quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Crítica: O Cego que Não Queria ver o Titanic (2021)


As dificuldades e as adaptações de um homem que fica cego e paralítico por causa de uma doença degenerativa. Esse é o mote central de O Cego que não Queria Ver o Titanic, dirigido pelo finlandês Teemu Nikki, e que foi disparado o melhor filme que vi no formato online da 45ª Mostra Internacional de São Paulo.


Não, o filme não se passa na época do Titanic, muito menos a bordo do navio que naufragou em 1912. Brincadeira à parte, o título é em alusão ao filme lançado em1996, que Jaakko (Petri Poikolainen) se gaba de nunca ter visto por uma implicância sua com o diretor James Cameron. Antes de perder a visão, Jaakko era um apaixonado por cinema, e sua coleção imensa de VHS e DVD's é a prova disso. As duas pernas que não se mexem mais também são chamadas por ele de Rocky e Rambo, e ele se considera um fã incondicional dos filmes de John Carpenter. Outra mania curiosa que o personagem tem é a de imaginar as pessoas que aparecem na sua vida com caras de personagens de filmes. A enfermeira que cuida dele ganha o rosto de Annie Wilkes (personagem de Stephen King) na sua imaginação, o taxista que o busca em casa é Travis Bickle (de Táxi Driver), e assim por diante.

Seus contatos com o mundo exterior são com seu pai, que o liga todos os dias as três da tarde em ponto, e com Sirpa (Marjaana Maijala), que ele nunca conheceu pessoalmente mas mantém um relacionamento à distância depois de terem se conhecido em uma espécie de "Tinder". Quando Sirpa anuncia que está com uma doença e está com medo de não durar muito tempo, Jaakko decide viajar para encontrá-la. Porém, desde que ficou cego, ele nunca havia saído de casa sozinho, e a aventura se torna perigosa quando ele encontra pelo caminho pessoas de má índole. É aí que sentimos na pele a angústia de Jaakko, de não saber em quem confiar, e o doloroso sentimento de impotência que toma conta dele.


O filme é direto, sem rodeios, e tem um movimento de câmera bastante inquieto. O diretor também usa bastante o efeito de close no rosto do protagonista para mostrar as suas emoções, e isso nos deixa ainda mais próximos dele. Aliás, que bela atuação de Petri Poikolainen, que na vida real sofre da mesma doença do personagem e também vive sem enxergar e numa cadeira de rodas desde 2010. A experiência de assistir esse filme foi intensa, chocante, mas ao mesmo tempo prazerosa pela qualidade acima da média, e o prêmio do júri popular em Veneza foi muito mais do que merecido.


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