do longa.

Todo o filme se passa durante uma partida de basquete decisiva entre o time de Shokohu, do qual agora Ryota já crescido faz parte, e a escola rival, a Sannoh, e durante todo o tempo em que passa na quadra de basquete, o filme é inteiramente frenético, mostrando a recuperação heroica de um time que chegou a estar perdendo por mais de 20 pontos de diferença. Enquanto isso, vários flashbacks vão sendo lançados nos intervalos entre uma jogada e outra, e servem não somente para desacelerar um pouco o ritmo, como também para adentrar mais a fundo na vida de alguns dos principais atletas da Shokohu, incluindo o próprio Ryota, mostrando principalmente a forma como ele lidou com o luto junto com sua mãe. São muitas camadas apresentadas nestes breves momentos, e todas muito bem trabalhadas.


 

O estilo da animação, que mescla 2D com 3D, é de fato o que mais me impressionou. Fiquei realmente impressionado com o realismo de algumas cenas, com bastante foco nas expressões e nos gestos minimalistas dos personagens. The First Slam Dunk é acima de tudo um filme sobre superar barreiras, na vida e no esporte, mas foge de clichês e traz uma abordagem muito original ao tema. Um filme que vai agradar tanto quem já acompanhava o mangá, como quem, assim como eu, caiu de para-quedas.


quinta-feira, 21 de março de 2024

Crítica: Atiraram no Pianista (2023)


Dirigido pelo espanhol Fernando Trueba, em uma nova parceria com Javier Mariacal (eles já haviam trabalhado juntos no premiado Chico & Rita), Atiraram no Pianista (The Shot the Piano Player) é um "docudrama" em formato de animação que conta um pouco da história da música popular brasileira, com foco na Bossa Nova, usando como pano de fundo a investigação pessoal de um escritor norte-americano à cerca do sumiço de Francisco Tenório Jr., um dos maiores pianistas da nossa história, e que tocava na banda de Vinicius de Moraes.


Na trama, Jeff Harris (voz de Jeff Goldblum) é um jornalista de Nova Iorque que está escrevendo um livro sobre a Bossa Nova e seus nomes mais conhecidos, quando se depara com um solo de piano gravado nos anos 1970 que o deixa maravilhado. Ao pesquisar sobre o criador da obra, ele fica intrigado com a sua história e com o fato dele não ter lançado mais nada desde então. Após chegar no Rio de Janeiro para uma série de entrevistas, ele descobre que o pianista em questão era Tenório Jr., e que ele sumiu durante uma breve turnê que fez na Argentina em 1976, ano que o país vizinho estava afundado no pior momento de sua ditadura militar.

Para tentar descobrir mais sobre o que aconteceu com Tenório, Jeff passa a entrevistar muitos amigos e conhecidos do pianista, além de familiares que ainda estão vivos. Sua investigação ganha tantos novos contornos, que ele muda até mesmo o foco do livro que estava escrevendo, e passa a escrever apenas sobre este caso específico que o deixou obcecado. Oficialmente, o corpo de Tenório jamais foi encontrado, assim como milhares de outros mortos naquele período sombrio. Mas o porquê de um brasileiro ter sido morto em Buenos Aires é que é a grande questão que Jeff tenta desvendar. Tenório teria desaparecido após sair do hotel à noite para buscar um remédio para sua namorada da época, e a teoria mais viável é a de que ele teria furado um toque de recolher do exército que ele não sabia que existia.

Durante suas quase duas horas de duração, o filme nos traz uma série de representações de artistas consagrados da nossa música, o que o torna apaixonante a cada nova aparição. Vemos Vinicius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto, Elis Regina, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Chico Buarque, entre outros, todos recriados por animação de maneira primorosa. Um trabalho incrível, com uma gama de detalhes impressionantes, tanto nos personagens como nos cenários, o que torna o filme visualmente fascinante. Para quem mora no Rio de Janeiro, creio que a reconstituição da cidade seja ainda mais impressionante, e alguns pontos famosos do jazz e do samba ganham vida de forma abundante, como o famoso "Beco das Garrafas", que reunia centenas de músicos e entusiastas na era de ouro de ambos os ritmos.


