domingo, 28 de abril de 2013

Recomendação de Filme #14

                                         OldBoy (Chan-wook Park) - 2003


O cinema oriental é conhecido por ser seus filmes viscerais, perturbadores, e originais. E se eu tivesse que fazer uma lista dos melhores filmes vindos do outro lado do mundo, certamente OldBoy (Oldboy) estaria no topo.




O filme do sul-coreano Chan-wook Park é o segundo de uma trilogia, que aborda um tema recorrente no cinema de lá: a vingança. O longa conta o drama de Oh Daesu, sequestrado por um desafeto sem um motivo aparente e aprisionado em uma cela que parece um pequeno quarto de hotel, onde seu único contato com o mundo exterior passa a ser uma pequena televisão.

Em um dado momento, Daesu se desespera ao ver no noticiário que sua mulher foi assassinada, e sem conseguir fugir (apesar de inúmeras tentativas), nutre com o passar dos dias um terrível desejo de se vingar.



Alguns anos se passam e ele acorda misteriosamente fora da cela. Sim, isso mesmo. Não há uma explicação plausível, e ele simplesmente está livre. É então que ele começa uma caçada para descobrir quem fez aquilo e o porque. Aos poucos, ele vai encontrando pelo caminho pessoas chaves que o auxiliam na resolução desse mistério, o que vai intrigando o espectador a cada nova cena.

O estilo narrativo de OldBoy é pouco convencional, e feito com extrema criatividade pelo diretor, que cria sequências antológicas como a famosa cena da luta em um corredor ou a cena em que o protagonista come um polvo. Tudo isso aliado a uma excelente fotografia, e um aspecto visual impressionante. O final é surpreendente e chocante, com uma mudança de foco drástica que faz com que o filme seja ainda mais memorável.


É um filme controverso, tanto é que os espectadores se dividem entre os que o amam (como o júri do festival de Cannes que o premiou como melhor filme de 2003), e os que o odeiam (com o argumento de que a violência do filme é usada de forma gratuita, o que eu não concordo).

Mas uma coisa é unânime: OldBoy é um verdadeiro soco no estômago, capaz de despertar sentimentos únicos em que o assiste. Como disse um crítico americano, "é um filme poderoso, não devido ao que retrata, mas devido às profundezas do coração humano que ele desnuda". 




De fato, é uma obra não recomendada para pessoas sensíveis, devido ao seu conteúdo violento, grotesco e as vezes escatológico. Uma obra que nos leva ao pior do ser-humano, e para assistir, primeiramente você deve se despir de qualquer conceito do que é correto e do que não é.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crítica: Eu e Você (2012)



O italiano Bernardo Bertolucci é o tipo de diretor que não deveria, para o bem do cinema, ficar dez anos sem dirigir um filme. Seu último trabalho havia sido Os Sonhadores, de 2003, e de lá para cá ele não havia feito nada novo até surgir a ideia para o roteiro de Eu e Você (Io e Te).





O filme conta a estória de Lorenzo (Jacopo Olmi Antinori), um jovem de 14 anos problemático, solitário, e que não aprecia nenhuma espécie de contato humano. A única pessoa com quem ele se identifica é a avó, a quem ele vai visitar o tempo todo no hospital.

Ao ser convocado para uma excursão do colégio, Lorenzo mente para os pais que vai viajar com a turma e se esconde por sete dias no porão da própria casa, apenas na companhia de seu computador, seus livros, uma "cidade de formigas" e um estoque de comida detalhadamente preparado.




O garoto, porém, não contava com a aparição da irmã por parte de pai, Olívia (Tea Falco), que o descobre no porão e passa a chantageá-lo para poder lhe fazer companhia. A relação dos dois de início é conturbada, mas aos poucos vira uma relação de carinho mútuo, já que ambos descobrem a dificuldade de de relacionamento com pessoas em comum.


Olívia está em recuperação do uso de heroína, e vive momentos de desespero por causa da abstinência. O diretor consegue, através de cenas fortes e verdadeiras, mostrar o drama pessoal dessa garota, e de alguma forma, o desespero do irmão em tentar ajuda-la.


É importante analisar que o tempo todo Bertolucci passa a idéia de que estamos diante de um caso que poderíamos considerar um incesto, mas sutilmente, sem demonstrar nada explicitamente. Aliás, o longa é campeão de brincar com a subjetividade do espectador, do início ao fim.




