segunda-feira, 4 de março de 2013

Cinema Europeu: De Meliès a Amélie Poulain

O continente europeu é conhecido desde sempre por ter uma arte de vanguarda. E quando surgiu o cinema, não poderia ser diferente. 

A vertente cinematográfica vinda do velho continente sempre encantou, fazendo com que fosse (e ainda seja cada vez mais) considerado por muitos, como o lugar onde se faz o melhor cinema do mundo.

Foi na frança, mais precisamente em Paris, que ocorreu a primeira exibição pública paga de um filme, feita pelos irmãos Lumière em dezembro de 1895. O fato é conhecido pelos historiadores como o pontapé inicial da história do cinema.

Da França também surgiu George Meliès, pioneiro em efeitos especiais. Seu filme mais famoso, A Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune), é cultuado por ter sido o primeiro filme a trazer efeitos visuais que, para a época, acabaram sendo visionários.


Cena de A Viagem à Lua, de George Meliès. Mostra o sonho humano de
chegar à lua, que só se concretizou mais de 60 anos depois.

A partir da segunda década do século XX, a Europa começou a produzir seus primeiros longas metragens, como Queen Elizabeth (França, 1912), Quo Vadis (Itália, 1913) e Cabíria (Itália, 1913), todos com no mínimo duas horas de duração.

No anos 20, o cinema de Hollywood passou a ser o mais importante do mundo, com o aparecimento de diversos estúdios grandiosos, muitos dos quais ainda existem até hoje (como Fox, Universal e Paramount). Em contrapartida ao crescimento do cinema americano, o cinema europeu buscou alternativas para não ficar atrás. No final da década, quase todos os filmes feitos nos Estados Unidos já eram falados, mas por razões econômicas, o som demorou mais um tempo para atravessar o oceano. Chantagem e Confissão, do cineasta inglês Alfred Hitchcock, teria sido o pioneiro nesse sentido, ainda em 1929.

Na França, entre as décadas de 20 e 30, teve início o período que posteriormente viria a se chamar Cinema Impressionista Francês, com destaque para o diretor Jean Renoir e seus filmes realistas e poéticos, como A Grande Ilusão e A Regra do Jogo. Já na Alemanha, surge o Movimento Expressionista, onde se destacam obras como O Gabinete do Dr. Cagliari, de Robert Wiene, Nosferatu, de F. W. Murnau e Metrópolis, de Fritz Lang.


Na Espanha surge o cinema surrealista, com seu representante máximo, Luis Buñuel, que lança O Cão AndaluzNa Rússia, o destaque fica por conta do diretor Sergei Eisenstein, com seu O Encouraçado Potemkin.


Imagem de Nosferatu, filme de 1922 do diretor alemão F. W. Murnau.


Entre as décadas de 30 e 40, surgem principalmente os filmes patrióticos, por conta da Segunda Guerra Mundial. A Alemanha lança diversos filmes propagandistas a favor do movimento nazista, entre eles O Triunfo da Vontade, de Leni Riefenstahl. Na Itália, surge o cinema Neo-realista, uma reação ao cinema fascista de Mussolini, que conta com diretores como Vittorio de Sica e Roberto Rosselini. E na União Soviética, o cinema ganhava força na luta contra o nazismo, com filmes como Alexandre Nevski, de Eisenstein.

Ainda no final dos anos 40, a Inglaterra chamava atenção com seu cinema pós-guerra de qualidade. Os principais nomes do movimento foram os diretores David Lean, Carol Reed e Michael Powell.

Grande comício Nazista que foi mostrado no filme O Triunfo da Vontade, de 1935.


No final da década de 50, surge na França o movimento Nouvelle Vague, um dos mais influentes de todos os tempos, que consagra diretores como Jean-Luc GodardFrançois TruffautRene Clément entre outros. Enquanto isso, na Suécia surgia o cinema psicológico de Ingmar Bergman e na Dinamarca o de Carl Theodor Dreyer.


Cena de Acossado, um dos filmes mais marcantes da Nouvelle Vague Francesa.

Entrando na década de 60, a Itália ganha destaque graças ao cinema como sátira social de Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, além do cinema pseudo-erótico de Píer Paolo Pasolini. Na Inglaterra, surge a New Wave britânica, com nomes consagrados como Jack Clayton (Almas em Leilão, O Grande Gatsby) e Tony Richardson (As Aventuras de Tom Jones). E na União Soviética pós-guerra, surge o nome de Andrei Tarkovski.


Marcello Mastroiani e Anita Ekberg na cena clássica de A Doce Vida, de Fellini.

Aos poucos, o cinema europeu começou a influenciar diretores americanos, mudando inclusive o estilo Hollywoodiano de fazer filmes. Stanley Kubrick, Woody Allen, Francis Ford Copolla e Martin Scorsese foram alguns dos diretores que se destacaram usando fórmulas bem "europeias" nas suas obras. 

No anos 70, Bernardo Bertolucci se destacava na itália, enquanto Fellini se consagrava cada vez mais como o melhor diretor do país segundo os críticos e o público. Theo Angelopoulos surge na Grécia com seus filmes intensos, enquanto o novo cinema alemão, com Werner Herzog e Rainer Werner Fassbinder, ia crescendo cada vez mais.

A Inglaterra, nesse período, experimentou como nunca, e lançou grandes produções como Carruagens de fogo e Gandhi, além de filmes do diretor Stanley Kubrick, que era americano mas trabalhava no país.


Maria Schneider e Marlon Brando em O Último Tango em Paris, de Bertolucci.

Após esse período, o cinema europeu sofreu uma certa recessão, e só voltou a ganhar destaque nos anos 80, com o surgimento de Pedro Almodóvar na Espanha, e seu cinema extravagante e colorido. Na Itália, Giuseppe Tornatore ganhava fama ao lançar filmes belíssimos como Cinema Paradiso. Na Alemanha, o nome de Win Wenders também ganhou algum destaque, com seu jeito poético de filmar.

De lá para cá, ainda é possível assistir belas obras produzidas no velho continente. Seja filmes políticos, seja comédias ou dramas psicológicos, o cinema europeu parece vinho: quanto mais envelhece melhor fica. 

Nessas últimas duas décadas, tivemos grandes filmes oriundos de lá. Da Itália, o maravilhoso A vida é bela, de Roberto Benigni. Da Áustria, nos deparamos com o nome de Michael Haneke e da Dinamarca, o de Lars von trier. Almodóvar se firmou como um grande diretor espanhol, enquanto Jean-Pierre Jeunet aparecia como um dos grandes nomes da atualidade, com seu O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.


Audrey Tautou no simpático O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Na Alemanha, os últimos anos foram reservados aos filmes sobre nazismo, principalmente como forma de se redimir do mal que o regime trouxe ao mundo. Filmes como Adeus, Lênis e A Onda mostram bem esse sentimento e essa preocupação.

Enfim, abaixo fiz uma lista dos melhores filmes europeus de todos os tempos, separados por seu respectivo país de origem:

Alemanha: 

- O Gabinete do Dr. Cagliari; Robert Wiene (1919)
- Nosferatu; F. W. Murnau (1922)
- Fausto; F. W. Murnau (1926)
- Metrópolis; Fritz Lang (1927)
- M - O Vampiro de Dussendorf; Fritz Lang (1931)
- O Triunfo da Vontade; Leni Riefenstahl (1935)
- O Medo Devora a Alma; Rainer Werner Fassbinder (1974)
- O Enigma de Kaspar Hauser; Werner Herzog (1974)
- Fritzcarraldo; Werner Herzog (1982)
- Paris, Texas; Wind Wenders (1983)
- Asas do Desejo; Win Wenders (1987)
- Corra Lola, Corra; Tom Tkywer (1999)
- Adeus, Lênin; Wolfgang Becker (2002)
- A Queda - As Últimas Horas de Hitler; Oliver Hirschbiegel (2004)
- A Vida dos Outros; Florian Henckel van Donnersmarck (2006)
- A Onda; Dennis Gansel (2008).


Espanha:
- O Cão Andaluz; Luis Buñuel (1929)
- Viridiana; Luis Buñuel (1961)
- El Verdugo; Luís García Berlanga (1963)
- O Discreto Charme da Burguesia; Luis Buñuel (1972)
- O Espírito da Colmeia; Víctor Erice (1973)
- Cría Cuervos; Carlos Saura (1976)
- Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos; Pedro Almodóvar (1988)
- Segredos em Família; Fernando León de Aranoa (1996)
- Tudo Sobre Minha Mãe; Pedro Almodóvar (1999)
- A Língua das Mariposas; José Luis Cuerda (1999)
- Lucia e o Sexo; Julio Medem (2001)
- Mar Adentro; Alejando Amenábar (2004)
- O Labirinto do Fauno; Guilhermo del Toro (2006)

França:
- A Viagem à Lua; George Meliès (1902)
- Napoleão; Abel Gance (1927)
- A Paixão de Joana D'Arc; Carl Theodor Dreyer (1928)
- O Atalante; Jean Vigo (1934)
- A Grande Ilusão; Jean Renoir (1937)
- A Regra do Jogo; Jean Renoir (1939)
- A Bela e a Fera; Jean Cocteau (1946)
- O Salário do Medo; Henri-Georges Clouzot (1953)
- Hiroshima, meu amor; Alain Resnais (1959)
- Os Incompreendidos; François Truffaut (1959)
- Acossado; Jean-Luc Godard (1960)
- Jules e Jim, Uma Mulher Para Dois; François Truffaut (1962)
- O Demônio das Onze Horas; Jean-Luc Godard (1965)
- A Grande Testemunha; Robert Bresson (1966)
- Cyrano de Bergerac; Jean-Paul Rappeneau (1990)
- O Ódio; Mathieu Kassovitz (1995)
- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain; Jean-Pierre Jeunet (2001)
- Irreversível; Gaspar Noé (2002)
- O Artista; Michel Hazanavicius (2011)


