quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Os 25 melhores filmes lançados no Brasil em 2015

Mais um ano está chegando ao fim, e como já é de praxe, é hora de fazer a retrospectiva com os melhores filmes do ano. Cerca de 360 filmes, quase um por dia, entraram em cartaz no Brasil desde 1º de janeiro, e pode-se dizer que foi um ano repleto de boas estórias. Alguns dessa lista estrearam comercialmente nas principais salas do país, outros foram exibidos apenas em amostras, e tem ainda aqueles que sequer passaram pelo cinema, indo direto para as locadoras ou para serviços de streaming. Enfim, sem mais delongas, vamos a eles:

25º Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert (Brasil)

Escolhido para representar o Brasil no Óscar 2016, Que Horas Ela Volta? é o cinema nacional em sua melhor forma. Com um olhar crítico sobre a sociedade e seus preconceitos velados, o longa de Anna Muylaert foge de qualquer esteriótipo e emociona com uma história extremamente humana. Val (Regina Casé) é uma pernambucana que trabalha há mais de uma década como empregada em uma casa de classe alta em São Paulo. Sua visão de mundo, e principalmente do seu lugar nele, começa a mudar depois que sua filha Jéssica vem de Pernambuco para prestar vestibular e fica hospedada na mesma casa. O filme é tão sincero que parece um documentário, e a atuação de Casé é no mínimo de se aplaudir de pé.

24º Quando Meus Pais Não Estão em Casa, de Anthony Chen (Singapura)

No seu primeiro trabalho como diretor, Anthony Chen traz uma obra densa que ao mesmo tempo em que encanta também nos choca. O enredo de Quando Meus Pais Não Estão em Casa (Ilo Ilo) conta a história de Teresa, uma jovem filipina que aceita trabalhar como empregada em uma casa de Singapura. Além dos afazeres de casa ela tem a missão de cuidar do filho do casal, um menino mal educado e com sérios problemas de comportamento. Aos poucos, porém, ela vai driblando as dificuldades e consegue criar uma forte amizade com o garoto. O longa é super simples, e encanta pela beleza. Além disso, serve como um retrato bastante fiel da cultura daquele país, e da crise econômica que o assolou na última década.

23º A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante (Brasil)
O sertão nordestino já foi cenário de muitos dos melhores filmes já feitos pelo cinema nacional, e voltou a ser explorado de forma brilhante em A História da Eternidade, do estreante Camilo Cavalcante. A trama do filme se passa em um minúsculo vilarejo, localizado em algum ponto do nordeste, e intercala a história de três mulheres, com seus mais diversos sentimentos. Alfosina (Débora Ingrid), uma menina ingênua que está prestes a completar 15 anos, sonha conhecer o mar e para isso recebe a ajuda do seu tio João (Irandhir Santos). Querência (Marcélia Cartaxo) está desorientada e de luto após perder o filho pequeno, e não sabe se cede aos galanteios de um vizinho. Por fim tem Das Dores (Zezita Matos), que tem a rotina transformada com a vinda do neto que foi morar em São Paulo, numa visita cheia de segredos. Misturando a banalidade da vida com a brutalidade repentina do ser-humano, temos um dos melhores filmes nacionais dos últimos anos.

22º Mad Max: Estrada da Fúria, de George Miller (Estados Unidos)

Quem apostaria que Mad Max, trilogia que fez sucesso nos anos 1980, ganharia uma quarta sequência em 2015? E mais, que essa sequência seria superior a todos os filmes anteriores? Pois é o que aconteceu com Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road), que surpreendeu o mundo todo, principalmente quem torce o nariz para remakes e reboots. O cenário é o mesmo dos outros longas: um mundo pós-apocalíptico, desolado e sem água, onde a luta pela sobrevivência é extremamente violenta. A atmosfera do filme também segue a mesma, com personagens e acontecimentos bizarros, que beiram a insanidade. Cru e visceral, é um filme hipnotizante, que não pára um segundo sequer para podermos respirar. Muito acima da média dos filmes de ação lançados nos últimos anos, disso não se pode duvidar.

21º O Agente da U.N.C.L.E., de Guy Ritchie (Estados Unidos)
Guy Ritchie voltou em grande estilo e me surpreendeu com O Agente da U.N.C.L.E. (The Man from U.N.C.L.E.), que traz uma estória curiosa que se passa em meio à Guerra Fria. Napoleon Solo (Henry Cavell) é o melhor agente da CIA no início dos anos 1960, e recebe a missão de se infiltrar em um grupo criminoso para evitar a construção de uma bomba atômica que seria capaz de varrer do mapa as maiores nações do mundo. Para isso conta com a improvável ajuda do russo Illia Kuryakin (Armie Hummer), um inimigo de longa data que o é enviado russo para a missão. Ritchie conduz um roteiro cheio de reviravoltas com mão firme, e usa e abusa do seu já característico humor negro.

