quarta-feira, 26 de março de 2014

Crítica: A Pele de Vênus (2014)


Alguns diretores se destacam dos outros por seu estilo próprio, e um ótimo exemplo disso é Roman Polanski. Os clássicos Repulsa ao Sexo (Repulsion), O Bebê de Rosemary (Rosemary Baby's) e O Inquilino (The Tenant), além do mais recente Deus da Carnificina (Carnage), possuem todos uma característica em comum: se passam em um mesmo ambiente, dando um clima bastante claustrofóbico à história.



A Pele de Vênus (Venus in Fur) não foge desse estilo, e se passa inteiramente dentro de um teatro envolvendo apenas dois atores durante toda a trama. O que poderia ser um verdadeiro fracasso resultou em mais um filme sublime de Polanski, graças a mão firme na direção e às atuações fantásticas.

Na trama, Thomas (Mathieu Amalric) está fazendo audições para sua peça estreante, A Pele de Vênus, adaptação do clássico de Sacher Masoch. Obcecada pelo papel principal, a atriz Vanda (Emmanuelle Seigner) usa de todo seu jeito excêntrico e dominador para convencer ele a ouvir sua encenação e escolhe-la.


Ao iniciarem o teste, Thomas logo percebe que ela está mais preparada do que ele imaginava. A atriz sabe todas as falas de cor, e com desenvoltura, toma para si a personagem como ninguém, palpitando sobre o enredo e as principais cenas. Com o tempo, ambos vão misturando ficção com realidade, iniciando um jogo perigoso entre eles.

Na peça, um homem pede à mulher que ama para que ela o torne seu escravo, infringindo todas as torturas que quiser. Aliás, é do nome do autor (Masoch) que vem a origem da palavra masoquista. Ao contracenar as cenas do roteiro, ambos passam a viver suas perversões. A personalidade provocante e dominadora de Vanda se sobressai, e aos poucos ela vai comandando a mente de Thomas, levando ele a fazer coisas estranhas.



Em um filme de dois personagens, é óbvio que as atuações e os diálogos teriam que ser magistrais para segurar o público até o fim. E absolutamente são. Mathieu Amalric (de O Escafandro e a Borboleta e Frango com Ameixas) prova mais uma vez porque é um dos melhores atores franceses dessa geração. Já Seigner (mulher de Polanski na vida real) chama a atenção não só por sua sensualidade, mas sua destreza.

O roteiro bem construído rendeu o Prêmio César (o Óscar francês) de melhor diretor para Polanski, além da indicação em outras diversas categorias. Por fim, há de se elogiar o diretor, que mesmo após cinco décadas, ainda não perdeu sua veia original. É sem dúvida um dos filmes mais interessantes do ano.


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