terça-feira, 5 de maio de 2015

Crítica: CBGB - O Berço do Punk Rock (2014)


Se o punk rock se tornou febre nos Estados Unidos no final dos anos 70, muito se deve à figura de Hilly Cristal. Mas afinal, que era esse cara, de onde surgiu, e qual foi sua real importância para a cena? É isso que tenta mostrar Randall Miller em seu novo filme CBGB - O Berço do Punk Rock.



Em 1973, o decadente Hilly Cristal (Alan Rickman) teve a ideia de abrir uma casa de shows em Manhattan, Nova Iorque, como tentativa desesperada de sair do "buraco" em que vivia. A princípio, a ideia era que o bar servisse de palco para bandas de country e blues, abrindo espaço para os gêneros até então pouco conhecidos na região, mas as circunstâncias levaram o bar a tomar um rumo completamente diferente, se tornando o berço do punk rock e um dos lugares mais importantes da história da música norte-americana.

O nome completo do bar era CBGB & OMFUG, que numa tradução literal significava algo como "Country, Bluegrass e Blues & outras músicas para colocar gordos para suar". No pequeno espaço surgiram bandas que logo se tornariam icônicas, como Ramones, Television, Blondie, The Police, Taking Heads, Patti Smith e The Dead Boys, sendo para a maioria delas a sua primeira vez em cima dos palcos.



Com o passar dos anos o bar foi alcançando cada vez mais fama internacional, e grandes bandas do planeta tocaram no local, mesmo sendo pequeno e nada aconchegante, como Guns N' Roses, Red Hot Chili Peppers, Pearl Jam, Green Day, entre outras. Na cerimônia que incluiu a banda Talking Heads no Rock n' Roll Hall of Fame em 2002, todos os membros agradeceram o apoio que receberam de Hilly Cristal no início da carreira, e ele chegou a subir no palco para ser homenageado, na frente de milhões de espectadores e telespectadores.

O filme consegue captar toda a energia que existia naquele lugar e mostra bom humor toda essa trajetória incomum de um bar que tinha tudo para dar errado, e suas histórias mais mirabolantes, muitas delas contadas no livro "Mate-me Por Favor" de Larry McNeil e Gilliam McCain, que vivenciaram tudo de perto.



O elenco é um caso à parte. Alan Rickman (o eterno Severo Snape da saga Harry Potter) está excelente no papel de Cristal, em uma atuação elogiável. Outros nomes conhecidos são o de Rupert Grint (também famoso por Harry Potter), na pele de um punk maluco, o irreconhecível Johnny Galecki (o Leonard da série de tv The Big Bang Theory) e até mesmo o baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins, na pele de Iggy Pop. 

Por falar no personagem de Iggy Pop, a personificação das bandas também é impecável, com todos os atores parecidíssimos com os músicos originais. Destaque para os Ramones e a voz baixa e doce do vocalista Joey Ramone. O enredo tem suas falhas, mas isso não estraga de forma alguma o resultado final, até porque a trilha sonora vale pelo filme todo. Por fim, CBGB já se tornou um filme obrigatório no currículo de todo amante do gênero, e já nasce sendo um clássico.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

Crítica: Timbuktu (2014)


Retratando uma série de situações provocadas pelo extremismo religioso em um país do norte da África, Timbuktu, do diretor Abderrahmane Sissako, ficará eternamente conhecido por ter conseguido uma façanha e tanto: ser o primeiro filme da Mauritânia a ficar entre os cinco finalistas ao Óscar de melhor filme estrangeiro.



A história principal gira em torno de Kidane (Ibrahim Ahmed dit Pino), um pastor que vive com sua esposa e sua filha em uma pequena cidade no deserto do Mali. Boa parte da vizinhança já foi embora da região depois que ela foi tomada por extremistas islâmicos, mas Kidane, sem ter para onde ir, permanece no local, sem nunca deixar de acreditar que um dia tudo voltará a ser como era antes.

