quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Crítica: Chocolate (2016)


Entre o final do século 19 e o início do século 20, a burguesia européia tinha maneiras bastante peculiares e perversas de entretenimento. Numa época em que o homem negro era visto como um ser-humano inferior, como escória da civilização, homens brancos os usavam como diversão, sempre os humilhando em espetáculos vexatórios e muitas vezes desumanos. 


É neste cenário que viveu Rafael Padilla (Omar Sy), um filho de escravos que desde pequeno, quando conheceu o circo, se apaixonou pelos picadeiros. No final do século 19, Rafael começou a ganhar uns trocados fazendo o papel de um africano canibal em um circo do interior do país. Sua missão era entrar na arena e amedrontar a todos, principalmente as crianças, que se assustavam ao ver pela primeira vez um homem negro e seus "hábitos selvagens".

No mesmo circo trabalhava George Footit (James Thiérrée), um palhaço que há muito não fazia mais sucesso e estava em decadência. George viu em Rafael um talento para a comédia e resolveu convidá-lo para formar uma dupla de palhaços, coisa que até então não existia. O sucesso tomou proporções gigantescas, e Rafael passou a ser conhecido como Chocolate, o primeiro palhaço negro da história circense.


O espetáculo consistia, é claro, em George sempre levando vantagem sobre Chocolate, e isso rendia risadas infinitas no público. Mas Chocolate não queria apenas fazer os outros rirem, ele queria mostrar que tinha talento para outras coisas, como protagonizar uma peça de Shakespeare. A cor de sua pele, no entanto, foi uma grande barreira. A sociedade hoje em dia ainda carrega um enorme preconceito em si, imagina há 100 anos atrás. Chocolate só fazia sucesso enquanto aparecia apanhando de um personagem branco, mas quando tentava ser o protagonista, era desmerecido.

A fotografia e a ambientação da época ajudam a dar uma maior autenticidade à trama, que tem como seu maior trunfo a participação de Omar Sy. O ator consegue mesclar humor com dramaticidade de forma impecável, e tem mais uma atuação de primeira em sua curta mas promissora carreira. Por fim, Chocolate é, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes lançados no Brasil este ano, e traz uma lição e tanto numa época em que se discute muito a respeito do preconceito racial, que infelizmente ainda é latente na nossa sociedade.


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