20º A Travessia, de Robert Zemeckis (Estados Unidos)

Em 1974, o equilibrista francês Philippe Petit resolveu pôr em prática um plano audacioso: atravessar apenas sob uma corda o vão existente entre as duas torres do World Trade Center em Nova Iorque, que estavam em fase final de construção. Contando com a ajuda de amigos e desconhecidos que se voluntariaram, ele conseguiu fazer a travessia mesmo sendo ilegal. Por isso mesmo, a tarefa ganhou dificuldades ainda maiores, e tudo teve que ser planejado nos mínimos detalhes para não ser descoberto. O novo filme de Zemeckis (de Forrest Gump, Náufrago e De Volta para o Futuro) conta essa história de redenção e coragem de forma sensível, e o destaque é a excelente estética visual, principalmente nas cenas da travessia.

19º Corações de Ferro, de David Ayer (Estados Unidos)
Corações de Ferro (Fury), novo filme do diretor David Ayer, pode ser considerado um dos trabalhos mais injustiçados do ano, já que foi esquecido completamente pelas mais importantes premiações de cinema. O filme, que se passa na reta final da Segunda Guerra, acompanha um comboio de tanques americanos que é enviado ao território alemão para enfrentar cara a cara o inimigo. O principal deles é comandado pelo sargento Collier (Brad Pitt), que tem sob seu comando o jovem Norman (Logan Lerman), um garoto que nunca recebeu treinamento adequado para estar em conflito armado e precisa aprender a se virar de um dia para o outro.

1 Terceira Pessoa, de Paul Haggis (Estados Unidos/Inglaterra)

Paul Haggis ficou conhecido em 2004 ao levar para casa o Óscar de melhor filme por Crash: No Limite, que trazia três histórias paralelas que em algum momento do enredo se cruzavam. Em Terceira Pessoa (Third Person) ele volta a usar esse formato ao mostrar histórias distintas que ocorrem em três locais diferentes: em Roma, Paris e Nova York. Com um elenco de peso, que conta com os nomes de Liam Neeson, Olivia Wilde, Adrien Brody, Mila Kunis, James Franco, Kim Basinger, entre outros, o filme traz inúmeras reviravoltas e aborda com competência temas como o amor, a mentira, e principalmente o sentimento de culpa.

17º Mais Perto da Lua, de Nae Caranfil (Estados Unidos/Romênia)

Mais Perto da Lua (Closer to the Moon), do romeno Nae Caranfil, mostra um caso real que ocorreu na Romênia no final dos anos 1950 envolvendo cinco judeus que faziam parte da resistência comunista no país. Eles planejaram um roubo a banco e a estratégia era a seguinte: render os funcionários enquanto fingiam para a população que tudo não passava da gravação de um filme de ação, em alta na época com a chegada do cinema americano na Europa. Apesar do plano genial, eles acabaram sendo presos e condenados à morte, mas antes, foram obrigados a reencenar o ato, dessa vez realmente em frente à câmeras. Com muito bom humor e excelentes referências da época, o filme é uma grata surpresa.

1 Labirinto de Mentiras, de Giulio Ricciarelli (Alemanha)

Representante alemão no próximo Óscar, Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens) se passa na Alemanha no final dos anos 1950 e conta a estória de um promotor que resolve investigar crimes ligados aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, que culminou no "Julgamento de Auschwitz" onde 17 oficiais foram condenados por crimes contra a humanidade. A tarefa no entanto não foi nada fácil, já que passados treze anos do fim da guerra a população em geral fingia que nada tinha acontecido. Para encontrar as informações que precisava, Johann (Alexander Fehling) precisou enfrentar um verdadeiro labirinto de arquivos e testemunhas, mas engajado na causa, ele não desistiu até conseguir.

15º 10.000 Km, de Carlos Marques-Marcet (Espanha)
É possível manter uma relação amorosa à distância? Esse é um dilema que muitos casais hoje em dia tem que passar, e o espanhol Carlos Marques-Marcet conseguiu captar isso com extrema competência em sua estreia como roteirista e diretor. A estória gira em torno de Alexandra (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer), um casal apaixonado e cheio de sonhos que vive em Barcelona. Depois de Alexandra receber uma proposta irrecusável de emprego nos Estados Unidos, os dois se vêem obrigados a passar meses longe um do outro, e como era de se esperar a relação vai se desgastando aos poucos. Apesar de tudo, eles tentam de todas as formas retornar ao que eram antes, mas isso é mais difícil do que parece. Esse desgaste na relação do casal é mostrado naturalmente, sem apelação, e é isso que faz o filme ser tão bom. Infelizmente não estreou comercialmente, mas foi possível assistir em amostras espalhadas pelo país e não é difícil encontrar pela internet.

14º Corações Famintos, de Saverio Costanzo (Estados Unidos/Itália)

Jude (Adam Driver) e Mina (Alba Rohrwacher) se conhecem da forma mais inesperada possível e logo surge entre eles uma bonita relação. Porém, se engana quem acha que o filme, partindo dessa premissa, é mais um romance como tantos outros. Na medida que o filme vai passando, vamos acompanhando uma mudança drástica na personalidade de Mina (ou será que ela já era assim e conseguia esconder muito bem?), principalmente depois do nascimento do primeiro filho do casal. A superproteção pela criança faz com que Mina se torne paranoica e afaste todos do seu próprio convívio. As atuações do filme são o que mais chamam a atenção, tanto que os atores dividiram os prêmios de melhor ator e melhor atriz no último Festival de Veneza.

13º Beasts of no Nation, de Cary Fukunaga (Estados Unidos)

Alguns filmes são essenciais para abrir os olhos do mundo para temas que a grande maioria prefere fazer vista grossa. Beasts of no Nation, primeiro filme original feito pela Netflix e dirigido pelo promissor Cary Fukunaga (da série True Detective), é um retrato corajoso das guerras civis em países africanos. O enredo acompanha o menino Abu (Abraham Attah), que vê sua família inteira ser morta e logo depois é capturado pelos rebeldes para se tornar mais um dos soldados na luta. Essa é justamente a principal crítica do filme: o ato de transformar crianças inocentes em máquinas de matar, fazendo com que elas cresçam da pior maneira e no ambiente mais hostil possível. O fato do filme não se passar em um país específico serve justamente para passar a ideia de que isso ocorre em muitos lugares diferentes, e no final deixa aquele sentimento de impotência de sabermos que a realidade está aí e não podemos fazer nada para mudar.

12º Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus (Inglaterra)

O preconceito contra os homossexuais ainda é muito presente na nossa sociedade, mas muito já se fez e continua sendo feito para mudar essa situação. Orgulho e Esperança (Pride), do britânico Matthew Warchus, conta uma curiosa história que ocorreu na Inglaterra em 1984, quando mineiros em greve ganharam o apoio de um grupo de homossexuais. Apesar de ambos estarem lutando por direitos, os mineiros se negaram a aceitar a ajuda por causa do forte preconceito. Em contrapartida, muitos gays não aderiram ao grupo, justamente por causa de todos os anos em que sofreram com piadinhas e desaforos. Coube a Mark (Ben Schnetzer) unir esses dois grupos distintos, em uma lição de igualdade tratada com muito bom humor e cenas memoráveis.



11º Star Wars - O Despertar da Força, de J. J. Abrams (Estados Unidos)
A força voltou com tudo neste que já é considerado por alguns o melhor longa de toda a saga. Exagero? Talvez não, visto que o filme é realmente tudo aquilo que os fãs esperavam depois de tanto tempo. A trama, que se passa 30 anos após os eventos ocorridos em "O retorno do Jedi", foca na busca por Luke Skywalker, o último dos Jedi que está sumido há anos. De um lado dessa busca está a Primeira Ordem, que surgiu das cinzas do antigo império e pretende acabar com os dias de paz na galáxia. Do outro está a resistência, liderados pela General Leia (Carrie Fisher). No meio de tudo está a jovem Rey (Daisy Ridley) e o ex-stormtrooper Finn (John Boyega), além de personagens já conhecidos da saga como Hans Solo (Harrison Ford).

10º Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), de Alejandro González Iñarritú (Estados Unidos)

Grande vencedor do Óscar este ano, o novo filme do mexicano Alejandro González Iñarritú, de quem sou fã de longa data, causou sentimentos de ódio e amor e dividiu opiniões, sobretudo por causa de seu final subjetivo. O filme nos conta a estória de Riggan Thomson (Michael Keaton), um homem que nos anos 90 ficou famoso por estrelar uma série de filmes do personagem "Birdman". Depois de rejeitar viver novamente o personagem ele viu sua carreira cair no ostracismo, e encontrou a chance de se reerguer no teatro. O enredo faz uma crítica ácida ao mundo do entretenimento, onde é preciso cada vez mais ação e efeitos para agradar o grande público. Filmado como se fosse um enorme plano sequência, Birdman tem cenas memoráveis, e abusa justamente daquilo que mais tem feito falta no cinema atual: a originalidade.