Eu e Você traz uma fotografia belíssima, além de uma trilha sonora impecável (com The Cure, Red Hot Chili Peppers, Muse, entre outros). Outro ponto forte são as excelentes atuações de dois jovens atores em início de carreira, que surpreendem pela qualidade e veracidade de seus personagens. É uma boa história, com boas cenas, que apesar da monotonia vale a pena ser assistido.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Crítica: Dentro da Casa (2013)


A produção e criação de uma obra literária, aliado ao vouyerismo, são os grandes cernes de Dentro Da Casa (Dans La Maison), novo filme do diretor Fraçois Ozon. No seu novo filme, o diretor brinca com ficção e realidade, fazendo com que andem de mãos dadas.


O protagonista no filme é Germain (Fabrice Luchini), um professor de Literatura no Ensino Médio que há tempos perdeu a esperança em seus alunos. Ao corrigir redações, ele se frusta com o que vê, tamanha é a disparidade do conteúdo escrito pelos alunos e o que ele tenta ensinar. Porém, a situação muda quanto entra em sua turma Claude (Ernst Umhauer), um garoto de 16 anos que demonstra uma surpreendente aptidão para a escrita, fazendo com que Germain e sua mulher incentivem o garoto na criação de uma narrativa.

O problema está no ponto de partida que Claude usa para escrever sua história. Ele age como um vouyer na casa de um amigo, descrevendo passo a passo da intimidade da vida daquela família, pela qual ele desenvolve um certo fascínio e uma obsessão. A cada visita, o aluno vai descrevendo com mais rigor tudo que ocorre dentro da casa, revelando um sentimento que ultrapassa os limites da escrita e tomam porporções absurdas na vida de cada um deles. Tudo isso com apoio do professor, que depois de um tempo passa a ser seu cúmplice nessa "invasão de privacidade". Afinal de contas, todo mundo tem um pouco de voyuer, mesmo que não confesse


O filme usa de bastante ironia, e acerta ao querer passar a ideia de que o cotidiano pode virar uma boa história se analisarmos ele de forma narrativa, com o acréscimo de suspense e fantasia.

Apesar das partes boas da trama, incluindo as boas atuações, o longa é bastante monótono em grande parte do tempo, o que talvez estrague um pouco seu resultado final. Um filme que vale a pena ser assistido em um final de tarde, mas sem grandes expectativas.

domingo, 21 de abril de 2013

Recomendação de Filme #13

O Sétimo Selo (Ingmar Bergman) - 1957

O cinema surgiu no final do século 19 como uma forma de entretenimento, mas com o passar do tempo virou uma forma de expressar os sentimentos mais ocultos, tornando-se assim a forma de expressão artística mais importante da modernidade. Ingmar Bergman soube aproveitar bem essa onda para mostrar seus ensaios filosóficos e introspectivos na tela, e com esse filme devo dizer que ele atingiu seu auge.




O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet) conta a história de um cavaleiro chamado Block (Max Von Sydel), que após dez anos retorna das cruzadas e se depara com sua cidade devastada pela peste. Com tamanha tristeza, sua fé em deus é terrivelmente abalada e ele passa a refletir sobre o real significado da vida.

Nesse ínterim, a morte (tipicamente personificada, com um rosto cadavérico e vestida de preto) aparece para levá-lo embora. Com o objetivo de ganhar tempo de vida, o cavaleiro convida a morte para um jogo de xadrez, que decidirá sobre seu futuro. A morte, é claro, aceita o desafio, pois é soberana e mesmo perdendo, sabe que pode leva-lo quando bem entender.


A parte do jogo de xadrez é uma das melhores metáforas existentes na história do cinema. A vida é retratada como uma partida, em que você mexe do jeito que quer, e não importa o que aconteça, um dia ela chega ao fim. Enquanto o jogo desenrola, Block para a pensar no sentido que temos em estar nessa vida, e principalmente em como ela é frágil. Há também uma forte discussão sobre a existência de deus, do diabo e da vida após a morte, em diálogos espirituosos e marcantes.

Existem poucos filmes que podem ser considerados uma obra-prima, e O Sétimo Selo é um deles. É impossível ficar indiferente ao que passa na sua frente em uma hora e meia de filme. Uma alegoria em preto e branco sobre a busca do homem por um sentido da vida em um mundo caótico e desigual. Um filme obrigatório a todos que possuem sensibilidade e espírito livre.

sábado, 20 de abril de 2013

Crítica: A Pequena Loja de Suicídios (2012)


Há tempos que o gênero de filmes de animação deixou de ser direcionado apenas às crianças. Nos últimos anos vimos alguns exemplos de filmes animados feitos especialmente para adultos como Valsa com Bashir, Bicicletas de Belleville, Mary and Max, Persépolis e Walking Life, e A Pequena Loja de Suicídios (Le Magasin des Suicides) é mais um que entra para a lista.