Mais do que uma carta de amor à música brasileira e a todo o movimento artístico da época, ou ainda sobre a figura do próprio Tenório Jr., Atiraram no Pianista não deixa de ser um filme denúncia, que mostra não somente a violência das ditaduras militares em toda a América Latina, como também todo o apoio que elas tiveram dos Estados Unidos. Trueba não deixa de lembrar este fato, colocando o dedo na ferida e deixando claro que a memória disto jamais deve ser apagada. Um filme magnífico, não somente na parte visual, como também na própria história que aborda.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Crítica: Bob Marley: One Love (2024)


As cinebiografias de músicos famosos viraram a "galinha dos ovos de ouro" de Hollywood há algum tempo. A quantidade de filmes do gênero lançados nestes últimos anos é impressionante, e existe o lado bom e o lado ruim desta "febre". O bom é que sim, é possível conhecer mais da vida de alguns artistas que crescemos ouvindo e admirando através de um filme, o ruim é justamente o fato de que estas obras acabaram caindo em um lugar comum e tornando-se extremamente repetitivas. Sem contar que por já saber de antemão que o filme terá seu público cativo, a qualidade da produção muitas vezes não é tão levada a sério. É o caso de Bob Marley: One Love, um filme que tem toda a boa vontade do mundo por trás, mas que infelizmente acaba sendo bastante superficial na hora de pôr suas ideias em prática.


O filme, dirigido por Reinaldo Marcus Green (de King Richard), pega um recorte na vida do cantor jamaicano, interpretado por Kingsley Ben-Adir, entre os anos de 1976 e 1978, época em que a Jamaica estava afundada em uma grave crise política e em uma violenta guerra civil. Bob é mostrado no filme como uma figura que buscava a paz por meio de sua música, e para isso planejava fazer um grande concerto com a intenção de unir os dois lados e propagar o fim dos conflitos internos. O início do filme até consegue nos contextualizar sobre este caos político e social, principalmente com o uso de legendas explicativas, mas não demora para perder o fio da meada graças a uma condução horrorosa. Pois sim, a montagem é o ponto mais defeituoso da obra.

O roteiro não consegue desenvolver direito nenhum dos temas propostos, já que as cenas são atropeladas e desconexas entre si, numa ordem cronológica confusa e nada atrativa. Há, por exemplo, um exagero de cenas do cantor se apresentando em shows, o que deixa claro que o filme não passa de um "fan service", sem ter intenção de realmente adentrar na mente criativa e militante do artista. O ativismo de Bob Marley, as suas ideias de paz, e até mesmo a sua religiosidade Rastafari, acabam sendo tratadas de forma abstrata. O diretor também opta por encher o filme de flashbacks, e todos com o uso de um filtro amarelado tenebroso. Isso deixa a história ainda mais repetitiva e cansativa.


A verdade é que falta muita profundidade, tanto na figura do cantor em si, como nas pessoas que fizeram parte de sua história. Os coadjuvantes tem pouco ou nenhum espaço de desenvolvimento, e quando ganham algum tempo de tela, como acontece com a mulher de Bob, Rita (Lashana Lynch), é para trazer um conflito entre eles que surge do nada sem uma devida explicação. Kingsley Ben-Adir é esforçado, mas não consegue passar a energia que o músico tinha na vida e no palco, sendo uma atuação bem amorfa, e isso fica ainda mais evidente quando imagens reais do cantor aparecem nos créditos finais. Como disse no início, é um filme que tem muita boa vontade por trás, e isso é inegável, mas fica muito abaixo do que um músico com a grandeza e importância do Bob Marley merecia.

domingo, 17 de março de 2024

Crítica: Green Border (2023)


