sábado, 31 de outubro de 2015

Crítica: Suite Francesa (2015)


O amor que é capaz de superar as diferenças em meio ao clima desumano da guerra? De uma forma genérica, é disso que fala Suite Francesa (Suite Française), novo longa metragem do britânico Saul Dibb (de A Duquesa), que se passa no período mais abordado em todos esses anos de cinema: a Segunda Guerra Mundial. 


Estamos na França, no ano de 1940, bem no auge da Segunda Guerra Mundial. Lucille Angellier (Michelle Williams) vive com sua sogra (Kristin Scott Thomas) em Buffy, no interior do país, depois que o marido foi servir na Guerra. A França está sendo invadida pelos alemães e centenas de refugiados estão vindo para o campo, multiplicando cada vez mais a população do lugar.

Apesar de estarem isolados, a perspectiva é que logo o conflito as alcance de alguma forma e os soldados "inimigos" finalmente cheguem na região. Por terem uma casa boa, Lucille e a sogra são obrigadas a acolher o oficial nazista Bruno (Matthias Schoenaerts), em troca de algumas migalhas. Outras famílias escapam num primeiro momento, mas no fundo todos se vêem na mesma situação, e o clima da localidade fica ainda mais tenso depois que um dos camponeses mata um soldado alemão.


O que Lucille não esperava, no entanto, era que Bruno fosse muito mais "humano" do que ela era levada a crer. Apesar de ser rígido em seu cargo, ele demonstra uma aptidão única para a música enquanto fica hospedado na casa, e essa paixão em comum deles faz com que os dois iniciem um relacionamento amoroso às escondidas.

O roteiro é bem clichê para falar a verdade, mas não deixa de ter seus momentos inspirados. O mais interessante de tudo é a forma com que o filme mostra os detalhes da ocupação, como o adiantamento dos relógios para o fuso alemão e a entrega de armas pela população.


Por fim, Suite Francesa não deixa de ser um bom filme para quem gosta da temática, mesmo que não traga nada de novo. As boas atuações e a impecável direção de arte ajudam no resultado final e tornam o filme uma experiência bem interessante.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Crítica: Perdido em Marte (2015)


Um mito por trás de alguns dos maiores clássicos da história do cinema. Estou falando de Ridley Scott, diretor que com 77 anos volta às telas em grande estilo com Perdido em Marte (The Martian), seu mais novo filme de ficção científica, gênero que ele sabe abordar como ninguém.


Durante uma missão no planeta vermelho, uma equipe de astronautas enfrenta uma violenta tempestade de areia, que os obriga a abortar a missão. Na decolagem eles acabam perdendo contato com Mark Watney (Matt Damon), que fica para trás e logo é dado como morto pela NASA, com direito a enterro simbólico e desculpas públicas pelo ocorrido.

Mark no entanto está vivo, e mesmo bastante ferido consegue chegar à base que eles ocupavam. A partir de então, surge o grande dilema do filme: como sobreviver sozinho a milhões de quilômetros de casa e com suprimentos limitados? Uma nova missão tripulada de resgate demoraria pelo menos 4 anos para chegar, e ele tem comida apenas para mais alguns meses.


Formado em botânica, Mark usa todo o seu conhecimento para transformar uma terra infértil em um ambiente propício para plantar novos alimentos. Outro problema a ser enfrentado era a falta de água, que ele também conseguiu criar graças ao seu alto conhecimento em química. Ele ganha uma nova perspectiva de vida quando finalmente consegue contato com a NASA, que passa a tratar seu resgate como prioridade.

O roteiro poderia apelar para o dramalhão, já que a situação de Mark é extremamente angustiante. Porém, o diretor escolheu abordar tudo com muito bom humor, e apesar de alguns exageros nesse sentido, isso acaba sendo o ponto positivo do filme. Alguns momentos inspirados nos fazem refletir sobre a situação de forma cômica, como quando Mark lembra que é o primeiro homem da história a estar sozinho em um planeta, e que por isso mesmo, ele teria "colonizado" marte.


