quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Crítica: Filho de Saul (2016)


Representante da Hungria na categoria de melhor filme estrangeiro no Óscar 2016, sendo inclusive o principal favorito entre os cinco finalistas, Filho de Saul (Saul Fia), do estreante László Nemes, é um dos retratos mais cruéis e chocantes que eu já tive a oportunidade de assistir a respeito do holocausto.



Saul Auslander (Géza Rohring) é prisioneiro de um campo de concentração nazista e faz parte da chamada Sonderkommando. Marcados com um "x" vermelho nas costas, os membros do grupo (todos judeus e prisioneiros) são responsáveis pelas tarefas mais ingratas dos campos como a limpeza das câmeras de gás, após estas serem usadas, a incineração dos corpos e o despejo das cinzas no rio.

Durante uma rotineira limpeza de corpos, Saul encontra o corpo de um garoto que ele passa a dizer que era seu filho. Decidido a dar um fim digno ao corpo do menino, com direito a todas as orações e rituais que a religião judaica utiliza nos momentos de luto, Saul parte em busca de um rabino no meio da multidão, enquanto conta com a ajuda de um médico para esconder o corpo e livrá-lo das fornalhas.



O primeiro grande diferencial do filme é seu formato de tela quadrado, focando apenas o que está no centro da cena e deixando todo o resto subentendido. Na maior parte do filme a câmera foca no rosto de Saul, e os acontecimentos ao redor são sentidos apenas pelos barulhos. Aliás, poucas vezes eu vi um filme que tivesse tanta força sonora como este. As maiores angústias são sentidas através de elementos extra-campo como gritos desesperados e tiros, ou ainda, as batidas na porta dos enclausurados nas câmaras.

É interessante analisar a frieza com que os homens lidam com a morte de seus semelhantes ao longo de toda trama. Pode parecer estranho, mas a crueldade era tanta e tão rotineira que acabou virando banal para eles, que só esperavam pela hora em que eles estariam ali. Entre todos os pontos positivos da trama, destaca-se também a atuação visceral de Géza Rohring, num papel extremamente difícil que ele conseguiu tirar de letra.



Por fim, jamais um filme conseguirá passar todo o horror que de fato foi o holocausto, mas Filho de Saul é um dos que mais conseguiram se aproximar disso. Não lembro de um filme que me tenha feito sentir tão presente na dor daquelas pessoas. É um filme extremamente difícil de assistir e que dói na alma. Porém, um filme necessário.


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