Será que toda história contada deve ter, obrigatoriamente, respostas esclarecedoras no final e uma linha de interpretação singular? No cinema, assim como na arte em geral, isso sempre foi motivo de discussão, e eu sempre acreditei que o sentimento diferente que um filme desperta em cada espectador é muito mais importante do que elucidações lógicas e racionais. Adaptado de um conto homônimo de Stephen King, A Vida de Chuck (The Life of Chuck), novo filme de Mike Flanagan, é uma destas obras nada convencionais, que traz inúmeras interpretações e pontos de vista, e encanta pela sua maneira particular de trazer questões existenciais da vida humana.
Dividido em três atos, que por sua vez são apresentados na ordem contrária, o filme inicia com um verdadeiro caos generalizado instaurado no mundo, sobretudo nos Estados Unidos. A internet e os serviços de telefonia estão com problemas há meses e à beira de um apagão geral e definitivo, enquanto mudanças climáticas devastam o país e matam milhares. De repente, imagens de um homem chamado Chuck começam a aparecer em televisores, faixas e outdoors por todas as cidades, todos em forma de agradecimento a ele por serviços prestados durante a sua vida. Mas quem é esse homem, e porque estas homenagens em meio a um verdadeiro pandemônio?
Como disse anteriormente, nem tudo será respondido ao longo do filme, mas logo descobrimos que Chuck (Tom Hiddleston) é um homem que está em estado terminal lutando contra um câncer, o que nos leva imediatamente ao segundo ato, passado alguns meses antes do início caótico. Nele, temos uma das cenas mais legais do ano, onde Chuck passa por uma baterista de rua e inicia um grande e envolvente número de dança improvisado. O seguimento, em si, não tem ligação com o final do filme, mas serve para mostrar como Chuck era um homem enigmático, sim, mas que gostava de aproveitar os momentos da vida da melhor forma possível.
Logo o filme pula para o último ato, onde Chuck ainda criança, tem uma infância bastante afetiva na companhia dos seus avós (Mia Sarah e Mark Hamill) enquanto descobre o talento para a dança. Neste momento, o diretor também lança elementos de ficção científica, envolvendo um sótão misterioso na casa da família, que automaticamente se interliga com o início (final) da história. Entre cenas enigmáticas, há bastante espaço para diálogos espirituosos sobre o sentido da vida e a forma como aproveitamos o nosso tempo nessa vida, além de abordar simbolicamente o rumo que a Terra está tomando por causa das ações do homem.
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