quarta-feira, 3 de março de 2021

Crítica: Nomadland (2020)


"Lar é só uma palavra, ou é algo que carrega consigo?". O trecho de uma letra de The Smiths, tatuada no braço de uma personagem, diz muito sobre Nomadland, novo trabalho da diretora Chloé Zhao, premiado como melhor filme no último festival de Veneza e aclamado em todos os lugares onde é exibido.

 


A trama acompanha Fern (Frances McDormand), uma mulher que ficou desamparada depois que a empresa onde trabalhava fechou as portas por conta da crise econômica que assolou os EUA em 2008. Sem trabalho fixo e sem casa, Fern passa a atravessar as estradas do país fazendo bicos, enquanto dorme em sua van e enfrenta todo tipo de adversidades. Na sua jornada, Fern vai conhecendo outras pessoas que vivem a mesma situação dela, de marginalização, inclusive uma comunidade nômade, onde faz amizades e finalmente se sente parte de algo maior.

O roteiro tem um ar documental, até pelo fato de juntar ao elenco pessoas que realmente vivem essa realidade na pele diariamente. É bem emocionante ouvir os relatos deles, alguns inclusive dos quais jamais esquecerei. São abordados assuntos como o sistema de aposentadoria, a chegada da idade e o peso de se viver numa sociedade injusta e desigual. Uma das personagens que mais me marcou foi Swankie, uma senhorinha que tem um monólogo belíssimo, e que faz a gente pensar no valor das coisas simples e no quanto nos preocupamos com coisas superficiais sem realmente apreciarmos o que está de graça à nossa volta.



McDormand por sua vez está maravilhosa, como sempre, mesmo numa personagem que, a princípio, não exige tanto dela. A fotografia e a trilha sonora também são encantadoras e fazem toda a diferença no conjunto da obra. Por fim, Nomadland é um filme grandioso na sua simplicidade e que desperta os sentimentos mais diversos com muito pouco. Com certeza um dos filmes mais bonitos e sensíveis do ano.


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