quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Crítica: Armadilha (2024)

De uma maneira geral, posso dizer que não me considero um fã do cinema de M. Night Shyamalan, apesar de simpatizar com uma obra ou outra do diretor. Mas é curioso como todo e qualquer lançamento dele me desperta muita curiosidade, pois independente do resultado final, é inegável que ele sabe como poucos segurar a atenção do espectador, e suas obras parecem sempre ter algo interessante a dizer, nem que seja nas entrelinhas. E com Armadilha (Trap), não foi diferente.


A trama acompanha Cooper (Josh Hartnett), um pai aparentemente afetuoso, que está realizando o grande sonho da filha adolescente, Riley (Ariel Donoghue), de ver o show da sua cantora favorita Lady Raven (interpretada pela filha do diretor, Saleska Shyamalan). Toda a construção do cenário do show, desde a chegada dos fãs ao estádio até a histeria das jovens com o início da apresentação, é muito bem trabalhado em tela, e cria uma imersão bem realista. Logo, começam a surgir os primeiros sinais de que algo estranho está acontecendo nos bastidores, com uma movimentação suspeita de policiais, e o único que consegue perceber e se incomodar com isso é o próprio Cooper.

Ao conversar com um funcionário do show, Cooper descobre que todas as saídas do estádio estão cercadas por policiais fortemente armados, pois o show não passava de uma armadilha para pegar um serial killer que está amedrontando a cidade, conhecido como "O Açougueiro". Em teoria, nenhum homem poderá sair sem ser devidamente identificado, pois a polícia tem a certeza de que o assassino está no local. Shyamalan nos entrega quem é o assassino logo no começo sem fazer grandes mistérios, e eu confesso que gostei muito dessa escolha narrativa, pois fica claro que a ideia do filme não era deixar o espectador buscar respostas, mas sim, criar um certo conflito moral em cada um de nós. A partir de então, nós vemos esse assassino correndo contra o tempo para tentar escapar da emboscada.


Com várias reviravoltas no roteiro, o thriller apresenta um tom cômico que eu sinceramente não esperava ver em um filme de Shyamalan, e eu achei isso bem positivo no resultado final. Evidentemente, você precisa comprar a ideia para engolir certas facilitações que deixam um filme de premissa realista um tanto quanto fantasioso em certos momentos, e é justamente neste ponto que o filme se torna bastante divisivo entre o público. É, definitivamente, um filme que não se leva tão a sério, ou pelo menos tenta passar essa ideia descompromissada, e nisso o papel de Josh Hartnett cai como uma luva. Sua atuação é bem caricata, não dá para negar, mas é uma caricatura que, neste contexto, encaixa bem com a proposta. Gostei também da jovem Ariel Donoghue, e das cenas musicais da Saleska, que deixa claro que uma das intenções de Shyamalan no filme era, também, mostrar todo o talento que a filha tem como cantora (como atriz, isso já é bem discutível). Por fim, pode até não ser o melhor filme de Shyamalan, mas certamente é o mais divertido de toda sua carreira, e também o que mais gostei de assistir desde A Vila (2004).