O Jogo da Imitação, de Morten Tyldum (Inglaterra)

Uma das sensações no último Óscar, O Jogo da Imitação (The Imitation Game) conta a vida do matemático Alan Turing, que se alistou como voluntário no exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial para ajudar a decifrar o "Enigma", codificação utilizada pelo exército alemão para trocar mensagens entre eles sem serem descobertos. Com mais de 159 milhões de combinações possíveis, era inimaginável que algum dia alguém conseguisse quebrar o código, mas Turing e sua equipe conseguiram criar uma máquina capaz de fazer isso, que viria a ser também o protótipo dos computadores que hoje conhecemos. Apesar de ter sido um nome essencial para a derrota alemã na guerra, Turing foi perseguido e preso pelo governo britânico por ser homossexual, e a Inglaterra levou mais de meio século para reconhecer seu trabalho e se desculpar publicamente sobre o ocorrido (infelizmente ele já não era mais vivo para ver isso com seus próprios olhos).

8º Capital Humano, de Paolo Virzi (Itália)

Capital Humano (Il Capitale Umano), do italiano Paolo Virzi, é uma das grandes surpresas do ano. Contado em quatro capítulos, o longa mostra a história de Dino (Fabrizio Bentivoglio), um vendedor que sonha fazer parte da alta sociedade. A chance disso acontecer surge quando sua filha faz amizade com o filho de um milionário, mas no meio disso tudo há uma situação trágica que ameaça pôr seu sonho a perder. O roteiro é muito inteligente e brinca com o espectador ao contar a mesma história diversas vezes, sob pontos de vistas diferentes, mostrando que nem sempre o que parece é. Trata-se na verdade de um verdadeiro estudo social e comportamental do homem moderno, com sua ambição, seus desejos e sua falta de escrúpulos para tentar chegar onde quer.

7º Para Sempre Alice, de Richard Glatzer e Wash Westmoreland (Estados Unidos)
O Alzheimer é terrível e só quem teve alguém na família com a doença sabe o quanto é duro lidar com isto. Em Para Sempre Alice (Still Alice), acompanhamos a reação e o dia-dia de Alice (Julianne Moore) depois que ela descobre estar precocemente com a doença. Amparada pelos familiares, ela vai tentando viver sua rotina normalmente, mas isso vai ficando cada dia mais difícil. Conceituada na profissão de professora, ela vai perdendo aos poucos sua própria personalidade, e isso é o que mais lhe dói. Apesar do enredo triste, a direção não apela para o dramalhão e faz questão de fugir dos clichês vistos em filmes do gênero, e o ponto máximo é a atuação de Julianne Moore, que finalmente recebeu seu primeiro Óscar da carreira.

6º O Julgamento de Viviane Amsalem, de Shlomi Elkabetz (Israel)
Em Israel, os rabinos são os únicos que podem realizar casamentos, assim como também são os únicos que tem o poder de desfazê-los. Partindo dessa premissa, O Julgamento de Viviane Amsalem (Gett) conta a história da personagem título (Ronit Elkabetz), uma mulher que luta desesperadamente na justiça para conseguir seu divórcio de Elisha (Simon Abkarian). A lei do país, no entanto, exige que para haver divórcio é necessário o consentimento dos dois lados, e Elisha se nega veemente a aceitar a separação. Se a situação já era difícil para Viviane, piora ainda mais por ela estar diante de um tribunal composto somente de homens, que defendem uma lei arcaica e machista feita por eles mesmos. Com excelentes diálogos e até mesmo uma pequena dose de humor, o filme nos leva a conhecer um pouco mais sobre o martírio que muitas mulheres ainda tem que enfrentar em busca da liberdade de escolha, em pleno século 21.

5º A Ditadura Perfeita, de Luis Estrada (México)

Lançado em primeira mão na Netflix, o mexicano A Ditadura Perfeita (La Dictadura Perfecta) mostra de forma universal o poder que a mídia tem de manipular e mudar qualquer coisa que queira, principalmente quando se trata de política. Na trama, o governador Carmelo Vargas (Damián Alcázar) sonha se tornar presidente do México, mas seu envolvimento com o crime organizado e um gigantesco esquema de propinas é escancarado depois que um vídeo seu vai parar na televisão em horário nobre. A estratégia do partido para limpar seu nome é se aliar com a maior emissora de televisão do país, para juntos manipular a população e desviar a atenção do escândalo, usando de artimanhas extremante baixas e antiéticas. Qualquer semelhança com a realidade, inclusive a nossa, não é mera coincidência.

4º Whiplash - Em Busca da Perfeição, de Damien Chazelle (Estados Unidos)

Todo sucesso tem um preço, e às vezes ele acaba sendo bastante caro. Whiplash - Em Busca da Perfeição (Whiplash) mostra a vida do jovem baterista Andrew (Miles Teller), que acabou de entrar na escola de música mais conceituada dos Estados Unidos. Seu virtuosismo no instrumento logo chama a atenção de Terence Fletcher (J. K. Simmons), um renomado mestre do jazz que comanda a orquestra do local e o chama para fazer parte desta. O problema é que Fletcher é extremamente impiedoso com seus alunos, chegando ao extremo de humilhá-los em busca da perfeição. Sob um ritmo frenético, acompanhamos a tentativa de Andrew de atingir o seu melhor custe o que custar, numa ambição cega que lhe faz ultrapassar todos os limites da racionalidade. O filme conquistou três Óscars, incluindo o de melhor ator coadjuvante para J. K. Simmons.

3º O Sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (Alemanha/Brasil)

Nos últimos 40 anos, o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado viajou pelos cinco continentes do mundo onde registrou com sua câmera alguns dos principais eventos da nossa história recente. Guerras, secas, fome, campos de refugiados; tudo isso fazia parte do cotidiano de Salgado, que registrou as mais belas e cruéis imagens da humanidade neste último século. O documentário, dirigido por seu filho Juliano Ribeiro Salgado em parceria com o alemão Wim Wenders, faz um apanhado de sua obra, mas mais do que isso, traz uma verdadeira reflexão a respeito do comportamento humano e suas atitudes destrutivas para com os outros e para com a natureza. Finalista ao Óscar de melhor documentário, o filme tem imagens realmente poderosas, que doem na alma, e que nos fazem enxergar uma realidade triste que muitas vezes ignoramos.
2º 14 Estações de Maria, de Dietrich Bruggemann (Alemanha)
Vencedor do Urso de Prata de melhor roteiro e de melhor filme do júri no último Festival de Berlim, o alemão 14 Estações de Maria (Kreuzweg) traz uma das críticas mais contundentes que eu já vi no cinema a respeito do fanatismo religioso. O filme começa mostrando uma verdadeira "lavagem cerebral" que as crianças e os adolescentes recebem de um padre numa igreja extremamente ortodoxa do interior da Alemanha. Entre esses jovens está Maria (Lea Van Acken), uma menina tímida que desde cedo recebeu uma educação rigorosamente religiosa em casa. Vivendo em um mundo de regras onde tudo é pecado (inclusive ter amigas ou participar de brincadeiras na escola), ela se vê cada vez mais distante do mundo real, e o filme mostra muito bem os efeitos que esse "enclausuramento" causa em Maria, que só queria ter um pouco de liberdade e ser como todas as outras meninas de sua idade.

1º Expresso do Amanhã, de Joon-Ho Bong (Coréia do Sul/Estados Unidos)
Dirigido pelo sul-coreano Joon-ho Bong (Memórias de um Assassino / Mother - A Busca Pela Verdade) e produzido pelo seu conterrâneo Park Chan-wook (Oldboy), Expresso do Amanhã (Snowpiecer) é um dos melhores filmes distópicos e pós-apocalípticos que eu já tive a oportunidade de assistir. Em julho de 2014, uma tentativa de frear o aquecimento global dá errado e deixa a terra congelada, matando bilhões de pessoas. Os únicos sobreviventes estão dentro de uma arca indestrutível em forma de trem, construção megalomaníaca de um empresário multimilionário que atravessa todos os continentes rodando mais de 400 mil quilômetros por ano. Dada a natureza humana como ela é, logo os habitantes da arca são divididos em classes, onde surge um comando autoritário que controla todos os atos alheios. O filme traz uma excelente crítica social, analisando através de metáforas o comportamento humano. Das atuações à fotografia, tudo no filme encanta, e por isso mesmo ele merece estar no topo da lista.

Star Wars - O Despertar da Força (2015)


Na longa história do cinema, poucos filmes foram tão aguardados quanto Star Wars - O Despertar da Força (Star Wars - The Force Awakens). Foi realmente incrível assistir toda a preparação, toda a angústia dos fãs e principalmente todo o mistério que envolvia o enredo e os novos personagens da história, que se passa 30 anos após os fatos ocorridos em O Retorno do Jedi. Pois o dia chegou, e a alegria foi ainda maior ao sair do cinema com todas as expectativas superadas.



Das cinzas do antigo Império surgiu a Primeira Ordem, para atentar novamente contra a segurança e a paz na galáxia. A esperança da República para se defender desta vez é encontrar o jedi Luke Skywalker (Mark Hamill), que está sumido há anos. Para isso, a General Leia (Carrie Fisher) envia seu melhor piloto, Poe Dameron (Oscar Isaac), para recuperar uma importante peça que será utilizada para montar o mapa de onde Luke está.

No local Poe é atacado pelo exército de Stormtroopers e capturado por Kylo Ren (Adam River), o novo vilão da saga, mas antes de ser pego consegue esconder a peça no droide BB-8, que foge do local às pressas. Nas mãos de Kylo Ren, Poe é forçado a contar o paradeiro do droide, mas consegue escapar com a ajuda de Finn (John Boyega), um stormtrooper que está querendo fugir do lugar. Quando a nave dos dois cai no deserto, Finn caminha em direção ao vilarejo de Jakku onde encontra o droide na companhia da catadora de sucatas Rey (Daisy Ridley), e juntos começam a fugir dos avanços da Primeira Ordem.


O que mais me agradou no novo Star Wars é que ele consegue trazer uma estética visual extremamente idêntica a dos filmes clássicos. Com toda a tecnologia que surgiu nos últimos anos, um dos maiores temores que eu tinha era de que usassem efeitos de forma exagerada e estragassem a essência da saga (o que aconteceu com O Hobbit, por exemplo), mas eles me surpreenderam. Não há nada sobrando, e tudo parece ter sido feito na medida certa.

Outro ponto que chama a atenção no enredo é onipresença das mulheres, não só na figura contagiante da protagonista mas também com a própria General Leia ou ainda com as Stormtroopers femininas. Uma tendência cada vez mais presente, como já vimos por exemplo em Mad Max: Estrada da Fúria, outro gigante que voltou às telas em 2015.



Com novos personagens contracenando com velhos conhecidos, e tudo se encaixando com perfeição, O Despertar da Força é certamente tudo aquilo que os fãs esperaram por anos. J. J. Abrams cumpriu seu papel e revitalizou com competência uma saga que já tinha um enorme número de fãs e agora conquistou ainda mais.


segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Crítica: As Sufragistas (2015)


Entre o final do século 19 e o começo do século 20, um clamor era ouvido pelas ruas: o das mulheres, que pediam, entre outros direitos, o de poder escolher seus representantes por meio do voto. Por décadas elas tentaram mudar essa realidade e a batalha muitas vezes parecia perdida. No entanto, elas não desistiram até conseguir.


A trama de As Sufragistas (Suffragette) acompanha a história de Maud (Carey Mulligan), uma mulher batalhadora que trabalha em uma lavanderia e mora com o marido e o filho pequeno. Cansada de ver as injustiças e os assédios cometidos contras mulheres como ela, Maud se aproxima de um grupo que luta nas ruas por direitos. Entre os membros do grupo estão Miss Wither (Amanda Lawrence), Violet (Anne-Marie Duff), e Edith (Helena Bonham Carter), todas sob a "liderança" de Emmeline Pankhurst (Meryl Streep).

O enredo tinha uma história riquíssima nas mãos mas a direção não soube aproveitá-la. Abriu espaço para um sentimentalismo exagerado e deixou algumas coisas importantes de lado. Esperava uma abordagem mais completa das passeatas, mas a diretora preferiu focar mais no drama pessoal de Maud, falando sobre a sua prisão e sobre os problemas com o marido. Sem falar ainda na personagem de Meryl Streep, que merecia mais espaço e foi bem mal aproveitada.



Apesar de alguns equívocos, não dá para dizer que é um filme ruim, pelo contrário. As Sufragistas se torna interessante justamente por causa da história que o envolve, e serve tanto como um registro histórico quanto para abrir os olhos sobre a luta pelos direitos das mulheres, que conquistaram muitas coisas ao longo da história mas ainda tem muito mais o que conquistar.


sábado, 26 de dezembro de 2015

Crítica: The Lobster (2015)


Se existe hoje um nome no cinema europeu que é sinônimo de originalidade, esse nome é o do grego Yorgos Lanthimos, responsável pelo sucesso de Dente Canino (2009) e a cabeça por trás de The Lobster, um dos filmes mais diferentes e curiosos dos últimos anos.


A trama se passa num futuro próximo onde é proibido estar solteiro. Homens e mulheres que ficarem sozinhos logo são capturados e enviados a um hotel onde ficarão presos por 45 dias, tempo que eles tem para arrumar uma "cara-metade" e evitar serem transformados em animais. É nesse ambiente estapafúrdio que conhecemos David (Colin Farrell), um homem que foi deixado pela mulher e que por consequência acabou se tornando "hóspede" do local.