Certo dia, a vaca mais importante de seu rebanho é morta por um pescador depois de atravessar acidentalmente o rio, e na tentativa de buscar justiça Kidane acaba matando o homem. Rapidamente ele é preso pelos extremistas e fica à mercê do seu julgamento e à espera de sua punição, já que assassinato para eles é algo imperdoável (por mais estranho que isso possa parecer aos nossos olhos com tantas barbáries cometidas poe eles noticiadas dia-dia).



Além da história de Kidane, o enredo mostra também outras histórias paralelas, traçando um panorama geral do que mudou na região após a chegada dos fanáticos religiosos. Como amostra dessa opressão que ocorre por lá, o filme cumpre bem seu papel. Algumas cenas são emblemáticas, como o "futebol sem bola", onde jovens tem que fingir estarem jogando futebol para se divertir, já que as práticas esportivas foram expressamente proibidas pelo novo regime. Outra cena bastante forte é a da cantora apedrejada em público simplesmente por querer cantar, já que a música também foi proibida.

O que contribuiu para que o filme tenha se tornado um sucesso em premiações talvez seja o fato do assunto estar mais atual do que nunca. Mas apesar de seus pontos positivos, Timbuktu é um filme que cansa. A narrativa em forma de documentário dá uma realidade a mais para o que vemos, mas falta um aprofundamento maior nos personagens e uma condução mais envolvente. É um filme que tem muito o que mostrar em suas imagens, mas fora isso, acaba sendo dispensável.


terça-feira, 28 de abril de 2015

Crítica: 118 Dias (2014)


Em 2009 o Irã viveu um momento importante de sua história, com uma das eleições presidenciais mais acirradas de todos os tempos. De um lado Mahmoud Ahmadinejad, que tentava a reeleição, do outro, a oposição de Mir Hussein Mussavi, que subia cada vez mais nas pesquisas e vinha conquistando uma boa parcela da população com seu discurso de mudança. Com a vitória de Ahmadinejad, o povo saiu às ruas acusando o governo atual de fraude, e acabou sendo violentamente reprimido.



118 Dias (Rosewater) narra a história real do jornalista Maziar Bahari, vivido por Gael García Bernal, baseando-se em sua autobiografia "Then They Came for Me". Bahari foi enviado ao Irã nesse período como correspondente da revista norte-americana Newsweek para cobrir o pleito, onde conseguiu imagens exclusivas. Uma de suas gravações mostra muito bem repressão violenta da polícia nos protestos, e a imagem que rodou o mundo acabou despertando a ira do governo iraniano.

Acusado de espionagem, Bahari foi preso e passou 118 dias sendo torturado e interrogado incessantemente pelos funcionários da prisão. Durante esse período, foi torturado por um homem que usava um perfume típico com cheiro de rosas (que dá nome ao filme, "Rosewater"). A primeira coisa que incomoda na abordagem do filme é que o protagonista não parece estar sofrendo com a prisão. E se houve mesmo tortura, o filme passou longe de mostrar isso. Fica a dúvida se o tratamento que ele recebeu foi realmente tão brando, ou o diretor que quis amenizar a situação propositalmente.


Apesar da boa premissa o enredo deixa a desejar, e é conduzido de forma muito superficial. Conhecer história do Irã na atualidade não é fundamental, mas ajuda a entender melhor os acontecimentos. Assim como o protagonista, todos os personagens secundários são mal explorados, ainda que possua um elenco de respeito por trás. Nem a boa atuação de Gael García consegue salvar o filme, ainda que tenha seus bons (e poucos) momentos isolados.

Por fim, o filme de estreia de Jon Stewart, conhecido por sua perspicácia em abordar política no seu programa de televisão "The Daily Show", se mostra bastante fraco, e pode ser facilmente descartável. Mais uma biografia indispensável, dentre tantas que tinham tudo para serem boas mas acabaram sendo um tiro n'água.


sexta-feira, 24 de abril de 2015

Crítica: Samba (2015)


Os franceses Eric Toledano e Olivier Nakache ganharam notoriedade em 2011 com o sucesso estrondoso de Intocáveis, que recebeu diversos prêmios e elogios da crítica mundo a fora, além de ser até hoje o maior sucesso de bilheteria de um filme falado em língua francesa. A parceria dos diretores deu tão certo que eles resolveram repetir a dose, e foi então que surgiu a ideia de Samba, que por sua vez já pode ser considerado um dos filmes mais adoráveis de 2015.


