domingo, 5 de março de 2023

Crítica: Entre Mulheres (2022)


Em 2009, um grupo de homens foi preso em uma colônia isolada na Bolívia sob a acusação de terem abusado sexualmente das mulheres que viviam no local. O lugar era conhecido por ser uma colônia menonita, onde todos viviam sob um forte fundamentalismo religioso e rejeitavam a modernidade, sobrevivendo de forma extremamente simples, sem luz elétrica, sem tecnologias e sem contato com o mundo exterior. Baseado nessa história, a romancista canadense Miriam Toews escreveu "Women Talking", lançado em 2018, que acabou servindo como texto base para este filme homônimo roteirizado e dirigido por Sarah Polley.



A trama inicia com uma menina acordando após ter sido dopada e violentada durante a noite, algo corriqueiro e que aparentemente tem acontecido com todas as outras mulheres da comunidade. Muitas delas até acreditavam se tratar de fantasmas que invadiam as residências à noite para estuprá-las, e outras simplesmente ficavam em silêncio por vergonha ou medo. Tudo isso até que finalmente um dos homens acaba sendo flagrado no ato, e as mulheres resolvem iniciar uma votação para decidir o que fazer a partir de então. Estão em disputa duas formas de reagir ao ocorrido: ficar e lutar contra estes abusos, ou apenas partir e reiniciar a vida em outro lugar. Há ainda as que defendem que se deve perdoar os agressores para que elas possam ficar em paz com Deus.

A partir deste embate, passamos a acompanhar as boas discussões que surgem entre essas mulheres, e é aí também que entra a metáfora da diretora em relação aos abusos que as mulheres sofrem diariamente mundo à fora, e que muitas vezes se vêem obrigadas a se calar diante disso. Aqui elas ganham voz, e muita. São quase duas horas de diálogos potentes entre personagens que possuem personalidades diferentes, de acordo com suas próprias vivências. O único personagem homem da história é August (Ben Wishaw), que é professor na colônia e acaba servindo como um escrivão para elas. Vale lembrar que a tradição patriarcal dessa colônia não permitia que mulheres tivessem acesso a nenhum tipo de educação e sequer se alfabetizassem, vivendo exclusivamente para a fé.

 

O filme tem uma fotografia bem pálida, o que ajuda a criar um ambiente de sufocamento, unido ao fato de se passar quase inteiramente dentro de um celeiro. O ponto alto são as atuações, principalmente de Jessie Buckley e Claire Foy, na pele das duas personagens mais revoltadas com toda a situação. Rooney Mara também está bem como uma personagem que vai mudando sua percepção de acordo com o transcorrer das discussões, até por ser a única delas que no momento está esperando um filho, fruto de um estupro. Só achei um desperdício a atriz Francis McDormand estar no elenco mas participar de apenas uma cena, com uma única fala. Queria ter visto mais dela em tela. Apesar de entender a importância das discussões que o filme propõe, não consegui me conectar como gostaria com a história, até por conta do ritmo cadenciado, que me deixou entediado em muitos momentos. Ainda assim, não retiro o peso da obra e nem ignoro o fato dela ter belas sequências. Quando as mulheres falarem, pare para ouvir o que elas tem a dizer. O recado está dado!

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