sexta-feira, 17 de abril de 2020

Crítica: Queen & Slim (2020)


Um dos temas mais abordados ultimamente no cinema é a opressão policial, principalmente contra a população negra, e os filmes "O Ódio que Você Semeia", "Blindspotting" e "American Son" são bons exemplos recentes. Queen & Slim, da estreante diretora Melina Matsoukas, reúne um pouco de cada um deles para trazer às telas mais uma história revoltante de injustiça social.



O filme começa em uma cidade do estado de Ohio, onde Earnest (Daniel Kaluuya) e Angela (Jodie Turner-Smith) estão tendo o primeiro encontro depois de se conhecerem pelo Tinder. Os dois parecem não se dar muito bem, mesmo assim a mulher aceita uma carona até sua casa após o jantar. No meio do caminho, porém, os dois são parados por uma viatura polícia, e sem nenhum motivo aparente o policial resolve agredir Earnest, que numa reação de defesa acaba matando o oficial. 

Analisando o contexto da sociedade que a gente vive, sabemos que um homem negro, mesmo agindo sob legítima defesa, seria abatido ou acusado de agir com dolo assim que chegassem as viaturas para atender a ocorrência. Por isso mesmo, sabendo dessa realidade de marginalização do negro, Earnest e Angela resolver deixar tudo para trás e fugir da cidade, seguindo até outro estado para se esconder na casa de parentes.



O filme tem um ar de "road movie" e boa parte de suas ações acontecem mesmo na estrada, com situações que os dois enfrentam e pessoas que encontram pelo caminho. Mais do que uma fuga de um crime, a jornada acaba sendo até mesmo de descoberta para ambos, e um dos pontos positivos da trama são seus diálogos. Contando com a ajuda de outras pessoas, e muitas vezes com a própria sorte, os dois vão conseguindo escapar da perseguição policial, ao mesmo tempo em que o vídeo do homicídio vaza na internet e inflama toda a comunidade negra a seu favor.

Em termos narrativos, não há muita surpresa, quase como se seguisse uma cartilha. Mas isso não é demérito nenhum. É um filme que evidentemente tem uma bandeira, mas isso não o torna necessariamente panfletário. Há, sim, uma abordagem bastante humana sobre um assunto que vem sendo discutido há muito tempo e que se torna cada vez mais necessário. A trilha sonora também é outro ponto muito bem trabalhado, além das boas atuações de Daniel Kaluuya (do filme Corra!) e da estreante em filmes Jodie Turner-Smith.


Por fim, Queen & Slim é uma grata surpresa do cinema neste ano. Um filme que sabe discutir o preconceito racial com muita maturidade, ao mesmo tempo que disserta sobre valores como o amor e a empatia. Possui algumas cenas bem emblemáticas e uma representatividade muito forte, que só engrandecem ainda mais essa bela obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário