sexta-feira, 29 de maio de 2020

Dez ótimos filmes do século XXI com fotografia em preto e branco

Apesar do cinema ter conhecido as cores lá na década de 1930, ainda hoje, em pleno século 21, alguns diretores gostam de optar pelo uso da fotografia preto e branca em seus filmes, como um argumento estético que ajuda a dar um clima para o filme que talvez não funcionasse com o uso de uma paleta colorida. Eu acho lindo o uso desta técnica, mas é importante que não seja algo exagerado ou sem propósito, pois pode parecer pedante e jogar tudo a perder. Abaixo fiz uma lista com dez ótimos exemplos de filmes que usaram esse recurso e deu muito certo.

1. O Pássaro Pintado, de Václav Marhoul (2019)

A trama acompanha um menino judeu que foi deixado aos cuidados da avó durante a Segunda Guerra Mundial, em um vilarejo hostil, isolado e no meio do nada. Após sua vó falecer, ele começa a perambular pelas florestas e vilas da região, encontrando todo o tipo de pessoas e situações e sofrendo com a brutalidade do ser humano. É um filme pesadíssimo, mas com uma das fotografias mais fascinantes que eu já vi na vida.

2. Frantz, de François Ozon (2016)

Numa cidade alemã, logo após o término da Primeira Guerra Mundial, vive Anna (Paula Beer), uma mulher forte que visita todos os dias o túmulo do seu noivo, Frantz, morto em um combate na França. Certo dia ela percebe um homem misterioso, que ela jamais havia visto na cidade, deixando flores na lápide do ex-marido. Curiosa, ela descobre se tratar de Adrian (Pierre Niney), um francês que foi amigo de Frantz em Paris antes da guerra começar. Pouco a pouco Adrien vai ganhando a confiança da família de Frantz, contando histórias da amizade entre os dois, mas um segredo promete pôr tudo a perder. É um roteiro caprichado, com diálogos muito intensos e poéticos sobre a vida e a guerra.

3. Branca de Neve, de Pablo Berger (2012)

Com várias referências e bebendo da mesma essência do famoso conto de fadas, Branca de Neve traz uma nova roupagem ao clássico escrito pelos irmãos Grimm ao acompanhar Carmencita, uma menina que sofre nas mãos da madrasta, sendo obrigada a trabalhos forçados e a dormir em um porão. Após um acidente, ela é encontrada por um grupo de anões toureiros (sete, como no conto original), e sem lembrar de nada do passado, ela decide sair pelas estradas acompanhando o grupo e suas aventuras. Além da fotografia em P&B, o filme também é mudo, o que faz a imersão nessa linguagem antiga ser ainda maior.

4. Gueros, de Alonso Ruizpalacios (2014)

Gueros acompanha um garoto que vai morar com o irmão mais velho após ser rejeitado pelos pais. O irmão, um universitário em greve, se junta a ele na busca por um ídolo da infância, em meio ao clima de revolta estudantil que pedia, dentre outras coisas, o fim das privatizações do ensino público. É um filme que levanta muitas questões e reflexões sobre a vida, a educação dos jovens e a sociedade em si.

5. Nebraska, de Alexander Payne (2013)

Após receber um panfleto de propaganda na caixa de correios, Woody (Bruce Dern) acredita ter ganhado uma bolada de 1 milhão de dólares. Apesar de todos o alertarem, ele teima em ir até a cidade de Lincoln, no estado de Nebraska, para receber a quantia, nem que para isso tenha que ir a pé. Por isso, ele sai a caminhar pela estrada sem avisar ninguém. Após quatro tentativas frustradas, o filho (Will Forte) decide ajudá-lo e leva ele no seu carro. A perspectiva do dinheiro faz muita gente se aproximar de novo de Woody, com intuito de "tirar uma casquinha", e essa é uma das partes mais interessantes do filme. A outra é a relação pai e filho, que se intensifica quando o homem começa a descobrir coisas do passado do pai que ele nem imagina durante a viagem.

6. The Great Buddha +, de Huang Hsin-yao (2017)

O filme acompanha Picles (Cres Chuang), um homem que trabalha como vigia de uma fábrica de estátuas de bronze, onde estão construindo um grande Buda. De noite, quando tudo está vazio, ele chama um amigo, que também trabalha na fábrica, para juntos jogar conversa fora, ver revistas pornôs e assistir as câmeras de segurança que o dono da fábrica instalou no seu próprio carro como medida de segurança. Nessa brincadeira, eles testemunham algo pelo qual eles não estavam preparados para ver. O enredo tem diálogos bastante poéticos, e o que mais chama a atenção é o uso esporádico de cores, em objetos específicos, que são usados para salientar alguma ideia.

7. Na Ventania, de Martti Helde (2014)

No princípio da década de 40, em meio à Segunda Guerra Mundial, mais de 40 mil pessoas foram deportadas ds Estônia, da Letônia e da Lituânia em direção à Sibéria durante o regime Stalinista. Com uma narrativa diferenciada e um enredo muito sensível, o diretor estreante Martti Helde nos conta um pouco dessa história sob a narrativa de Erna, uma mulher que foi obrigada a ir para campos de trabalhos forçados junto com os filhos. Através de cartas, ela se corresponde com o marido, que está preso em outro local, também comandado pelos soviéticos.


8. O Homem Que Não Estava Lá, de Ethan Coen e Joel Coen (2001)

Este filme é, acima de tudo, uma belíssima homenagem dos irmãos Coen ao cinema noir clássico do início do século 20. Isso vai desde os cartazes da produção, feitos à moda antiga, até o seu enredo e a sua fotografia em P&B. A trama se passa nos anos 1940 e acompanha um barbeiro que descobre que sua esposa estava o traindo e decide se vingar dela para lhe dar uma lição. O plano, no entanto, sai todo errado, gerando uma série de consequências terríveis na vida dele.

9. O Ano de 1985, de Yen Tan (2018)

O filme acompanha um jovem que está morando longe dos pais há três anos e está retornando à casa da família para uma ceia de Natal. Seria algo natural, não fosse o fato dele estar escondendo uma tragédia pessoal, além de estar diagnosticado com AIDS, precisando contar isso para uma família religiosa e conservadora que não fazia ideia de sua orientação sexual. O filme foge do convencional e traz uma abordagem extremamente delicada, focando na dor interna e silenciosa do personagem por ter que esconder das pessoas que mais ama aquele que ele verdadeiramente é.


10. Heleno, de José Henrique Fonseca (2011)

O filme narra a história de Heleno de Freitas, jogador que fez sucesso no futebol do Rio de Janeiro nos anos 1940. Ao mesmo tempo em que apresentava um enorme talento em campo, Heleno também sabia como ninguém se meter em confusões fora dele, e o seu comportamento arrogante e egocêntrico acabou terminando com sua carreira antes dele realizar o sonho de jogar uma Copa do Mundo pela seleção. A fotografia desse filme é um primor, e nos transporta diretamente para a época em que ele se passa.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Crítica: O Pássaro Pintado (2020)


Desbravar o mundo através do cinema é um dos grandes prazeres que eu tenho na vida, pois me possibilita garimpar verdadeiras obras de arte pelo caminho, muitas das quais nem chegam ao nosso circuito comercial. O Pássaro Pintado (The Painted Bird), do tcheco Václav Marhoulé mais um ótimo exemplo do que estou falando. Representante da República Tcheca no último Oscar de filme internacional, o filme apresenta uma das fotografias mais impressionantes e bonitas que eu já vi no cinema, ao mesmo tempo em que apresenta uma das narrativas mais perturbadoras.


Baseado em um livro homônimo lançado nos anos 1960, o enredo acompanha um menino judeu que foi deixado aos cuidados da avó durante a Segunda Guerra Mundial, em um vilarejo hostil, isolado e no meio do nada em um país qualquer do leste europeu. Após sua vó falecer, ele começa a perambular pelas florestas e vilas da região, encontrando todo o tipo de pessoas e situações e sofrendo com a brutalidade e selvageria do ser humano.

