terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Crítica: Tangerines (2014)


Em 1992, quando estourou a guerra entre os chechenos e os georgianos pela posse das terras da região de Abecásia, uma população de estonianos que vivia na região retornou em peso para sua terra natal, e poucos ficaram para contar a história. Entre os que ficaram está Ivo (Lembit Ulfsak), que vive em uma casa isolada e passa os dias em sua oficina fabricando caixas de madeira, que depois são usadas para guardar e transportar as tangerinas que seu vizinho Margus (Elmo Nuganen) colhe no pátio de sua casa.


Certo dia os dois são surpreendidos por um tiroteio na frente das casas, e depois que tudo se acalma eles verificam que tem um veículo parado com dois mortos e dois feridos vivos. Os mortos eles enterram e os vivos eles levam para a casa de Ivo, para que lá eles possam se recuperar. O que eles não esperavam, no entanto, é que os dois sobreviventes são de lados opostos do confronto.

De um lado o checheno Ahmed (Giorgi Nakashidze), do outro o georgiano Nika (Misha Meskhi). Para Ivo e seu vizinho isso não importa, e eles tratam os dois como iguais. Para eles não há diferença de lado, e graças a um acordo firmado com os feridos, todos prometem uma trégua enquanto estiverem dentro da casa recebendo os cuidados. Apesar de respeitarem isso, eles não cansam de se injuriar e de se prometer para quando saírem dali.


Com o passar do tempo, Ahmed e Nika vão percebendo com a convivência que acima de qualquer diferença étnica eles são seres humanos, e que eles estão lutando uma guerra que na verdade nem é deles. Quando chega ao final, somos arrebatados por um acontecimento trágico, mas que ao mesmo tempo nos dá esperança e nos enche os olhos de orgulho. Como um ódio infundado de geração para geração pode ser tão avassalador? Assim como muitos outros que estavam naquela luta, Ahmed e Nika não sabiam bem pelo que lutavam. "Eu vou matá-lo, eu vou matá-lo (...) Quem deu esse direito a vocês?" pergunta Ivo, e a mesma fica sem resposta.

A ambientação é impecável. O ambiente hostil e vazio de uma guerra, deixa tudo ainda mais real. É impressionante o trabalho do roteiro, que segura o espectador até o final com leveza. São quatro pessoas em uma casa, de idade, nacionalidade e religião distintas, cada uma com uma visão de mundo diferente, que aprendem a se respeitar a se aceitar com o tempo. Elogio também ao trabalho da trilha sonora, impecável, e cuja música que se repete o filme todo é de uma beleza ímpar.


Por fim, quem não viu ainda, não deve perder a chance. Intimista e humana, a obra do diretor Zaza Urushadze já desponta como forte favorita ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Óscar de 2015, representando a Estônia. Um filme que faz desabrochar sentimentos únicos em cada um de nós. Um filme pra entrar pro hall dos melhores da década.

Crítica: O Juiz (2014)


Apesar do cartaz indicar o contrário, O Juiz (The Judge) não é apenas mais um filme sobre tribunais dentre tantos que vimos por aí. Pelo contrário, ele vai muito além disso. Com um roteiro bem construído, o filme traz um drama familiar bastante denso e filmado com competência.



Hank (Robert Downey Jr.) é um advogado de renome, conhecido por ser bastante competente na área em que atua, mas com uma vida particular bastante conturbada. Quando a mãe dele morre, ele se vê obrigado a voltar para sua cidade natal para participar do enterro. Ele não tem boas recordações do lugar, e não visita a família há 20 anos. Mais do que isso, ele tem uma péssima relação com o pai, Joseph Palmer (Robert Duvall), que é o juiz dessa pacata cidade.

Antes de Hank voltar para casa, o pai dele é indiciado por atropelar fatalmente um homem durante a madrugada, e o advogado decide ficar na cidade para ajudá-lo no caso. Aos poucos vamos descobrindo que não foi exatamente um acidente. Anos atrás, Joseph teria cometido um grave erro de julgamento ao libertar um homem de uma pena grave, antes dele cometer outro crime bárbaro, e por isso, carrega nos ombros a culpa disso até então. Isso faz com que ele não queira se defender, e comece a fazer de tudo para que ele próprio seja condenado, como forma de justiça.



O filme foca bastante no drama familiar e no retorno do passado, que faz com que pai e filho discutam sobre fatos que foram "enterrados" mas jamais esquecidos. Famílias que se separam por bobagens e que voltam a reatar os nós separados pelo tempo já é assunto manjado no cinema, e talvez por isso o filme acaba ficando carente de originalidade. Mesmo com o bom manejo do enredo, o diretor não consegue evitar sua previsibilidade.

As boas atuações de Downey Jr. e Duvall seguram o filme até o final. Quem também chama a atenção é Billy Bob Thornton, na pele do advogado de acusação. Outro destaque é a trilha sonora, belíssima, e construída com afinco pelo compositor Thomas Newman. Mais conhecido por comédias como o sucesso Penetras Bons de Bico, David Dobkin tem em O Juiz o seu filme mais maduro da carreira até então.


Os 8 filmes mais decepcionantes de 2014

Assim como foi um ano positivo para o cinema, foi também um ano de grandes decepções. Não falo aqui de filmes que já eram esperados serem de baixa qualidade, mas sim, daqueles que se esperava muito e cujo resultado final ficou muito abaixo das expectativas. Nem todos irão concordar, até porque cada um tem sua própria opinião, mas segue a lista dos 10 filmes mais decepcionantes de 2014.


1. O Homem Duplicado, de Denis Villeneuve

O motivo de eu considerar esse filme a maior decepção de 2014 é o fato de eu ser fã número 1 do escritor José Saramago e ter esperado ansioso pela adaptação de mais uma obra sua. O filme, no entanto, começa e termina sem fazer sentido algum (ou talvez apenas na cabeça do diretor), e mesmo a boa atuação de Jake Gyllenhaal não consegue salvar o filme.

2. Caçadores de Obras-Primas, de George Clooney

Depois do excelente Tudo pelo Poder, George Clooney voltou a dirigir um filme, mas dessa vez errou feio a mão. Com o elenco que tinha, Caçadores de Obras-Primas tinha tudo para ser um dos grandes filmes do ano. Pois bem, tinha. Mal feito e com péssimas atuações, inclusive de George Clooney e Matt Damon, o filme não engrena, e quando terminou eu só queria meu tempo de volta.

3. Inside Llewyn Davis, de Ethan e Joel Coen

Sou fã do trabalho dos irmãos Coen, mas dessa vez tenho que admitir que eles erraram feio a mão. Inside Llewyn Davis é 1h e 45min de puro tédio, com um homem e seu violão andando pelas ruas escuras de Nova York. As atuações são ridículas, e a única coisa que salva é a trilha sonora (e olhe lá).


4. Até o Fim, de J. C. Chandor

Tem que ter coragem e competência para fazer um filme que passa 1h40min no meio do mar, num silêncio quase absoluto, ter algum sucesso. E é essa competência que faltou para que Até o Fim conseguisse o efeito que pretendia. O filme de J. C. Chandor acaba sendo o maior sonífero do ano nos cinemas.

5. O Doador de Memórias, de Phillip Noyce

Adaptação do livro homônimo, O Doador de Memórias se perde completamente em um enredo confuso e com um ritmo extremamente entediante. Nem as participações da atriz Meryl Streep e do ator Jeff Bridges, que reaparece nas telas com uma voz cada vez mais irritante, conseguem salvar o filme do fracasso.

6. Transcendence: A Revolução, de Wally Pfister

Nos últimos anos, Johnny Depp tem derrapado feio nas escolhas de filmes, e dá para dizer que quase nada se salva. Nesse ano não foi diferente, e Transcendence: A Revolução é mais um filme que não precisava ter saído do papel, abordando a questão da inteligência artificial de forma imprecisa e sem conteúdo.