A atuação de Matt Damon é competente como sempre, e o filme ainda possui outros destaques como Jessica Chastain, Chiwetel Ejiofor, Jeff Daniels e Michael Peña. Na questão técnica não há o que criticar, sobretudo a direção de arte que imita com perfeição o clima seco e o horizonte desértico de marte. Se os últimos 4 filmes de Scott haviam deixado uma incógnita, Perdido em Marte veio para mostrar que ele ainda sabe o que faz.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As 5 melhores atuações de Joaquin Phoenix

Nascido em Porto Rico no dia 28 de outubro de 1974, Joaquin Phoenix é hoje um dos atores mais reconhecidos do cinema norte-americano. Sua estreia nas telas, ainda creditado como "Leaf Phoenix", foi no filme SpaceCamp - Aventura no Espaço, de 1986, mas seu primeiro papel de destaque veio somente em 1989 com O Tiro que Não Saiu Pela Culatra, do experiente diretor Ron Howard.

Phoenix voltou a chamar a atenção novamente em 1995 com sua participação no drama Um Sonho Sem Limites, onde contracenou ao lado de Nicole Kidman. Em 2000, foi lembrado pelo Óscar pela primeira vez por sua atuação em Gladiador, superprodução dirigida por Ridley Scott. No mesmo ano ainda contracenaria com Kate Winslet e Geoffrey Rush em Contos Proibidos do Marquês de Sade.

Sua segunda indicação ao Óscar veio em 2006 por conta de sua atuação impressionante em Johnny & June, onde deu vida ao músico Johhny Cash em sua cinebiografia. Por esse mesmo filme ele se sagrou vencedor do Globo de Ouro de melhor ator em filmes de drama. Nos últimos três anos, Phoenix virou figurinha carimbada nas principais premiações, por suas atuações em O Mestre (2013), Ela (2013) e Vício Inerente (2014). Na data de seu aniversário, confira abaixo uma lista com as 5 melhores atuações do ator até então em sua carreira.

1. Johhny & June (2005)

Em Johnny & June, Phoenix dá vida a Johnny Cash, na cinebiografia do icônico cantor norte-americano.  Com personalidade difícil, principalmente adquirida pela infância tumultuada, Johnny teve inúmeros problemas com a polícia e trilhou um caminho de auto-destruição onde somente o grande amor de sua vida, June (Reese Whiterspoon), foi capaz de salvá-lo. Por seu papel, Phoenix foi indicado ao Óscar de melhor ator.

2. Gladiador (2000)

Na superprodução vencedora de cinco Óscars, Phoenix dá vida a Commodus, filho do imperador Marcus Aurelius (Richard Harris) que por causa de sua ganância incontrolável acaba matando o pai para tomar seu lugar no trono, afim de impedir que o mesmo fosse ocupado pelo soldado romano Maximus (Russell Crowe), o verdadeiro escolhido de seu pai. Pela produção, o ator foi indicado ao Óscar de melhor ator coadjuvante.

3. O Mestre (2013)

No drama de Paul Thomas Anderson, o ator interpreta o marinheiro Freddie Quell, que tenta reconstruir sua vida depois do trauma de fazer parte da Segunda Guerra Mundial. Sofrendo de violentos ataques de pânico, ele acaba sendo ajudado por Lancaster Dodd (Phillip Seymour Hoffmann), um homem carismático e misterioso que se torna líder de uma organização religiosa denominada A Causa. Atuação brilhante de Phoenix, que recebeu sua segunda indicação ao Óscar de melhor ator.

4. Ela (2013)

Ela, do diretor Spike Jonze, foi uma das grandes sensações no Óscar de 2014, e muito se deve a atuação sincera e competente de Joaquin Phoenix. Na trama, ele interpreta Theodore, um homem solitário que se apaixona pela voz feminina (Scarlett Johansson) do novo sistema operacional do seu computador, em uma sátira curiosa a respeito do homem atual e sua paixão por tecnologias.

5. Contos Proibidos do Marquês de Sade (2000)

Na trama, dirigida por Phillip Kaufman, Phoenix interpreta Abbe Coulmier, diretor do asilo isolado onde o excêntrico Marquês de Sade vai passar seus últimos anos de vida. Enquanto mantém conversas diárias com o escritor, conhecido por suas histórias pornográficas, Abbe esconde uma forte atração pela lavadeira Madeleine (Kate Winslet).

Crítica: Dope - Um Deslize Perigoso (2015)


Do até então desconhecido diretor Rick Famuyiwa, Dope - Um Deslize Perigoso trata com competência e bom humor a inserção do negro na sociedade atual, sem porém, apelar para qualquer tipo de didatismo que muitos filmes do gênero gostam de usar.



