sexta-feira, 10 de março de 2023

Crítica: O Pior Vizinho do Mundo (2022)


Em 2017, um filme sueco chegou entre os cinco finalistas ao Oscar de Melhor Filme Internacional e me conquistou logo de cara quando o assisti. Um Homem Chamado Ove, de Hannes Holm, é um dos melhores filmes lançados naquele ano, e conta com muita sensibilidade a história de um homem na terceira idade que não vê mais graça e sentido na vida e decide se matar. No começo deste ano, quando vi que seria lançado um remake americano desta história, eu definitivamente torci o nariz, mas resolvi assistir exclusivamente por conta do nome envolvido no projeto: Tom Hanks, de quem sou fã. No entanto, teria sido melhor ficar com a memória do original na cabeça, porque o que foi feito aqui foi um grande desserviço.


Em O Pior Vizinho do Mundo, Hanks dá vida a Otto, um senhor rabugento e mal humorado que vive em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Entre patrulhas para cuidar da velocidade dos carros ou até mesmo para verificar se o lixo foi colocado no lugar certo, ele vai cada vez se irritando mais com esses pequenos "erros" dos vizinhos. Essa amargura, segundo um próprio amigo seu, veio desde que sua esposa faleceu há alguns anos. Ele nunca mais conseguiu ser o mesmo, e seguiu a vida de uma maneira bem melancólica, fazendo o trajeto de casa para o trabalho e do trabalho para casa todos os dias e nada mais. Quando finalmente se aposenta, ele passa a não enxergar mais sentido algum em continuar vivo, e planeja várias formas de se matar. Porém, a chegada de uma nova família, comandada pela mexicana Marisol (Mariana Trevino), na casa ao lado, o faz repensar sobre essa decisão.

Bom, para início de conversa, o filme não tem nem um pouco da sensibilidade que o original possuía. O drama é extremamente exagerado, e sentimos isso até mesmo na trilha sonora, que o tempo todo tenta criar um clima para choro no espectador. O tema do suicídio, que é o que faz o filme de 2016 ser tão emblemático, acaba sendo abordado de uma maneira superficial, até pelo desenvolvimento fraco do protagonista. Nada aqui soa convincente, tanto sua rabugice no início como a sua suposta "transformação" do meio para o final, e os personagens secundários também são insuportáveis.

 

A história de Otto é contada através de flashbacks, e são através desses recortes da memória que ficamos sabendo como ele conheceu Sonya (Rachel Keller), como eles foram se apaixonando e principalmente como ela veio a falecer, mas absolutamente nada me fez comprar essa história de amor. Na medida em que Otto vai se aproximando da nova família de vizinhos, mais o seu coração vai se abrindo para novas experiências, mas é justamente aí que o filme desanda de vez e se transforma em um grande dramalhão "água com açúcar" típico de Sessão da Tarde. O enredo toma poucas liberdades em relação ao filme sueco, seguindo quase que à risca o roteiro, mas não consegue trazer a mesma qualidade. É o tipo de história que combina perfeitamente com a frieza das comédias dramáticas feitas no norte da Europa, mas que nitidamente não encaixa com o estilo de comédia utilizado aqui. Acaba sendo, por fim, um filme sem criatividade e totalmente sem alma


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