segunda-feira, 21 de março de 2022

Crítica: O Bom Patrão (2022)


Recordista de indicações no Goya, principal premiação do cinema espanhol, e representante do país no Oscar 2022, O Bom Patrão (El Buen Patrón) é uma ótima comédia ácida sobre a falsa moralidade que existe nas relações empregado/patrão.


A trama acompanha Blanco (Javier Bardem), dono de uma empresa consolidada e bem sucedida que fabrica balanças de todos os tipos. Aliás, o equilíbrio e a precisão das balanças é algo que Blanco costuma levar metaforicamente para tudo na vida. Apaixonado pelo que faz, ele não deixa de lembrar a todo momento o quanto esses valores são importantes, e gosta de tratar os seus funcionários como membros da família, abraçando seus problemas particulares e tentando inclusive resolvê-los pelo bem estar de todos.

O ambiente aparentemente tranquilo da empresa é ameaçado quando um funcionário (Óscar de la Fuente) não aceita a sua demissão e monta um acampamento na frente do local, fazendo de tudo para tentar botar abaixo a reputação de "empresa comprometida com o ser humano" que Blanco tanto prioriza manter intacta. E tudo isso acontece às vésperas da fábrica receber a visita de um comitê que vai avaliar uma premiação que Blanco sonha há anos conquistar para colocar na sua parede de troféus.


O sorridente empresário pode até ser um grande chefe, mas como todo bom patrão, na hora do aperto ele vai passar por cima de qualquer um para defender a saúde financeira da sua empresa. E é exatamente aí que começam as críticas do filme, todas feitas com muito sarcasmo e bom humor. Apesar de não ter um viés político declarado, o filme faz uma crítica nas entrelinhas ao modo perverso que o mundo capitalista age para defender os seus interesses.

Javier Bardem está impecável na pele deste personagem cheio de camadas e surpresas. O tempo todo Blanco tenta mostrar que é um homem sério, de caráter irretocável, mas suas atitudes por debaixo dos panos deixam evidente que não é bem assim. O "clichê" do caso extraconjugal com uma estagiária (Almudena Amor) também tem um papel interessante na trama, como se tirasse de vez essa sua máscara da moralidade.

 

Gosto também da crítica feita aos defensores da "meritocracia", quando Blanco dá a entender que merece mais do que ninguém estar onde está e ter uma empresa de sucesso, e uma pessoa da família rebate dizendo que ele já recebeu tudo pronto do antigo dono, que no caso era o seu próprio pai. Por fim, O Bom Patrão tem o tipo de humor que me agrada muito ver em um filme, pois ao mesmo tempo em que faz rir, também desenvolve o pensamento crítico e traz questionamentos pertinentes à sociedade atual. Um dos filmes mais bacanas e envolventes que assisti até então no ano.


Nenhum comentário:

Postar um comentário