Inglaterra:
- Os 39 Degraus; Alfred Hitchcock (1935)
- Grandes Esperanças; David Lean (1946)
- Hamlet; Laurence Olivier (1948)
- Os Sapatinhos Vermelhos; Michael Powell (1948)
- O Terceiro Homem; Carol Reed (1949)
- As Oito Vítimas; Robert Hamer (1949)
- A Ponte do Rio Kwai; David Lean (1957)
- Almas em Leilão; Jack Clayton (1959)
- Lawrence na Arábia; David Lean (1962)
- 2001, Uma Odisséia no Espaço; Stanley Kubrick (1968)
- Laranja Mecânica; Stanley Kubrick (1971)
- Inverno de Sangue em Veneza; Nicolas Roeg (1973)
- O Homem Elefante; David Lynch (1980)
- Carruagens de Fogo; Hugh Hudson (1981)
- Gandhi; Richard Attenborough (1982)
- Trainspotting; Danny Boyle (1996)
- Shakespeare Apaixonado; John Madden (1998)

Itália:
- Roma, Cidade Aberta; Roberto Rossellini (1945)
- Ladrões de Bicicleta; Vittorio de Sica (1948)
- A Aventura; Michelangelo Antonioni (1960)
- A Doce Vida; Federico Fellini (1960)
- Oito e Meio; Federico Fellini (1963)
- O Leopardo; Luchino Visconti (1963)
- O Evangelho Segundo São Mateus; Pier Paolo Pasolini (1964)
- Blow-Up - Depois Daquele Beijo; Michelangelo Antonioni (1966)
- Três Homens em Conflito; Sergio Leone (1966)
- Era Uma Vez no Oeste; Sergio Leone (1968)
- O Conformista; Bernardo Bertolucci (1970)
- Decameron; Pier Paolo Pasolini (1971)
- Amarcord; Federico Fellini (1973)
- 1900; Bernardo Bertolucci (1976)
- A Família; Ettore Scola (1987)
- Cinema Paradiso; Giuseppe Tornatore (1988)
- A Vida é Bela; Roberto Benigni (1997)

Rússia:
- O Encouraçado Potemkin; Sergei Eisenstein (1925)
- O Homem da Câmera; Dziga Vertov (1929)
- Alexandre Nevski; Sergei Eisenstein (1938)
- Balada do Soldado; Grigori Chukhrai (1959)
- Andrei Rublev; Andrei Tarkovski (1966)
- O Espelho; Andrei Tarkovski (1975)
- Vá e Veja; Elem Klimov (1985)
- O Sol Enganador; Nikita Mikhalkov (1994)
- A Arca Russa; Alexander Sokurov (2002)


Outros:
- A Palavra; Carl Theodor Dreyer - Dinamarca (1955)
- O Sétimo Selo; Ingmar Bergman - Suécia (1957)
- Os Amores de uma Loira; Milos Forman - Tchecoslováquia (1965)
- Jeanne Dielman; Chantal Akerman - Bélgica (1975)
- Mephisto; István Szábo - Hungria (1981)
- Fanny & Alexander; Ingmar Bergman - Suécia (1982)
- Minha Vida de Cachorro; Lasse Hallstrom - Suécia (1985)
- Pelle, O Conquistador; Bille August - Dinamarca (1988)
- A Eternidade e Um Dia; Theo Angelopoulos - Grécia (1988)
O Decálogo; Krzysztof Kieslowski - Polônia (1989)
- Meu Pé Esquerdo; Jim Sheridan - Irlanda (1989)
- A Garota da Fábrica de Caixa de Fósforos; Aki Kaurismaki - Finlândia (1990)
- Em Nome do Pai; Jim Sheridan - Irlanda (1993)
- A Excêntrica Família de Antônia; Marleen Goris - Holanda (1995)
- Underground; Emir Kusturica - Iugoslávia (1995)
- O Oitavo Dia; Jaco van Dormael - Bélgica (1996)
- Violência Gratuita; Michael Haneke - Áustria (1997)
- Trem da Vida; Radu Mihaileanu - Romênia (1998)
- Dançando no Escuro; Lars von Trier - Dinamarca (2000)
- Terra de Ninguém; Danis Tanovic - Bósnia (2001)
- Domingo Sangrento; Paul Greengrass - Irlanda (2002)
- O Pianista; Roman Polanski - Polônia (2002)
- O Pesadelo de Darwin; Hubert Sauper - Áustria (2004)
- Caché; Michael Haneke - Áustria (2005)
- Os Falsários; Stefan Ruzowitzsky - Áustria (2007)
- 4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias; Cristian Mungiu - Romênia (2007)
- Sr. Ninguém; Jaco van Dormael - Bélgica (2009)

3 comentários:

  1. Meu blog ainda está iniciando. Não é cinéfilo.
    Parabéns a sua obra é adorável.
    Ninguém sentiu a falta do Franco Zefirellli

    ResponderExcluir