O filme de Patrice Lecont é um paradoxo incrível: fala de um tema delicado (o suicídio) em forma de musical. Percebemos essa peculiaridade logo na primeira cena, onde um coral canta uma música "alegre" sobre o tema, enquanto pessoas se jogam de prédios e na frente de caminhões, e caminham pelas ruas com caras tristes e melancólicas. 



Numa cidade cinzenta, onde as pessoas não tem rumo e não vêem sentido nas suas vidas, a loja mais famosa e frequentada é a Loja de Suicídios, comandada pela família Tavuche, onde se vendem artigos que auxiliam os suicidas a cometerem o ato final de suas vidas e onde o lema é "morte ou reembolso".




A família é composta pelo pai, a mãe, e dois filhos que ajudam na loja. Mas tudo muda quando a mãe dá a luz a um garoto diferente, que já desde pequeno demonstra ser alegre e feliz, um contraste com os outros membros da família. No início os pais tentam frear essa felicidade, ensinando ao garoto que a vida é triste e não há motivos para sorrir. Mas ele cresce e segue sendo o mesmo, e aos poucos, essa alegria vai contagiando os moradores da casa e consequentemente o resto da cidade.


O diretor soube criar com maestria uma alegoria musical ao redor de um tema tão delicado como esse, e só isso já vale o filme. Uma estória que tinha tudo para ser triste, mas que acaba sendo o contrário disso, e termina sendo uma grande lição sobre a vida. Os personagens são extremamente cativantes, além das músicas serem ótimas e a fotografia ser impecável. A direção de arte também merece aplausos pela ótima caracterização de uma cidade pútrida e sem esperança.



Por fim, A Pequena Loja de Suicídios é de fato uma crítica ao ser-humano cada vez mais frio e pessimista, e principalmente ao número crescente de suicídios cometidos diariamente, principalmente na Europa. Uma animação NÃO-recomendável aos pequenos, mas SUPER-recomendável aos crescidos.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Crítica: Thérèse Desqueyroux (2012)


Não á nada fácil construir um filme de época. Há uma grande dificuldade em transpôr uma história ambientada no passado sem que se pareça com um roteiro vazio de novela épica. Alguns filmes conseguem, mas ultimamente temos visto alguns tiros n'água, e esse filme é um exemplo disso.



Adaptação do livro homônimo de 1927 escrito pelo francês Fraçois Mauriac, Thérèse Desqueyroux (Thérèse Desqueyroux) narra a história da personagem de mesmo nome, Thérèse, única herdeira de um terreno valioso de sua família.



Ela acaba tendo que se casar com Bernard Desqueyroux de forma arranjada, sem paixão alguma, pelo simples fato dessa união ser boa para os negócios de ambas as famílias. Enquanto vive seu dia-dia infeliz ao lado de seu novo marido, Thérèse se comunica com Anne (sua cunhada) através de cartas. Anne está apaixonada, mas por inveja de algo que nunca terá, Thérèse a incentiva a fazer aquilo que ela fez: casar com alguém que não ama pelo bem da família.



A história promete, mas acaba caindo na previsibilidade. Nos deparamos com uma personagem enigmática no início, mas ao decorrer do tempo vamos perdendo o interesse. A narrativa é arrastada, e pouco atrativa. Apesar da fotografia ser belíssima, e alguns diálogos serem interessantes, é um filme que não prende o espectador.



A degradação física e psicológica que sofre a personagem é bem feita, mas não chega a ser  verossímil. Audrey Tatou está bem no papel, mas há coisas que são exageradas na sua atuação (a atriz parece nunca ter deixado Amélie Poulain de lado). Thèrese sofre com sua vida indesejada, mas ao invés de lutar ou se esforçar para mudar a situação, prefere agir de má fé e ter atitudes infantis. Eu pelo menos esperava mais de uma protagonista como ela.




Por fim, o último filme em vida do diretor Claude Miller (que faleceu em abril do ano passado) é tão monótono quanto a vida da personagem principal. Em outras palavras, é um filme que não cumpre o que promete.



Festival de Cannes divulga seleção oficial de filmes.


Cartaz oficial da edição de 2013.
 Foi liberada essa semana a lista de todos os filmes que serão exibidos na 66ª edição do Festival de Cannes, que começa no próximo dia 15 de maio na cidade da riviera francesa.