Samba Cissé (Omar Sy) é um imigrante senegalês que vive há 10 anos na França, sempre sobrevivendo às custas de pequenos empregos. Com poucas condições, ele divide apartamento com seu tio, um homem de idade que já está há 25 anos no país e que possui um emprego fixo em um restaurante. A aparente normalidade da vida de Samba tem fim quando ele é preso pela polícia francesa, acusado de estar ilegalmente no país.

É a partir desse momento que ele conhece Alice (Charlotte Gainsbourg), uma mulher de meia idade que está começando a trabalhar em uma ONG responsável por ajudar os imigrantes. Fechada em si mesmo e dona de um temperamento difícil, Alice começa a se interessar bastante pela figura de Samba e pela sua história de vida, e entre eles surge uma bonita amizade que muda a vida de ambos.



A intenção primordial do filme é mostrar a dificuldade que existe na vida dos imigrantes na Europa, e como essa situação na maioria das vezes acaba sendo degradante para a dignidade dos mesmos. Porém, isso é mostrado como muito bom humor, o que alivia e muito o sentimento de impotência que se sente ao não poder fazer nada.

Omar Sy, que trabalhou com os diretores em Intocáveis, está mais contido dessa vez, e prova que sabe atuar muito bem em qualquer gênero. Charlotte Gainsbourg despensa comentários, e está impecável como sempre. No entanto, quem rouba a cena mesmo é Tahar Rahim, que faz um papel coadjuvante hilário na pele de um imigrante brasileiro.



Por fim, quem gostou da forma leve e divertida de mostrar os problemas da vida em Intocáveis, vai gostar também de Samba. Um filme despretensioso, que tem a função de mostrar uma realidade triste sob olhos esperançosos, e só por isso merece uma atenção especial.


quinta-feira, 23 de abril de 2015

Crítica: Cinderela (2015)


De uns anos para cá, temos acompanhado uma série de filmes que vieram para estragar contos infantis clássicos, deturpando a estória e, muitas vezes, levando elas ao absurdo completo. Exemplo disso são Branca de Neve e o Caçador, João e Maria - Caçadores de Bruxas e A Garota da Capa Vermelha, esse último levemente baseado na história de Chapeuzinho Vermelho.  Por conta disso, posso me dizer satisfeito após assistir Cinderela (Cinderella), nova versão da Disney para um dos contos mais populares da humanidade, e eu explico o porque.



Pois bem, a história todos já conhecem: uma menina, filha de um comerciante rico, passa a morar com sua malvada madrasta e suas duas filhas depois da morte do pai. Além de perder seu espaço na casa, ela ainda se vê obrigada a fazer todos os afazeres domésticos, sempre sendo motivo de deboche das "irmãs". Tudo muda, porém, quando um rei decide fazer um baile para escolher sua noiva, e Cinderela consegue ir à festividade com ajuda de sua fada-madrinha.

A primeira coisa que se deve elogiar é o fato do enredo do filme não fugir da história original, conseguindo captar com preciosidade toda a magia dos contos de fadas sem ser chato ou apelativo demais. Aliás, achei importante o diretor ter dado uma atenção especial ao que acontece à jovem antes dela ir morar com a madrasta, como a morte da sua mãe por exemplo, o que quase nunca é citado. O filme ainda difere de outros exemplos recentes ao manter Cinderela como uma jovem bela, gentil e ingênua, assim como é nos contos originais, sem tentar remodelar e transformá-la numa mulher de luta e garra. A Disney tentou ser o mais fiel possível, e conseguiu.



Por fim, o ponto alto do filme é certamente o elenco. Para começar, temos Cate Blanchett como a madrasta de Cinderela, impecável diga-se de passagem. Lily James segura bem as pontas como Cinderela, assim como Richard Madden na pele do "príncipe encantado". Quem ainda rouba a cena é Helena Bonham Carter, numa pequena participação como fada-madrinha, papel que lhe caiu como uma luva. Há que se dizer que, de inúmeras versões da história já existentes no cinema, essa já pode ser considerada a definitiva.