A trama acompanha Malcolm (Shameik Moore), um adolescente negro que vive junto com sua mãe no bairro mais perigoso de Inglewood, na Califórnia. Extremamente inteligente, ele é apaixonado pela cultura "geek" e sonha um dia estudar em Harvard. Seus melhores amigos são Jib (Tony Revolori) e Diggy (Kiersey Clemons), que em comum possuem a paixão pelo hip hop clássico dos anos 1990.

Diferente de muitos outros jovens que moram na região, os três não estão envolvidos com nenhuma gangue e fazem questão de fugir de qualquer tipo de confusão, e por isso mesmo são tratados com desprezo pela maioria dos colegas. No entanto, a vida deles muda completamente quando seus caminhos cruzam com os caminhos de Dom (A$AP Rocky), um traficante da região.



O mais interessante do filme é a fuga do esteriótipo do jovem negro vindo da periferia. Malcolm teve uma vida difícil sim, mas jamais pensou em tomar atitudes erráticas. Pelo contrário, sempre foi motivado a ser mais do que os outros esperam dele. Além de Malcolm e seus amigos, o filme aborda também o conturbado ambiente de uma escola periférica, com suas dificuldades e seus diferentes tipos de alunos, fazendo uma boa análise a respeito de um tema sempre atual: o racismo.

Apesar de caricatas em alguns momentos (o que de fato incomoda um pouco), as atuações dos jovens atores são bastante surpreendentes, principalmente a de Shameik Moore. Outro ponto interessante é a trilha sonora, contagiante do primeiro ao último minuto. Por fim, Dope - Um Deslize Perigoso é um filme diferenciado, de uma originalidade que faz falta no cinema de hoje.


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Crítica: Homens e Galinhas (2015)


Conhecido por roteirizar dramas da diretora Susanne Bier, como Em Um Mundo Melhor e Segunda Chance, o dinamarquês Anders Thomas Jensen nos surpreende com seu longa Homens e Galinhas (Maend & Hons), uma comédia de humor negro que já é um dos filmes mais estranhos do ano.



Elias (Mads Mikkelsen) e Gabriel (David Dencik) são irmãos e acabam de perder o pai. Em um vídeo deixado pelo mesmo, eles ficam sabendo que na verdade não eram seus filhos, e juntos resolvem partir para outra cidade para conhecer a família biológica. O que eles não esperavam era encontrar no local outros três irmãos, um mais excêntrico que o outro, que os recebem da pior forma possível.

Não demora, no entanto, para que os cinco consigam se acertar, principalmente depois que Gabriel instaura uma série de regras de convivência a serem seguidas por eles. Nesse ínterim acontecem algumas situações bizarras, sobretudo quando os dois descobrem um segredo obscuro da família no porão envolvendo experimentos com animais.



O filme faz uma boa sátira a respeito da concepção que se tem de família, costumes e inclusive religião, com bons diálogos filosóficos enquanto os personagens fazem a leitura da bíblia em forma de história para ninar. As atuações são convincentes, e o principal nome envolvido é o de Mads Mikkelsen, irreconhecível na pele de um personagem irracional e de temperamento difícil. Por fim, apesar de suas irregularidades, Homens e Galinhas é um filme que vale a pena, principalmente pela experiência de se ver na tela algo original e diferente nos dias de hoje.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Crítica: Beasts of no Nation (2015)


Alguns filmes são essenciais para abrir os olhos do mundo sobre temas que a grande maioria prefere fazer vista grossa. Beasts of no Nation, primeiro filme original da Netflix dirigido pelo jovem Cary Fukunaga (de True Detective), é um retrato pesado e corajoso sobre a realidade das guerras civis em países da África.



Agu (Abraham Attah) é um menino cheio de sonhos que vive tranquilamente com sua família em um pequeno vilarejo de um país não especificado da África. Essa falta de identificação do lugar serve justamente para nos mostrar que a realidade descrita poderia estar ocorrendo em qualquer canto do continente.

Depois de estourar uma violenta guerra civil no país, Agu acaba vendo sua família inteira ser morta pelo exército depois de serem confundidos com rebeldes, sendo entre eles o único que consegue sobreviver. Ele logo é capturado por um grupo de rebeldes, que ao invés de matá-lo, resolvem treiná-lo para que ele lute na guerra ao seu lado.


