segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crítica: Terapia de Risco (2012)


Novo filme do conceituado (e controverso) diretor Steven Soderbergh, Terapia de Risco (Side Effects) é um excelente suspense que traz um estudo crítico sobre o uso descontrolado de psicofármacos numa sociedade onde a depressão atinge mais da metade da população.


Emily Taylor (Rooney Mara) não consegue lidar direito com o retorno do marido Martin Taylor (Channing Tatum) da prisão, depois dele cumprir pena por favorecer um negócio ilícito envolvendo a Bolsa de Valores de Nova Iorque. Deprimida, e após uma tentativa falha de suicídio, ela busca ajuda no psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law), com quem passa a se tratar regularmente.

Após receitar inúmeros remédios que aparentemente não dão certo, ele aceita a recomendação da Dra. Victoria Siebert (Catherine Zeta-Jones) de receitar um remédio chamado Ablixa, que vem se tornando popular depois de propagandas na televisão e em outdoors, e que promete resolver todos os problemas de uma mente depressiva.


Porém, o que ambos não esperavam era o efeito colateral que o remédio traz para a vida de Emily. A respeito da depressão, ela demonstra uma boa melhora, mas em contrapartida, passa a sofrer de crises de sonambulismo, onde comete atos que não lembra no dia seguinte. 

Em um desses atos, ela acaba cometendo um crime bárbaro, que passa a levantar a dúvida: quem será o culpado por isso, a paciente inconsciente, o médico que receitou o medicamento que a levou a isso, ou a empresa farmacêutica que na busca por vender mais o produto acaba não indicando explicitamente os perigos dos efeitos colaterais. Sim, essa questão ética-financeira é o que permeia todo o restante do longa. Soderbergh nos traz uma crítica ferrenha às indústrias farmacêuticas e principalmente à mídia que propagandeia o uso dos remédios escondendo seus efeitos nocivos.


O enredo é extremamente enigmático, e cheio de reviravoltas. De repente, aquilo que parecia certo não é mais, e o diretor vai nos levando por esse labirinto de sensações de forma brilhante, embaralhando a cabeça do espectador a cada nova cena, até chegar a um final imprevisível. Com um elenco de jovens estrelas, Terapia de Risco é uma boa pedida.


domingo, 27 de outubro de 2013

Crítica: Daglicht (2013)


Pouco se conhece e se houve falar do cinema holandês. Desde Caráter (Karakter), que venceu o Óscar de melhor filme estrangeiro em 1997, nenhum outro filme do país chamou atenção da crítica exterior. Bom, talvez o momento seja esse.


Em Daglicht, o diretor Diederik Van Rooijen nos traz a história de Iris Boelens (Angela Schifj), uma jovem advogada e mãe solteira que mora junto com a mãe (Monique Van de Ven) e o filho autista. Depois de ouvir um boato de que teria um irmão que até então não sabia da existência, ela parte em busca de descobrir a veracidade do fato.

Iris acaba chegando em Ray Boelens (Derek de Lint), um homem que está preso, acusado de um duplo assassinato contra uma mãe e sua filha. Intrigada, ela passa a revirar documentos e testemunhas para tentar descobrir o que de fato aconteceu com Ryan, descobrindo aos poucos coisas sobre seu próprio passado junto com o dele.




Trata-se de um excelente thriller de suspense, mas não dá para negar que, aos olhos mais atentos, o desfecho se torna bastante previsível. Não que isso estrague o filme em si, já que as ótimas atuações e a mãe firme do diretor na narração dos fatos faz com que o clima de tensão prevaleça do início ao fim. Além disso, algumas cenas são bastante impactantes, deixando um nó na garganta enquanto transcorrem.

É sempre bom ver que ainda existem filmes com cara de filmes feitos ao redor do mundo, mesmo que sejam difíceis de encontrá-los por conta da pouca distribuição (no Brasil, o filme sequer tem previsão de lançamento). Porém, vale a pena procurar.

Recomendação de Filme #40

Lua de Papel (Peter Bogdanovich) - 1973


Junto com Robert Altman, Sam Peckinpah, Dennis Hooper, Arthur Penn, entre outros, Peter Bogdanovich é um dos grandes nomes da chamada "Nova Hollywood", movimento cinematográfico que surgiu no final da década de 60 no oeste dos Estados Unidos e que influenciou praticamente todas as gerações seguintes de cineastas famosos. Lua de Papel (Paper Moon) pode até não ser seu filme de maior destaque, mas com certeza é o mais tocante. O enredo se passa em 1936, e gira em torno da relação paternal que surge entre Addie Loggins (Tatum O'Neal) e Moses Pray (Ryan O'Neal).



Após a morte da sua mãe, a menina de nove anos fica sob os cuidados do vendedor de bíblias Moses, que na verdade não passa de um exímio vigarista. Isso até ele conseguir entregá-la a uma tia que mora no interior. No entanto, existe a suspeita de que Moses seja o pai biológico da garota, o que não é confirmado até o final da estória mesmo com ele negando veemente.

Os dois partem juntos de carro em direção à casa da família da menina, e durante o trajeto, ela começa a mostrar uma desenvoltura sem igual para ajudá-lo nas suas trapaças, que consiste em enganar senhoras viúvas para lhes vender bíblias. A garota Addie é precoce até demais, e em algumas cenas chega inclusive a aparecer fumando (o que de fato deve ter feito um barulho enorme por parte dos conservadores naquela época). Nesse ínterim, a relação do homem com a menina vai ficando cada vez mais próxima.



Mais do que uma comédia super agradável de assistir, o filme tem todas as características de um road-movie, e é a estrada que vai nos conduzindo profundamente no crescimento desse sentimento de pai e filha que á entre os personagens. Os dois vivem discutindo, seja por conta de dinheiro, seja pelo modo de se vestir da menina (que lembra a de um menino). Ou simplesmente pelas personalidades fortes de ambos.

Por fim, chama a atenção que mesmo nos anos 70, onde o cinema colorido já era uma maioria absoluta, o filme foi filmado inteiramente em preto-e-branco. As atuações são espetaculares, e a jovem Tatum O'Neal se consagrou como a atriz mais nova a levar o Óscar para casa.


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Crítica: Os Suspeitos (2013)


Ao ler a sinopse, não me deu vontade alguma de ver esse filme, até porque não sou fã do gênero. Porém, bastou olhar o nome de Denis Villeneuve na direção para que eu logo mudasse de ideia. Seu último filme, Incêndios, é o tipo de obra que faz você querer ver qualquer trabalho posterior do cineasta, e por isso mesmo resolvi largar tudo para ver o quanto antes este que vem sendo um dos longas mais elogiados pela crítica este ano.


Os Suspeitos (Prisoners) entra para a lista dos filmes mais complexos e inteligentes que já tive a oportunidade de assistir, assim como seu trabalho anterior já havia sido, apesar das estórias serem completamente diferentes. O começo da trama no entanto é bem simples: um casal de amigos está comemorando o dia de ação de graças, e enquanto conversam na sala de estar suas duas filhas pequenas brincam no pátio de casa. Quando vão chamar as meninas para dentro eles reparam que as duas sumiram sem deixar qualquer sinal. O único suspeito? O motorista de um trailer que estava estacionado na frente da casa vizinha.

Keller Dove (Hugh Jackmann) e Franklin Birch (Terrence Howard), os pais das garotas, resolvem chamar a polícia para ajudá-los na busca. Liderados pelo detetive Loki (Jake Gyllenhaal), a equipe encontra o trailer e prende seu motorista, o jovem Alex Jones (Paul Dano), que logo passa a ser o suspeito número um do crime.


Porém, a falta de provas contra Alex acaba impedindo que ele continue sob custódia, principalmente quando fica evidente a todos que ele não é nem um pouco avançado intelectualmente, tendo uma mente de um menino de 10 anos. Sua soltura revolta os pais, principalmente Keller, que num ato impulsivo resolve sequestrar o garoto, mantendo-o como seu prisioneiro particular com direito a fortes requintes de crueldade e tortura.

