domingo, 26 de junho de 2016

Crítica: Zootopia - Essa Cidade é o Bicho (2016)


Não é de hoje que os estúdios cinematográficos usam filmes de animação para passar belas mensagens, tanto para crianças como para adultos. O Rei Leão (1994) e Procurando Nemo (2003) abordaram a relação entre pai e filho, Up! - Altas Aventuras (2009) e Shrek (2001) falaram sobre a essência do amor, Toy Story (1995) mostrou a importância e o verdadeiro valor das amizades e Valente (2012) provou que todos podemos ser quem quisermos, basta acreditarmos.



Em Zootopia - Essa Cidade é o Bicho, o que entra em discussão é o preconceito e a intolerância, temas bastante pertinentes para a época que vivemos. O enredo acompanha Judy, uma coelhinha que vive em uma pequena cidade do interior e sonha ser uma policial, mas não é levada a sério pelos outros animais por causa de seu tamanho.

Indo contra a opinião de todos, Judy se forma na academia de polícia e vai trabalhar em Zootopia, uma metrópole onde todos os animais vivem pacificamente, indiferentemente de suas características naturais. Primeiramente designada para ser guarda de trânsito, ela vê num caso a chance de provar para todos que pode sim ser uma policial de verdade, e para isso conta com a ajuda de Nick, uma raposa que ganha a vida praticando golpes.




A cidade vive em harmonia há anos e sempre relembra com tristeza a época em que o mundo era dividido entre predadores e presas. Esse fantasma do passado volta a assombrar quando, por um motivo misterioso, os predadores naturais como leões, raposas e onças passam a agir de forma violenta.

Aliás, é bastante interessante a maneira como os animais, todos com suas diferenças, são aproveitados no filme. Os bairros são divididos por ecossistemas da natureza, e é tudo feito com uma riqueza impressionante de detalhes. Alguns momentos são realmente hilários, como o departamento público comandado por bichos-preguiça, que fazem tudo vagarosamente. São pequenas sacadas que no conjunto da obra se tornam geniais.




Com diálogos e piadas inteligentes, um visual caprichoso, e referências à cultura pop (até mesmo ao clássico O Poderoso Chefão), o filme consegue passar lições de moral com uma roupagem inteiramente atualizada, e tem justamente aí o seu grande triunfo. Mais um grande acerto da Disney.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Crítica: Decisão de Risco (2016)


O enredo de Decisão de Risco (Eye in the Sky), novo filme de Gavin Hood, acompanha uma delicada operação militar dos exércitos do Reino Unido e dos Estados Unidos em Nairóbi, no Quênia. Comandada pela Coronel Katherine Powell (Helen Mirren), a operação consiste em capturar dois britânicos e um norte-americano que integram um grupo terrorista local, o Al-Shabaab, que está planejando um ataque na região.


Para ajudar na missão, eles contam com os tenentes Steve Watts (Aaron Paul) e Carrie Gershon (Phoebe Fox), que controlam um drone carregado com mísseis direto de uma base militar em Nevada, nos Estados Unidos. Quando é descoberto o encontro dos terroristas em uma casa, o exército se prepara para atacá-la, mas porém, uma vida inocente acaba sendo envolvida no meio.

A partir desse imprevisto, uma série de pessoas acabam sendo envolvidas, em diversos locais diferentes, e uma simples decisão acaba se tornando um martírio. Lançar o míssel e causar danos colaterais em uma pessoa inocente, ou não agir e correr o risco de um atentado de proporções muito maiores? Entre figuras importantes como Generais e Ministros de ambos os países, todos vão dando suas opiniões acerca do dilema, ao mesmo tempo em que todos tentam empurrar para outros a decisão final. É até cômico ver como decisões de vida ou morte são tomadas pelo alto escalão dos governos mundiais, e o diretor não se exime de mostrar isso.

O elenco de gala trabalha muito bem e consegue transparecer toda a tensão e o nervosismo gerado pelas decisões, todas com pouco tempo para serem tomadas. Além das atuações riquíssimas de Helen Mirren e Alan Rickman, vale destacar ainda a participação de Aaron Paul e Barkhad Abdi, todos de extrema importância para o andamento.


Com um roteiro empolgante, que não deixa o espectador desgrudar um só segundo os olhos da tela, Decisão de Risco foge do clichê e se mostra um filme bastante corajoso, principalmente por criticar sem medo o jeito com que os países desenvolvidos lidam com os problemas dos países mais pobres.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Crítica: Bone Tomahawk (2016)


Um gênero que andava esquecido e que vem conquistando novamente seu espaço é o faroeste. Nos últimos anos, principalmente após os lançamentos de Django Livre e Os Oito Odiados, o faroeste vem ressurgindo das cinzas, e Bone Tomahawk pega carona nesse embalo trazendo uma mistura de humor e sangue.


O enredo conta a história de quatro homens de uma cidade pacata do interior que precisam resgatar uma prisioneira sequestrada por uma tribo de canibais. O xerife (Kurt Russell), seu ajudante (Matthew Fox), um pistoleiro (Richard Jenkins) e um cowboy (Patrick Wilson) correm pelo deserto em busca de Sam (Lili Simmons), a mulher do cowboy.

O filme começa mostrando o dia-dia daquele pacato vilarejo, apresentando o modo de vida dos personagens principais que irão posteriormente viver a aventura. No segundo ato começam as cenas de ação, quando o filme foca na jornada dos quatro até a tribo indígena. O clima de suspense permeia o tempo todo, e o ato final só prova que o diretor não tem medo de ousar.