A partir de então o filme adentra no grupo, liderado por um homem inescrupuloso (Idris Alba) que é chamado apenas de "Comandante" pelos demais membros. Mostrando seus rituais, seus costumes e sobretudo suas atrocidades, o enredo nos coloca dentro da cabeça dessas crianças que são recrutadas à força e perdem sua inocência da forma mais cruel possível.

A maior crítica do filme é justamente quando ao ato desumano de transformar crianças, que até então estudavam e brincavam, em verdadeiras máquinas de matar. O enredo começa com leveza para depois ir nos inserindo nessa dura realidade, que não é nada fácil de ser digerida.



Com atuações impressionantes e uma direção competente de uma jovem promessa, Beasts of no Nation foi lançado diretamente na televisão e sofreu um terrível boicote das grandes redes de cinema. Mesmo assim, conseguiu coeficiente de salas suficiente para estar no próximo Óscar, já sendo considerado um dos principais favoritos.

Crítica: Sr. Holmes (2015)


Se você sempre apreciou as histórias do detetive Sherlock Holmes e seu fiel companheiro Dr. Watson, através dos livros ou de suas inúmeras adaptações cinematográficas, prepare-se para ter um momento de nostalgia ao assistir "Sr. Holmes", novo filme do diretor norte-americano Bill Condon (Deuses e Monstros / Kinsey - Vamos Falar de Sexo).



Se engana, porém, quem pensa que vai acompanhar uma nova aventura da dupla em busca de solucionar um de seus famosos casos. A história se passa 30 anos depois do último caso de Holmes, que agora está aposentado e vive em uma casa de campo isolada na companhia da governanta Sra. Munro (Laura Linney) e o filho dela Roger (Milo Parker).

Ele acaba de voltar de uma viagem ao Japão onde foi em busca de uma planta medicinal para ajudar em seus problemas de saúde. No entanto, sua maior preocupação continua sendo seu último caso, de Ann e Thomas Kelmot (Hattie Morahan e Patrick Kennedy), que nunca foi resolvido e acabou de forma trágica. Ao contar para o menino Roger a história, ele passa então a relembrá-la.



O filme tem bons momentos, como a cena icônica em que Holmes vai assistir no cinema uma adaptação de uma de suas próprias histórias, escrita pelo antigo companheiro Dr. Watson. Sobre as atuações, há que se elogiar mais uma vez Ian McKellen, que aos 76 anos de idade ainda tem disposição para continuar atuando com competência. Outro nome que chama a atenção é o do menino Milo Parker, que já demonstra ser uma jovem promessa.

Por fim, Sr. Holmes funciona como um bom momento de nostalgia aos fãs do detetive mais famoso da literatura, mas peca um pouco no ritmo e não consegue criar interesse nem mesmo no caso do casal Kelmot. Mesmo assim não deixa de ser uma boa pedida, principalmente pela lição de amizade que ele carrega em si.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Crítica: Little Boy (2015)


Pepper (Jakob Salvati) é um menino de baixa estatura que vive na cidade de O'Hare junto de seus pais e seu irmão mais velho, London (David Henrie). Tirando o bullying que ele sofre dos colegas na escola, que lhe chamam pejorativamente de "little boy", ele é um menino feliz e leva a vida com leveza. Tudo vai bem até que seu pai (Michael Rapaport) é chamado para servir na Segunda Guerra.


Não demora para que cheguem notícias ruins sobre seu pai do outro lado do planeta, o que aumenta ainda mais o desespero do garoto. Porém, depois de um show de mágica na cidade, o menino passa a acreditar que tem um dom especial e que esse dom pode ser usado para trazer seu pai de volta para casa. 

Para tentar realizar o desejo, ele visita o padre Oliver (Tom Wilkinson), que lhe dá uma lista de boas ações para fazer, como visitar um doente, ajudar um necessitado e, principalmente, fazer amizade com Hashimoto (Cary-Hiroyuki Tagawa), o japonês da vila que todos passaram a tratar como inimigo depois da Guerra. Com ajuda do novo amigo, "little boy" passa a realizar todos os afazeres, onde cresce como pessoa e aprende o verdadeiro sentido da palavra "humanidade".


O filme é bonito e tem algumas cenas bastante líricas, sempre acompanhadas de uma linda fotografia. A direção de Alejandro Monteverde (Bella, 2006) é bastante competente e segura bem o filme até o fim, apesar de alguns excessos que poderiam nitidamente terem sido evitados. Mas o que mais chama a atenção é mesmo a atuação do menino Jakob Salvati, que de pequeno só tem o tamanho, e nos traz um personagem gigante em sua essência.

