quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Crítica: Green Book: O Guia (2019)


Green Book era um livreto conhecido nos anos 1960 por indicar os lugares em que os negros poderiam frequentar, como hotéis, bares e restaurantes. Usando como mote central a viagem de um músico negro pelo sul dos Estados Unidos, o novo filme de Peter Farrelly explora o período de segregação racial com leveza e bom humor, e diferente de outras produções do mesmo gênero, foge do debate sobre racismo, ainda que o assunto esteja presente o tempo todo.


O filme se passa em 1962 e começa em Nova Iorque, onde Tony Vallelonga (Viggo Mortensen) trabalha como segurança na famosa casa noturna Copacabana. Descendente de italianos, Tony vive em um apartamento do Bronx com a mulher e os filhos, mas a casa sempre está lotada de amigos e parentes próximos que, como bons italianos, gostam de uma algazarra.

Enquanto o Copacabana ficará fechado por dois meses para reformas, Tony precisa arrumar outra forma de ganhar dinheiro, e graças aos contatos surge uma entrevista com um músico peculiar chamado Dr. Shirley (Mahershala Ali). Ele reluta em aceitar a proposta, mas logo depois aceita viajar com o músico por oito meses em uma turnê pelo sul do país a bordo de um cadillac azul. Mais do que motorista, Tony se torna assistente pessoal de Dr. Shirley, cuidando da agenda, dos horários e principalmente de sua segurança.


É importante lembrar que estamos nos anos 1960, uma época de muita segregação racial nos Estados Unidos, e Shirley, mesmo sendo um dos pianistas de maior sucesso daquele período, ainda precisa lidar com todo tipo de preconceito pela jornada. O filme possui muitos momentos leves e descontraídos, onde é possível dar boas risadas, mas também cenas pesadas, como a abordagem policial e a proibição da entrada do músico em lugares "brancos".

O roteiro tem suas falhas e algumas situações mal abordadas, mas não deixa de ser interessante e prender até o fim. Isso se dá principalmente pelas ótimas atuações de Mahershala Ali e Viggo Mortensen, que em cena criam uma grande parceria entre um homem sofisticado e um "brutamontes". A trilha sonora também é um charme, e contribui para o clima do filme.


Uma das maiores críticas ao longa de Farrelly é o fato de Tony se livrar muito fácil de seus preconceitos (uma cena no início deixa claro seu racismo) e ser taxado com o velho esteriótipo de "homem branco salvador", e isso de fato faz o filme perder um pouco seu brilho, mas não podemos reduzir o filme a isto. Green Book é sim um ótimo filme, ainda que feita apenas com a intenção de entreter e não fazer críticas.

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