domingo, 29 de novembro de 2020

Crítica: Magnatas do Crime (2020)

 

Guy Ritchie possui uma assinatura própria e inconfundível em seus trabalhos, entretanto, vinha deixando de lado esse seu estilo nos últimos anos para se embrenhar no mundo dos blockbusters, onde filmou longas como Aladdin e Rei Arthur. Com Magnatas do Crime (The Gentlemans), ele volta ao velho estilo que o consagrou, para alegria dos fãs que esperavam ávidos por esse momento.

 

O filme conta a história de Mickey (Matthew McConaughey), um produtor e traficante de maconha do Reino Unido que está querendo se aposentar dos negócios e vender o império que construiu e comandou por décadas. O principal interessado na compra é um bilionário britânico (Jeremy Strong), mas no meio de tudo existem muitos outros interessados, que irão tentar tomar o negócio de outras formas mais "fáceis".

Ao bater o olho no roteiro, ele até não parece trazer nada que já não tenha sido mostrado em tela, mas o que faz ele ser diferente de tudo que foi visto no cinema nos últimos anos é o seu formato nada convencional. Toda a história de Mickey é contada por Fletcher (Hugh Grant), que está escrevendo o roteiro de um filme e está mostrando-o para Ray (Charlie Hunnan), que por sua vez é um dos principais empregados e capangas de Mickey. Essa metalinguagem utilizada para contar uma história dentro de outra pode parecer confusa pra quem ainda não assistiu o filme e está lendo isso, mas funciona demais na tela. Ao longo do filme vão surgindo muitas histórias paralelas, muitos personagens, e trazendo sempre um clima de novidade no ar. O final traz um plot twist muito interessante e deixa um gostinho de sequência vindo por aí.


Na parte técnica destaques para a trilha sonora, figurino, design de produção e fotografia. E se a parte técnica está impecável, o que dizer então do elenco afiadíssimo? Matthew McConaughey está mais uma vez perfeito no papel do protagonista, e dois nomes se destacam entre os demais: Charlie Hunnam e Hugh Grant. O filme ainda tem uma boa participação de Colin Farrell e Jeremy Strong em ótima forma. Magnatas do Crime é filme que eu reverencio pela qualidade, mas acima de tudo pela coragem de não se apegar em artifícios simplórios para agradar o grande público. Um dos melhores filmes do ano!
 


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Crítica: Rosa e Momo (2020)

 

Lançado semana passada no Brasil pela Netflix, o italiano Rosa e Momo (La Vita Davanti a Sé) é um filme singelo e tocante que aborda assuntos muito necessários, e emociona pela bonita relação que se cria entre os seus personagens principais.


O roteiro do filme, baseado no livro "A Vida Pela Frente" de Romain Gray, acompanha Momo (Ibrahima Gueye), um menino órfão senegalês de 12 anos que vive em Bari, na Itália, sob a tutela de Hamil (Babak Karimi). Para tentar sobreviver, Momo pratica pequenos furtos, e num desses furtos acaba conhecendo Rosa (Sophia Loren), uma judia sobrevivente do holocausto, que após muita insistência de Hamil acaba acolhendo Momo em sua residência por um tempo. 

A relação dos dois vai se estreitando à medida que os dias passam, numa bonita troca de experiências entre gerações muito distintas. Mas muito mais do que isso, são duas pessoas que aparentemente encontram pela primeira vez alguém que os entenda e com quem possa contar. E tudo isso não teria tanto valor se não fosse pela atuação fantástica do garoto Ibrahima e da grande Sophia Loren, que volta às telas depois de mais de uma década, no alto dos seus 86 anos de idade e mais de 70 de carreira.


Além desta parceria entre os dois, há que destacar a criação de um elo muito forte de personagens mulheres, cis e trans, e de imigrantes que buscam a vida em países europeus, saindo na maioria das vezes de situações de extrema miséria nos seus países de origem. Um afeto coletivo que muda e transforma vidas, que muitas vezes são marginalizadas pela sociedade. Por fim, Rosa e Momo é um filme que emociona, mas sem precisar forçar isso no espectador, sendo tudo muito natural. Tem seus problemas, como alguns personagens sub aproveitados, mas a lição que ele traz no final se torna muito importante.