Crítica: A Festa de Despedida (2015)


A questão da eutanásia já foi abordada em diversos filmes ao longo dos anos, e o israelense A Festa da Despedida (Mita Tova) traz o tema novamente à tona. Muito já se discutiu acerca desse direito de abreviar a vida, mas nunca se chegou a um consenso universal sobre isso ser certo ou errado. Ao mesmo tempo em que muitos defendem outros tantos criminalizam a prática, e basta tocar no assunto para a discussão ir longe.



No novo filme dos diretores Sharon Maymon e Tal Granit, que já haviam trabalhado juntos em Férias de Verão (2012), a trama acompanha um grupo de amigos que vivem em uma casa de repouso de Jerusalém. Cansado de ver outros residentes sofrendo enquanto esperam a morte, Yehezkel (Ze'ev Ravach), um engenheiro aposentado, bola um dispositivo capaz de ajudá-los a interromper esse sofrimento por meio da morte.

Como é um crime gravíssimo em Israel, assim como em praticamente todos os países do mundo, os idosos fazem tudo escondido e com muito cuidado. No entanto, quanto os rumores sobre a máquina começam a se espalhar e muitas pessoas começam a pedir ajuda, eles passam a refletir sobre o que estão fazendo, se seria certo ou não.



Apesar da força dramática que o tema impõe, tudo é tratado com muito bom humor. Porém, senti falta de uma estrutura mais desenvolvida, e no meio do filme já estava cansado do que via. A história, por mais interessante que seja, não empolga, mesmo com as boas atuações do elenco, composto de diversos nomes conhecidos do cinema do país. Vencedor do prêmio do público no Festival de Veneza de 2014, A Festa de Despedida funciona bem como ferramenta de debate, mas não tem o mesmo resultado como entretenimento.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Crítica: Eu, Você e a Garota que vai Morrer (2015)


Um garoto que faz amizade com uma garota do colégio que, por sua vez, está sofrendo de uma doença terminal. Sim, o roteiro não poderia ser mais conhecido, mas se engana quem pensa que Eu, Você e a Garota que vai Morrer (Me and Earl and the Dying Girl), adaptação do livro homônimo de Jesse Andrews, é mais um clichê do gênero. Muito pelo contrário.


A trama começa acompanhando o adolescente Greg (Thomas Mann), um garoto bastante reservado que está no último ano do ensino médio numa escola de Pittsburgh. Ele não interage com ninguém e se sente praticamente invisível por não se encaixar em nenhum grupinho de alunos. Seu único amigo é Earl (RJ Cyrele), um jovem negro que veio de uma realidade completamente diferente da sua.

Fora da escola, os dois amigos tem um hobbie em comum: fazer paródias de filmes famosos da forma mais tosca possível. Essa brincadeira, que eles levam bem a sério, rende bons momentos no filme, principalmente por mostrar clássicos do cinema sob uma nova e engraçada perspectiva, como O Sétimo Selo, Fitzcarraldo e Laranja Mecânica.


A vida de Greg muda completamente quando sua mãe (Connie Britton) o obriga a fazer amizade com Rachel (Olivia Cooke), uma menina do colégio com quem ele nunca falou na vida, apesar deles se conhecerem desde pequenos. A menina acabou de ser diagnosticada com leucemia, e tanto a mãe de Greg como a mãe de Rachel (Molly Shannon) acham que a amizade entre os dois pode ajudá-la no tratamento.

Partindo desse princípio, você logo espera aquele velho clichê dos dois adolescentes se apaixonando e vivendo grandes momentos antes da morte da menina. Porém, o filme faz questão de fugir disso, e esse é justamente o seu grande trunfo. Os dois criam uma amizade muito forte sim, mas sem nenhum tipo de apelação e muito menos aquele romantismo bobo. Eles logo ganham a companhia de Earl e, mesmo com suas personalidades diferentes, os três vão descobrindo cada vez mais afinidades em comum, como por exemplo o gosto por filmes.