Assim como a estória em si, o hotel também possui suas excentricidades. Cheio de regras e situações fora dos padrões, ele tem toda a sua atividade voltada a formar novos casais. Mas para isso os dois lado precisam ser compatíveis em vários níveis além de possuir gostos em comum, o que deve ser comprovado antes de qualquer coisa.


A primeira metade do filme se passa inteiramente no hotel, e é a mais criativa. Algumas cenas chocam como a "caçada humana", onde os hóspedes saem munidos de rifles com tranquilizadores para capturar "solitários" pela cidade em troca de dias extras de vida. Tem também os esquetes teatrais que são encenados pelos funcionários, que tentam mostrar através de situações do dia-dia como é impossível de se viver sozinho. Na segunda metade, porém, o filme parece se perder em meio a metáforas quando sai do hotel e vai para o mundo exterior.

O grande trunfo de The Lobster é a maneira diferente com que ele nos faz enxergar os relacionamentos. Na sociedade em que vivemos, se você não encontra alguém você é sempre julgado como diferente, e muitas vezes, por medo desse julgamento, as pessoas acabam se entregando a relacionamentos superficiais de mera aparência. Além disso, tem também aqueles que necessitam ter alguém para se sentirem completos (é aí que o pôster do filme se mostra genial). "Se não estiver dando certo a gente coloca uma criança", diz ainda a dona do hotel, em mais uma crítica ao método que muitos casais utilizam para se manter juntos apesar das adversidades.


Por fim, sobre a parte técnica não há o que criticar. A direção de arte e a fotografia são impressionantes, assim como a atuação firme de Colin Farrell, cada vez mostrando mais amadurecimento na carreira. Com um humor negro afiado e situações inusitadas, o novo filme de Lanthimos já entra para a lista dos mais originais dos últimos anos e só por isso já vale uma conferida.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Crítica: Aferim! (2015)


Exibido em primeira mão no 65º Festival de Berlim, Aferim!, do diretor Radu Jude, foi ovacionado e já se tornou um marco do cinema romeno atual. O filme se passa no começo do século 19 e tenta mostrar a origem do racismo contra os ciganos, um dos mais latentes da Europa há séculos, e consegue isso com extrema competência.


A trama se passa na região da Valáquia, no ano de 1835. O oficial Costandin (Teodor Corban) e seu filho (MIhai Comanolu) são designados para encontrar Carfin (Toma Cuzin), um escravo cigano que fugiu da propriedade de seu "dono" depois de se relacionar com a esposa do mesmo. Durante a jornada dos dois, acompanhamos todo o tipo de absurdo que os homens da época cometiam, e o enredo vai montando um panorama da sociedade da época e seus costumes.

Os mais ricos e poderosos, ou até mesmo aqueles que eram apenas hierarquicamente mais importantes (como o próprio oficial), tratavam os escravos e os camponeses da época com escárnio e intolerância, repreendendo violentamente qualquer tipo de manifestação de vontade.  Isso fica evidente cada vez que o homem e seu filho chegam a uma nova cidade para procurar Carfin, onde interrogam todos com dureza em busca de informações. As mulheres então, eram tratadas como verdadeiros lixos e eram submissas às vontades dos homens, sem ter nenhum direito de escolha.


Apesar das cenas duras e do comportamento desumano, o que encanta no enredo é a forma como o diretor nos conta essa história, apostando em um humor ácido, com excelentes diálogos e personagens que, mesmo odiados, se tornam carismáticos. A trilha sonora também ajuda, além da fotografia em preto e branco, que confesso não gostar muito, mas que aqui caiu muito bem. 

No final do filme, os personagens principais demonstram uma compaixão até então inexistente, mas já era tarde demais para qualquer mudança. Frustado, o pai diz ao filho que o mundo é assim mesmo, e que mesmo ele tentando mudar, não conseguiria. De lá para cá muita coisa melhorou, mas fica aqueia dúvida: será que mudou tanto assim, ou o homem ainda continua tendo comportamentos medievais no dia-dia? Basta olharmos para a realidade à nossa volta para encontrarmos a resposta.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Crítica: Operações Especiais (2015)


Desde que Tropa de Elite foi lançado e fez um enorme sucesso, nenhum outro filme conseguiu abordar a ação da polícia e a hipocrisia do estado com tanta competência, e o gênero foi ficando cada vez mais deixado de lado no cinema nacional. Operações Especiais, do jovem Tomas Portella, tentou retomar esse tema com uma história original e atual, mas infelizmente se perdeu em erros grosseiros.


