segunda-feira, 23 de maio de 2022

Crítica: A Noite do Triunfo (2021)


Usando como pano de fundo uma história real ocorrida com o diretor de teatro sueco Jan Jönson nos anos 1980, Emmanuel Courcol nos apresenta A Noite do Triunfo (Un Triomphe), comédia dramática que atualiza a história para os dias de hoje e fala, acima de tudo, sobre a capacidade transformadora que a arte tem.


Ettiene (Kad Merab) é um ator de teatro desempregado e sem perspectivas na carreira, que aceita assumir a responsabilidade de dar aulas de teatro numa penitenciária francesa. Ao perceber que os poucos presos interessados nas aulas possuem capacidade de sobra para encenar muito mais do que leves esquetes de humor, ao qual estão acostumados, Ettiene decide colocá-los para ensaiar "Esperando Godot", peça fundamental do chamado "teatro do absurdo" escrita pelo irlandês Samuel Beckett e lançada em 1952.

Na peça, dois personagens esperam por alguém misterioso chamado Godot, que nunca chega, e seria, metaforicamente falando, a representação da esperança de algo que se espera muito mas que não acontece. O texto logo cai nas graças dos detentos, já que de alguma maneira eles também se sentem como os personagens da peça, mantendo sempre a esperança de algo que não chega, neste caso, sua liberdade. Ettiene inclusive fala sobre isso em um emocionante ponto do filme, que justifica muito bem a escolha da peça feita por ele.


A narrativa em nenhum momento aborda os motivos desses homens estarem na prisão, o que achei interessante, pois a discussão acerca da ressocialização vai além do que eles fizeram no passado. Talvez exista, sim, uma tentativa um pouco exagerada do diretor em mostrar o lado "sensível" dos presos, mas também existe a figura da diretora da prisão (Marina Hands), que sempre lembra que eles não estão ali por acaso. Ainda assim, isso não impede que eles possam se apresentar em teatros com público e ganhar reconhecimento pelo talento recém descoberto. O final tem uma boa reviravolta e me surpreendeu bastante, porque foge do clichê.


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