O diretor consegue dosar muito bem o humor com o drama, sem se apegar a exageros em nenhum dos dois. As atuações são bem verossímeis, o que ajuda a criar uma empatia muito grande pelos personagens. Bastante elogiado no Festival de Sundance desse ano, o segundo longa-metragem da carreira de Alfonso Gomez-Rejon encanta pela simplicidade e já é, com certeza, um dos filmes mais queridos do ano.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Crítica: O Homem das Multidões (2015)


Vencedor do prêmio principal no 26º Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse, na França, o brasileiro O Homem das Multidões, dos diretores Cao Guimarães e Marcelo Gomes, retrata de forma simples e silenciosa a solidão no mundo contemporâneo, cada vez mais individualista.


Juvenal (Paulo André) é um homem solitário que trabalha como maquinista no metrô de Belo Horizonte. Sem família e sem amigos, ele não tem desejos e nem paixões na vida, e passa seus dias apenas sobrevivendo, sem ter nenhuma atividade que o dê prazer. Sua casa possui poucos móveis e nenhum contato com a tecnologia, acentuando ainda mais seu isolamento do mundo exterior.

Em outro canto da cidade vive Margô (Sílvia Lourenço), que também trabalha no metrô, mas na central de monitoramento. Ela é tão solitária quanto Juvenal, e a única diferença é que ela usa bastante as redes sociais, onde mantém contato com outras pessoas apesar de nunca vê-las pessoalmente. Cabe aqui a crítica perspicaz sobre as relações humanas na era da internet, onde todos conhecem todos e ninguém conhece ninguém.


A ironia do trabalho dos dois é justamente essa: enquanto vivem solitários, são obrigado a ver e transportar todos os dias milhares de pessoas. Para representar a vida entediante dos dois, os diretores usaram o recurso da imagem no formato 1:1, ou seja, apenas um quadrado no meio da tela. Isso consegue reforçar a ideia de claustrofobia, ao mostrar muito pouco do que acontece ao redor e se focar somente na imagem central.

A trilha quando aparece é belíssima, mas os sons que mais chamam a atenção são mesmo os barulhos sonoros característicos de uma metrópole como buzinas, freadas e sirenes, que fazem parte do filme até nos momentos mais introspectivos. O filme se perde um pouco em devaneios em certo momento, mas se recupera no final, e termina como uma boa reflexão sobre o papel do ser-humano no mundo.

Crítica: Aliança do Crime (2015)


Em Aliança do Crime (Black Mass), o diretor Scott Cooper (Coração Louco / Tudo Por Justiça) nos conta um pouco mais da história de James "Whitey" Bulger, um dos maiores criminosos da história de Boston, que se tornou um dos homens mais procurados pelo FBI nos anos 80.



Whitey (Johnny Depp) era um homem extremamente frio, que não pensava duas vezes na hora de matar com suas próprias mãos quem fosse preciso, principalmente quem o traísse. Foi assim que ele alcançou a posição de líder da Winter Hill Gang, uma organização criminosa que controlava, entre outras coisas, o tráfico de drogas da parte sul de Boston na década de 1970.

A criminalidade sujou as ruas da cidade de sangue quando o grupo de Whitey entrou em guerra com a máfia italiana, que comandava a parte norte da cidade. É a partir desse momento que entra em cena a figura de John Connolly (Joel Edgerton), que cresceu junto com Whitey e seu irmão Billy (Benedict Cumberbatch) e agora é um respeitado agente do FBI.


Connolly propõe um acordo com Whitey: deixá-lo livre de qualquer investigação se, em troca, ele ajudar o FBI a capturar os membros da máfia rival. Formada a aliança, o criminoso recebe carta branca para continuar com sua rotina, mas o jogo logo muda quando entra um novo promotor na cidade, que quer vê-lo na prisão a todo custo.

A história e as principais ações de Whitey são narradas por membros de sua organização que foram presos e o primeiro deles é Kevin Weeks (Jesse Plemons), que abre o filme contando em seu interrogatório tudo que presenciou enquanto fazia parte do grupo. O enredo é muito bem construído, assim como a ambientação da época. No entanto o ponto alto do filme é mesmo o elenco, sobretudo Johnny Depp que aparece quase irreconhecível e tem a sua melhor atuação em anos.



Por fim, Aliança do Crime tem todos os ingredientes de um bom filme de crime, e a mão firme de Cooper na direção não deixa o filme cair no marasmo e nem no clichê. Um trabalho que tem boas chances de ser lembrado pela Academia no próximo Óscar, principalmente na categoria de melhor ator, mesmo que Depp já tenha declarado abertamente que nunca quer fazer parte da festa.