O roteiro é pesadíssimo, com cenas que, confesso a vocês, me deixaram até mesmo sem ar, e esse é justamente um dos principais motivos do filme ter sido bastante criticado após exibição no festival de Veneza, onde teve a sala esvaziada após uma cena específica de mutilação. Particularmente não achei forçado, pois toda a violência e escatologia me pareceu bastante real e plausível, já que, afinal de contas, estamos falando do ser-humano, e das coisas que ele é capaz.


O nome do filme se dá por uma cena em específico, quando o garoto é incentivado por um homem a pintar de branco as asas de um pássaro preto, que logo depois é solto em meio a uma revoada. O Pássaro é rechaçado pelos demais da sua espécie por estar "diferente", e cai em queda livre, indo a óbito. A cena nada mais é do que uma analogia ao próprio menino, que no meio de tanta maldade, tanta barbárie, tanta desgraça, é um ponto de pureza que destoa, e por isso mesmo acaba nunca sendo aceito em lugar algum.

Aliás, o menino Petr Kotlár está magistral em cena, numa atuação mirim que certamente poderia estar em qualquer aula de atuação daqui para a frente. O elenco ainda contra com participações de nomes famosos em meio a atores tchecos, como o de Harvey Keitel, Stellan Skarsgard e Udo Kier. Mas o que verdadeiramente chama a atenção desde o primeiro segundo da exibição do longa é a fotografia de Vladimír Smutný, que beira a perfeição. Toda em preto e branco, ela encaixa perfeitamente com a história contada, criando uma atmosfera ainda mais melancólica e intensa, e algumas das cenas mais bonitas do cinema nos últimos anos.


Por fim, dilacerante seria a palavra certa para definir este trabalho extraordinário do cinema tcheco. Me vi paralisado acompanhando os créditos até o final, tentando de alguma forma digerir tudo que vi, e ainda levei esse sentimento por alguns dias. A cena final, inclusive, tem uma beleza única, que só coroou tudo que se passou nas suas quase 3 horas de duração. Uma verdadeira obra de arte, no mais puro sentido da expressão.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Crítica: La Belle Époque (2020)


Três anos após o ótimo Monsieur e Madame Adelman, o francês Nicolas Bedos volta aos cinemas com La Belle Époque, que mistura drama com comédia na medida certa para nos fazer refletir sobre o nosso próprio passado.



Victor (Daniel Autail) é um sexagenário que está desiludido com a vida após mais uma briga com a esposa Marianne (Fanny Ardant) e a definitiva separação. Sem emprego e sem perspectiva pro futuro, ele busca refúgio na empresa criada por Antoine (Guillaume Canet), que promete lhe trazer de volta a alguma época do passado. Mas não se engane, não se trata de uma viagem no tempo, pelo menos não de forma literal. A empresa consiste em usar cenários e figurantes para recriar a época que o cliente desejar, seja algo na história do mundo ou alguma memória pessoal. Victor, por sua vez, escolhe voltar a 1974, ano em que conheceu Marianne, numa tentativa de tentar sentir de novo aquele sentimento bom.

É interessante parar para pensar se existisse uma empresa como essa na realidade, e como cada cliente utiliza ela de forma diferente. Alguns querem se sentir dentro de momentos históricos, como um jantar na casa de um rei ou na cúpula do governo nazista, outros já preferem reviver algo da própria memória, como um encontro do passado, seja para relembrar um momento bom ou até mesmo tirar um peso da consciência resolvendo assuntos que ficaram mal resolvidos. Um dos momentos mais marcantes para mim é o personagem que quer reencontrar o pai para falar coisas que ele não conseguiu falar enquanto ele estava vivo.



O enredo nos faz refletir sobre essa nostalgia do passado, sobre arrependimentos e frustrações. Se existisse na vida real, que momento você gostaria de reviver? Algo bom, que te marcou positivamente, ou algo que você se arrepende e gostaria de, pelo menos de forma fictícia, consertar? Acima de todas essas discussões, o filme fala sobretudo a respeito do amor. Como falei anteriormente, Victor está voltando a 1974 para reviver o momento em que conheceu e se apaixonou por Marianne. Fica nítido que ele quer reviver aquilo para sentir novamente o que é estar apaixonado pela única mulher que amou em toda a sua vida, já que o sentimento se desfez com o tempo. Ou será que não se desfez, e estava apenas escondido, precisando de algo para reacender?

