domingo, 10 de setembro de 2017

Crítica: Uma Mulher Fantástica (2017)


Vencedor do Urso de Prata de melhor roteiro no Festival de Berlim 2017 e escolhido para representar o Chile no próximo Óscar, Uma Mulher Fantástica (Una Mujer Fantastica), do diretor Sebastian Lélio (Glória, 2013), aborda de forma primorosa as dificuldades que os transsexuais enfrentam nessa sociedade preconceituosa em que vivemos.




A trama conta a história de Marina (Daniela Vega), uma mulher trans que trabalha de garçonete e sonha seguir carreira como cantora lírica. Estável e bem resolvida, ela vive em um apartamento de Santiago com Orlando (Francisco Reyes Morandé), um homem mais velho que a ama como ninguém nunca jamais havia amado.

Tudo ia bem com os dois, que planejavam um futuro juntos como qualquer casal, mas bem no dia do aniversário de Marina, Orlando acaba falecendo, vítima de um aneurisma. A partir deste momento, a vida de Marina muda de cabeça para baixo. Por causa de seu gênero, todos a tratam com preconceito, como se a dor de perder alguém que amava já não fosse suficiente. Como Orlando caiu da escada enquanto passava mal, o corpo acabou ficando com diversos hematomas, e todos, principalmente a família de Orlando, que nunca aceitou a relação dos dois, acaba acusando Marina de ter tido responsabilidade na sua morte. 



Além de ter que provar sua inocência, a maior luta de Marina ao longo do filme, no entanto, é para se despedir do corpo de Orlando. A família não quer de forma alguma que ela chegue perto do velório, e quando ela tenta fazer isto, é escorraçada violentamente. É triste analisar que este tratamento se deu apenas por ela ser transsexual, o que fica claro nos xingamentos dos familiares. Sua condição os impede de enxergá-la como um ser-humano provido de sentimentos, e infelizmente isso é uma realidade que Marinas espalhadas pelo mundo vivenciam diariamente.

O filme possui momentos belíssimos, como quando Marina aparece nua, deitada em uma cama, com um espelho entre as pernas onde aparece apenas seu rosto. O simbolismo nesta cena é impressionante, e traz uma reflexão contundente sobre identidade de gênero. Uma Mulher Fantástica se sobressai ainda por trazer uma atriz que é transsexual, e que possivelmente, em algum momento de sua vida, deve ter passado por preconceitos parecidos com a da personagem. Isso dá ainda mais vida à história contada.


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