O tema da migração de refugiados tem sido de grande preocupação nos últimos anos, sobretudo no continente europeu, e muitos diretores estão usando o cinema para trazer à tona a dor e sobretudo a perseverança destas pessoas que deixam todas as suas coisas para trás, o seu país para trás, e enfrentam milhares de quilômetros atravessando lugares desconhecidos, correndo riscos de vida e sem saber o dia de amanhã. Novo filme da diretora polonesa Agnieszka Holland, Green Border mostra esta dura realidade focando em fatos reais que aconteceram e ainda acontecem especificamente na fronteira entre a Polônia e a Bielorrúsia, uma região que vive em constante tensão.


Todos os meses, são registradas milhares de tentativas de atravessar a fronteira entre os dois países, e o governo polonês acusa o governo bielo-russo de orquestrar o tráfico ilegal destes refugiados como forma de retaliação às sanções impostas ao país após graves violações dos direitos humanos. Segundo os poloneses, os bielo-russos estariam atraindo os imigrantes de países do oriente médio e do norte da África sob o discurso de que a fronteira da Polônia é a mais fácil de ser atravessada, e tudo isso para criar um conflito diplomático ainda maior do que o que já existe entre as duas nações. Mais do que isso, acusam também o governo russo de estar apoiando estas ações, financeiramente e militarmente. E no meio de toda esta confusão, quem mais sofre são justamente os refugiados, que acabam acreditando que estão sendo ajudados, quando na verdade estão sendo apenas massa de manobra.

O filme se divide em capítulos, e o primeiro deles começa apresentando uma família síria que está indo em direção a Suécia, onde um familiar deles os espera. Após a chegada no aeroporto de Minsk, capital da Bielorrússia, eles são levados até a fronteira dentro de uma van, onde são ainda mais extorquidos pelos guardas. Logo após a travessia para o lado polonês, eles são abandonados, e na tentativa de sobreviver acabam sendo capturados pela guarda de fronteira, que imediatamente tentam deportá-los de volta. É aí que começa o jogo de "pingue-pongue", onde essas pessoas são jogadas de um lado para o outro, sempre de forma violenta e sem nenhum tipo de perspectiva.

Os demais capítulos mostram os outros lados desta complexa teia de acontecimentos. No segundo, por exemplo, acompanhamos o guarda de fronteira Janek, que está se preparando para ser pai. Neste capítulo também tomamos ciência da opinião geral da sociedade polonesa em relação aos refugiados, que em sua grande maioria rechaça de maneira preconceituosa a ajuda humanitária dada a eles. Em outro capítulo, acompanhamos um grupo de ativistas que luta para ajudar estes refugiados, mas que mesmo com toda boa vontade do mundo, não podem ultrapassar as leis que regulamentam a situação.


Extremamente angustiante, Green Border é um filme que acima de tudo denuncia a forma como o governo polonês está tratando os casos, em paralelo à aproximação com grupos de extrema direita e neonazistas. Mais do que isso, mostra a hipocrisia de um governo que lida de um jeito rigoroso e até mesmo desumano com refugiados dos países subdesenvolvidos, mas que acolheu milhares de ucranianos após a invasão russa. "Meu pecado é ter nascido com o pior passaporte possível", diz um dos personagens, e serve como um grande tapa na cara desta ajuda humanitária seletiva.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Crítica: 20.000 Espécies de Abelhas (2023)


Dirigido por Estibaliz Urresola Solaguren, 20.000 Espécies de Abelhas é um filme muito terno e sensível sobre a construção da identidade de uma criança que começa a perceber que não se encaixa no corpo que veio ao mundo. Após muitos elogios recebidos em festivais mundo à fora, o filme se sagrou com o prêmio de melhor roteiro no Goya (o Oscar espanhol), o que só engrandeceu ainda mais a estreia desta diretora que se mostra extremamente promissora.


Na trama, Ane (Patricia López Arnaiz) é mãe de três crianças, e entre elas está Aitor (Sofía Otero), um menino de oito anos. Ele não gosta de ser chamado pelo nome, mas mais do que isso, não consegue se identificar com o gênero com que fisiologicamente nasceu. Durante umas férias passadas na casa da família em uma zona rural, Aitor começa a se questionar de maneira mais contundente sobre a sua identidade de gênero, mas o processo é amargo, já que ninguém sabe lidar muito bem com isso. A avó de Aitor, Lita (Itziar Lazkano), que trabalha como apicultura, é quem acaba encarando a situação de maneira muito sensível, inclusive nos diálogos com a própria filha, que parece de certa maneira querer fugir da responsabilidade de aceitar o que o filho, ou filha, é.

A direção de fotografia faz um belo trabalho ao recriar a zona rural, que acaba tendo um papel importante no amadurecimento desta criança. E por falar nela, que grande atuação da menina Sofía Otero, cujos olhares e expressões conseguem captar perfeitamente todo o sentimento conflituoso pelo qual sua pequena personagem está passando. Ao perguntar de forma honesta para o irmão mais velho quando foi que ele descobriu quem ele era de verdade, vemos o quanto ela está em busca de descobrir a si mesma e principalmente o que está acontecendo, mesmo que ainda não compreenda direito o que é.


Mais do que o amadurecimento das crianças, o filme também fala sobre a relação que há entre as diferentes gerações, neta, mãe e avó, e os laços que existem e que deixaram de existir com o tempo entre elas. Um roteiro muito complexo, bem escrito, e que mesmo com um ritmo lento consegue envolver bastante quem assiste.

quinta-feira, 14 de março de 2024

Crítica: Ervas Secas (2023)


Quem já conhece o cinema do turco Nuri Bilge Ceylan, sabe que ele tem características muito próprias em seus trabalhos, das quais ele não abre mão. O primeiro ponto é a duração dos seus filmes, que sempre batem na média de três horas para cima, e isso se dá pela intensidade que ele coloca em longas e estáticas cenas de diálogos. Ele não tem pressa em contar a história e muito menos em dissecar cada nuance de seus personagens, e por isso mesmo acaba sendo uma filmografia bastante divisiva.


Escolhido para representar a Turquia no Oscar de melhor filme internacional em 2024, Ervas Secas (Kuru Otlar Ustune), levemente baseado em um conto de Tchekhov, já é para mim o melhor trabalho do diretor. O filme se passa em um vilarejo na região da Anatólia, para onde Samet (Deniz Celiloglu) acaba de voltar após as férias escolares. Ele é professor de arte do ensino fundamental na escola local, mas apesar de aparentar estar contente com o retorno para casa, logo percebemos que ele na verdade não aguenta mais viver neste lugar. Seu desejo é ser chamado para trabalhar em Istambul, onde literalmente tudo acontece, pois segundo ele mesmo, quem vive no vilarejo não tem nenhuma oportunidade de crescimento e está fadado a viver o resto da vida trabalhando no campo. Ele inclusive fala isso para seus alunos, com quem ele não tem praticamente nenhum tipo de afeto, com exceção de uma garota, Sevim (Ece Bagci).

Sem mostrar de fato a verdade, o diretor nos induz a acreditar que a menina nutre uma espécie de paixão por seu professor, enquanto ele parece se sentir confortável com isso. Como disse, não temos uma resposta definitiva sobre, mas é possível perceber através de pequenos gestos e algumas situações específicas, como a carta de amor que ela escreveu e que foi recolhida pela direção, mas cujo destinatário fica para a nossa imaginação. Talvez como retaliação por não ser "correspondida", Sevim é uma das meninas que acaba acusando Samet e seu colega professor Kenan (Musab Ekici) de assediarem meninas no ambiente escolar. Este dilema moral é o estopim de uma série de conversas entre os dois professores e a direção da instituição, que se mostra preocupada com o caso mas ao mesmo tempo tenta abafar.


