segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Crítica: Armageddon Time (2022)


Tem sido cada vez mais frequente vermos diretores trazerem memórias de sua infância para as telas dos cinemas. Foram vários exemplos nestes últimos anos, como Roma (Alfonso Cuarón), Belfast (Kenneth Branagh) e A Mão de Deus (Paolo Sorrrentino), e o mais novo filme a entrar para a lista é Armageddon Time, de James Gray.


O filme se passa nos anos 1980 e inicia em uma escola pública do Queens, região de Nova Iorque, onde Paul (Michael Banks Repeta) e Johnny (Jaylin Webb) criam uma forte amizade mesmo vindo de realidades bem distintas. Paul é de uma família judia que tem muito dinheiro. Johnny, por sua vez, é um menino negro oriundo da periferia, que possui uma família problemática e sempre acaba sendo punido com mais rigor do que os outros pelo professor Turkeltaub (Andrew Polk), numa clara manifestação de racismo.

Após serem pegos fazendo algo grave na escola, os dois acabam sendo separados. Paul é levado então para estudar na mesma escola particular do irmão mais velho, Ted (Ryan Sell), onde tem muita dificuldade de adaptação já que a instituição possui regras rígidas e é extremamente excludente. Já Johnny, que não tem nenhuma estrutura familiar por trás, decide abandonar os estudos, e tenta continuar vendo o amigo quando pode.

O filme é um "coming of age" clássico, e usa o amadurecimento do personagem para abordar temas como antissemitismo e racismo. É interessante como a família de Paul sofre preconceito por serem judeus, mas ao mesmo tempo desprezam pessoas negras, e é justamente esse um dos motivos de Paul se distanciar cada vez mais das raízes familiares, já que enxerga toda a contradição que existe ali. O sonho de Paul em ser artista também conflita diretamente com o sonho dos pais de vê-lo formado em alguma faculdade, e nessa tentativa de se adequar às expectativas, o menino fica cada vez mais revoltado, tendo como único apoio sentimental o seu avô (Anthony Hopkins).
 

O elenco conta com nomes como Anne Hathaway, Anthony Hopkins e Jeremy Strong, além de uma participação especial de Jessica Chastain como Maryanne Trump (sim, a irmã de Donald Trump), que aparece fazendo um discurso cafona sobre meritocracia, já que o pai, Fred Trump, é o patrono da escola onde Paul foi estudar. Esse casting de peso contribui muito para o garoto Michael Banks Repeta brilhar, em uma grande atuação mirim, e que é para mim o grande destaque do filme. O roteiro, no entanto, peca um pouco em seu final, que acaba sendo bem corrido. Ainda sim, não há dúvidas que é o filme mais honesto e íntimo do diretor, e vale a pena acompanhar essa sua viagem ao passado.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário