segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Crítica: Men (2022)


Apesar da curta filmografia de Alex Garland, hoje é impossível ficar indiferente a este nome. Desde o seu filme de estreia, Ex-Machina (2015), ele já mostrava ter uma identidade própria muito forte. Em Men, lançado este ano no Festival de Cannes, Garland apresenta mais um trabalho ousado e polêmico, cheio de simbolismos, que fala acima de tudo sobre o papel de culpa que a mulher é obrigada a carregar durante toda a sua vida, em diversas fases e situações.


O filme inicia com Harper (Jessie Burckley) chegando a uma casa de campo que alugou por uma temporada, onde é recebida pelo proprietário (Rory Kinnear), um homem de aparência estranha mas que se mostra muito simpático em um primeiro momento. Aos poucos, vamos descobrindo que Harper está tentando tomar um tempo para si após um relacionamento abusivo terminar em tragédia, e o silêncio do campo seria o lugar ideal para isso.

Ao comer uma maçã no jardim de entrada, fruto proibido na história bíblica, ela acaba sendo recriminada pelo dono, e já temos neste momento o primeiro simbolismo do longa, ainda que implícito e direcionado a um público específico. Este é só o começo de uma série de repreensões que Harper enfrenta dali pra frente, seja em conversas com outros locais, com o padre, com o barman do Pub ou até mesmo com o policial (todos interpretados pelo mesmo Rory Kinnear). Para piorar a situação, um homem misterioso e sem roupas começa a aparecer no pátio da casa em que Harper está vivendo, tentando invadi-la de forma violenta.

Basicamente, o filme fala da presença do machismo na sociedade. Desde o proprietário que não aceita chamá-la pelo nome de divorciada, ao padre, que dá a entender que a culpa é dela por ter fugido de um relacionamento onde era agredida sem dar chances ao agressor de se desculpar, tudo acaba sendo dito e feito para encurralar Harper numa teia de culpa e remorso. E o homem nu talvez seja a representação mais palpável do medo que toda mulher tem de estar sendo perseguida ou vigiada o tempo todo.


Ter escalado o mesmo ator para fazer todos os papeis masculinos reforça a ideia de Garland de falar da natureza masculina e de suas toxicidades de uma maneira geral, mas sinto que o uso exacerbado de simbolismos vai acabar afastando um pouco o público desta ideia principal. Do meio para o final, o filme descamba para o lado visceral e parece perder um pouco o sentido, com cenas realmente degradantes que beiram o "gore", ainda que simbolicamente mostre que passam os anos, passam os séculos, e o machismo continua sendo replicado pois o homem continua o mesmo.
 
 

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