Após o estrondoso sucesso de Vidas Passadas, que para mim é um dos melhores filmes da década, a cineasta Celine Song volta a ser o centro das atenções com Amores Materialistas (Materialists), desta vez trabalhando com três "super" estrelas do cinema norte-americano: Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal, mas sem perder a sensibilidade e a sutileza do longa anterior na hora de versar sobre o amor e suas peculiaridades.
O filme acompanha Lucy (Johnson), que trabalha arranjando encontros para pessoas de alto padrão que estão procurando por relacionamento sério. Ela é muito boa no trabalho que faz, e já foi responsável por casar nove "pombinhos" apaixonados. Ela mesma, no entanto, não teve tanto sucesso em sua vida amorosa. O último relacionamento, com John (Evans) terminou após problemas financeiros atrapalharem a vida à dois. Agora, ela tem um novo pretendente, Harry (Pascal), um homem riquíssimo, atraente e educado, que ela conheceu na festa de um dos casamentos que arranjou. No mesmo lugar, no entanto, seu ex-namorado estava ocasionalmente trabalhando de garçom, e ao servir um drink à ela, deixou claro que pretende retomar contato.
Assim como no filme anterior, a diretora nos apresenta uma espécie de "triângulo amoroso", mas sem vilões, sem confusões e sem grandes reviravoltas. A única confusão, na verdade, está dentro da própria cabeça da protagonista, e na forma como ela lida com o amor, o desejo e a paixão. O filme vai muito além de uma comédia romântica, e talvez nem deveria ser certo rotulá-lo desta forma, pois há muito mais profundidade do que costumamos ver em filmes do gênero.
Através de diálogos espirituosos, Song traz uma crítica aos "amores líquidos" (como já diria Zygmunt Bauman), que surgem e desaparecem na mesma velocidade, num mundo onde todos parecem estar determinados a encontrar o par literalmente perfeito de acordo com uma lista de critérios, descartando-os ao menor sinal de incompatibilidade. Ao mesmo tempo, ela também reflete sobre a essência do amor verdadeiro, aquele que surge inesperadamente e transborda acima de qualquer circunstância ou adversidade, usando até mesmo uma metáfora sobre nossos ancestrais dos tempos das cavernas. Afinal, o que faz a gente amar alguém? E tudo isso de maneira madura, direta e sem clichês emocionais.
Como o nome do filme sugere, o roteiro também disserta sobre a maneira como o dinheiro acaba, muitas vezes, sendo um fator decisivo para o sucesso ou não de uma relação. E isso não é de hoje. Lucy é uma personagem verdadeira, e por isso mesmo às vezes seus pensamentos soam detestáveis. Ela, por exemplo, deixa claro que seu relacionamento anterior acabou por ele não ter condições de levá-la para jantar em um lugar legal nem mesmo em uma data especial. Ao mesmo tempo que se culpa por isso, pensa em encontrar alguém que possa lhe dar estabilidade financeira. Mas a preço de quê, ela mesmo irá se perguntar. Com Amores Materialistas, Celine Song demonstra que sabe como poucos no cinema atual falar de amor, e de como ele é vulnerável, sensível e foge de qualquer controle racional.