Essa questão moral é abordada fortemente a partir de então. É certo fazer justiça com as próprias mãos? Ao mesmo tempo, a cada dia que passa, as pistas parecem ser mais escassas e o que antes era uma certeza passa a ser uma dúvida: será que Alex é mesmo o responsável pelo sumiço das crianças? A dúvida é enlouquecedora, e como é costume no seu estilo narrativo, Villeneuve vai preenchendo as lacunas aos poucos, com pequenos dados que prendem o espectador até o fim das suas duas horas e meia de duração.


O elenco simplesmente parece ter sido escolhido a dedo. Hugh Jackmann novamente provando que evoluiu e muito na carreira, em mais uma atuação que pode lhe render uma indicação ao Óscar. Jake Gyllenhaal é outro que traz, talvez, a melhor atuação da sua carreira. O único ponto negativo nessa questão é o fraco aproveitamento que o enredo faz das personagens femininas, vividas por Maria Bello e Viola Davis. Nas cenas em que apareceram, ambas foram impecáveis, mas infelizmente foram escassas.

Em uma espiral de sensações, Os Suspeitos talvez seja um dos melhores suspenses dos últimos anos. Não é perfeito, e possui seus defeitos gritantes, mas chama atenção principalmente pela fuga total de qualquer espécie de clichê, com uma trama original e imprevisível. O canadense Denis Villeneuve (gravem esse nome!) ainda promete muito daqui para a frente, e esse foi apenas o seu primeiro filme gravado em solo americano.


Crítica: A Voz Adormecida (2011)


Lançado mundialmente em 2011, mas apenas esse ano no Brasil, A Voz Adormecida (La Voz Dormida) é um filme pesado e triste sobre o período pós-guerra civil espanhola, quando o ditador de extrema-direita Francisco Franco assumiu o poder e junto com o exército e a igreja católica começou uma caçada contra os comunistas no país.


Na trama, Maria León é Pepita Rodriguéz, uma jovem que viaja de Córdoba até Madri para ficar mais perto de sua irmã Hortensia (Inma Cuesta), que está presa em uma prisão feminina acusada de fazer parte de um grupo militante.

Assim como as outras prisioneiras, ela recebe pena de morte. Porém, por estar grávida, tem sua execução adiada para somente depois do parto. Nesse tempo, Pepita faz de tudo para poder ficar com a sobrinha após a morte da irmã, evitando com que a criança vá parar numa instituição de adoção.


É um filme bastante intenso. Logo nas primeiras cenas, onde um grupo de prisioneiras é levada direto para o fuzilamento sem nenhum tipo de piedade alheia, vemos que o filme não será nada fácil de digerir. A falta de humanidade por parte dos guardas e das freiras da instituição só mostra aquilo que todos já sabemos, de que durante um período conturbado como esse não brota solidariedade nem mesmo de quem teoricamente deveria vir.

O enredo, em certos momentos, parece exagerar um pouco em busca de emocionar o espectador, mas não culpo o diretor Benito Zambrano. Até porque o resultado final ficou extremamente belo. A atuação de Maria León como Pepita é tão marcante, que lhe rendeu até o Prêmio Goya (equivalente ao Óscar em território espanhol) de melhor atriz em 2012. Inma Cuesta também mostra uma atuação firme e emocionante na pele da prisioneira.


Por fim, guerras sempre são assuntos sombrios, principalmente quando são abordadas as ruínas que elas deixam após terminarem, tanto física quanto espiritualmente. E na missão de mostrar esses sentimentos, o filme é impecável.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Crítica: A Parede (2013)


Escolhido pela Áustria para representar o país no próximo Óscar de melhor filme estrangeiro, A Parede (Die Wand) é um filme estranho, diferente e monótono, mas que trata de forma poética da relação do homem com a natureza.



Em forma de monólogo, o longa inicia com Frau (Martina Gedeck) contando através de escritos em um velho caderno, de dentro de uma cabana no meio do nada, como foi parar lá e o que lhe aconteceu desde então. Ela foi para o local a passeio com um casal de idosos. Ao saírem para dar uma volta pela região, Frau ficou sozinha com o cachorro deles, Luchs. Quando virou o dia e eles ainda não haviam retornado, ela decidiu ir atrás para descobrir o que teria acontecido e acabou se deoarando com uma situação inusitada.

Uma parede invisível a impede de ultrapassar as fronteiras do local, onde do outro lado parece não haver mais vida. Cercada, ela tenta explorar todos os caminhos possíveis para escapar para o outro lado, mas sem obter sucesso. Por conta disso, ela acaba tendo que passar a viver na floresta, acompanhada apenas do cachorro, e logo depois, de outros animais que surgem na cabana. 



Logo, sua relação com a natureza passa a crescer, fazendo com que ela deixe de contar os dias e se baseie apenas nas mudanças de estações. Seus dias são preenchidos entre a procura por alimentação e a observação do novo mundo que a rodeia. Uma das cenas mais bonitas é a qual ela divaga sobre um corvo branco, rejeitado pelos outros membros do grupo de corvos, todos pretos. No final, ao ver um ser-humano pela primeira vez depois de meses, sua única reação é a de atacá-lo.

O enredo, baseado no best-seller da escritora Marlen Haushofer, é um verdadeiro tratado existencialista sobre a condição humana. Além da atuação de Martina, com certeza o ponto que mais chama atenção é a fotografia. Direto das montanhas austríacas, somos conduzidos por paisagens belíssimas, que encantam ao longo da narrativa, e que certamente fazem o filme ser visualmente imperdível.



Simbólico e metafórico, o longa não possui nenhuma fala, e como disse acima é narrado inteiramente pelas escritas da personagem no seu caderno. Isso acaba deixando o filme um pouco cansativo em dado momento, ainda que isso não estrague o resultado final. Não deve ter chances de chegar entre os finalistas do Óscar, mas mereceu a indicação.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Crítica: O Passado (2013)


Depois dos aclamados Procurando Elly (Darbareye Elly) e A Separação (Jodaeiye Nader as Simin), vencedores de diversos prêmios incluindo o Óscar de melhor filme estrangeiro para o segundo, era de esperar que o novo filme do iraniano Asghar Farhadi fosse um dos mais aguardados desse final de ano. E a espera valeu a pena. Com um enredo difícil de ser explicado, mas fácil de ser acompanhado, Le Passé consegue se firmar como o melhor trabalho do diretor até o momento.



A trama inicia com Marie (Bérénice Bejo) indo buscar Ahmad (Ali Mosaffa) no aeroporto de Paris. Aos poucos descobrimos a relação que há entre os dois: separados há 4 anos, Ahmad está vindo de Teerã para assinar o divórcio definitivo do casal. Sendo hospedado na casa da ex-mulher, ele acaba sendo inserido em todos os conflitos familiares existentes naquelas quatro paredes onde um dia ele morou.

Marie vive numa casa na periferia de Paris, junto de suas duas filhas advindas de outro casamento e o novo namorado Samir (Tahar Rahim), que trouxe junto seu filho pequeno Farour. Lucie, a filha adolescente, não aceita o novo namorado, e o clima dentro de casa parece ficar pior a cada dia que passa, sobretudo quando a relação do casal parece ficar mais séria com o surgimento de uma gravidez.



Nessa conturbada teia afetiva ainda existe a esposa de Samir, com quem ele ainda não é separado legalmente, que está em coma no hospital após uma tentativa de suicídio. A complexidade das relações familiares vai ganhando forma com o surgimento de fatos do passado, através de revelações dos personagens.

O enredo multifacetado faz com que o filme vá ficando mais intenso a cada cena. As consequências morais de uma escolha mal feita é o grande ponto abordado pelo enredo. Os personagens carregam nas costas a culpa de ações feitas no passado, e aos poucos vamos descobrindo seus segredos e suas verdades encobertas. Tudo isso ate chegar à cena final, que é de tirar o fôlego e deixar o coração na garganta. 



É um filme que dói, e não é pouco. Principalmente por se real e passível de acontecer com qualquer um. O diretor valoriza ao máximo as relações humanas, e grande parte desse sucesso fica por conta das atuações. Bérénice Bejo e Ali Mosaffa dão um show como protagonistas, e Tahar Rahim também surpreende com uma participação emocionante. A estória é tão envolvente e imprevisível, que prende o espectador durante mais de duas horas mesmo sem contar com nenhum tipo de trilha sonora ou efeito.

O longa foi escolhido para representar o Irã no próximo Óscar e com certeza deve ficar entre os finalistas. Afinal, merece! Não há o que criticar. Tudo é perfeito, desde a primeira cena até a última. Farhadi se consagra como o grande diretor iraniano da década, e isso é só o começo de uma carreira que promete muito mais.




domingo, 20 de outubro de 2013

Crítica: Gravidade (2013)


Em 1968, 2001- Uma Odisseia no Espaço do diretor Stanley Kubrick era lançado com efeitos visuais nunca antes vistos, extasiando as plateias do mundo todo e se tornando um marco no gênero da ficção científica. Mais de 40 anos depois, Alfonso Cuarón traz uma obra tão impressionante quanto, e que certamente com o tempo se tornará o marco do gênero no mundo dos filmes em terceira dimensão.



A premissa de Gravidade (Gravity) é simples: o veterano astronauta Matt Kowalski (George Clooney) recebe a missão de instalar um novo equipamento no telescópio Hubble junto da novata Ryan Stone (Sandra Bullock), a mais de 600 km de distância da terra. De repente, os dois são avisados via rádio que uma chuva de detritos advindos da explosão de um telescópio russo vem em sua direção, e antes mesmo de conseguirem entrar de volta na nave, eles são atingidos, passando a vagar pelo espaço em busca de sobrevivência.


O começo é lento, mas imprescindível para nos situar no trabalho dos dois astronautas, e principalmente no ambiente inóspito onde ocorre toda a ação. Após a grandiosa cena das explosões, começamos a acompanhar a incrível jornada dos dois pelo vazio e pela solidão do espaço sideral, onde conhecemos suas personalidades carismáticas através de diálogos despretensiosos, principalmente do personagem vivido por Clooney.



Estética e visualmente, o filme é impecável. Praticamente todo criado em computação gráfica, é absurda a realidade com que Cuarón nos coloca fora da órbita terrestre nos seus 90 minutos de duração. A trilha sonora entra e sai nos momentos certos, e o intercalo entre som e silêncio só serve para ampliar a tensão ao redor do enredo. Os detalhes também chamam a atenção, como os objetos flutuando no interior da nave, que trazem um realismo ainda mais arrebatador.

Clooney canastrão e bem humorado, faz uma atuação firme, mas quem realmente comanda o filme do início ao fim é Sandra Bullock. Em uma atuação surpreendente (surpreendente também é a forma física que a atriz está no alto de seus 49 anos), ela dá um show na pele da astronauta que perdeu tudo, mas que não desisti de lutar para continuar vivendo. Aliás, chama atenção o fato de somente dois personagens aparecerem no filme inteiro, sem jamais deixar o filme entediante. Essa não é uma fórmula muito utilizada em Hollywood, e caiu super bem.



Há algumas cenas simbólicas e de beleza extrema, como a cena em que Ryan chora e sua lágrima flutua com a gravidade. Ou ainda a cena final, onde Cuarón nos ambienta de volta ao planeta Terra, dando aquela sensação de retorno de viagem, quando pensamos que não há nada como estar de volta em casa.

Muito além do espetáculo gráfico, Gravidade é um verdadeiro ensaio sobre solidão, fragilidade e perseverança. A crítica especializada vem tecendo críticas entusiasmadas sobre o trabalho de Cuarón, e já dão como certa sua indicação ao próximo Óscar de melhor filme. Sendo indicado ou não, o fato é que ao assistir, você sente que está presenciando algo histórico.



Recomendação de Filme #39

Filhos do Paraíso (Majid Majidi) - 1997


Tenho uma paixão enorme por filmes iranianos, e posso dizer que isso começou graças a (Filhos do Paraíso (Bacheha-Ye Aseman) do conceituado diretor Majid Mijidi. O cinema feito no oriente médio é pouquíssimo divulgado por aqui, e só pesquisando a fundo para encontrar algo vindo de lá, e apesar da precariedade de recursos, eles provam cada vez mais que com uma boa ideia na cabeça tudo é possível.



A trama começa de forma simples. Após o pequeno Ali perder os sapatos da sua irmã Zahra, ambos tem medo de contar aos pais. A mãe doente e o pai trabalhador formam a típica família pobre, mas que jamais perde as esperanças de ver os filhos serem alguém na vida. A pobreza é tratada de forma realista, o que toca o coração de nós espectadores logo de cara.

As duas crianças passam a revezar os sapatos para evitar que os pais se preocupem com mais isso na vida, e tenham de gastar para comprar outro novo. Porém, a dificuldade é grande, já que os dois estudam em turnos diferentes. Isso acaba resultando no atraso do garoto na escola, o que dificulta seu aprendizado. O companheirismo desses dois irmãos traz uma emoção ímpar à história. São um  verdadeiro exemplo, ensinando valores de família e união.

Majid Majidi é famoso por trazer enredos tocantes e simples, conduzindo de forma dosada e poética, sem apelar para sentimentalismos baratos. Além da crítica social, há ainda a crítica da autoridade escolar, e ao apelo das propagandas de televisão, que influenciam o imaginário infantil mostrando aquilo que eles não podem ter.

O filme foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998,  e concorreu junto com o brasileiro Central do Brasil e o vencedor A Vida é Bela. Simples e emocionante, é o tipo de filme que tez faz ver o mundo com outros olhos assim que termina.

sábado, 19 de outubro de 2013

Crítica: Kick-Ass 2 (2013)


Não sou fã de filmes com super-heróis. Nem um pouco, para ser sincero. Mas em 2010, quando foi lançado Kick-Ass: Quebrando Tudo, resolvi assistir pelo simples fato de trazer super-heróis incomuns, meros cidadãos do dia-dia que resolveram vestir roupas coloridas e sair combatendo a criminalidade. Lembro que na época gostei bastante do que vi, e por isso mesmo fiquei bastante decepcionado com essa sequência de 2013.


Primeiramente, para quem não viu a primeira parte, ou nunca leu as HQ's, vou situar rapidamente. Por influência das estórias em quadrinhos, e cansado de ver a polícia não dar conta da criminalidade que tomava conta das ruas, o jovem Dave Lizeewski (Aaron Taylor-Johnson) resolveu se juntar à jovem Mindy (Chloe Grace Moretz) e ao seu pai Damon Macready (Nicholas Cage) no combate ao crime, provando que para ser um super-herói de verdade não é preciso ter super poderes, basta boa vontade. Juntos, eles formaram um grupo denominado-se Kick-Ass, Hit Girl e Big Daddy, respectivamente.

Não sei se foi a troca da direção ou a inserção de muitos novos personagens, mas o fato é que o longa tenta usar os mesmos moldes que fez o primeiro obter sucesso, mas acaba errando feio no resultado final. Nesse segundo longa, acompanhamos o que aconteceu com Kick-Ass e Hit Girl depois de algum tempo. Ele resolveu se "aposentar" e vive uma vida de tédio, enquanto ela segue combatendo o crime às escondidas de seu tutor Marcus, após a morte de seu pai em uma missão.


Ao ver um número grande de pessoas que começaram a seguir seus passos, Kick-Ass decidi voltar à ativa, juntando-se novamente a Hit Girl e mais outros personagens excêntricos, formando um grupo que tinha como lema a frase "Justice Forever". Nesse ínterim, o playboy Chris D'Amico resolve assumir a vida criminosa do falecido pai, se tornando o primeiro super-vilão do mundo.

O primeiro filme continha algumas cenas clichês e bobas, mas não tanto como visto dessa vez. Tudo é previsível no enredo, as cenas de lutas são mal feitas, e as atuações bastante caricatas e bem mal conduzidas. A história por si também deixa a desejar, apesar de seguir à risca a história do segundo volume dos quadrinhos originais. Infelizmente, a dupla protagonista também parece não ter mais o carisma que tinha no primeiro, até porque daquela vez eram uma novidade. 


O longa chega ao fim com uma verdade óbvia e gritante: o primeiro foi incrivelmente superior ao segundo. E não é difícil chegar a essa conclusão. O começo até consegue entreter, mas do meio pro fim fica complicado continuar assistindo. Uma pena, pois tinha potencial.