sexta-feira, 14 de julho de 2023

Crítica: Os Irmãos de Leila (2022)


Com uma história intensa, profunda e sobretudo humana, Os Irmãos de Leila (Baradaran-e Leila), do diretor Saeed Roustaee, é uma obra incrível sobre a complexidade das relações familiares, que aborda os costumes de uma família tradicional iraniana e critica o sistema patriarcal do país.


Leila (Taraneh Alidoosti) é a única filha mulher de Esmail (Saeed Poursamini), e a única que também consegue manter um emprego aparentemente estável em uma empresa comercial. Ela é a grande protagonista da história, apesar do nome do filme indicar que sejam os seus irmãos, em uma crítica muito oportuna do diretor ao fato dela se tornar mera coadjuvante na sua própria história, pois apesar de ser a única com condições de manter a família financeiramente, ela não possui o mesmo peso de decisão dos irmãos apenas por ser mulher. As ideias surgem dela, mas na hora da execução, ela fica de fora e é silenciada.

Apesar de conturbada e barulhenta, principalmente pelas dificuldades financeiras, a relação dos irmãos é muito fraternal. Temos Alireza (Navid Mohammadzadeh), que aparentemente é o mais centrado de todos, e acaba de perder o emprego em uma fábrica após a mesma falir. Em busca dos salários atrasados, os trabalhadores do local fazem protestos violentos no local, mas Alireza não participa da ação, e acaba sendo taxado de covarde pelos ex-colegas ao não querer reivindicar o dinheiro que lhe ficou devido. Farhad (Mohammad Ali Mohammadi) trabalha como taxista, enquanto Parviz (Farhad Aslani) é faxineiro em um banheiro público. Por fim ainda tem Manouchehr (Payman Maadi), que ao invés de trabalhar, sempre tenta arranjar alguma forma de fazer dinheiro com esquemas ilegais e fraudes. Acima de todos eles está o pai, que sonha se tornar o patriarca do clã após a morte do antigo detentor do título. 

Para nós aqui do ocidente talvez seja um pouco difícil de compreender, mas se tornar líder de um clã é uma posição muito almejada entre os homens mais velhos no Irã, e para tanto, Esmail está disposto a usar todas as suas economias para bancar o casamento de um dos membros. Leila, por sua vez, pensa usar esse dinheiro para abrir um negócio próprio da família e melhorar a vida de todos, e é quando começa o embate entre eles, já que proteger financeiramente a família pode ocasionar na humilhação pública e a perda da dignidade do próprio pai.


O diretor consegue construir uma família complexa e de personagens muito marcantes, e mesmo com suas quase três horas de duração, não cansa em momento algum pela maneira com que os conflitos vão aparecendo e sendo resolvidos. É tudo muito frenético, com os personagens sempre estressados, batendo boca, e em situações sempre conflituosas, o que de certa forma gera cenas engraçadas no final das contas. As atuações poderosas são um ponto importante nessa construção, com destaque para Taraneh Alidoosti, que brilha de forma notável. Os Irmãos de Leila não somente me prendeu durante quase três horas de sua duração, como acabou se tornando um dos melhores filmes que vi no ano.

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