terça-feira, 5 de agosto de 2014

Crítica: Viva a Liberdade! (2014)


Na Itália, assim como em quase todos os países, a política é desacreditada e vista com desconfiança por grande parte da população. É difícil as coisas andarem para frente com políticos que só prometem mudanças, mas que no fundo fazem o mesmo que todos os outros. Com base nisso, o diretor Roberto Andó nos traz uma crítica ácida e bem-humorada, em um dos filmes mais inteligentes de 2014.



Enrico Oliveri (Toni Servillo) é o principal representante do partido de oposição nas próximas eleições presidenciais da Itália. No entanto, sua popularidade vem baixando cada dia mais, e ele recebe duras críticas pela forma que conduz seu trabalho. Deprimido e incapaz de mudar o baixo índice nas pesquisas, Oliveri resolve sumir da badalação por um tempo, se exilando na casa de um amor do passado sem avisar ninguém.

Desesperado com a situação política do seu chefe e do seu partido, e com a agenda cheia de compromissos de campanha, seu assessor decide pedir ajuda ao irmão gêmeo de Enrico, Giovanni Ernani, para que ele se passe pelo irmão até o mesmo retornar. O problema é que Giovanni não bate muito bem da cabeça e acabou de sair de uma instituição psiquiátrica, embora seu passado como escritor de alguma forma lhe credencie a assumir tal responsabilidade.


Com uma personalidade completamente diferente do seu irmão, Giovanni começa a fazer sucesso com seus discursos inovadores e suas atitudes excêntricas, mudando completamente a visão da população para com o partido. Suas declarações escandalosas como "os partidos são medíocres porque as pessoas são medíocres" ou "o partido é corrupto porque as pessoas o são" chocam primeiramente, mas acaba criando uma identificação única com o povo. Citando grandes romancistas e filósofos, e falando verdades que nenhum outro político teria a coragem de dizer, sua popularidade cresce desmedidamente, fazendo com que os números consequentemente subam nas pesquisas.

Enquanto isso, longe de tudo, o irmão Enrico vai reconquistando sua autoconfiança com a ajuda de Danielle (Valeria Bruni Tedeschi). Toda a trama se concentra nessa dualidade, desenvolvendo cada um dos irmãos de forma individual, e aos poucos os dois personagens vão quase se fundindo. Isso fica ainda mais claro na belíssima cena final.


Aclamado no último ano por sua interpretação no vencedor do Óscar A Grande Beleza, Toni Servillo volta em grande estilo, e o filme certamente não seria o mesmo sem sua presença. Sua interpretação rica e detalhista de duas personalidades completamente distintas é magnífica, sendo possível identificar facilmente quando cada um dos personagens está em cena.

Apesar do mote central, o enredo não se restringe apenas na troca de identidade, mas vai muito além disso, fazendo uma reflexão da atual situação da classe política. Afinal de contas, o que falta na política talvez seja exatamente isso, um pouco de verdade, ou até mesmo insanidade, e aí está a maior ironia do filme.


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