Por fim, Bone Tomahawk é um filme que faz uma boa homenagem ao gênero, mesmo abusando de elementos da atualidade. Intenso, com uma fotografia magnífica e um elenco de primeira, ele cumpre tudo que promete e encanta até mesmo que nunca foi fã das histórias de bang-bang.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Crítica: Colônia (2016)


O golpe de estado no Chile, que derrubou o governo de Salvador Allende e pôs no poder o general Augusto Pinochet em 1973, serve como pano de fundo para uma história absurda e revoltante que, por mais incrível que pareça, é baseada em fatos reais. Com um elenco de nomes conhecidos, coube ao diretor Florian Gallenberger a difícil missão de mostrar tudo sem censuras, e o resultado é realmente de tirar o fôlego.



Durante os dias que antecederam o golpe, o povo estava em grande número pelas ruas para protestar a favor do governo de Allende, entre eles o casal de alemães Lena (Emma Watson) e Daniel (Daniel Bruhl). Após o golpe, com o militares já nas ruas e o comando nas mãos do ditador, milhares de pessoas foram presas e capturadas durante esses protestos, incluindo Daniel.

Os presos eram levados a um lugar isolado no meio do nada chamado Colonia Dignidad, que era uma suposta missão de caridade comandada por um pregador (Michael Nyqvist). Na verdade o lugar não passava de uma das prisões mais sanguinárias e desumanas que já existiram, onde pessoas eram torturadas e mortas sem um pingo de piedade. Ao descobrir que Daniel foi enviado a este lugar, Lena resolve se alistar como freira na tentativa de reencontrá-lo e, talvez, conseguir libertá-lo. 




O maior pecado do filme já se nota na primeira cena: o fato dele se passar no Chile e não ser ouvida quase nenhum palavra em espanhol. Entendo a necessidade de utilizar o inglês como forma de angariar mais público para o filme, mas não consegui tratar o filme com a credibilidade que ele potencialmente merecia. Senti falta também, em alguns momentos, de um melhor aprofundamento em certas questões como, por exemplo, a abordagem precária da relação que os dois tinham e o que exatamente eles estavam fazendo no país.

Fora isso não há o que criticar, principalmente na parte das atuações. Emma Watson e Daniel Bruhl, dois atores que admiro bastante, fazem um excelente trabalho e entregam atuações de respeito, assim como Michael Nyqvist, para mim a grande surpresa do filme. O roteiro segura a atenção do início ao fim, e isso é mais um ponto forte. Por fim, Colônia talvez não receba a atenção que merece, até porque é um filme pesado e pouco divulgado, mas se tiver a chance de assistí-lo, aproveite.

Crítica: Fique Comigo (2016)


O cinema já abordou a solidão de diversas formas, geralmente sob um ângulo dramático, mas Fique Comigo (Asphalte), do diretor francês Samuel Benchetrit, quebra esse paradigma e tenta nos trazer uma série de reflexões sobre o tema utilizando o humor. E não é que deu super certo?


O roteiro se passa em um prédio residencial da periferia de Paris, e acompanha três estórias bizarras envolvendo seus moradores. O primeiro deles é Sterkowitz (Gustave de Kervern), que por morar no primeiro andar se nega a ajudar financeiramente na manutenção do elevador e é proibido pelos outros moradores de utilizá-lo. O destino cobra caro e um acidente doméstico o deixa de cadeira de rodas, obrigando-o a utilizar o equipamento escondido durante a noite, única hora que ele pode sair sem ser visto.

Numa das suas andanças pela noite ele conhece uma enfermeira (Valeria Bruni Tedeschi), que está de plantão todas as noites e se sente só na imensidão de um hospital vazio. Para agradá-la, Sterkowitz finge ser um importante fotógrafo de uma revista geográfica, e com o passar dos dias vai surgindo uma estranha e mútua relação entre os dois.


A segunda estória gira em torno de Jeanne Meyer (Isabelle Huppert), uma veterana atriz que vive em decadência e acaba fazendo amizade com o vizinho adolescente, Charly (Jules Benchetrit), que parece ter sido abandonado pelos pais e mora sozinho. A troca de experiências gera um conflito de gerações, e faz com que pouco a pouco cada um vá ganhando uma nova dimensão sobre sua própria vida e mudando a visão que tinha a respeito dela. 

Por fim, a estória mais "excêntrica" (e também a mais comovente) é sobre a doce imigrante argelina Madame Hamida (Tassadit Mandi), que vive sozinha em seu pequeno apartamento depois da prisão do único filho. Quando um astronauta americano da NASA pousa por engano no sótão do prédio, ele é acolhido por Hamida, que o trata como um filho, e nem mesmo a barreira de idiomas é capaz de impedir essa relação.



O humor do filme é genial, e é justamente aí que está o seu diferencial. O diretor não utiliza de piadas e esquetes para nos fazer rir, pois as próprias situações já nos fazem rir sem esforço. Apesar de tudo, o filme tem um clima melancólico por trás de cada cena, que cria uma atmosfera bem interessante. A respeito do elenco, pode-se dizer que é mais um dos pontos fortes do filme, com destaque para a sempre excelente Isabelle Huppert, para a carismática Tassadit Mandi e para o americano Michael Pitt. 

Por fim, essa necessidade do ser-humano de ter alguém para compartilhar seu dia-dia é o que auxilia para criar o vínculo improvável entre os personagens. Fique Comigo é um grande achado advindo do cinema francês, e já entra para a lista dos filmes mais bacanas do ano.