quinta-feira, 2 de março de 2023

Crítica: Império da Luz (2022)


Três anos após o sucesso de 1917, Sam Mendes volta aos cinemas com Império da Luz (Empire of Light), um filme que tinha a faca e o queijo na mão para se tornar um dos melhores filmes da carreira do diretor, mas preferiu pegar tudo e jogar em um triturador.

O início do filme é promissor e empolgante, afinal de contas, estamos acompanhando o dia a dia de um cinema, e quem é realmente apaixonado pela sétima arte acaba sendo fisgado logo de cara. Hilary (Olívia Colman) é a gerente, e controla desde a limpeza das salas no final de cada exibição até a quantidade de pipocas que são vendidas no guichê de entrada. Quando Stephen (Micheal Ward) é contratado para trabalhar no local, nasce uma grande amizade entre os dois, que aos poucos vai também se transformando em um romance incomum.

De início gostei da forma que o diretor aborda  a luta da protagonista contra a bipolaridade, que faz ela se afastar do trabalho sempre que se vê em meio a uma crise depressiva. Isso não interfere na sua capacidade e muito menos na sua estreita relação com os outros empregados e o dono do lugar, Donald (Colin Firth), mas é evidente que atrapalha sua rotina e principalmente suas relações pessoais. Porém, ao tentar abordar vários temas ao mesmo tempo, o diretor acaba não se aprofundando em nenhum deles. Além da saúde mental, ele também tenta falar sobre racismo, sobre amizade, sobre desejo sexual e também sobre o amor ao cinema, mas tudo acaba sendo mostrado de uma forma muito superficial, deixando um imenso vazio no roteiro.

Fica realmente difícil entender qual era a intenção de Sam Mendes. A bipolaridade da protagonista, por exemplo, é "resolvida" de uma maneira extremamente vaga. O movimento de skinheads que estão colocando terror na cidade para afastar os moradores negros acaba gerando uma cena pesada, mas é tão raso que aquilo que era para chocar e trazer boas discussões sobre o assunto acaba sendo apenas uma cena a mais no roteiro. As relações também carecem de química, e não há nenhum esforço para que possamos conhecer a fundo cada um dos personagens. É realmente uma lástima que o diretor tenha desperdiçado todo o potencial que este filme tinha, já que a parte da homenagem ao cinema é de fato muito bonita. Mas isso acaba sendo o único ponto positivo nessa salada mista de temas, além da atuação sensível e intensa de Olívia Colman.


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