Com boas atuações e uma bela trilha sonora, La Belle Époque é um filme envolvente que mexe com as nossas emoções. Cada um de nós carrega dentro de si algo do passado que gostaria de relembrar, por mais que muitas vezes a gente se negue a confessar. A vida passa, o tempo corre, e como não podemos controlar essa dinâmica inexorável da vida, só o que nos resta são as lembranças. Que grande obra!


domingo, 17 de maio de 2020

Crítica: Má Educação (2020)


Lançado mundialmente na plataforma de streaming da HBO, Má Educação (Bad Education) conta a história real de um dos maiores escândalos de desvio de dinheiro da história recente norte americana, onde mais de 11 milhões de dólares foram desviados do fundo escolar.



Frank Tassone (Hugh Jackman) é o superintendente de escolas de Nova Iorque, e trabalha rotineiramente como administrador em uma delas, a famosa Roslyn High School. Tassone tem uma forte ambição de ser sempre o melhor, e a instituição é reconhecida pelo seu alto nível, de onde os alunos costumam sair direto para grandes faculdades. Por conta disso, ele conta com todo o prestígio da sociedade, sendo visto por alunos e pais como um homem íntegro e respeitável. 

Quando uma jovem do jornal estudantil começa a pesquisar mais a fundo os orçamentos da escola para uma matéria sobre a construção de uma passarela, ela começa a descobrir uma série de fraudes na contabilidade que logo estouram em um escândalo de escala nacional. Na história real, a descoberta dos desvios foi feita de forma anônima, e nunca foi descoberto o verdadeiro responsável. Aqui, por uma questão narrativa, Rachel (Geraldine Viswanathan) ganha essa responsabilidade.



As fraudes envolvem primeiramente o nome de Pam Gluckin (Allison Janney), a assistente do diretor, que empresta o cartão corporativo da instituição para familiares e amigos usarem para uso pessoal. Tassone descobre e faz um teatro a respeito de sua demissão, tentando tirar o seu da reta e manter a imagem de homem honesto. No entanto, não demora para que as investigações também cheguem ao seu nome, revelando muito mais do que qualquer um poderia imaginar.

O roteiro é muito bem estruturado, e mesmo possuindo alguns elementos clássicos de filmes do gênero ele não segue estritamente uma cartilha, tendo como mérito a sua própria originalidade. Hugh Jackman está muito bem num dos papéis mais interessantes da sua carreira até então, assim como Allison Janney. Ficaria feliz de vê-los indicados no próximo Óscar, ainda que eu ache difícil pelas regras da Academia.


sexta-feira, 15 de maio de 2020

Crítica: The Assistant (2020)


Nos últimos anos, dezenas de casos de abusos e assédios no ambiente de trabalho vieram à tona, culminando no movimento denominado Me Too. A indústria do entretenimento foi uma das que mais teve casos denunciados, entre eles o do famoso produtor Harvey Weinstein, preso no começo deste ano. O filme de Kithy Green não cita, diretamente, nenhum nome, mas versa sobre o assunto apresentando um produtor de cinema e sua assistente.


A trama acompanha uma jovem chamada Jane (Julia Garner), que trabalha como secretária no escritório de um conhecido produtor de filmes e séries. Seu sonho é crescer na carreira e também se tornar uma produtora de sucesso, mas aos poucos ela vai percebendo que isso é muito mais difícil do que ela imaginava por ainda se tratar de um ambiente majoritariamente masculino e machista.

A premissa era bem simples, mostrar justamente como Jane lida com esse machismo diariamente no trabalho, porém a narrativa deixa muito a desejar desde os primeiros minutos, com um ritmo exageradamente lento e sem nenhum atrativo. Para se ter uma ideia, durante os primeiros 30 minutos de exibição nós apenas acompanhamos a rotina de Jane com coisas triviais, como servir um café, fazer cópias na impressora ou atender ao telefone. Chega um momento que você pensa "ok, mas quando o objetivo de tudo isso?" e a resposta parece não vir nunca, nem após o final.