Na história ainda temos uma terceira e importante personagem, Nuray, interpretada por Merve Dizdar, que inclusive ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por esta sua atuação. A professora de inglês da escola estabelece um vínculo muito forte com os outros dois professores, e é responsável pelas principais discussões sociais e políticas que tomam conta do filme na segunda metade. Militante e antenada com os avanços sociais no mundo, ela parece deslocada nesta região que ainda vive com base em preceitos ultrapassados, e é uma das poucas a enxergar o mundo para além destas paisagens nevadas. Por falar nas paisagens, a neve é um elemento crucial na construção desta fábula fria e de certa maneira melancólica sobre a sociedade turca atual e seu modo de vida. Assim como em seus filmes anteriores, Nuri aproveita muito bem a interação dos personagens com elementos da natureza, e isso unido a uma fotografia belíssima cria um filme visualmente pujante.

domingo, 10 de março de 2024

Crítica: Garra de Ferro (2023)


 
Retrato de uma obsessão doentia, que direta ou indiretamente, acaba gerando uma espiral de tragédias. Garra de Ferro (The Iron Claw) conta de forma crua a história real por trás dos Von Erich, que se tornaram a família mais famosa do mundo do Wresteling (luta-livre profissional), tanto pelas conquistas nos ringues como pelas tragédias que assolaram a família durante anos, quase como uma maldição.
 


O patriarca da família era Fritz (Holt McClallany), um homem que pro anos batalhou para conquistar o cinturão de campeão na NWA, mas nunca conseguiu realizar seu sonho. Essa sua obsessão acaba sendo passada para cada um dos filhos, que desde pequenos foram colocados nos treinamentos para se tornarem lutadores, com o desejo imparável do pai de ver o cinturão de campeão parar na família. O mais velho, Kevin (Zac Efron), é o que está mais perto de alcançar essa conquista. Outros tentam seguir sonhos diferentes, como Mike (Stanley Simons) na música, ou até mesmo em outro esporte que não seja a luta, como Kerry (Jeremy Allen White), que vira atleta de arremesso de disco. Porém, uma hora ou outra, todos acabam sendo levados a lutar oor pressão do pai. E é interessante perceber como eles querem dar o seu melhor não apenas para ganhar, mas para se tornar o "filho preferido" do pai.

O que mais gostei em Garra de Ferro é que o filme foge completamente de narrativas clichês que são usadas constantemente em filme do tipo. Em outras palavras, não é uma cinebiografia esquemática, que segue um padrão. Temos, sim, uma abordagem muito humana e complexa da relação familiar dos personagens, e principalmente do sentimento deles em relação às fatalidades que ocorrem dentro do círculo familiar. Um fato curioso é que ocorreu tanta coisa ruim com eles, que o diretor optou até mesmo por tirar da história um dos irmãos, que segundo consta, teve a pior de todas as ocorrências.

A atuação do ator Zac Efron é o momento apoteótico da sua carreira. Ele consegue passar com firmeza toda a transformação dramática pelo qual seu personagem passa durante a jornada, e o peso de ser considerado o responsável por fazer a família dar a volta por cima de tanta tragédia com uma conquista nos ringues. O resto do elenco também está muito competente, onde todos os atores tem seu espaço na construção desta família bastante complexa. Gostei muito também da ambientação da época, que foi muito bem construída.
 


Indo muito além de um filme sobre a superação no esporte, Garra de Ferro fala principalmente sobre laços familiares, dor e luto. Tem trechos verdadeiramente angustiantes, mas ao mesmo tempo carrega uma pulsante e enérgica  vontade de vencer, tanto no esporte como na vida. Numa época onde a saúde mental de atletas tem sido muito discutida, Garra de Ferro também serve como um alerta de como a pressão pela vitória pode ser nociva. A consagração no esporte é linda, mas jamais deve passar por cima de outras coisas mais importantes.