sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Crítica: Murina (2021)


Vencedor do Caméra d'Or, prêmio que é concedido a filmes de diretores estreantes no Festival de Cannes, Murina gira em torno de Julia (Gracija Filipovic), uma adolescente que vive com seus pais em uma ilha do litoral croata. A paisagem paradisíaca, no entanto, é a única coisa bela que Julia tem em sua vida, já que ela se sente verdadeiramente enclausurada no lugar, sem ter distrações e principalmente sem poder sonhar com algo além dali.


Ao mesmo tempo em que passa seus dias trabalhando com o pai na pesca submarina de Murinas (uma espécie de peixe local), ela precisa lidar com o temperamento abusivo e hostil do mesmo, que a trata de forma extremamente agressiva. Sua mãe (Danica Curcic) é o oposto, mas não tem voz ativa dentro do ambiente familiar e apenas se cala diante de tudo. A chegada de Javier (Cliff Curtis), um amigo de longa data do casal que está querendo comprar o terreno para fazer um resort, muda todas as perspectivas de Júlia.

Com incentivo de Javier, Julia passa a sonhar em estudar fora e ter uma vida longe da ilha, o que causa ainda mais revolta em seu pai. A presença do homem também parece acordar o espírito de rebeldia que havia em Julia mas que estava adormecido, e ela passa não só a sonhar com um futuro melhor mas também a não ficar mais quieta diante dos abusos que sofre.


A direção é realmente primorosa em seus detalhes. O uso do oceano como elemento simbólico na libertação de Júlia é algo que deve ser elogiado, inclusive na cena final. A claustrofobia das cenas debaixo d'água não é maior do que a claustrofobia que Julia sente por ser controlada enquanto está em terra firme, e isso também fica evidente quando ela enxerga jovens da sua idade se divertindo em uma lancha ancorada próxima do local e percebe algo que ela nunca teve oportunidade de ter: amigos. Existe um trabalho realmente magnífico de construção da personagem, e isso se dá muito pela ótima atuação da protagonista. Por fim, Murina é realmente uma estreia grandiosa de Antoneta Alamat Kusijanovic na direção, que nos apresenta um drama poderoso sobre amadurecimento.


Nenhum comentário:

Postar um comentário