sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Crítica: Pinóquio (2020)


Nos últimos anos, temos acompanhado diversas histórias clássicas dos desenhos animados ganhando novas adaptações em live action para as telas. Algumas agradaram, outras decepcionaram, e no caso específico de Pinóquio, do diretor italiano Matteo Garrone, podemos dizer que as opiniões ficaram bem divididas.

 

Ovacionado por uns, criticado por outros, o fato é que o filme de Garrone apresenta a história do boneco que vira menino de uma forma muito mais sombria do que o original, principalmente por suas caracterizações. Quem já está acostumado com o cinema do diretor talvez não vá estranhar tanto, sobretudo quem assistiu o sensacional O Conto dos Contos, mas pra quem está tendo a oportunidade de ver um trabalho seu pela primeira vez talvez seja um grande choque visual.

A história de Pinóquio se passa em um vilarejo onde mora o marceneiro Gepeto, aqui interpretado por Roberto Benigni, que volta às telas depois de 8 anos. Solitário, Gepeto resolve criar um boneco de madeira e deseja que esse boneco ganhe vida. Seu desejo se realiza, mas a desobediência do menino faz com que ele se perca de casa e passe por uma série de situações que vão mostrando a ele os perigos do mundo além do vilarejo.

 

Eu particularmente gostei muito da atmosfera do filme, que tem uma ótima fotografia, porém confesso que achei o ritmo um pouco lento demais e isso pode atrapalhar um pouco e gerar um certo cansaço no espectador. As figuras dos personagens secundários, como o grilo falante, a raposa e o gato, também podem trazer bastante estranhamento ao público que, como falei, nunca viu um trabalho do diretor. Mas quem conseguir abraçar a ideia do filme desde o início vai ter, com certeza, uma ótima experiência. Pinóquio não deixa de ser um filme nostálgico, por revisitar um dos maiores clássicos infantis da história, mas com um ponto de vista mais triste e realista.


domingo, 10 de janeiro de 2021

Crítica: Minari (2020)


Grande sucesso no último Festival de Sundance, Minari, escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, é mais um grande projeto da distribuidora A24, que vem lançando ótimos filmes nos últimos anos e aqui mais uma vez surpreende pela qualidade.


A trama se passa na década de 1980 e acompanha o casal de imigrantes coreanos Jacob e Monica, que estão se mudando da Califórnia para o Arkansas junto com os filhos para tentar uma vida melhor. Há anos trabalhando no negócio aviário, eles decidem comprar um pedaço de terra para mudar um pouco a rotina e ganhar a vida plantando frutos e vegetais originários da Coreia do Sul, afim de atender a grande quantidade de imigrantes do país que estavam chegando aos Estados Unidos. As coisas, no entanto, se mostram muito mais difíceis do que eles imaginavam, por inúmeras questões, como o próprio choque de culturas, que é evidenciado no filme através de pequenos detalhes.

É um roteiro bastante singelo, com personagens muito humanos. Destaque para Alan S. Kim, o garotinho que interpreta o filho do casal, David, e para Steven Yeun, que todos conhecem da série The Walking Dead e aqui tem uma grande atuação na figura de um pai de família batalhador que não desiste nunca de tentar dar o melhor aos filhos. Outro personagem que enriquece a história é o da avó das crianças, interpretada pela atriz Yoon Yeo-jeong, que surge do meio para o final e muda bastante o tom do filme, sendo responsável por algumas cenas cômicas. Inclusive, gostei muito da forma que esta avó é mostrada, bem longe daquelas avós queridas e fofas que estamos acostumados de ver nos filmes, mas ao mesmo tempo não deixando de ser bastante fraternal.

 

Na parte técnica, é importante falar da trilha sonora, que é simplesmente espetacular, além da fotografia exuberante. Minari é, no final das contas, um filme feito com muito amor, até pelo fato de trazer memórias afetivas da própria vida do diretor, que nasceu nos Estados Unidos mas é filho de imigrantes.


sábado, 9 de janeiro de 2021

Crítica: Pieces of a Woman (2020)


A dor do luto é universal, mas ao mesmo tempo é algo muito individual, pois cada um reage da sua própria maneira. É sobre isso que fala Pieces of a Woman, primeiro filme em língua inglesa do diretor húngaro Kornél Mundruczó, que estreou no Brasil diretamente no catálogo da Netflix.
 

 

A trama acompanha o casal Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), que estão a espera do primeiro filho. O ato inicial do filme dura cerca de 30 minutos e é de uma intensidade avassaladora, mostrando todo o processo do parto da criança, que por opção do casal, está sendo feito na própria casa deles por uma parteira. No entanto, as coisas não saem como o planejado, e a partir desse momento o filme foca nas consequências que essa tragédia vai trazer para o casal e toda a família, principalmente as psicológicas.

Martha, obviamente, é quem acaba sendo a mais afetada pela perda imensurável de um filho, e como se não bastasse toda a dor e todo o trauma ela ainda precisa enfrentar a família, que quer regrar o que ela deve ou não fazer, e um processo judicial contra a doutora que fez o parto. E é aqui eu abro espaço para falar da atuação impressionante de Vanessa Kirby, que com toda certeza é uma das melhores dos últimos anos. É incrível como a atriz consegue, apenas com olhares e silêncios, transmitir perfeitamente o que a personagem está sentindo e sofrendo internamente. Outra atriz que tem destaque é a espetacular Ellen Burstyn, que volta a ter um grande papel depois de muito tempo e que, mesmo com poucas cenas, consegue ser extremamente impactante com sua presença. Shia LeBoeuf também tem um papel importantíssimo no filme, sobretudo por conta da desconstrução que é feita ao redor do seu personagem. 


Também achei muito interessante o jeito que o diretor utiliza o trabalho do personagem pra fazer a passagem do tempo, através de uma ponte que está sendo construída. O único porém que faço a respeito do filme é sobre o último ato, que não chega a estragar a experiência mas traz uma nítida quebra de expectativas.