Compreendo, sim, que a ideia da direção talvez tenha sido mostrar justamente um ambiente onde tudo acontece e ao mesmo tempo nada acontece. Jane vê o abuso ocorrendo bem na sua cara, não somente com ela mas com sua nova colega, e tenta falar com alguém que possa ajudá-la. Em contrapartida, a única coisa que ouve é que, se seguir em frente com as denúncias, terá a carreira finalizada antes mesmo de começar, o que explica o porque de, muitas vezes, as vítimas ficarem em silêncio por tantos anos.

A diretora opta por apresentar aqui um "vilão", que seria aqui o chefe de Jane, mas sem que ele sequer apareça, como se fosse algo abstrato. Conhecemos ele apenas pela sua voz, e para mim esse exercício narrativo não funcionou. A protagonista se sai bem no papel, apesar de não ter muito a que mostrar pois o roteiro não lhe dá esta oportunidade.



O assédio no ambiente de trabalho infelizmente ainda é uma realidade dura de se combater, não somente no mundo do entretenimento mas também em empresas de outros diversos seguimentos, e é importante que o tema seja cada vez mais debatido para que alcance mais e mais pessoas. Por isso, é uma pena ver que mais uma vez um assunto tão importante e cheio de potencial tenha sido desperdiçado em um filme tão vazio, como já havia acontecido também este ano com O Escândalo.


sábado, 2 de maio de 2020

10 filmes da Amazon Prime para você conhecer nesta quarentena

Depois de fazer uma lista com dez filmes que você deve conhecer na Netflix, que vocês podem conferir aqui, chegou a hora de fazer do streaming da Amazon. Confesso que foi mais difícil fazer essa lista, porque o Prime Vídeo, neste momento atual, possui um número mais expressivo de filmes bons do que a concorrente, o que me obrigou a deixar alguns  bem interessantes de fora. Enfim, vamos à lista:


1. Amores Brutos, de Alejandro González Iñárritu

Primeiro longa da carreira do consagrado diretor mexicano, Amores Brutos é o início de uma trilogia que ainda teve 21 Gramas e Babel. Todos tem o mesmo formato narrativo: três ou mais histórias distintas que em algum ponto da trama se encontram e se complementam. É um filme que mostra a realidade de forma crua, e contém cenas bem pesadas que podem gerar desconforto.

2. Flores do Oriente, de Zhang Yimou

O filme se passa nos anos 1930, durante uma invasão do exército japonês à capital da China, que resultou em um massacre de civis. Nesse clima hostil, um coveiro americano, um grupo de estudantes e um grupo de prostitutas acabam se escondendo juntos em um mosteiro, onde aprendem a conviver e confiar um no outro até que um ato heroico é necessário para que alguns sobrevivam. É um filme que não economiza no horror, justamente com a intenção de mostrar como é terrível uma guerra, seja ela qual for.

3. A Jaula de Ouro, de Diego Quemada-Diez

O filme da Guatemala acompanha dois jovens do país que estão tentando cruzar as fronteiras e chegar aos Estados Unidos. O enredo tem um clima quase documental, e mostra não somente a luta dos dois, mas também tudo que envolve e está por trás dessas travessias. As gangues que saqueiam e enganam as pessoas, o comércio que depende deste tipo de "negócio", o tráfico de mulheres, a violência, e muitos outros horrores dessa realidade cruel e desumana.

4. A Vida em Si, de Dan Fogelman

Depois de três filmes pesados, vamos falar de um mais leve (pelo menos até certo ponto). A Vida em Si acompanha a vida de várias pessoas em lugares diferentes do mundo, com seus desenlaces amorosos e suas pequenas e grandes tragédias cotidianas, mostrando como de alguma forma todos nós estamos interligados.

5. Flores Raras, de Bruno Barreto

Ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1950, o filme conta a história do relacionamento entre a poeta americana Elizabeth Bishop e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares. Extremamente belo, mas ao mesmo tempo conturbado, essa relação rendeu frutos artísticos para as duas. O enredo ainda faz um passeio pela política brasileira da época.


6. Suprema, de Mimi Leder

O filme conta a história real de Ruth Bader Ginsburg, que fez história nos anos 1960 ao se tornar uma das primeiras mulheres a ingressar na Suprema Corte dos Estados Unidos, um ambiente majoritariamente masculino. O enredo faz um retrato da sociedade machista da época, mostrando todos os obstáculos que ela enfrentou para chegar onde chegou apenas pelo fato de ser mulher. Mais do que uma homenagem a esta grande mulher, é um filme necessário para se compreender um pouco mais sobre o feminismo e a luta por direitos iguais.


7. Hotel Ruanda, de Terry George

Um dos filmes mais marcantes que já vi na vida, e também um dos mais pesados. O enredo mostra o horror que tomou conta das ruas de Ruanda em 1994, quando um conflito entre Hutus e Tutsis resultou na morte de quase 1 milhão de inocentes, num dos maiores genocídios da história. Neste cenário, Paul Rusesabagina, que trabalhava como gerente de um hotel na capital do país, virou herói ao abrigar e salvar a vida de mais de 1.200 pessoas.


8. O Que as Pessoas Vão Dizer, de Iram Haq

O filme norueguês trouxe de volta à tona o tema da liberdade individual que acaba sendo sufocada por dogmas religiosos conservadores. Ele acompanha Nisha, uma jovem que vive no seio de uma família muçulmana na capital da Noruega e que, apesar da pressão da família para seguir as tradições, tenta levar uma vida normal como qualquer outra pessoa que ela conhece da sua idade. Essa ousadia, no entanto, tem um custo, que acaba se tornando bem caro.

9. Em Nome de Deus, de Peter Mullan

O filme se passa na Irlanda dos anos 1960 e acompanha quatro mulheres que são mandadas a um convento pelas suas famílias para "pagarem por seus pecados". A primeira foi estuprada por um primo, a segunda foi considerada perigosa pela vizinhança por ser muito bonita e atiçar os desejos dos homens, e as outras duas se tornaram mães solteiras. Esses foram os "pecados" cometidos por elas, que numa sociedade extremamente conservadora levou elas a ficarem presas nesse local, com trabalhos forçados e castigos diários.


10. Libertador, de Alberto Arvelo


Libertador conta a trajetória de Simon Bolívar, um homem de importância imensurável na história da América Latina. Pode ser considerado um marco no cinema da Venezuela, tendo representado o país no Oscar de 2015 e chegando a ficar inclusive entre os semifinalistas.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

10 filmes do catálogo da Netflix para você conhecer nesta quarentena

Muita gente está em casa neste período por conta da pandemia do novo Corona Vírus, e buscando soluções para driblar o tédio. A situação é delicada, estamos todos muito assustados e sem saber quando isso vai terminar, e por isso é importante que consigamos distrair a cabeça e, pelo menos por algumas horas, esquecer um pouco o mundo lá fora. E nada melhor do que o cinema para isso, não é mesmo? Como o serviço de streaming "Netflix" hoje é o grande agregador de conteúdo, fiz uma lista com dez filmes que estão na plataforma e que você precisa conhecer. Vamos lá:

1. Uma Noite de 12 Anos, de Álvaro Brechner

Filme uruguaio lançado em 2019, ao qual tive prazer de ver na tela grande do cinema e sair extasiado depois de uma salva de palmas calorosa do público. O longa conta uma parte da vida de José "Pepe" Mujica, que virou presidente do Uruguai em 2010, focando nos doze anos em que ficou preso durante a ditadura militar no país.

2. A Ditadura Perfeita, de Luis Estrada

Filme mexicano de 2014, A Ditadura Perfeita disseca a corrupção estatal no país de forma ousada e corajosa, criticando ferrenhamente o governo e a mídia, e mostrando até mesmo o envolvimento dos dois com o narcotráfico. É um filme sobre a conturbada política mexicana, mas poderia facilmente ser sobre a política em outros diversos países do mundo, e por isso mesmo fica fácil a identificação.

3. Decisão de Risco, de Gavin Hood

De todos da lista, esse é com certeza o filme que mais me surpreendeu, por se tratar de um tema que, a princípio, não sou fã: a guerra contra o terrorismo. O roteiro acompanha uma operação dos exércitos do Reino Unido e dos Estados Unidos para salvar dois soldados que estão nas mãos de terroristas no Quênia, mas algo inesperado surge no meio e coloca em xeque toda a operação. Com uma inteligência fora do comum, o enredo nos propõe uma forte discussão a respeito da maneira em que os países mais desenvolvidos lidam com os problemas dos países mais pobres.