7. O Teorema Zero, de Terry Gilliam

A boa atuação de Christoph Waltz não foi suficiente pra salvar O Teorema Zero do fracasso. Tem que ter saco e paciência para gostar do estilo de direção do americano Terry Gilliam, e eu me convenço cada dia mais que isso me falta. Ele viaja demais e explica de menos, e os seus filmes parecem cada vez menos fazer sentido.


8. Sin City: A Dama Fatal, de Robert Rodríguez

Algumas continuações não precisavam sair do papel, e Sin City: A Dama Fatal está aí para comprovar isso. O filme repete a mesma fórmula que deu certo em Sin City: A Cidade do Pecado, lançado em 2005, mas deixa muitos furos e é absurdamente inferior ao primeiro. O enredo parece não levar a lugar algum, e mesmo a participação de Eva Green não foi suficiente para o filme agradar.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Os 25 melhores filmes lançados no Brasil em 2014

Mais um ano vai chegando ao fim, e como de costume, começam a surgir as famosas listas de melhores filmes do ano nos grandes veículos de comunicação. Eu não poderia ficar de fora dessa, e com muita dificuldade consegui montar uma lista com aqueles que para mim são os 25 melhores filmes lançados no Brasil este ano. Foi difícil pois esse foi um ano super produtivo, onde tivemos excelentes obras, tanto para o cinema de fora como para o cinema nacional. Sem mais delongas, vamos à lista:

25º Entre Nós, de Paulo Morelli

Um dos melhores filmes nacionais do ano, Entre Nós traz uma boa discussão à cerca do tempo, quando um grupo de amigos se reúne 10 anos depois no mesmo lugar onde viveram um fim de semana inesquecível. Qual o poder que o tempo tem de mudar as pessoas? O que fazer quando se chega a uma certa idade e, ao olhar para trás, você percebe que não fez nada daquilo que gostaria? São perguntas como essa que, de forma simples, nos fazem pensar em muitas coisas, e esse é o ponto positivo do longa.

24º Alabama Monroe, de Felix Van Groeningen

Representante da Bélgica no último Óscar, o filme chegou a ficar entre os cinco finalistas ao prêmio. O filme toca em um ponto complicado, abordando a relação de um casal e a reação diferente de cada um deles após descobrirem que sua filha pequena está gravemente doente. A doença da criança desestrutura uma família que já não possuía uma base sólida, e o filme chama a atenção pela veracidade das atuações e pela trilha sonora marcante.

23º Uma Vida Comum, de Uberto Pasolini

Com uma pitada de humor negro, Uma Vida Comum mostra a vida de um homem cujo trabalho é bastante ingrato: encontrar familiares de pessoas que morreram sozinhas para poder dar um enterro digno a elas. Apesar de tudo, John May (Eddie Marsan) ama o que faz, talvez por criar uma identificação com seus "clientes" por também ser um homem solitário. O filme é bastante introspectivo, e tem um dos finais mais originais e brilhantes dos últimos anos.

22º Fruitvalle Station - A Última Parada, de Ryan Coogler

Do diretor estreante Ryan Coogler, Fruitvalle Station é baseado na história real de Oscar Grant, um rapaz negro que foi alvejado pela polícia na noite de ano novo, em uma estação de trem de São Francisco. Sem apelar para o dramalhão, o filme mostra com maestria a vida de Oscar, um rapaz trabalhador que tinha planos para o futuro e que foi injustamente confundido com bandidos pela opressora polícia local. O caso até hoje rende discussões no país, onde militantes pedem acusações mais brandas aos responsáveis.

21º Viva a Liberdade!, de Roberto Andò

Crítica ferrenha ao mundo da política, o italiano Viva a Liberdade! mostra os bastidores da corrida presidencial na Itália depois que um dos candidatos resolve sumir do mapa. Para não colocar a candidatura em risco o irmão gêmeo dele assume seu lugar, e com uma personalidade completamente diferente vai conquistando o povo pela sinceridade e pelo bom humor. O filme tem um humor inteligentíssimo e chama a atenção pela atuação de Toni Servillo, que faz dois personagens diferentes um do outro de forma impecável.

20º Hoje eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro

Escolhido pelo Brasil para representar o país no próximo Óscar de melhor filme estrangeiro, Hoje eu Quero Voltar Sozinho é uma obra simples e singela, que aborda diversos assuntos como o medo do futuro na juventude e a dúvida a respeito da própria sexualidade. Daniel Ribeiro conseguiu transformar a história do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho em um longa de excelente qualidade, e merece estar na lista de melhores do ano.

1 O Grande Herói, de Peter Berg

O filme acompanha a história real do oficial da marinha norte-americana Marcus Luttrell, interpretado por Mark Wahlberg, que foi enviado ao Afeganistão na busca de um dos homens fortes do grupo de Osama Bin Laden. A missão acaba dando errado e eles são cercados por mais de 200 homens fortemente armados, onde começa uma luta pela sobrevivência em meio ao caos.

18º Magia ao Luar, de Woody Allen

Com Colin Firth e Emma Stone, o novo filme de Woody Allen brinca literalmente com a magia. No filme, Stanley (Firth) é um experiente mágico com talento para descobrir charlatões, que é contratado para desmascarar uma moça que chegou na cidade se dizendo clarividente. Apesar do mote simples, Magia ao Luar é um dos filmes mais críticos de Woody Allen, principalmente contra o apego que as pessoas fazem ao sobrenatural quando estão em momentos de crise.

17º O Passado, de Asghar Farhadi

O iraniano Asghar Farhadi recebeu o Óscar de melhor filme estrangeiro em 2012 por A Separação, e em 2013 voltou em grande estilo com O Passado, novamente indicado ao prêmio máximo do cinema. O filme, que estreou no Brasil em maio desse ano, mostra a ruína que surge em uma família após a separação do casal. O enredo é o que mais chama a atenção no longa, sendo muito bem construído em cada detalhe. As atuações também chamam a atenção, principalmente de Bérénice Bejo e Tahar Rahim.

1 Viver é Fácil com os Olhos Fechados, de David Trueba

Leve e engraçado, o espanhol Viver é Fácil com os Olhos Fechados tem seu nome tirado da música Strawberry Fields Forever, escrita pelo beatle John Lennon. E isso não é por acaso. O personagem principal tem como ídolo inspirador o cantor britânico, e passa o filme inteiro sonhando em conhecê-lo pessoalmente, principalmente quando o mesmo está pela região gravando um filme. Enquanto vai ao encontro do ídolo, ele conhece pelo caminho dois jovens de vida conturbada, e o encontro dos três muda a vida de cada um. Infelizmente o filme também não teve estreia comercial por aqui, mas não é difícil encontrar para baixar.


15º Dois Dias, Uma Noite, de Jean-Pierre Dardenne

Depois de perder definitivamente o emprego, Sandra (Marion Cottillard) descobre que os antigos colegas tinham duas opções: optar pela volta dela à empresa ou por um bônus para cada um. Obviamente, todos escolherem a segunda opção, e Sandra tem dois dias para correr atrás de cada um deles para convencê-los a repensar suas decisões. Candidato da Bélgica no próximo Óscar, o filme traz Cottillard mais uma vez impecável, mostrando porque ela já se tornou uma das atrizes mais respeitáveis da década.

1 Flores Raras, de Bruno Barreto

Parceria do cinema brasileiro com o cinema americano, Flores Raras mostra a relação de amor que existiu entre a poetisa americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Moraes. Passado entre os anos 50 e 60, o filme acompanha o romance durante duas décadas, mesclando a trajetória delas com fatos importantes da história do nosso país. O filme teve dificuldades para conseguir patrocínio no Brasil pelo fato da história abordar um relacionamento gay, mas apesar das dificuldades, conseguiu ser finalizado e lançado, para sorte nossa.

13º O Médico, de Phillip Stozl



Baseado no best-seller homônimo do escritor norte-americano Noah Gordon, O Médico (The Physician) conta brilhantemente a história de Rob Cole (Tom Payne), um jovem corajoso e determinado que atravessou o mundo e enfrentou enormes barreiras para aprender a arte de salvar vidas através da medicina, numa época onde essa prática era proibida pelo fundamentalismo religioso. Para adquirir conhecimento, Rob viajou milhares de quilômetros, tendo que enfrentar obstáculos perigosos em meio ao deserto. O roteiro é muito bem construído, e tem como mérito o retrato relevante que faz sobre o eterno conflito entre ciência e religião, que freou o avanço tecnológico na Idade Média, principalmente no ramo da medicina, onde qualquer tipo de cura era tratada como magia negra e levava muitos à morte pela inquisição.

