domingo, 7 de janeiro de 2018

Crítica: The Square - A Arte da Discórdia (2018)


Grande vencedor do último Festival de Cannes e candidato sueco ao Óscar 2018, The Square - A Arte da Discórdia finalmente estreou no Brasil, quase um ano após o seu lançamento, e a experiência de assisti-lo na tela do cinema foi fascinante. Provocativo, intenso e com um humor diferenciado, o filme de Ruben Ostlund impressiona desde as primeiras cenas com sequências extremamente originais.

Na trama, Christian (Claes Bang) é o curador de um conceituado museu de arte moderna de Estocolmo. O local está prestes a receber uma nova exposição, chamada de The Square (o quadrado), que segundo a autora, tem a intenção de sensibilizar o público sobre a importância da empatia, a importância de sermos solidários mesmo com quem não conhecemos.

Ao mesmo tempo em que Christian apoia e acha brilhante a ideia dessa conscientização, o mesmo age de forma mesquinha com pessoas de classes mais baixas, e aí está a primeira reflexão que o enredo nos trás. Uma reflexão sobre o egoísmo e a hipocrisia do ser-humano, cada vez mais fechado em si mesmo e cego de não enxergar isso como um problema sério. A segunda reflexão que o filme faz diz respeito à arte em si, e é muito pertinente nos dias de hoje, sobretudo no Brasil, onde 90% das pessoas não frequentam exposições artísticas mas se acham capazes de dissertar sobre o que é arte e o que não é.

Assim como em seu primeiro filme, Força Maior (2014), Ostlund traz novamente a questão da ética e da moral de um homem de meia idade em situações conflitantes. Se no filme anterior a causa do "caos" foi uma avalanche em meio às montanhas dos Alpes, neste caso a história ganha contornos interessantes quando Christian tem seu celular roubado e decide se vingar do ocorrido de forma peculiar, mas pouco madura.

Com cenas emblemáticas, The Square é impecável tecnicamente. O movimento da câmera em alguns momentos me deixou em êxtase. Ostlund possui uma visão magnífica de posicionamento e enquadramento, e o mais surpreendente disso tudo é que se trata apenas de seu segundo filme na carreira, e que ele ainda tem muito pela frente. Além do mais, as atuações também são sublimes, com destaque para o protagonista, Claes Bang, e para Elizabeth Moss, que se torna responsável por algumas das cenas mais engraçadas do longa.


Por fim, saí do cinema com uma sensação gostosa ao fim do filme, como não sentia há algum tempo. Ainda que instigue nosso lado crítico, ele não se torna enfadonho e sua longa duração nem é sentida, porque dá vontade de ver mais. Não é um filme fácil, não é um filme comum, mas quando você consegue pescar sua essência e entrar na história, a experiência se torna única.

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