4. Eu, Daniel Blake, de Ken Loach

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2016, o filme do britânico Ken Loach traz um enredo devastador sobre um um homem que está tentando adquirir um benefício do governo após ser impedido de trabalhar por questões médicas, mas que esbarra na burocracia do sistema e na falta de vontade de quem deveria estar ali para ajudá-lo. Na via sacra, ele ainda conhece uma mãe solteira e desempregada que também está com dificuldades de conseguir o auxílio, e com ela cria uma bonita relação paternal.

5. Primeiro Mataram Meu Pai, de Angelina Jolie

Baseado no livro homônimo e autobiográfico de Loung Ung, o filme escrito e dirigido por Angelina Jolie se passa durante o terrível regime do Khmer Vermelho, que em 4 anos matou mais de 2 milhões de pessoas no Camboja. O filme mostra como Loung Ung sobreviveu aos horrores do regime depois de ser separada da família e treinada como soldado em campos de órfãos, ao mesmo tempo que seus irmãos foram enviados para locais de trabalho forçado. Um filme duríssimo de ver, mas necessário.

6. Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes

O filme se passa nos anos 1940, no meio do sertão nordestino, e mostra a bonita amizade que surge entre dois homens vindos de mundos diferentes. Um deles é um alemão que está fugindo da 2ª Guerra, e que passa seus dias dirigindo um caminhão pela região vendendo aspirinas. O outro é um homem simples do nordeste, que passa a trabalhar com o alemão como ajudante após ganhar uma carona. Através da amizade entre eles, o filme vai mostrando a dura realidade dessa pacata região, e como as pessoas encontram formas de ser feliz mesmo com tantas dificuldades.

7. Whisky, de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll

Mais um filme uruguaio da lista, Whisky acompanha um homem de 60 anos que vive sozinho em Montevidéu após a morte da mãe e passa os dias cuidando da sua pequena fábrica de meias. Um dia ele conhece uma mulher mais nova, que passa a trabalhar com ele e com quem ele cria uma relação mútua de carinho mas baseada apenas na amizade. Quando seu irmão volta à cidade depois de anos, ele pede que a mulher finja ser sua esposa. Misturando drama com comédia, é um filme bem gostoso de assistir.

8. A Ganha-Pão, de Nora Twomey

A animação se passa no Afeganistão e mostra através dos olhos de uma criança todos os horrores que o regime Talibã trouxe ao país, principalmente quando se fala em direito e liberdade das mulheres. Durante o regime, elas não podiam sair às ruas sem estarem acompanhadas dos maridos e usando burcas, e é nesse cenário que a protagonista precisa encontrar um meio de conseguir o sustento da família após o pai ser preso pelo exército. A Ganha-Pão não é apenas um espetáculo narrativo, mas também um espetáculo visual.

9. A História Oficial, de Luis Puenzo

O filme mais antigo dessa lista vem da Argentina, e conquistou o Óscar de melhor filme estrangeiro em 1986. O enredo se passa no período final da ditadura no país, e mostra os efeitos e as consequências que o regime trouxe para os seus habitantes e para a sociedade argentina num contexto geral. Além, é claro, de trazer imagens brutais, que mostram como foi desumano tudo que ocorreu na época. Uma verdadeira aula de história, e mais um filme importante para que as pessoas aprendam que esse tipo de coisa jamais deveria se repetir em lugar nenhum do mundo.

10. O Último Cine Drive-in, de Iberê Carvalho

O Último Cine Drive-in chegou a poucas salas de cinema na época do seu lançamento, e fico feliz de ver que a Netflix deu um espaço para ele no seu catálogo. É um filme simples e despretensioso, mas que precisa ser descoberto. Fala do amor de um filho pela mãe e de tudo que ele é capaz de fazer por ela, mas também fala do amor de um homem por algo que sempre fez parte de sua vida de forma significativa, nesse caso o cinema e um velho cine drive-in, que ele se nega a fechar mesmo estando obsoleto e sem público.