12º Glória, de Sebastián Lelio

Premiado em festivais da América Latina e da Europa, e representante do Chile no Óscar 2014 de melhor filme estrangeiro, Glória traz um retrato da vida madura, acompanhando a vida da personagem que dá nome ao filme, interpretada por Paulina García. Viúva e com 58 anos, Glória se considera uma pessoa feliz, mesmo com seus altos e baixos, e passa os dias frequentando festas e bailes da terceira idade. É numa dessas festas que ela conhece Rodolfo, um homem que no princípio parece ser tudo que ela esperava, mas que com o tempo começa a mostrar seu lado mais obscuro.


11º O Lobo Atrás da Porta, de Fernando Coimbra

O Lobo Atrás da Porta é para mim o melhor filme nacional de 2014, e representou o país no Festival de Toronto no Canadá. Cheio de reviravoltas, o longa começa a partir do desaparecimento de uma criança. Os pais, desesperados, procuram a polícia para tentar recuperar a filha pequena, que teria sido raptada na creche. Interrogados separadamente, eles começam a confessar segredos para o inspetor, que vai juntando os pontos e descobrindo aos poucos a grande verdade por trás de tudo.

10º Metro Manila, de Sean Ellis

Candidato do Reino Unido no último Óscar de melhor filme estrangeiro, Metro Manila é um filme chocante sobre a triste realidade da população pobre das Filipinas. Ganhando a vida como produtor rural, o personagem principal resolve migrar junto de sua família para a cidade grande, onde um estilo completamente novo de vida os espera. Após passar por dificuldades, ele fica feliz por conseguir um emprego honesto, mas logo vai descobrindo que terá que pagar um alto preço para continuar nele.

7 Caixas, de Juan Carlos Maneglia

Sucesso fenomenal no Paraguai, sendo o filme nacional mais visto da história por lá, 7 Caixas possui um enredo arrebatador. Com um elenco de atores amadores, que nunca haviam trabalhado frente às câmeras, ele acompanha a saga do garoto Victor (Celso Franco), que trabalha no maior mercado popular da capital Assunção carregando compras para os consumidores. A vida do garoto muda completamente quando ele recebe uma proposta estranha para carregar 7 caixas, cujo conteúdo é um mistério.

A Jaula de Ouro, de Diego Quemada-Díez

A Jaula de Ouro não foi lançado comercialmente no Brasil, sendo apresentado apenas em festivais isolados pelo país. Uma pena, pois é um filme que todos deveriam ter acesso. A história mostra um grupo de jovens da Guatemala que tentam atravessar a América Central para chegar ao México, e logo depois atravessar para os Estados Unidos para tentar uma vida melhor. No caminho, além das dificuldades naturais, eles tem que enfrentar a truculência de narcotraficantes, que ganham dinheiro atravessando imigrantes pela fronteira. Duro e visceral, o filme foi bastante elogiado em diversos festivais internacionais, inclusive em Cannes.

Uma Longa Viagem, de Jonathan Teplitzky

Estrelado por Colin Firth e Nicole Kidman, Uma Longa Viagem é um dos grandes filmes norte-americanos do ano, mas infelizmente teve muito pouca repercussão por aqui. A trama narra a história real de Eric Lomax (Firth), um oficial britânico que foi capturado pelas tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial e obrigado a trabalhar como escravo para eles na construção de uma ferrovia. Anos depois ele retorna ao local para rever o carrasco que o torturou, e o encontro marca a vida dos dois dali para a frente.

Mil Vezes Boa Noite, de Erik Poppe

A profissão de fotógrafo de guerra não é para qualquer um. Há que se ter coragem e acima de tudo estômago forte para ver atrocidades acontecerem na sua frente sem querer desistir da humanidade a cada nova aventura. Mil Vezes Boa Noite acompanha a vida de Rebecca (Juliette Binoche), uma experiente fotógrafa que decidiu levar a vida cobrindo guerras em países esquecidos pelo resto da humanidade, e que tem que dividir seu tempo entre o trabalho e a família, que na maior parte do tempo está distante.

O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese

Lançado no Brasil em janeiro, O Lobo de Wall Street é um dos filmes mais "porra-loca" da última década. O diretor Martin Scorsese voltou às telas em grande estilo com um filme completamente amoral e sarcástico, características que tanto marcaram sua carreira até então. O longa mostra a trajetória de Jordan Belfort, interpretado por Leonardo DiCaprio, um corretor da bolsa de valores americana que conseguiu fama e riqueza usando de artimanhas maquiavélicas, mas que acabou perdendo tudo pela ganância e pela própria auto-destruição devido os excessos principalmente de drogas.

4º Clube de Compras Dallas, de Jean-Marc Vallée

O filme do canadense Jean-Marc Vallée foi sensação na última edição do Óscar, sobretudo pelas atuações de Matthew McConaughey e Jared Leto, que receberam os merecidos prêmios de melhor ator e melhor ator coadjuvante respectivamente. A história mostra a vida de Ron Woodroof (McConaughey), um texano que é diagnosticado com AIDS nos anos 80, época em que a doença estava no auge. Revoltado pelo tratamento dado pela medicina americana, ele começa a contrabandear remédios alternativos direto do México, criando uma clientela fiel e ajudando muitos outros que estão na mesma situação.
3º Relatos Selvagens, de Damián Szifron

Não é de hoje que eu digo que o cinema argentino está entre os melhores do mundo, junto com o italiano e o francês. A última década então foi o ápice, onde excelentes obras foram lançadas, muitas delas com o ator Ricardo Darín. Pois ele está de volta nessa comédia de humor negro dirigida por Damián Szifron, que visa mostrar seis histórias distintas, sem ligação entre elas, sobre as atitudes dos seres humanos perante situações desesperadoras. Cada uma das histórias é construída com primor, e o sucesso rendeu ao filme a indicação para representar a Argentina no Óscar 2015.

Mommy, de Xavier Dolan

Arrebatador. Essa é o primeiro adjetivo que me vem a cabeça para descrever esse filme do canadense Xavier Dolan. Mostrando a relação entre uma mãe (Anne Dorval) e seu filho problemático (Antoine-Olivier Pilon), esse é sem dúvida o melhor trabalho da curta (e já invejável) carreira do diretor. Premiado pelo júri popular em Cannes, Mommy é um filme extremamente reflexivo, e mexeu tanto comigo que eu nem percebi quando os créditos terminaram, tamanha imersão na estória assistida.


1º Boyhood - Da Infância à Juventude, de Richard Linklater

Nove entre dez críticos indicam Boyhood - Da Infância à Juventude como o grande filme do ano. Até o presidente Barack Obama se pronunciou a respeito, dizendo ser o melhor filme que ele viu em 2014, e de fato o longa é uma obra-prima do diretor Richard Linklater. A trama acompanha a vida de Mason (Ellar Coltrane) e sua família por 12 anos, dos seus 6 anos aos 18. O que impressiona e faz de Boyhood um filme diferenciado é que ele levou exatamente 12 anos para ficar pronto, e acompanha a passagem do tempo de forma real, com os atores envelhecendo junto com a história. Linklater já havia feito algo parecido na trilogia "Before", e prova mais uma vez que sabe brincar com o tempo na tela como ninguém. Ao final só restam as palmas e a certeza de que vimos algo histórico.

Crítica: A Entrevista (2014)


Não sou o que se pode chamar de admirador de comédias, e por isso assisto pouquíssimos filmes do gênero, sempre com desconfiança. A Entrevista (The Interview) me despertou curiosidade após toda polêmica envolvendo seu nome (confesse que você também só assistiu por isso), e resolvi abrir uma exceção e conferir se a polêmica fazia sentido mesmo ou não.


