sábado, 15 de abril de 2023

Crítica: Disque Jane (2022)


Dirigido por Phyllis Nagy, que ficou mais conhecida por seu roteiro de Carol (2015), Disque Jane (Call Jane) entrou há poucas semanas no catálogo brasileiro do Prime Vídeo e merece sua atenção por trazer à tona um tema polêmico e delicado: aborto.



O filme se passa em 1968, onde vemos Joy (Elizabeth Banks) muito contente com a gravidez de mais um filho. No entanto, logo após um desmaio, ela descobre que tem um problema cardíaco que é agravado pela gravidez, e isso põe em risco sua própria vida caso continue com a gestação. Após ter seu pedido de aborto negado pela comissão médica, que prefere priorizar a vida do feto, Joy busca ajuda em uma clínica clandestina de aborto, liderada por Virgínia (Sigourney Weaver). Apesar de tudo ser muito bem escondido, a clínica possui um grande número de "pacientes", que por diversos motivos optam pelo aborto. A partir de então, Joy não somente consegue paralisar sua gravidez, como também passa a vivenciar o cotidiano dessas mulheres e a ajudá-las durante todo o doloroso processo.

O ponto central da trama é acompanhar a mudança de comportamento e de perspectiva da protagonista. De uma simples dona de casa suburbana e alheia às questões sociais do país, ela se transforma numa peça crucial para ajudar mulheres que precisam fazer o procedimento médico, tomando cada vez mais ciência da importância que vai tomando na vida delas. Em outras palavras, é a típica história da redenção de um personagem, que neste caso muda de uma mulher conservadora e quase invisível, para uma mulher que sai da zona de conforto e encontra seu lugar no mundo.

Como já era de se esperar, o filme causou bastante polêmica, até mesmo com críticas pesadas de que estaria fazendo "apologia" ao aborto. E há, de fato, uma posição clara em seu argumento: de que mulheres precisam ser donas de seus próprios corpos, e que não há nada de errado nisso. Infelizmente a direção parece se perder um pouco do meio para o final, quando faz algumas escolhas narrativas duvidosas e inclui elementos de humor.


Algumas facilitações também deixam o filme um pouco superficial, como por exemplo, o fato da protagonista aprender a fazer abortos muito rapidamente sem nunca ter sequer estudado medicina. Os personagens secundários também são mal construídos, como o próprio marido de Joy, ou sua filha, que não tem nenhum tipo de desenvolvimento. Por fim, por mais que seja exageradamente expositivo e tenha seus defeitos, Disque Jane serve, sim, como mais uma ferramenta de debate a respeito desse tema importante e necessário que é o aborto.


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