domingo, 22 de agosto de 2021

Crítica: Caros Camaradas! (2021)


Depois do aclamado Paraíso (2016), que foi escolhido na época para representar a Rússia no Óscar de melhor filme em língua estrangeira, o veterano cineasta Andrei Konchalovsky volta aos holofotes com Caros Camaradas! (Dear Comrades!), filme que fala diretamente sobre a luta da classe trabalhadora e a opressão de um governo totalitário.


O enredo se baseia num fato verídico que ocorreu na União Soviética em 1962, e que ficou conhecido posteriormente como Revolta de Novocherkassk. Em plena guerra fria, onde Stálin já havia morrido e o país vivia entre altos e baixos na economia, um grupo de trabalhadores decide se revoltar contra o aumento abusivo dos preços nos mercados e a baixa do salário recebido numa fábrica de locomotivas. A revolta sai do controle quando trabalhadores de outras fábricas se unem ao ato, e o governo russo resolve conter as manifestações com muita violência.

O mais interessante na trama é que o ponto de vista mostrado, pelo menos em grande parte, não é o dos operários, mas sim de Luydmilla (Yuliya Vysotskaya), uma forte militante do partido comunista que trabalha numa cúpula do governo municipal. É através dela que acompanhamos o movimento do governo para conter a greve e a crescente preocupação interna de que a revolta poderia manchar a imagem de prosperidade do regime, que de fato foi o que motivou a opressão descabida.


A protagonista é bastante complexa. Ao mesmo tempo que reconhece que as coisas não andam bem no país, ela não recua em defender o regime a todo custo, batendo de frente inclusive com a própria filha, que é uma ferrenha opositora. Nas manifestações, ela também se mostra a favor da força policial, até entender que as coisas não iriam terminar da forma como ela esperava e começar a refletir sobre tudo aquilo que defendeu por anos. Não é um filme que critica uma ideologia específica, mas sim, todos os governos que agem com truculência e tentam maquiar seus erros e seus defeitos. É também um filme sobre repensar ideais de uma vida toda quando eles não fazem mais sentido.

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