segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Crítica: A Noite de Fogo (2021)

Algumas realidades são realmente duras de serem vistas na tela, mas ao mesmo tempo é de extrema importância que sejam mostradas. Dirigido pela estreante Tatiana Huezo, A Noite do Fogo (Noche de Fuego) é baseado no livro "Reze pelas Meninas Roubadas", que conta a história de meninas que são tiradas de suas famílias para virarem escravas sexuais de milícias armadas numa região do México.

 

O roteiro gira em torno de Ana (Ana Cristina Gonzales), uma menina que vive com a mãe em um vilarejo no estado de Jalisco. Na primeira cena já temos uma amostra da preocupação e do medo que permeia a casa das duas, quando a mãe da menina abre uma cova no pátio e pede para Ana entrar e testar o que seria um esconderijo.

O grande acerto da direção é trazer o ponto de vista das crianças. Já existem muitos filmes que falam do crime no México sob a perspectiva adulta, e aqui temos uma visão sincera de quem não entende muito bem o que está acontecendo mas traz o medo no olhar. É através das reações e dos olhares dessas meninas que sentimos o verdadeiro impacto que as organizações criminosas criam na vida e no dia a dia dessas pessoas.


O personagem Leonardo, professor da escola local, tem uma grande importância por ser a voz que ativa o pensamento crítico nas meninas e as fazem refletir. Mais do que isso, faz elas se revoltarem quando passam a entender e questionar a realidade em que vivem. Para evitar serem visadas, elas são obrigadas a cortar o cabelo curto, e uma das cenas mais emocionantes do filme é justamente num momento como esse. São meninas que não conseguem viver uma vida normal, quase não conseguem dar um sorriso, mas que carregam uma doçura encantadora dentro delas. A Noite de Fogo só evidencia o quão importante é termos diretoras mulheres no cinema, que são capazes de mostrar uma história como essa com tamanha sensibilidade e coragem. Não é um filme fácil, porém necessário.


Nenhum comentário:

Postar um comentário