Na lista dos filmes em competição, aparecem nomes de diretores renomados, como Steven Sodenbergh, Roman Polanski, Paolo Sorrentino e os irmãos Coen, que garantiram presença com suas novas obras.

Dirigido por Baz Luhrmann, o filme de abertura do festival será O Grande Gatsby, longa que conta com o ator Leonardo Di Caprio, e que promete ser um dos grandes filmes desse ano, apesar de não estar na disputa oficial.

Confira abaixo a lista completa dos filmes que estarão em competição:


Carey Mulligan em Inside Llewyn Davis,
novo filme do irmãos Coen,
que compete esse ano no júri oficial.
 - Inside Llewyn Davis - Joel e Ethan Coen (EUA)
- Le Passé - Asghar Farhadi (França)
- Jeune et Jolie - François Ozon (França)
- Nebraska - Alexander Payne (EUA)
- Venus in Furs - Romand Polanski (EUA)
- Behind the Candelabra - Steven Sodenbergh (EUA)
- Only God Forgives - Nicolas Winding Refn (Dinamarca)
- The Immigrant - James Gray (EUA)
- Un Chateau in Italie - Valeria Bruni Tedeschi (França)
- Michal Kohlhaas - Arnoul Despalliere (Alemanha/França)
- Jimmy P. - Arnaud Desplechin (França)

Cena de Behind the Candelabra, do
cineasta Alexander Payne.

- Heli - Amat Escalante (México)
- Grisgris - Mahamat-Saleh Haroun (Africa)
- A Touch of Sin - Jia Zhangke (China)
- Like Father, Like Son - Hirozaku Kore-eda (Japão)
- La Vide d'Adele - Abdellatif Kechiche (França)
- Wara no Tate - Takashi Miike (Japão)
- La Grande Bellezza- Paolo Sorrentino (Itália)
- Borgman - Alex Van Warmerdam (Holanda)

terça-feira, 16 de abril de 2013

Crítica: Depois de Lúcia (2012)


A história que nos é contada em Depois de Lúcia (Despues de Lucia) acontece no México, mas poderia muito bem acontecer em qualquer lugar do mundo. Aliás, pode-se dizer que poucas vezes o bullyng estudantil, termo que vem sendo muito discutido ultimamente, foi tão bem desenvolvido em um longa-metragem.


O filme do mexicano Michel Franco começa com Roberto (Hérnan Mendoza) e sua filha Alejandra (Tessa Ia) indo morar na Cidade do México, após a mãe de Alejandra, Lúcia, morrer em um acidente de carro na antiga cidade onde eles moravam. Os dois ainda estão em choque com o ocorrido, e a relação entre eles, apesar de ser boa e amigável, é bastante fechada e cheia de segredos.

Aos poucos Alejandra se enturma com os novos colegas de escola, e se engana ao pensar que formou boas amizades. Em uma festa, ela acaba transando com um dos garotos da turma, que grava o ato e posta o vídeo na internet. O fato acaba mudando para sempre o destino da garota, onde ela passa a sofrer uma degradante violência moral por parte da escola toda, que por fim culmina em um ato trágico.


Além do bullyng, a trama foca principalmente na relação entre pai e filha. Alejandra passa a mudar seu comportamento por conta dos mal tratos dos colegas, mas por não haver uma comunicação franca e direta com o pai, ele acaba não sabendo do que está acontecendo, e quando descobre, passa a ser tarde demais.

O ponto forte do filme é o tamanho teor de veracidade que as cenas proporcionam aos nossos olhos. As atuações são incríveis, principalmente da atriz Tessa Ia, que carrega o filme de modo intenso e forte sem fragilizar em nenhum momento. Outro ponto forte é a fotografia e os ângulos tomados pelo diretor, que alivia um pouco o tema duro e delicado que é contado em cena.


Enfim, Depois de Lúcia é um filme forte, talvez até chocante, que surpreende bastante pela sua enorme qualidade técnica. Um verdadeiro tesouro do cinema Mexicano que vale a pena ser lapidado, e um dos melhores filmes do ano.

Especial Charlie Chaplin: Os 10 melhores filmes da sua carreira.

É muito subjetivo fazer a escolha de apenas 10 entre dezenas de obras que o grande mestre do humor Charlie Chaplin produziu, dirigiu e atuou. Há quem prefira os filmes que tocam pela emoção e os que preferem os mais engraçados, e para juntar tudo em um número tão diminuto é complicado.

