sexta-feira, 12 de maio de 2023

Crítica: As Leis da Fronteira (2022)


Baseado no livro homônimo do escritor espanhol Javier Cercas, As Leis da Fronteira (Las Leyes de la Frontera) chegou recentemente ao catálogo mundial da Netflix e desde então vem dando o que falar. Contando a história de um adolescente de classe média que faz amizade com delinquentes juvenis e passa a se envolver numa escalada de crimes, o filme dirigido por Daniel Monzón (de Cela 211) chegou a ser indicado em várias categorias no prêmio Goya deste ano, e conquista pelo bom ritmo e pela ótima reconstituição dos anos 70 e 80.


Nacho (Marcos Ruiz) é um jovem extremamente tímido de dezessete anos, que por conta disso sofre muito bullying na escola e sequer consegue reagir. Sem amigos, sua diversão é passar a tarde jogando fliperama em um salão de jogos da cidade de Girona, onde ele acaba conhecendo Tere (Begona Vargas) e Zarco (Chechu Salgado), um dupla de jovens um pouco mais velhos que fazem parte de uma gangue que pratica roubos e furtos pela cidade. Extremamente atraído por Tere, Nacho acaba se deixando levar, e passa a participar ativamente das atividades do grupo. 

É bem interessante acompanhar a construção do protagonista, que acabou vendo na delinquência uma válvula de escape e uma espécie de refúgio. É nítido que ele tem um bom coração, mas o sentimento de finalmente pertencer a algo, e principalmente de ter a consideração de outras pessoas, o motiva a escalar cada vez mais dentro desse mundo criminoso para ser cada vez mais aceito e benquisto.


O que faz de As Leis da Fronteira um filme diferenciado é sua ótima reconstituição da época, desde o figurino e os cenários, até sua trilha sonora. O filme, de fato, nos coloca dentro da Catalunha dos anos 1970. As atuações também são boas, sobretudo de Marcos Ruiz e Begona Vargas. Existe uma química forte entre esses dois personagens, e isso acaba sendo imprescindível, já que a trama gira em torno deste relacionamento e precisa deles para se firmar. Muito mais do que um thriller, é um filme sobre amor, amadurecimento e pertencimento, em uma Espanha que estava recém saindo da pior ditadura da sua história.

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