domingo, 6 de novembro de 2022

Crítica: Alcarràs (2022)


Vencedor do prêmio principal no último Festival de Berlim e escolhido para representar a Espanha no Oscar 2023, Alcarràs, da diretora Carla Simón, mostra com sensibilidade o dia a dia de uma família de agricultores do interior da Catalunha, que precisa lidar com grandes mudanças em sua rotina por conta da chegada de um novo "patrão".


Há décadas a família Sopé vive do cultivo de pêssegos na cidade de Alcarràs. O negócio foi passando de geração para geração desde que o patriarca da família ganhou as terras em um acordo verbal. Porém, com a morte do antigo dono envolvido no acordo, o seu herdeiro decide pedir as terras de volta, o que cria um clima de aflição e incerteza. Agora quem está cuidando com pulso firme do cultivo é Quimet (Jordi Dolcet), e ele passa a fazer o que está ao seu alcance para evitar que sua família perca o único sustento que os manteve por tantos anos.

Em troca de deixar ficarem no local por mais um tempo, o novo dono começa a forçar um negócio diferente para a família, que envolve painéis de energia solar. A partir de então, o filme passa a analisar a reação de cada um deles diante desta nova tecnologia. Percebe-se que não há a mínima vontade deles em mudar o modo de vida, mas ao mesmo tempo, seria a melhor maneira de garantir sua sobrevivência, e isso acaba dividindo as opiniões.

O roteiro é muito orgânico e realista. Gostei do jeito que a câmera em movimento vai passando lentamente pelas plantações enquanto eles trabalham, assim como ela também mostra de perto os momentos íntimos dentro de casa, como se estivéssemos ali presentes, desde uma conversa informal na cozinha até as brincadeiras das crianças. Aliás, é interessante que boa parte das ações são mostradas pelos olhos infantis, o que passa uma certa ternura e inocência, já que eles estão totalmente alheios ao momento de crise.


Por ter uma narrativa naturalista, o filme acaba fluindo de forma linear, não tendo nenhum "clímax", o que por vezes acaba tornando-o tedioso, principalmente do meio para o final. Ainda assim, consegue falar muito com tão pouco, trazendo à tona a discussão sobre a forma que os trabalhadores do campo são tratados.


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