Porém, em comemoração de mais um aniversário do seu nascimento, aceito aqui o desafio de citar aqueles que para mim são os 10 melhores trabalhos do diretor ao longo dos seus 52 anos de cinema. A lista mescla desde filmes do início da carreira, como Vida de Cachorro, como trabalhos já realizados no fim da vida, como A Condessa de Hong Kong.

Abaixo vocês conferem a lista completa, e para quem conhece sua obra, sinta-se a vontade de comentar e mencionar algum outro que você ache que ficou de fora.


1. O Grande Ditador - 1940
Chaplin em uma personificação (ainda que não oficialmente) de Hitler.
Primeiro filme falado do diretor, O Grande Ditador (The Great Dictator) talvez seja o filme mais corajoso dentre todos que ele já dirigiu. Em pleno andar da Segunda Guerra Mundial, Chaplin faz uso de um personagem ditador, idêntico a Hitler, que deseja ter o mundo em suas mãos. Nada mais crítico do que essa premissa. Nada mais verdadeiro.

Porém Chaplin vai ainda além, e aproveita o advento sonoro para produzir um dos melhores discursos pró-humanidade já ditos em qualquer lugar, seja na ficção ou fora dela. Uma filme grandioso, corajoso, e mordaz. Somente Chaplin poderia fazer o que fez.


2. Tempos Modernos - 1936
Chaplin enrolado com as novas engrenagens da modernidade.
Tempos Modernos (Modern Times) é certamente o campeão de exibições em salas de aula. Você certamente já deve ter visto ele em alguma aula de história, de sociologia, ou até mesmo de Artes. E talvez não tenha percebido no momento o quão grandioso é seu enredo e a mensagem por trás das imagens. 

Misturando humor pastelão com uma crítica sagaz à revolução industrial e às máquinas que se foram criadas para substituir o trabalho humano, Chaplin se mostra um homem a frente do seu tempo, e um estudioso nato do comportamento humano. Todas as obras do diretor são essenciais na prateleira de qualquer cinéfilo que se preze, mas esse tem um gostinho a mais.

3. Luzes da Cidade - 1931
Chaplin protagonizando Luzes da Cidade com Virginia Cherril.
A paixão de um pobre vagabundo por uma florista cega, que por não poder vê-lo, acredita que ele seja um milionário e que poderá ajuda-la na operação para voltar a enxergar. Uma premissa tão simples, e que nas mãos de Chaplin virou uma obra fantástica. Luzes da Cidade (City Lights) é um dos filmes mais tocantes do diretor, feito nos mínimos detalhes, com um final comovente e original. Após terminar, eu só conseguia aplaudir, tamanha é a beleza desse trabalho.

4. O Garoto - 1921
Chaplin e o inesquecível Jackie Coogan.
Quando o riso se confunde com o choro. É com essa frase que eu defino O Garoto (The Kid), um dos primeiros filmes da nova fase do diretor e um dos mais tristes e tocantes da sua carreira. Como não se emocionar com a química existente na relação entre o personagem de Chaplin e o garoto vivido por Jackie Coogan (melhor personagem mirim da história do cinema). Inocente e pueril, o filme é uma obra de arte e não necessita de palavras para descrever o amor, as imagens bastam por si só. Como anuncia no seu início: "um filme com um sorriso, e talvez, uma lágrima". Obrigado mais uma vez, Chaplin.

5. Em Busca do Ouro - 1925
Chaplin e a clássica "Dança dos Pãezinhos".
Em Busca do Ouro (The Gold Rush) é um dos filmes que contém o maior número de cenas marcantes da carreira do diretor. Quem assiste, jamais esquece da "dança dos pãezinhos", ou do personagem de Chaplin temperando e comendo um sapato na falta de outra coisa para se alimentar (usando os cadarços como espaguete). É um filme crítico, e ao mesmo tempo é um dos mais engraçados feitospor ele. Uma obra-prima, que prova que ele não possuia limites quando se falava em criatividade.

6. Luzes da Ribalta - 1952
Chaplin e Claire Bloom, em Luzes da Ribalta.
Já se aproximando do fim da sua carreira, é impressionante como Chaplin ainda conseguia fazer um filme como esse, com tamanha qualidade. Deixando de lado um pouco a comédia, que ainda assim aparece em poucos momentos, Luzes da Ribalta (Limelight) nos traz um drama que, para muitos, poderia ser quase como uma auto-biografia do diretor: um palhaço que foi esquecido com o tempo e não teve o devido valor que merecia. Triste, sincero, e porque não dizer filosófico.