Francis (Cléo Pires) é formada em turismo e trabalha como recepcionista em um famoso hotel do Rio de Janeiro, mas está cansada de sua rotina e principalmente de seu chefe, que destrata todos os seus funcionários. Ao saber de um concurso para entrar na polícia civil, ela se interessa e resolve tentar a nova carreira para mudar de ares.

Um tempo depois, já trabalhando como inspetora, Francis é enviada junto com uma força tarefa para uma cidade do interior do estado para auxiliar no aumento da criminalidade no local. Composto de policiais honestos, o grupo é comandado por Paulo Fróes (Marcus Caruso), o delegado mais ficha limpa de toda a região, e todos estão empenhados na missão.


As coisas vão indo bem até eles começarem a lidar com gente endinheirada, que está por trás de toda a criminalidade. Logo, a mídia e o governo fazem com que a população caia em cima dos agentes exigindo sua retirada da cidade, em um exemplo clássico de como não se pode querer fazer algo honesto no Brasil sem criar inimigos. E essa é justamente a grande crítica do filme.

Apesar do tema ser interessante e das atuações serem competentes, o enredo tem muitos furos e pontas soltas. A primeira grande falha é na questão da entrada de Francis na polícia. Não há nenhuma informação, nenhum aprofundamento, e parece que ela se tornou policial de um dia para o outro sem ter precisado passar por uma prova ou por uma preparação específica. Além disso, tem ainda um personagem baleado que não tem final revelado e outro que aparece e some sem trazer nenhuma relevância para o andamento da história. Coisas simples, mas que estragam o resultado final.


Apesar de tudo, Operações Especiais não deixa de ser um filme interessante, principalmente em uma época onde se fala muito do poder da mulher na sociedade. Francis não enfrenta somente os problemas da profissão, mas também a dificuldade de ser mulher em um ambiente tomado por homens, que vêem seu trabalho como inferior. E só por isso já vale a conferida.

Crítica: Victoria (2015)


Filmes feitos em plano-sequência são o mais perto que o cinema pode chegar do teatro. Apesar de não ser utilizado com tanta frequência, há muitos anos que diretores vem tentando usar essa técnica, e isso só foi possível depois que os rolos de filmes passaram a suportar grandes durações. Pois em 2015 o alemão Sebastian Schipper soube reutilizá-la com muita competência em Victoria, seu segundo filme da carreira.


Victoria (Laia Costa) é uma jovem de Madri que está vivendo em Berlim, e que aparentemente não conhece ninguém na cidade. Na saída de uma boate ela conhece um grupo de rapazes que está circulando pela cidade na busca de diversão, e logo passa a andar com eles. Tomada por uma intensidade de sentimentos, Victoria logo se vê envolvida nos negócios ilícitos do bando, incluindo a estratégia de roubar um banco.

A história em si não traz nada de especial, mas o que diferencia o filme de tantos outros é a maneira como ele é contado. O enredo nos mostra a noite estranha e inesperada de Victoria em apenas um take, como se tudo ocorresse em tempo real. A primeira meia hora é composta apenas de conversas entre Victoria e o grupo de amigos sobre trivialidades da vida, o que ajuda a desenvolver cada um dos personagens apresentados de uma maneira extremamente natural. Sonne (Frederick Lau) é o "cabeça" do grupo, e é quem se aproxima mais de Victoria. Fuss (Max Mauff) está comemorando seu aniversário completamente bêbado e irracional, mas Blinker (Burak Yigit) se mostra o mais inconsequente de todos. Tem ainda Boxer (Franz Rogowski), um ex-presidiário que parece ter pavio curto.


A trama começa a ganhar forma quando Boxer precisa encontrar um antigo colega de prisão, para quem ele está devendo um grande favor. O homem exige então que Boxer e os companheiros pratiquem um roubo a banco para pagar a dívida, e eles se vêem obrigados a seguir o plano para assegurar suas próprias vidas. O roubo ocorre como planejado, mas as consequências se tornam bem piores do que eles imaginavam.

O filme não tem um final determinado, pois a câmera simplesmente vai deixando de seguir Victoria até aparecerem os créditos. Isso de forma alguma estraga o resultado final, pelo contrário, já que a sensação que fica é a de que poderíamos seguir Victoria por muito mais tempo. Não espere uma fotografia exemplar, já que a câmera é manuseada o tempo todo na mão. Isso é característica de filmes como esse, e serve para dar mais realidade a tudo que vemos em cena, como se fossemos uma testemunha onipresente da história.


Por fim, Victoria é um grande achado do cinema alemão este ano, e mereceu todos os elogios eufóricos que recebeu no último Festival de Berlim. As atuações são excelentes e boa parte dos diálogos, principalmente no início do filme, são improvisados, o que aumenta ainda mais o brilhantismo de tudo.