Filme de estreia da diretora norueguesa Emilie Blichfeldt,
The Ugly Stepsister é uma versão sangrenta da história da Cinderela, que conversa
muito mais com o conto sombrio escrito pelos irmãos Grimm no século XIX do que
com a versão animada da Disney a qual estamos mais acostumados. O grande acerto
aqui é trazer como personagem principal a jovem Elvira (Lea Myren), uma das meias-irmãs
feias da “Cinderela” (que no filme se chama Agnes e é apenas uma coadjuvante de
luxo na história).
O roteiro começa com as irmãs Elvira e Alma (Flo Flagerli)
viajando com a mãe (Ane Dahl Torp) para a Suécia, onde a matriarca irá se casar
com um homem supostamente rico. Logo após a morte deste mesmo homem, elas
acabam ficando na casa, mas descobrem que ele, na verdade, não era tão rico
quanto prometia ser. Então, afim de conseguir garantir uma boa vida para elas,
a mãe fica obcecada com a ideia de casar a mais nova, justamente Elvira, com o
príncipe local, que está para dar um baile com a intenção de conhecer sua
futura esposa.
Para isso, no entanto, Elvira precisa ser transformada, e a mãe não mede esforços e nem dinheiro para conseguir realizar o seu grande plano, doa a quem doer. No caso, doa à Elvira, que tem desde o nariz quebrado até cílios postiços literalmente costurados na região dos olhos, além de várias outras intervenções cirúrgicas extremamente violentas. Pior do que isso, a filha também acaba ficando obcecada com a ideia do casamento, tomando atitudes drásticas de automutilação. Para caber em um vestido menor que o seu número, por exemplo, ela ingere um ovo de tênia para que o verme fique dentro do seu intestino e coma tudo o que ela usar para se alimentar. Para que seu pé entre no sapatinho perdido de Agnes durante o baile real, ela corta os dedos dos próprios pés.
Sim, o filme vai a extremos inimagináveis, se tornando um “body horror” com excelentes elementos de gore. Tudo sem filtro e com muita veracidade, e algumas cenas me deixaram realmente agoniado, principalmente uma que inclui uma tênia enorme. Essa é para estômagos fortes. Por fim, apesar de ter essa atmosfera bizarra, nada no filme soa como forçado ou fora do tom. É um debut muito interessante de uma diretora que promete.