"A Vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria, viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos" - fala do personagem principal.


7. O Circo - 1928

O Circo (The Circus) é um dos filmes mais simples do diretor, naquele estilo direto, feito apenas para arrecadar risadas e nada mais. Não que isso seja depreciativo, pelo contrário, Chaplin sabia fazer filmes assim como ninguém, com sutileza e graça. Resumindo: um filme que te deixa com um sorriso bobo no rosto do começo ao fim.

                                   8. A Condessa de Hong Kong - 1967
Sophia Loren e Marlon Brando, com Chaplin ao fundo.
A Condessa de Hong Kong (A Countess from Hong Kong) pode não ser o melhor filme do diretor, mas entra pra história pelo fato de ter sido seu último trabalho em vida. O filme foi complicado de ser terminado, principalmente pelas brigas de bastidores entre Chaplin e o astro do filme, Marlon Brando, que acabou deixando o clima tenso durante as gravações. Além de Brando, o filme ainda conta com a presença deslumbrante da Sophia Loren. Essa dobradinha ajudou e muito para que o filme se tornasse um grande sucesso de público.

Um detalhe importante é que esse é o único filme em que Chaplin não aparece como protagonista, apesar de ele fazer uma aparição a lá Hitchcock (durante segundos, em duas cenas distintas).

                                        9. Monsieur Verdoux - 1947
Chaplin dando vida ao vigarista Henry Verdoux.
Henry Landrú foi condenado a guilhotina por ter assediado e assassinado mais de 10 mulheres entre as últimas décadas do século 18 e as primeiras do século 19. Em Monsieur Verdoux (Monsieur Verdoux), Chaplin baseia-se nesse fato real e conta a história de um vigarista que seduzia mulheres para dar o golpe do baú. O filme é repleto de humor negro, além de ser uma crítica ferrenha ao capitalismo. 

Apesar de ser classificado como uma comédia, o filme se encaixa mais como um drama com pitadas de humor, que foram colocadas estrategicamente para não deixar o clima do filme pesado. É um Chaplin totalmente fora dos padrões, e talvez por isso seja um filme muito pouco reconhecido, mas ainda sim traz alguns momentos brilhantes.

                                       10. Vida de Cachorro - 1918


O personagem "vagabundo" ainda estava começando a aparecer para o cinema, nesse que para mim é o melhor filme da primeira fase da sua carreira. Vida de Cachorro (A Dog's Life) traça um paralelo entre a vida de um cachorro de rua e a de um vagabundo (mendigo/andarilho, para ser mais contextualizado nos dias de hoje). 

É uma comédia totalmente pastelão, como todos os seus trabalhos iniciais, mas de forma alguma sem graça. Um filme sensível, engraçado, e um tanto quanto comovente. "Quem alimenta um animal faminto, alimenta a alma" - Charles Chaplin.

domingo, 14 de abril de 2013

Crítica: O Som ao Redor (2012)


Nos dias de hoje, em que o cinema nacional se arrasta e sobrevive de comédias abobalhadas, é importante notar a presença de filmes com algo a dizer, que façam a diferença nesse cenário tão precário. Logo, O Som ao Redor merece reconhecimento por ter esse diferencial.





Não é de hoje que Recife vem produzindo obras cinematográficas de qualidade. Junto com Porto Alegre, talvez sejam as duas cidades mais ascendentes no ramo fora do eixo rio-são paulo. Escrito e dirigido pelo diretor Kleber Mendonça Filho, o filme é dividido em três partes e se concentra em uma rua da capital Pernambucana, onde todos os personagens tem suas vidas intercaladas com o passar dos dias, principalmente depois da instauração de uma milícia nos arredores.


O diretor faz uma forte analogia da vida cotidiana de uma classe média que vive enclausurada entre os muros de seus prédios e procuram algo para se distrair nos momentos de ócio. O filme trata também de toda a cegueira que essa classe parece demonstrar a respeito dos problemas sociais e econômicos do país, usando de toques sutis de ironia, que não deixa exatamente explícito o que o diretor quer passar, mas que os mais atentos conseguem perceber.



Apesar do enredo ser interessante, e da excelente qualidade visual e sonora empregadas no filme, ele peca em vários aspectos, principalmente nas atuações que são extremamente fracas. Esse ponto, aliado ao desfecho confuso, acaba estragando o resultado final, mas ainda assim é um filme que vale a pena ser visto.