terça-feira, 1 de julho de 2014

Especial: 10 anos da morte de Marlon Brando


Um rebelde de gênio difícil e personalidade explosiva, que ao mesmo tempo era um amante dos animais e um influente ativista dos direitos civis americanos. Apesar da vida controversa, o fato é que Marlon Brando é considerado (e com razão) um gênio quando se fala em atuar, sendo considerado por unanimidade um dos melhores atores que o cinema já viu.


Nascido em 3 de abril de 1924, Brando viveu sua infância em uma família difícil junto com mais duas irmãs, no vilarejo de Libertyville, no estado do Illinois. Seu pai ganhava a vida vendendo produtos químicos, e não era nada afetuoso com as crianças. Na sua biografia, Brando chegou a declarar que seu pai o beijava apenas uma vez no ano, na noite de natal. Já sua mãe era uma atriz de teatro extravagante que tinha sérios problemas com o alcoolismo. O ator também declarou que teve que ir diversas vezes buscar ela em bares da cidade, onde ela estava adormecida em cima da mesa.

Essa infância conturbada possivelmente foi o motivo dele ter crescido e se tornado um verdadeiro delinquente na adolescência. Aos 16 anos foi expulso da escola após escrever no quadro negro usando gasolina e posteriormente atear fogo. Matriculado numa academia militar, passou a ter aulas de teatro no local antes de ser novamente expulso, o que fez com que ele definitivamente desistisse de estudar.

Porém, ao ir para Nova York atrás de suas irmãs, Brando pegou gosto pela vida artística e passou a aprimorar suas técnicas de atuação em aulas de teatro com a famosa professora Stella Adler. Foi graças às aulas que ele conseguiu seu primeiro papel de destaque, na peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams.



No cinema, seu primeiro papel foi no longa Espírito Indômitos, de 1950, onde ele interpreta um veterano da Segunda Guerra Mundial ferido em combate que tenta se adaptar novamente à vida civil, mas que se sente angustiado por estar preso a uma cadeira de rodas. O filme fez sucesso e chegou a concorrer ao Óscar de melhor roteiro, fato que engrandeceu ainda mais a sua primeira aparição nas telas.

Sua segunda aparição no cinema veio em Uma Rua Chamada Pecado, adaptação da peça que ele já havia protagonizado e chamado a atenção. Dirigido por Elia Kazan e contracenando ao lado de Vivien Leigh, ele deu vida ao memorável Stanley Kowalski, um rude trabalhador operário que passava seu tempo livre entre bebidas, jogos de cartas e boliche. Brando foi indicado ao Óscar de melhor ator coadjuvante, e apesar de ser o franco favorito, acabou perdendo.



Viva Zapata! e Julio César, lançados respectivamente em 1952 e 1953, renderam mais duas indicações ao Óscar de melhor ator pra Brando, mas ambas sem sucesso. Ele só conquistaria o prêmio em 1954, pelo excelente Sindicato de Ladrões, novamente dirigido por Elia Kazan. Um ano antes, ele havia se tornado um ídolo da juventude da época ao protagonizar O Selvagem, onde dava vida a um motoqueiro líder de uma gangue. Sua vestimenta e sua rebeldia influenciaram outros nomes da cultura pop como James Dean e o próprio Élvis Presley. Naquela época, Brando chamou a atenção principalmente das mulheres por conta da sua beleza, que o transformou no mais novo símbolo sexual daquela geração.

Na segunda metade da década de 50, ele filmou mais 4 filmes, todos de pouca expressão: Garotos e Garotas, Casa de Chá do Luar de Agosto, Sayonara e o drama de guerra Os Deuses Vencidos. Já na década de 60, fez uma sequência de três bons filmes, sendo o mais famoso deles o drama Vidas em Fuga, dirigido por Sidney Lumet. Em 1961, o ator se arriscou pela primeira e última vez na direção, no faroeste A Face Oculta, que era para ter sido dirigido por Stanley Kubrick.

Ainda na década de 60, Brando faria parte de alguns filmes polêmicos. O primeiro deles foi Caçada Humana, de Arthur Penn, onde é vítima de uma longa cena de espancamento. Em Queimada!, filme que retratava historicamente a colonização americana e a luta entre espanhóis e portugueses que levou a dizimação quase total dos indígenas, Brando interpretou aquele que ele mesmo sempre declarou ter sido seu personagem preferido na carreira.

Depois de mais uma série de filmes pouco conhecidos, sua carreira alcançou níveis astronômicos no começo dos anos 70. Em 1972 ele protagonizou o clássico O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, onde deu vida a Don Vito Corleone. A atuação inesquecível rendeu o segundo Óscar da sua carreira, que ele não aceitou em protesto contra a visão que Hollywood fazia dos índios em seus filmes. No mesmo ano, contracenou com Maria Schneider em O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, um dos filmes mais polêmicos da década e um verdadeiro sucesso de bilheteria e crítica.



Em 1976, Brando contracenou com Jack Nicholson no faroeste Duelo de Gigantes, de Arthur Penn. Mas foi em 1979, novamente sob a direção de Coppola, que ele voltou a alcançar o sucesso dos filmes anteriores. Apocalypse Now é até hoje considerado um dos melhores filmes de guerra já produzidos, e mesmo com uma participação curta, seu personagem é extremamente importante para a história.

O filme de Coppola ficou marcado como sendo o último grande sucesso de Brando, que já estava em um processo acelerado de decadência física e resolveu viver seus próximos anos recluso em uma ilha da Polinésia Francesa. Obeso e vivendo na sombra do que um dia foi, ele passava seus dias assistindo filmes antigos, não recebia mais amigos, não atendia telefonemas, e recusava papéis importantes no cinema como Karl Marx, Pablo Picasso e Theodore Roosevelt.


Devido a problemas financeiros, ele aceitou voltar às telas em 1989, mas sem aplacar nenhum sucesso. Chegou a filmar uma paródia sem vergonha de O Poderoso Chefão chamada de Um Novato na Máfia, que como era de se esperar foi um verdadeiro fracasso. Os problemas pessoais, no entanto, voltaram a chamar muito mais atenção do que sua carreira.

Ao longo de sua vida Brando se casou três vezes, mas quando se fala em relacionamentos amorosos (seja com desconhecidas, seja com celebridades), é impossível chegar a um número final. Diz-se que ele possui mais de 15 filhos espalhados pelo mundo, ainda que a maioria não seja reconhecida pelo mesmo. Essa sua falta de compromisso com a família pode ter sido a causa de dois fatos trágicos: a prisão de seu filho Christian após matar o namorado da irmã, Cheyenne, e o suicídio dela anos mais tarde, em 1995, quando estava no auge da depressão.

Por fim, são poucos os atores que conseguem encantar o público logo em seu primeiro filme, e disso Marlon Brando podia se vangloriar. Era impossível não amá-lo em cena, mesmo que estivesse no papel de um personagem repugnante. No entanto, sua vida pessoal conturbada acabou criando uma visão odiosa acerca de si, que infelizmente destruiu sua carreira, sua família e sua vida. Mesmo assim, o que ele fez ao cinema ficou na história, e isso nunca será apagado. E para mim, é isso que realmente importa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário