quinta-feira, 28 de julho de 2022

Crítica: Elvis (2022)


Um gênero específico de filmes tem atraído um grande público aos cinemas nos últimos anos e obtido um enorme sucesso de crítica e bilheteria. Estou falando das cinebiografias de músicos do Rock n' Roll, que tem como exemplos bem recentes Bohemian Rhapsody (Freddy Mercury) e Rocketman (Elton John), e que agora com Elvis atinge o seu ápice. Aproveitando o interesse em alta neste tipo de filme, Baz Luhrmann (Moulin Rouge / O Grande Gatsby) resolveu nos apresentar em seu novo musical a trajetória e o legado de Elvis Presley, considerado por muitos o "Rei do Rock", mesclando a história do astro com um retrato da sociedade norte-americana dos anos 1950, 1960 e 1970.


Para contar a história de Elvis, desde a sua infância em Memphis até sua morte em 1977, o diretor utilizou outro personagem como fio condutor: o coronel Tom Parker (Tom Hanks), que trabalhava em um circo e descobriu Elvis quando ele ainda era apenas um jovem promissor. Visto por muitos como vilão e talvez até causador da morte do cantor, Parker narra a sua versão da história, direto do seu leito de morte, cabendo ao espectador julgar suas atitudes como certas ou erradas. O fato é que, inegavelmente, foi Parker quem levou o nome de Elvis ao mundo (irônico, se você for analisar depois o final do filme).

A partir dos relatos de Parker, acompanhamos o surgimento de Elvis, sua amizade com os músicos do blues da icônica Beale Street, sua forçada carreira militar após ser acusado pelo governo de "andar com negros", seu casamento com Priscilla, a morte de sua mãe, seu contrato quase exclusivo de show no International Hotel de Las Vegas e o uso de pílulas fora de controle, que o levaram ao derradeiro fim. A montagem do filme é muito dinâmica, contendo inclusive inserções animadas, e tudo transcorre com muita agilidade, o que não deixa o filme perder o ritmo em nenhum momento mesmo com suas 2h40 de duração.

O filme não deixa de lembrar em momento algum que o Rock n' Roll é um gênero criado pelos pretos, e que eles que serviram de referência direta e indiretamente para a carreira de Elvis. Temos aparições de B.B. King, Sister Rosetta Tharpe, Mahalia Jackson e Little Richard, artistas marcantes do rhythm & blues, que reforçam muito esta ideia. O gingado, a energia e as letras de Elvis viraram caso de polícia justamente por remeter àquilo que faziam os músicos pretos da época no palco, visto como "sujo" e "coisa de selvagem" pela parte conservadora e racista. Vale lembrar que o filme se passa em um período conturbado e triste da história americana, onde a segregação ainda estava recém sendo abolida a passos lentos, e o país presenciou as mortes violentas dos irmãos Kennedy e de Martin Luther King. Todo esse clima hostil e pessimista quanto ao futuro é muito bem elaborado pelo diretor, e mostra como isso também refletiu na vida e na carreira de Elvis.


Não tem como falar desse filme e não exaltar, com uma salva de palmas, de pé, a atuação de Austin Butler. Ele não interpreta Elvis, ele realmente incorpora, ao ponto de uma cena específica me deixar em dúvida se era o ator ou se era o próprio Elvis em imagens de arquivo. Me surpreendeu demais a atuação deste ator que eu pouco conhecia até então, e tenho certeza de que ele estará nas principais premiações daqui para a frente. Outro nome que se destaca é o de Tom Hanks, fora todo o elenco de apoio que também está brilhante. Por fim, diferente de outros filmes do Luhrmann, a estética "exagerada" não me incomodou aqui, pelo contrário, pois serviu para mostrar ainda mais a grandeza deste nome que é Elvis Presley, de uma forma que talvez outro diretor não conseguiria. Um dos melhores filmes do ano, se não o melhor.

 


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