Dave Skylark (James Franco) é apresentador de um importante programa de entrevistas da televisão americana, cuja popularidade é bastante grande. O que ele não esperava era que o líder norte-coreano Kim Jong-Un fizesse parte de sua vasta legião de espectadores, e mais ainda, que ele seria convidado pelo próprio para uma entrevista em seu país.

Junto com seu produtor Aaron (Seth Rogen), Dave fica animado com a viagem, mas antes mesmo de partir eles recebem a visita de agentes da CIA, interessados em usar eles como isca para levar o ditador à morte. Os dois partem rumo a Coréia do Norte com o plano pronto, mas após conhecer melhor Kim Jong-Un, Dave desisti da ideia e quase põe tudo a perder.


O filme não poupa na hora de satirizar o ditador norte-coreano. Espectador de The Big Bang Theory e fã de Katy Perry, Kim Jong-Un é mostrado como um homem sensível mas que é obrigado a se mostrar durão para que possa continuar liderando o país com pulso firme e respeito da população, que o vê como um Deus na Terra. Um verdadeiro ditador mimado, que sofre por não poder revelar ao mundo seus gostos pessoais.

A crítica a Kim Jong-Un fica ainda mais ferrenha quando um dos personagens o coloca como o "novo Hitler", ou o verdadeiro anti-cristo do século XI. Ainda de acordo com  a visão do filme, a população da Coréia do Norte passa fome e muitos inimigos do regime vivem isolados em campos de concentração. Verdade ou não, o fato é que isso só serviu pra estragar ainda mais a imagem que o mundo tem daquele país.


Fora as polêmicas envolvendo a história, o filme é bastante mediano. Piadas infantis envolvendo maconha e sexo aparecem durante todo o filme, o que deixa o resultado final bastante bobo. Mas não dá para negar que é um filme corajoso, sobretudo pela pessoa com quem eles resolveram mexer.

Crítica: O Abutre (2014)


Louis Bloom (Jake Gylhenhaal) está desesperado em busca de um emprego, e sem dinheiro,  começa a ter que vender as próprias coisas para poder se sustentar. Ao se deparar com um acidente na estrada, ele conhece a vida de jornalistas que são especializados na cobertura, em primeira mão, de crimes e acidentes, chegando muitas vezes na frente da própria polícia.



Pela rapidez em chegar nos locais, esses jornalistas muitas vezes coletam imagens exclusivas, que rendem bom dinheiro em acordos com as grandes redes de televisão, e isso atiça o interesse de Louis. Com uma câmera digital e um rádio de polícia nas mãos, ele resolve entrar para o ramo, mas no começo a dificuldade é imensa. Além da resistência policial em ter alguém os filmando em ação, Louis tem que lidar com os equipamentos inferiores aos outros e com a própria falta de habilidade para a coisa. 

Aos poucos, porém, ele vai aprendendo e ganhando trabalhos. Trabalhando por conta própria, mas contando com o apoio de uma funcionária de uma rede de televisão, Louis vai mais longe do que qualquer um iria, se arriscando de forma perigosa. Quando um triplo homicídio está prestes a ocorrer em um bairro nobre de Los Angeles, ele vai atrás para coletar imagens e acaba gravando toda a ação, o que põe em risco sua própria vida.



O filme mostra criticamente a indústria de notícias, que molda as histórias da forma como eles querem, fazendo colagens e mentindo na cara da população. Em busca de audiência, os "abutres" ficam ao redor da barbárie, espreitando pelo primeiro sinal de violência urbana para ganhar alguma coisa em cima disso.

O filme não seria o mesmo sem a atuação de Jake Gylhenhaal. A cada novo filme o ator vai mostrando um amadurecimento impressionante, e a prova disso é que ele tem tudo para concorrer aos principais prêmios desse ano. O roteiro é bem construído, e segura o espectador até o final.



Por fim, O Abutre é um dos filmes mais corajosos e interessantes do ano, e para um diretor estreante, está de bom tamanho. O limite ético do jornalismo é muito bem abordado, sob uma nova e original perspectiva, e é isso que faz dele um longa diferenciado.